quinta-feira, 21 de julho de 2011

Bruxos Alquímicos, Antimônios Transformados


Podemos refletir alguns detalhes da alquimia, na transformação pessoal? Não digo daquela transformação imposta pelo compêndio da fé, ao qual a bruxa pagã sofre o cataclisma sem saber como isso funciona, mas sim daquela transformação  desejada e cutucada, própria dos hereges, ao qual somos conscientes de como ela se opera, ou seja, como provocá-la em si e nos demais.
É com humildade que se aprende os detalhes de uma transformação, e é com as primeiras lições que se conseguirá transformar seu destino, inclusive.


Vamos tocar num assunto digno de Flamel.

Origem: China e Babilônia por volta de 3.000 a.C.
Etimologia: do grego antímonos.
Significado: oposto à solidão.


Isso mesmo, a transformação acontece não solitariamente, mas a partir do outro. Sozinho você não se transforma, há que ter aprendido essa arte com alguém antes de mais nada, para só depois provocá-la de acordo com sua vontade.

Em química é um elemento químico de símbolo Sb de número atômico 51 e de massa atômica igual a 121,8 u. À temperatura ambiente, o antimônio encontra-se no estado sólido.

Para a Alquimia o Antimônio é a matéria dos Sábios e corresponde à penúltima etapa da busca do ouro filosofal.

É representado simbolicamente como o Lobo Cinzento, pois simboliza a natureza animal, ou espírito selvagem do homem e natureza.

Por isso também é conhecido como: Dragão negro, serpente venenosa, Lobo cinzento e, principalmente, filho de Saturno.

E seu símbolo também pode ser um globo crucífero.



“Pega o lobo cinzento, o filho de Saturno… e atira-lhe o corpo do Rei (ouro). E quando ele o tiver devorado, faz uma grande fogueira e atira o Lobo para dentro dela, para que ele arda, e então o Rei será libertado de novo” (Basil Valentine, As vinte e duas Chaves).

Os antigos denominavam o Antimônio metálico, de Régulo de Antimônio, sendo a Estibina (Sulfureto de Antimônio) denominada de Antimônio, ou Estíbio.
O antimônio foi amplamente empregado na alquimia. Há escritos sobre este elemento de Georg Bauer (Georgios Agrícola), e Basilio Valentín é o autor de O carro triunfal do antimônio, um tratado sobre o elemento.

juntos e não solitários = Antimônios
O antimônio ocorre com o enxofre e outros metais como o chumbo, o cobre e a prata.
O antimônio e muitos de seus compostos são tóxicos.
“A toxicidade do antimônio depende do seu estado químico. O antimônio metálico é relativamente inerte, no entanto a stibnite é altamente tóxica. A toxicidade dos outros compostos do elemento pode ser classificada entre estes dois extremos. O manuseamento do antimônio e dos seus compostos deve ser feito em ambientes devidamente ventilados para evitar a contaminação atmosférica. Caso contrário existe o perigo de formação de dermatites.” — Ramon Dias

“Vocês devem interceder pelos homens, e não os homens por vocês, pois Azazel ensinou aos homens a fazer espadas, e facas, e escudos, e peitos de arma, e os instruiu sobre os metais da Terra e a arte de trabalhar com eles, e braceletes, e ornamentos, e o uso do Antimônio, embelezamentos e todos os tipos de tinturas.” – Livro de Enoch.


“E de nada valerá um lobo se ele não souber como trocar de pêlos.” – Tradição Familiar Lupino.

Sett Ben Qayin


terça-feira, 19 de julho de 2011

O Lobisomem – bruxas que se transformam em lobos?


Heródoto e Platão foram os grandes divulgadores do Homem-Lobo, e posteriormente o filósofo mais famoso que divulgou que a besta transpunha de homem a Deus, foi Thomas Hobbes. Mas antes disso, quem verdadeiramente criou e proliferou a celebre frase “O homem é lobo do homem”, não foi Thomas Hobbes como os leigos imaginam, e sim Plauto.

Tito Mácio Plauto (em latim Titus Maccius Plautus; nascido em Sarsina, na Úmbria, região central da Itália, cerca de 230 a.C. - 180 a.C., na sua obra intitulada Asinaria - 194 a. C.  - Traduzida como "A Comédia dos Burros", usou o axioma Homo homini lupus sendo esta uma sentença latina que significa o homem é o lobo do homem. No texto se diz exatamente; "Lupus est homo homini non homo". Esta frase foi bem mais tarde popularizada por Thomas Hobbes, filósofo inglês do século XVIII, para divagar sobre a idéia de que todo ser humano nasce mau, e para aprender a ser bom, estudaria ser gente primeiramente e teria de sofrer uma transformação. Portanto a primeira idéia sobre transformação de besta para humano, de humano para Deus, se encontra nesse épico.

O lobisomem, na lenda, é um indivíduo que tem Poder mágico de transformar-se em outro ser, para matar, aterrorizar e devorar carne humana, e isso vem de encontro com os mitos romanos onde o Lobo, no caso Lupercus, é filho de Marte, o Deus da Guerra. Mas, a lenda inclui muitos outros detalhes, que vêm do além: o lobisomem seria um dos habitantes do mundo onde os mortos-vivos residem, produto de bruxaria e diabolismo. Os mortos-vivos seriam os humanos sem alma divina – o não-iniciado – e por isso, zumbis, incapazes de despertar para o que eles são de fato. Os lobisomens são alguns dos semi-deuses, humanos com alma divina, que precisam do produto alquímico para aterrar sua essência manifesta, pois, uma vez alma divina, há necessidade de se fazer carne no plano animalesco e físico.



A idéia do lobisomem surgiu do conceito da dualidade humana: a besta-homem ou a besta-deus. Uma idéia que era tão popular na Idade da Pedra, como nos nossos tempos, ainda que esteja hoje em dia, sob a égide da psicanálise. Mas nem só o duplo lobo-homem existe: na Escandinávia há o urso-homem; na África, o chacal-homem, o leão-homem; na Índia, o tigre-homem; na América do Sul, a cobra-homem, legiões ou famílias inteiras de semi-deuses. Mesmo não havendo, em alguns casos, ferocidade da parte desses bruxos mutantes, como na China que tem uma lebre-gente, bondosa, o tema de destruição bestial predomina nas lendas, seja por sobrevivência, seja por medo, de ambas as partes. O animal é parte da natureza e esta por sua vez é milagrosa na forma mais natural que existe.

As civilizações antigas fornecem ancestrais para o lobisomem. Na Grécia, reconhecia-se a “besta no homem” durante os êxtases, os quais usavam até máscaras de lobos, bem como na Roma antiga. Tais práticas foram perdendo o cunho público na medida em que o governo progredia em sua forma de ditar o poder, e assim essas práticas mergulharam em tradições familiares e bem reservadas.

Há a história de Licaeão que, em excesso de zelo para com o deus, sacrificou uma criança e ofereceu sua carne a Zeus: a divindade o transformou num lobo, como punição. Mais tarde, surgiu a devoção a Zeus Licaeão, Lycaon ou Licayon, na qual os participantes usavam máscaras de lobos.



Antes de Roma ser fundada em Alba Longa, havia o costume da Lupercália, onde os sacerdotes exorcizavam o ventre das mulheres que queriam ter filhos.
Entre os escritores, Platão e Heródoto fizeram circular a história do lobisomem, que, assim, se popularizou pela Europa. Na Itália Antiga, Plínio a discutiu seriamente, Petrônio a ridicularizou no Satyricon e Ovídio levou a história de Licaeon à Metamorphoses', onde ‘Meta-Morpheu’ - o sonho além do sonho – para os assisados se revolveria o sabá das bruxas lupinas.

O Mundo com suas bestas-homens e homens-diabos sempre existiu.

Talvez todos os homens-bestas do mundo tenham algum parentesco com o lobisomem: os sátiros e centauros da Grécia, o "abominável homem das neves", crianças criadas por animais, como o menino Mowgli, na história de Kipling, e também Rômulo e Remo. Em Mowgli, o instinto de matar não está presente: Mowgli não era um lobisomem, assim como Tarzã não é um gorila-homem. Os Povos do Norte da Europa parece que sempre viram no lobo um ódio próximo da histeria, sentimento especialmente reservado a monstros sobrenaturais, mas o que verdadeiramente se sabe é que o instinto de sobrevivência somado ao instinto animal, sempre falaram mais alto. Mesmo sabendo-se que o lobo, para mitigar a fome, pode devorar uma ovelha de raça – ou o pastor - o sentimento a seu respeito foi sempre maior que a simples aversão por uma criatura selvagem: sempre lhe atribuíram qualidades demoníacas. Talvez seja por suas características: andar ao cair da noite, silenciosamente como um fantasma, quase invisível por seu pelo cinza, os olhos vermelhos e cintilantes ao refletirem a luz do fogo e azuis-esverdeados à luz do luar. E seu uivo acabrunhado completa a imagem ao empinar o focinho na presença da lua cheia.



O fato é que até hoje o homem procura exterminar o lobo, enquanto apenas controla outras espécies selvagens. O lobo se extinguiu na América (exceto Alasca), Inglaterra, Alemanha, Suíça e França. Os franceses sofreram muito com os lobos no passado: daí o grande número de histórias francesas sobre lobisomem (loupgarou).

Dizem que ainda há alguns lobos na Rússia, Espanha, Portugal e Brasil: no Canadá um homem foi atacado por lobos em 1963 e foi veiculado como ataque de lobisomem. Esse comportamento humano em face do lobo, que levará à sua completa extinção, é resultado de séculos de terror, sobre sua fome insaciável, ferocidade, voracidade e impulso de matar, mas o que poucos sabem, é que uma simples colher de sal oferecida ao lobisomem pode fazê-lo parar, agradecer e sair de cena calmamente. Pensa-se sobre o sal, quando exposto sob o luar aumenta consideravelmente seu poder de conservar o que toca, daí o sabor do exorcismo que tudo acalma sob o juramento de sal da lua cheia, o sal é o dissolvente universal. Poucos sabem também que o sinônimo de exorcismo é adjuro, conjuro, esconjuro, exorcizo, ou seja, com juramento.

O juramento frente ao sal na lua cheia é tão poderoso, que se um lobisomem aparecer para lhe atacar, basta apresentar-lhe uma colher de sal jurando “siga em paz que a paz nos cai bem”, ele a deixará solenemente sem provocar nenhum arranhão. Contudo, se a pessoa com o sal jurado descumprir sua fala e atacar a besta por trás, ela se transformará em lobisomem igualmente e será caçada pelos seus próprios semelhantes, para que aprenda a preleção de manter e cumprir o que se jura, pois a palavra é um dom divino e nada pode lhe afastar disso.

A Bíblia compara inventivos profetas a "lobos famintos' em pele de cordeiro. A avó da menina do chapeuzinho vermelho foi devorada por um lobo. Na mitologia do Norte da Europa, há o terrível Fenris, o mais monstruoso de todos os lobos, que acaba destruindo o próprio Odin.

Mitos e folclores escandinavos e teutônicos estão cheios de casos de metamorfose em gente e animais, para terminar em morte. A morte é sempre uma iniciação. Mesmo os heróis escandinavos mudavam de forma: Bodivar Bjarhi tomou a forma de um urso, para enfrentar uma grande batalha na Dinamarca.

Os impressionantes ancestrais europeus do lobisomem foram preocupação, na era cristã, nos negros séculos de superstição e caça as bruxas. Elas eram descritas como criaturas ligadas ao Diabo, que lhes dava o poder de se transformar em animais, pois a bruxa precisava deixar seu lado animalesco fluir as vezes, para se fundir com sua essência prima no plano de todos os planos. A bruxa transformada em lobo devastava os campos, matando e devorando, como parte de seus deveres diabólicos.



Alguns demonólogos afirmavam que os lobos eram, eles próprios, Diabos, e não bruxas transformadas em animais. Outros, como Reginald Scot, em seu livro Descoberta da Bruxaria, afirmava que algumas formas de loucura levavam o paciente a imaginar que se transformava em lobo. Essa insanidade era tida como possessão pelo demônio, mesmo quando a doença mental chamada licantropia foi identificada, não teve qualquer efeito sobre a superstição.

Para o xamanismo, o animal contém um cargo e uma função. O Lobo é o professor que, por bem ou por mal, ensina a humanidade.

O fato é que as bruxas se transformam em lobos, sapos, dragões ou em qualquer animal de seu totem, misticismo, linhagem ou poder de domínio, e tanto nos dias atuais quanto nos antigos, a transformação está para o Vitriol de todas as químicas, assim como o mel está para a abelha.

As matérias-primas do processo alquímico são, entre outras, o orvalho, o sal, o mercúrio e o enxofre. A combustão e a volatilidade são essências para que exista, entre os alquimistas, o coito do Rei e da Rainha. Para os alquimistas, os quatro estágios são regra, dentre eles: Nigredo; Albedo; Citrinitas; Rubedo, e entre as bruxas parece que só as duas últimas são realmente essenciais, pois elas já vêm ao mundo com o dom nato das duas primeiras. Isto é comumente representado pela luta entre o dragão alado e o dragão áptero.

Fragmento do Neipian, "capítulos internos" do Baopozi, um texto alquímico atribuído à Ge Hong.

Mas o que é Vitriol?

V.I.T.R.I.O.L. são as iniciais de uma fórmula célebre entre os alquimistas e que condensava a sua doutrina: “Visita interiorem terrae retificando invenies operae lapidem”, ou seja, “Desce as entranhas da terra, destilando, encontrarás a pedra da obra”.

Essas iniciais formaram uma palavra iniciática que expressa a lei de um processo de transformação relacionado ao retorno do ser ao mais íntimo núcleo da pessoa humana. O que significa dizer: Desce ao mais profundo de ti mesmo e encontrará o núcleo indivisível, sobre o qual poderás construir uma nova personalidade, um homem novo. Aqui também pode estar impresso um dos mistérios de Tubal Caim, Vulcanus, Hefesto, Midas, entre outros deuses da Bruxaria.

Kurt Seligman apresentou uma definição parecida e não convém expô-la aqui, pois ambas são expressamente uma síntese das intervenções alquímicas conscientes, nos diversos níveis de transformação considerados, seja no dos metais, seja no das rochas, seja no do ser humano. No último caso, a insígnia evidentemente tem um alcance mais profundo: trata-se da reconstrução de si próprio a partir dos vários graus de inconsciência, de ignorância e de preconceitos, em direção à irrefragável consciência do ser, o que permite ao bruxo, jovem ou não, descobrir a presença, imanente e transformadora da divindade nele, ou seja, o processo Lupino ensinado como sendo “animal-humano-deus” e a viagem transformadora.


O Frankenstein de Mary Shelley talvez seja o monstro mais alquímico que já existiu sob os padrões teratológicos de transformação, feio por fora (com tantas marcas visíveis) e lindo por dentro (marcas que não se vê), e o julgamento do ego mortal provoca nos seres humanos, tanto ira quanto medo, e a grande diferença entre o ser humano e a bruxa que se transforma em lobo é que o primeiro mata por medo, e o segundo morre pela prata não pelo ouro.

Eis o alicerce do axioma Homo homini lúpus!

Por Sett Ben Qayin.

sábado, 16 de julho de 2011

A Feitiçaria Familiar de Lancashire e Seu Julgamento

Gravura em madeira de 1612, ilustração do caso das feiticeiras de lancashire, onde 11 pessoas foram condenadas à morte pelo uso de bruxaria.


No começo do século 17, Lancashire, na Inglaterra, vivia sob um despotismo religioso, com uma população esmagadoramente católica dominada por um governo protestante hostil e repressivo.

Se as paróquias eram bastante freqüentadas, devia-se somente ao fato de que faltar aos serviços religiosos implicava em pesadas punições. Isso porque a salvação das almas quase sempre estava inteiramente nas mãos dos padres jesuítas que iam de paróquia em paróquia, atormentando os sacerdotes e ameaçando-os com  os castigos mais cruéis.

O fogo da Reforma não conseguiu extirpar a rebelião das chamadas superstições papistas. A existência de feiticeiras também deve ter ocupado bastante as mentes dos magistrados, uma vez que à lei contra as feiticeiras de 1563, seguiu-se uma outra lei do parlamento, no ano seguinte.
O ar estava carregado de rumores sobre magia branca e negra.

Nessa época, existiam duas famílias rivais que moravam numa floresta do Condado e eram conhecidíssimas pela reputação de terem vendido suas almas ao demônio.

Eram camponeses rudes, mendigos e ladrões, olhados com apreensão mesmo pelos vizinhos distantes.

À cabeça de cada família estava uma velha encarquilhada, malvada e de aparência medonha. Elizabeth Sowthern, uma cega miserável de 80 anos, conhecida nas redondezas como velha Demdike e Anne Whittle, igualmente velha e decrépita, conhecida como velha Chattox.
As duas pareciam reprodução fiel de bruxas.

As duas chefas de família acabaram caindo sob forte suspeita de serem culpadas da maioria, senão de todas, as mortes inexplicáveis que ocorriam no distrito.

Bonecos sendo consagrados pelo diabo. Os magistrados entenderam que eram crianças sendo oferecidas ao diabo; O assassínio de crianças por bruxaria foi uma das acusações feitas durante o processo de 1612.

AS PRIMEIRAS PRISÕES

A história começou nos primeiros meses de 1612, como a tradição familiar nos narra, com um roubo praticado na casa da velha Demdike por Elizabeth Whittle, filha de Chattox. Elizabeth foi mandada para a cadeia do castelo de Lancaster, onde acusou sua delatora, Alizon Device, de 11 anos, neta de Demdike, de feiticeira. Procurando se defender, Alizon revelou que sua avó tentou, realmente, iniciá-la na bruxaria. A essas alturas, não havia dúvida que outros métodos coercitivos, além de simples palavras, foram utilizados para extrair uma série de confissões, nas quais todos os membros das duas famílias acabaram se acusando mutuamente. A autocracia era contra a tradição de feitiçaria, e as famílias feiticeiras ficaram divididas entre fazer o que era comum a tradição, ou fazer a vontade dos tiranos autocratas protestantes. A política da sobrevivência era necessária, e ao elaborarem estratégias, alguns lideres de famílias bruxas perderam o domínio sobre os mais jovens que também tentavam “fazer a coisa certa”, e estes, ainda imaturos, delataram seus segredos familiares para sobreviverem e acabaram traindo a família.

O segredo bruxo não era e ainda não é uma coisa que não se pode contar a ninguém, apenas sempre foi uma coisa mal interpretada por gente de fora, e por isso não era explanado em massas, justamente porque causava curiosidades e medos, uma vez que o despotismo religioso andava na contra mão da liberdade herética. A história nos mostra que sempre haverá alguém tentando controlar as mentes, as fés, as religiões, e sempre haverá algum tirano ditando regras de como se deve entender ou compreender tal caminho espiritual. Na defesa de seus caminhos espirituais individuais, se chocam no calor da concorrência, poder e domínio.

Conta-se que pouco depois a jovem Alizon teve a infelicidade de discutir com um ‘mendigo’, a quem acabou amaldiçoando. Para seu espanto e horror, o homem teve um colapso em poucos minutos, queixando-se de ter sido esfaqueado.

Outra vez Alizon foi interrogada por um magistrado local, na época Roger Nowell, presentemente com sua mãe e seu irmão James, um retardado.

Acusaram-se entre si, além de enlamear a reputação da velha Demdike e da velha Chattox que, no começo de abril também foram convocadas para interrogatório. Ditame, a sábia Demdike na ocasião admitiu espontaneamente ser uma feiticeira.

UM ACORDO COM O DEMÔNIO

Anos atrás, Demdike teria sido abordada por um demônio em forma de espírito, vestido com uma capa marrom e preta e com aparência de garoto. Este diabo, que se apresentou com o nome de Tibb, agenciou com ela seus dons da alma, assegurando concretizar aquilo que aflorasse em seu coração e o que mais desejasse, além de mostrar os reinos encantados que os demais não conseguiam ver. Tibb teria se manifestado outra vez, desta feita como um lobo marrom, então lhe sugado sangue do braço esquerdo, ajudando-a também a matar com bruxarias o filho de Richard Baldwyn.

Baldwyn já tinha tentado condenar à morte tanto Demdike quanto sua neta, Alizon Device, sob acusação de bruxaria e proferindo as seguintes palavras: “Saiam da minha frente, suas bruxas pervertidas. Vou queimar uma e enforcar a outra".

Numa luta febril para se livrar das dificuldades, Chattox tentou jogar para cima de Demdike a culpa por sua iniciação na feitiçaria. Só depois da insistente persuasão de Demdike, ela teria concordado em se tornar feiticeira e conseguido de sua família, ameaçada, que lhe prometesse fidelidade. Para se assegurar que Demdike não teria salvação, Chattox acusou-a ainda do assassinato, por feitiçaria, de Robert Nutter, um proprietário local. Ao mesmo tempo, implicava outras pessoas.

A REUNIÃO DE FEITICEIRAS

Satisfeito com todas essas confissões que proporcionavam provas evidentes e suficientes para a condenação, o juiz mandou Alizon, a velha Demdike e a velha Chattox para o castelo de Lancaster, ao lado de uma quarta prisioneira, Anne Redfearne, filha de Chattox, que aparentemente também estava envolvida na morte de Robert Nutter.

As famílias das prisioneiras estavam na maior consternação pelas desgraças mútuas e, deixando, pela primeira vez, de lado suas hostilidades, convocaram uma reunião em Malking Tower, na casa de Elizabeth Device, filha de Chattox. O encontro foi na Quinta-feira Santa, 10 de abril, exatamente oito dias depois das prisões.

Compareceram cerca de 20 pessoas, das quais apenas duas eram homens. De confissões posteriores ter-se-ia depreendido que do encontro ficara resolvido que o castelo de Lancaster seria destruído e o carcereiro morto para vingar os parentes.

Os presentes à reunião, também, teriam aproveitado o encontro para planejar várias eliminações (assassinatos?) e até mesmo invocar um espírito perverso, parente de Alizon, com o objetivo de lhe dar um nome.

Propõe-se também a presença na reunião, Jennet Preston, feiticeira tradicional de Yorkshire, que para lá se dirigira para conseguir a ajuda de suas companheiras na destruição de alguém que fora responsável por sua perseguição por bruxaria em York. Finalmente, decidiu-se por um novo encontro daí a 12 meses, na Quinta-feira Santa de 1613, caso não houvesse necessidade de uma conferência antes disso. Independente da ‘alquimia’ bruxa, o objetivo entre as famílias era a união dos poderes para um bem comum, ou seja, defender a existência dos parentes a qualquer custo, valendo-se do método de ‘eliminar do caminho’ todos os que se opunham, método este bastante usado por todos que tem medo do desconhecido. As bruxas almejavam dar uma dose do próprio remédio dos despotistas, a eles mesmos, porém, com uma porção a mais de algo que os despotistas não tinham, ou seja, o poder feiticeiro unido.

As bruxas de Lancashire com seu Daimon, um Demônio pessoal ou familiar. A velha Demdike “confessou” ter um lobo diabólico que a servia nas atividades mágicas da feitiçaria.

VOLTANDO AO ATAQUE

Assim que Nowell tomou conhecimento das pretensões de deflagrar Lancaster, voltou outra vez à ofensiva. Prendeu pessoas que já soltara, inclusive Elizabeth Device, a responsável pela conferência, seu filho James Device, retardado e sua irmã de nove anos, Jennet. Apesar de sugestões em contrário, parece que o magistrado não encarava os acontecimentos de Malking Tower como um sabá de feiticeiras, mesmo porque no relatório oficial sobre o julgamento, o encontro fora descrito como um encontro especial de crianças e amigos, mas foi um sabá!

O que os magistrados não sabiam é que, o que caracteriza um sabá feiticeiro é um adjuro ou conjuro cujas intenções são todas comuns aos presentes, deste mundo e do outro.

A nova leva de prisioneiros foi interrogada e mandada ao encontro de seus companheiros nas minúsculas e asfixiantes celas do castelo de Lancaster, acompanhada de outros oito suspeitos de Salmesbury, acusados de matar com bruxaria a filha de um fazendeiro.

Os rigorosos interrogatórios feitos por Roger Nowell e um outro juiz, Nicholas Banister, resultaram em grande quantidade de revelações espantosas. Elizabeth Device confessou ter assassinado três pessoas usando bruxaria e, sob pressão, ter feito uma imagem de cera; negou veementemente, porém, a existência de qualquer atentado contra o castelo de Lancaster. Teve a infelicidade, entretanto, de ser portadora de um defeito físico, que a superstição em feitiçaria qualificara como marca indubitável de uma bruxa: um dos olhos voltava-se para baixo, enquanto o outro olhava para cima, o que para o ego dos juízes era um sinal infalível do olho do demônio.

DECLARADOS CULPADOS

O julgamento das feiticeiras, no verão de 1612, foi precedido da morte, na cadeia, da velha Demdike, acontecimento não de todo imprevisível nas condições de insalubridade comum às prisões do século 17, nas quais se deixava o prisioneiro apodrecer. Foi interrompido, depois, pelo julgamento das feiticeiras de Salmesbury, as quais, depois de convencerem a corte de que tinham sido vítimas de um complô dos jesuítas, foram declaradas inocentes e soltas.

A corte e seu juiz, Edward Bromley, passaram então a considerar as provas contra os prisioneiros, que consistiam em confissões escritas e acusações mútuas feitas durante os interrogatórios preliminares.

Foram julgadas 11 pessoas: Anne Whittle (velha Chattox) e sua filha, Anne Redfearne; a filha da velha Demdike, Elizabeth Device e seus filhos, Alizon e James Device, Katherine Hewit, John e Jane Bulcock, Isabel Robey, Margareth Pearson e Alice Nutter.

Jennet Preston foi julgada em York, onde foi condenada e enforcada. À exceção de Margareth Pearson, condenada ao pelourinho, todos os demais foram enforcados em 20 de agosto de 1612. Diante da verdadeira treva – o medo imposto da morte injusta – as famílias feiticeiras passaram a negar sua arte para todos os que não comungam da mesma tradição, e adotaram o sincretismo religioso do qual se não fosse isso, talvez não tivéssemos recebido nosso legado bruxo nos tempos de hoje.

É um triste fim para mais uma história de inadmissíveis injustiças cometidas e justificadas pelo preconceito e pelo medo. Por trás disso tudo havia senhores da lei que julgavam pessoas como eles bem entendiam, invídia, interesses mesquinhos em prol de acabar com a diversidade e a oposição, aversão e intolerância à crenças estranhas por puro medo da possível submissão a essas mesmas crenças estranhas, pois a bruxa tende a curar ou refrear ao seu modo, quem ela quiser. Quando as bruxas não se unem, o que se quebra é algo bem maior que suas vidas.

Mas, a história não pode fazer marcha à ré nem evitar as vítimas desnecessárias.

Por Sett Ben Qayin.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

O Oscar no Inferno Chafurde Ante os Dragões


Quem conhece a doce e fétida relação entre porcos e seres humanos, sabem que os porcos não fazem outra coisa a não ser porcaria, e os humanos se gastam ao recriar o ambiente propício para a sobrevivência dos porcos, ainda que este último acabe um dia como um banquete assado em cima da mesa olimpiana.



Sim, porcaria não é outra coisa senão A ARTE DOS PORCOS!!!

E porcaria não é bruxaria!
No cerne dessa porcaria as vezes encontramos algumas pérolas das quais os porcos jamais fariam distinção e nunca teria aproveitamento algum, pois porco é sempre porco e não tem outra função a não ser aquela que já conhecemos.


Na parecença entre o barro, um lamaçal e seus porcos negócios, eles habitam o meio sujo diariamente, e não contente investem tempo e teimosia afim de sujar tudo por onde passa, e nada pode ser dito pois o genial personagem leitão pede mais balas preciosas em forma de ração enquanto nós calamos em silêncio frente aos camponeses para que os negócios e a festa continuem enquanto saímos sem ser notados. Enfim a banalidade tornou-se status acima do bem e do mal no reino da santa-idade imunda.


As projeções de algumas porcas consultas se avizinham à margem e à beira da destruição, o jovem suíno que deseja sair da porcaria, incapaz de atingir um instante de estratégia e sabedoria, já adoecido pela própria natureza a que são obrigados a pertencer, morre nas mãos dos deuses à quem ele reza pedindo ração.


Esses infelizes falam tanto a tradicional linguagem dos porcos na sociedade da pocilga, quanto a linguagem da elite na sociedade dos porcos. Esta sociedade a que são jogados como porcos e sem a distinção do alimento, faz com que a maioria morram de fome, pois ao contrário daqueles que tem fogo interno, os porcos só tem “lavagem” dentro de si, e nada podem oferecer além de sua pururuca externa para os que almejam um tempero saboroso com PIGmentos no lugar de seus ágapes matinais e noturnos.

Até os jornais de Guanabara já anunciaram a noticia sobre a criação de suínos nos quintais do perímetro urbano! Cópia do modelo paulista atual da arte dos porcos de linhagem suína, afinal, qualquer um hoje em dia pode abrir seu chiqueiro, basta ouvir o aconselhamento para tal.


Não sei o que vale mais. Se é o porco com a sua salsicha, ou seu lombinho recheado a caipirinha, apesar do mau cheiro das pocilgas e o espírito de porco invocado nas atitudes ausentes de caráter incapazes de honrar uma perfumaria francesa e cuja produção nada tem de gostoso além do sabor amargo de sentimento ferido e da ingratidão de quem só vê o lado porco da coisa, e então, claramente uma cópia do modelo da verdadeira bruxaria tradicional, nasceu a porcaria tradicional no Brasil.


Dizem que a maçã é o símbolo divino que contém a estrela horizontalizada em seu corte, vai ver é por isso que ela fica linda na boca do porco assado! A leitura aqui é: “só depois de morto mesmo!”.


Este é um fenômeno internacionalmente conhecido, e como se vê, a desagregação se fez necessária, já que as Crises somente beneficiam aqueles que as criam, além de manchar o próprio chão. Hoje em dia é perigoso misturar os mitos, pois porcos e dragões não se misturam, e quando muito, o menor sempre vira comida do maior, lembrando que este último pode comer o porco assado prontinho na hora, já que saliva fogo ao mordê-lo, e é desse fogo que o inferno é feito. Essa é a lei da natureza e a vida continua seu ciclo sem fim levando consigo a imagem de ouro nas mãos vitoriosas dos sábios que sabem viver sem a sujeira do Oscar do inferno chafurde antes os dragões.

Sett Ben Qayin

O Mata Cão - Costumes Cristãos da Lupercália Pagã



Foi-se a Canícula e, antes de se matar o porco, devia-se matar o cão. Assim decorriam os rituais e festividades do calendário popular na Idade Média. A famigerada Canícula denominava o período que ocorria entre 24 de Julho e 26 de Agosto quando a constelação do Cão se ergue com o Sol, ficando visível a estrela Sirius – a abrasadora. Era precedida da festa da Ascensão que se celebrava no 1º de Maio. Esta era a festividade das máscaras de folhagem que deveria assegurar a protecção contra calores doentios da Canícula que provocavam a queima dos campos.
Já Plínio o Velho explicava as doenças das plantas neste período, por efeito da lua vermelha que ocorria por volta de 20 de Julho, no início da Canícula. Na Antiguidade sacrificavam-se também cães ruivos neste período, o que motivou uma associação ao culto de Anubis e ao de S. Cristóvão Cinocéfalo.

Representación del Cinocéfalo, Juan de Mandavila, Libro de las Maravillas del Mundo

São Cristóvão é um santo lendário que foi abolido do calendário litúrgico em 1969. Membro de uma tribo de Marmaritas do Norte da África, foi martirizado em 308 da nossa era, depois de ter sido incorporado no exército romano e batizado por um bispo de Alexandria. Geralmente representado como um gigante que carrega o menino Jesus às costas para o ajudar a atravessar um rio - sendo patrono dos viajantes, teve também uma associação aos cultos do final da Canícula, um costume Francês que parece ter migrado da Lupercália Italiana. Segundo a lenda (quer na raiz grega, quer na latina) Cristóvão provinha de uma tribo de canibais e cinocéfalos (a tradição das raças fantásticas que habitavam o Oriente e que se espalhou pelo mundo para populá-lo com descendentes da raça bruxa, assim como fizeram os Nephilins), razão pela qual assim aparece representado em diversas iconografias, particularmente nos ícones bizantinos, a maneira mais culta de se tentar cristianizar o Deus Lupercus no início da era cristã, sob a máscara de São Cristóvão. Como viajante, de animal à humano, de humano à Deus, ele é o portador de Deus, e atravessa os sentimentos com o divino ungido (ou divina unção) nas costas. Eis um dos segredos dos Lupinos.
A Via Láctea e os Demónios do Sul, tratado de Astrologia alemão do século XV. No século XV, na Alemanha, os demónios transformam-se em bruxas com os caldeirões e selhas de leite roubado e as vassouras para o voo do sabbat
Os rituais do mata-cão, ou fim da Canícula ligavam-se, na Idade Média, à festa da ceifa, ainda conhecidos no início do século na Lorraine, em França como a fête du tue-chien ou fête des moissons. Entre outras associações, representava a purificação do espírito do trigo que era sacrificado sob a forma deste animal. Matavam-se nesta altura também os maus cães, apelidados em França de “vannoures” cujo couro servia para fabricar os tabuleiros de “vanneurs” onde se separavam as espigas. Também é possível que tenha havido um mimetismo com o deus Janus que representava a morte (figurado com a gadanha na mão e a ampulheta do tempo), mas também as ceifas e trabalhos agrícolas. Janus ou Vannus, referido por Virgílio nas Geórgias (Lib.IV,1666) com a crates que separava as espigas impuras.
Representação de Vannus? Misericórdia de cadeiral de Santa Cruz de Coimbra, c.1513/18
Representação da Canícula, S. Cristóvão Cinocéfalo, ícone do séc. XVI, Museu Benaki, Atenas
S. Cristóvão canibal, ícone da igreja de S. Jorge, Çegelkoi, na antiga Bithynia, Turquia
S. Cristóvão cinocéfalo, ícone bizantino, Museu Bizantino de Atenas
Bibliografia:




GAIGNEBET, Claude; LAJOUX, Dominique, Art profane et religion populaire au moyen âge, P.U.F, Vendômme, France, 1985



SAINTYVES, Pierre, Saint Christophe sucesseur d’ Annubis, d’Hermes et d’Héraclès, Paris, Nourry, in 8º,p.55


Sett Ben Qayin





Paganismo, Bruxaria e Bruxaria Tradicional



Ao olhar o Stonehenge certamente nossa mente nos remeterá ao tema celta. 
Mas minha gente, a bruxaria não deve ser limitada ao passado que foi seu nascedouro, o paganismo, muito menos à uma única cultura ou país, uma vez que a bruxaria é um patrimônio da humanidade e esteve e ainda está presente em todas as culturas e países. Existem certas linearidades vivas e tradicionais que, se deixarmos morrer, ai sim o ecleticismo tomará conta. Limitar uma arte é podar seu poder. Por isso afirmo que a Arte Bruxa não se limita ao paganismo. O paganismo foi uma era onde tudo nasceu inclusive, os primeiros seres humanos, os que deram sangue pra continuar, e nós somos provas vivas. A bruxaria da era pagã era uma criança, que hoje encontrou sua maturidade graças aos homens de bem, os eruditos de braços dados aos não eruditos.

A ênfase aduba quando lemos coisas sobre os celtas, numa salada temperada com folk-magic & paganismo atribuído aos celtas, ao que em certos artigos são chamados de bruxaria tradicional. Veja só, o termo ‘Kelt’ foi usado pelos povos de baixo para se referirem aos que viviam mais ao norte do mapa, e nem os próprios celtas se chamavam de celtas, além de tudo, deixaram uma crestomatia de lendas (algumas funcionais, mas não aplicáveis) angariadas por alguns monges, e que se pode conhecer pelos escritos deixados por Tácito, do santuário de Anglesey, no séc. I d.C. e por um exército romano, sendo que a classe sacerdotal não sobreviveu na ilha, Gália, hoje França, pois a cristianização foi mais precoce que na Irlanda. Todo o legado intelectual dos druidas (os bruxos do povo celta) foi confiado aos bardos, os quais, na Irlanda, não fazem parte da classe sacerdotal. “Todas as organizações atuais que se dizem de inspiração druídica e celta não passam de criação ex nihilo, sem qualquer valor tradicional” (Ogam – Tradition Celtique, Rennes, 1948; 12, 49-58, 209-234, 349-382, 475-486; 18, 105-114 e 161-162).
Uma imagem caricatural: eis o que o grande público possui a respeito dos druidas. Isso é ainda mais desolador à medida que o druidismo foi por excelência um esoterismo que ele formou a trama da cultura celta, que ele dava sentido às vidas dos gauleses e dos antigos irlandeses, que estão, apesar de tudo, mais próximos do europeu atual do que dos hebreus. Porém, não existe nenhum texto druídico, somente os testemunhos de César (Guerra das Gálias,VI), de Diodoro da Sicília (V, 31), de Estrabão (IV, 4), de Plínio (XVI, 249; XXX, 13). Tem-se encontrado o ogam, escrita de 300 inscrições célticas da Irlanda, do país de Gales, da Escócia (séc. V-VII). Somente os filidh, os druidas poetas, utilizavam-na; não se tem da mesma texto algum, somente palavras isoladas.
Agora olhem bem essa imagem abaixo, e reflitam se ela tem algo a ver com celta!!! Não, não tem. Somente nos remete há uma época cristã, onde a bruxa pôde dar um salto no imaginário popular. Foi nessa época que a bruxa ganhou glamour, foi nessa época que ela apareceu de fato como bruxa, e voando em sua vassoura era um terror já que era temida pelo seu poder. Aqui, a bruxa que não é marginalizada e temida, não é bruxa.


A literatura céltica em geral não é de acesso fácil, pois utiliza muitas línguas (o gaulês, o irlandês, o escocês, o galês, o bretão), é pouco traduzida e pouco editada, empregando um simbolismo complexo. Encontram-se as visões (fís), os contos de juventude (mabinogion), os relatos de viagens fantásticas (imramh), as relações de rapto (aìtheda); nesse conjunto, deve-se buscar os esquemas iniciáticos, as alusões às idéias metafísicas para se recriar uma possível tradição nova, de amoedo e esboço celta no mundo de hoje, é por isso que é uma coisa falha, já que é recriada e não contém uma linearidade de linhagem, mas tão somente uma linearidade contada pela história e pelos livros. Aqui, a imagem da bruxa celta fica incompleta, pois não se pode recordar 100% da cultura céltica como era de fato no passado.

E essa literatura se estende sobre os séculos. Se se deseja saber algo sobre Merlin, é necessário ler as lendas galesas sobre Myrddin, a Vìta Merlini (1132) e a Prophetiae Merlini (1134) de Geoffrey de Monmouth, o romance Merlin (ligado ao Lancelot-Graal). 
Qualquer celtopata criaria um mundinho céltico pra si, bastante particular, e escolheria algumas pessoas de igual inclinação para se deixar entrar no mundinho. Ta acompanhando? Está percebendo o que você anda fazendo ou deixando que façam com você? Pois bem, quando esse celtopata sai lá fora, ele se choca, porque o mundo lá fora não é celta, não é imaginário, ele é real.

A partir daí fica-se dividido entre o desejo de se deixar levar pelas séries de imagens e a necessidade de praticar uma exegese. G. Dumézil revelou em Táin Bó Cuailnge, onde o herói Cuchulainn mergulha nas três tinas de água fria, um argumento iniciático sobre o frenesi, o calor místico exigido nas organizações iniciáticas guerreiras indo-européias; Dumézil traça também um paralelo entre o combate de Cuchulainn contra os três filhos de Nechta e o combate do deus indiano Indra ou o combate do herói romano Horácio: transpõem-se em termos romanceados as provas espirituais [Horace et les curiaces (Horácio e os curiáceos), PUF, 1942, p.35 sq.; Mythes et dieux d.es germains.

Sobre os celtas, diz-se que organizaram uma civilização fundada esotericamente. Os druidas detinham poderes muito amplos. Ocupavam-se da justiça, da religião, do ensinamento, da poesia, da magia, hoje, todas disciplinas estudadas em universidades, onde qualquer inteligente que passa num vestibular terá acesso a tais ensinamentos sem ao menos ser druida. 
São os conteúdos desses materiais que se pode a partir deles mesmos, recriar um trabalho de cunho iniciático bem estudado, pra quem gosta de laborar as teses célticas, mas por se tratar de estórias iniciáticas, bem, são estórias para poucos, e a bruxaria não se limita ao plano pagão ou céltico. Muitos no mundo são bruxos, a maioria inclusive nunca será conhecida, pois esses sim são tradicionais e não fazem nenhum tipo de aparecimento na mídia, eles são herméticos.
Agora comparem essa imagem abaixo e vejam se tem a ver com o tema celta!



BIBLIOGRAFIA para estudos célticos - sob visão de mundo e conceitos clássicos, tidos por autores como visão de mundo tradicional:

Estudos: Françoise Le Roux e C. Guyonvar’h, Les druides (1950), 4ª ed. 1987, Ogam-Celticum, Rennes, 423 p.; Françoise Le Roux, A religião dos celtas, apud Histoìre des religions, Gallimard, Encycl. de la Plëiade, 1970, t. I, p.781-840; S. Piggott, The Druids (Os druidas), Londres, Ed. Thames and Hudson, 1985. Literatura: H. d'Arbois deJubainville, Introductìon à l'étude de La Lìttérature celtique (Introdução ao estudo da literatura céltica),1883; P.Y. Lambert, Les littératures celtiques (As literaturas célticas), PUF, nº 809, 1981, 128 p. Sobre Artur e Merlin: J. Markale, Le roi Arthur et la société celtique (O rei Artur e a sociedade céltica), Payot, 1976; J. Markale, Merlìn I'enchanteur (Merlin o encantador), Ed. Retz, 1981. Os textos essenciais foram traduzidos por Christian Guyonvarc'h em publicações diversas, com um quê de guenonismo. E R. Guenon é sabiamente o autor mais tradicional que existe.

Sett Ben Qayin