sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A verdade sobre a Lua Azul



FELIZ BELEWE MOON!




Betrayer é substantivo que tem como significado: traidor, renegado, Judas, sedutor, revelador. A verdadeira LUA AZUL é Belewe Moon, a LUA DA TRAIÇÃO ou "Betrayer Moon". A lua azul se refere à terceira Lua cheia de uma estação com quatro luas cheias. Não é errado usar o termo para se referir à segunda lua cheia em um mês, mas também não é o termo correto.
A Lua Azul não é uma lua que muda de cor, ela não fica azul, o termo foi cunhado para se referir à lua das fadas, uma lua onde os poderes dos mortos ganham a nossa atenção, enquanto somos tutelados por eles.
Rituais de desafronta ou reparação são praticados e mais poderosos na noite da Lua Azul.



Sett Ben Qayin



sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A Iniciação e a Transmissão do Poder Hereditário – parte 2




PARTE 2




- A Morte, O Poder e a Nova Vida –

A morte é necessária para uma iniciação, para que haja uma ruptura entre a velha vida e a nova vida que se iniciará. Aqui a morte é o aspecto destrutivo e perecível da natureza. Ela indica aquilo que desaparece na evolução irreversível das coisas, e está ligada á terra, mas a morte é em si mesma a introdutora aos mundos desconhecidos dos Infernos e Paraísos, e nesse aspecto ela se aproxima dos ritos de passagem.

Ela é introdução e revelação. Todas as iniciações atravessam uma fase de morte, antes de abrir o acesso à uma nova vida. A morte liberta das forças regressivas, desmaterializando o negativo, o que não tem mais que existir, e libera forças de ascensão do espírito.

Se ela é por si mesma, filha da noite e irmã do sono, ela possui, como sua mãe e seu irmão, o poder de regenerar. Se o ser que ela abate vive apenas no nível bestial e material, ele fica nas sombras dos Infernos; se, ao contrário, ele vive no nível espiritual, ela lhe revela os campos da luz. A vida e a morte coexistem em todo ser humano e para todo ser humano, ou seja, há uma tensão entre duas forças contrárias que se amam, se renegam, e não ‘são’ uma sem a outra.

Dispater (Plutão no mito romano) do qual fala César no De Bello Gallico, e do qual todos os gauleses se dizem descendentes é em princípio o mesmo Deus da Morte, e tem a mesma função para todos os países e culturas bruxas. A simulação dramatizada em todos os ritos iniciáticos deve ser tão bem feita quanto possível, provocando a catarse transformadora, a transmutação de valores, cuidados e amor, requisitos primordiais e eternos que são condutores da desgraça de qualquer falso alicerce que permeou a mente, o coração e o espírito do indivíduo enquanto grilhões ausentes de virtude do Espírito. O Deus da Morte é o pai da raça Bruxa, e a contraparte sombria da divindade soberana de acordo com Ógmios ou Ogme.

A alegoria da morte na Bretanha armoricana, o Ankou, é a continuação do condutor dos mortos da dança macabra da Idade Média e, apesar da cristianização, do Ógmios condutor dos mortos, o executor das forças mercuriais, e por isso, o mistério da morte é tradicionalmente sentido como angustiante e figurado com traços assustadores. É levada ao máximo, a resistência à mudança e a uma forma de existência desconhecida, mais do que o medo de uma absorção pelo nada. A morte se justifica em si mesma, sem ser o fim absoluto ela mesma.

Em Pausânias, Descrição da Grécia, 10, 28-31, Eurínomo figura a morte devastadora em um gênio infernal, cuja função é devorar a carne dos mortos e não deixar senão os seus ossos. O direito de vida e, de modo correlativo, o direito de morte pertencem aos deuses. As principais divindades letíferas, depois de Júpiter, são Minerva, Apolo, Diana, Marte, Hécate e Prosérpina. Faço um parenteses para lembrar que Lupercus é filho de Marte.

A morte é personificada por Tânatos, filho da Noite e irmão do Sono, arisco, insensível, impiedoso. Na iconografia antiga a morte é representada por um túmulo significativo do último lar ou portal para o submundo, com uma divindade armada com uma foice saturnina devorando um ser humano entre suas mandíbulas, um gênio mercurialmente alado, dois jovens, um negro, o outro branco, um cavaleiro, um esqueleto, uma dança macabra, uma serpente ou qualquer outro animal psicopompo (cavalo, lobo, cachorro, etc).

O número 13 é o número da morte, e os dois também aparece no tarô, e com efeito, sua significação é maléfica, constante na idade média cristã, já aparecia na antiguidade simbolizando o curso cíclico da atividade humana, a passagem a um outro estado e, por consequência, a morte, e tudo isso está no poder que se recebe na passagem do dom, onde se herda os dons transmitidos pelo seu iniciador, ou como quando se recebe o legado cuja posse desse poder é compartilhada ou soprada pela vos, transferida de artéria para artéria, de espírito para espírito, de corpo para corpo. O poder que a morte fornece é a maldição da qual só os sábios podem transformar em benção.


O Ceifeiro da morte exprime a evolução importante, o luto, a transformação dos seres e das coisas, a mudança, a fatalidade (The Fate action) irreversível, e de acordo com O. Wirth, a desilusão, o desprendimento, o estoicismo, ou o desencorajamento e o pessimismo. 

Jean Vassel constata em “Études Traditionnelles” nº 278, setembro de 1949, p. 282, que A Morte constitui uma cesura na série das imagens do Tarô, vindo, em seguida, os arcanos mais elevados, de tal modo que se pode fazer corresponder os 12 primeiros aos pequenos mistérios, e os seguintes aos grandes mistérios, já que fica claro que as lâminas que a seguem têm um caráter mais celeste do que as que a precedem. 

Como o Mago, a Morte corresponde na astrologia à primeira casa do horóscopo. Em sua constituição, a lâmina da Morte possui um esqueleto armado de foice, suficientemente eloquente para não necessitar comentários, todo cor de carne, e não ouro, um pé afundado na terra, tem na mão esquerda uma foice de cabo amarelo e lâmina vermelha, cor de fogo e de sangue, o sangue da linhagem que segue, para nos advertir de que a morte de que se trata não é a primeira morte individual, mas a destruição que ameaça a nossa existência espiritual se a Iniciação não a salvar de si mesmo e da aniquilação que isso causa.

Sem mais delongas, ficarei devendo um assunto o qual deixarei para o próximo ensaio, mas como a morte não é um fim em si, ela abre o acesso ao reino do Espírito, por isso todas as coisas espirituais só podem ser acessadas após a morte, que revela a vida verdadeira, como mors janua vitae (a morte, porta da Vida). 

Com ela há uma mudança profunda que o indivíduo passa por efeito da iniciação, o profano deve morrer para que renasça à vida superior conferida pela iniciação. Se não morre para seu estado de imperfeição, impede para si próprio qualquer progresso iniciático, e não há rito iniciático que não a contenha em seus episódios iniciatórios, ali, a serpente troca de pele, o lobo troca de pelo, a ave troca de pena, a lagarta vira borboleta, a fênix volta das cinzas, o barro vira lama a ser descartada, os vícios viram virtudes em poder, o chumbo vira ouro, e o olhar para o mundo é o da nova vida, uma vida inteiramente jovem e diferente, com propósitos mais elevados, novas metas, novas possibilidades, novos objetivos, novos nomes, novas pessoas, novos caminhos, novo por dentro e por fora, novos alicerces, etc., e por fim, há que se convocar um morto para viver novamente!

Sett Ben Qayin


A Iniciação e a Transmissão do Poder Hereditário – parte 1




PARTE 1

Por que a morte é necessária para que haja a iniciação?

De onde veio a ideia de contrafazer a morte e seu drama durante um ritual iniciático formal?

Por que o sangue é um dos veículos do poder?

Como é feito a passagem do poder hereditário na bruxaria hereditária?

Quem deve deter o domínio de curador do feiticeiro ofício hereditário e o por quê?

É necessário que haja vocação e dom para se tornar o sucessor no comando da linhagem?

Quem oficializa os ritos, é sempre a mesma pessoa? O ofício bruxo é uma obrigação?

Todas essas questões serão abordadas sem a pretensão de serem sanadas, mas que essa abordagem seja a gota da sangria que irá abrir um leque para futuras discussões, a partir desse ensaio.

Antes de tudo, é indispensável lembrar que nenhuma família é igual à outra, e consequentemente nenhuma arte hereditária é idêntica à outra. Obviamente aqui, limitamos a explanar o ofício da arte hereditária da família Lupino.


- O Início -

Algumas pessoas se casaram com um membro consanguíneo da família Lupino em algum momento da história dos Lupinos, e geraram filhos e filhas com o sangue e sobrenome Lupino, porém, nem todos os detentores do sobrenome e sangue Lupino herdaram a Arte Bruxa, mas da raiz dos Lupinos, os que herdaram são bruxas/bruxos Lupino. Se faz necessário lembrar que lá atrás, dita a tradição, que o Lupino que iria dar continuidade a linhagem recebeu a transmissão do poder pelas mãos de uma bruxa, Andreana Lupino, nascida em 1.800 em Santa Maria Maggiore, Benevento- Itália, a qual passou o dom antes de morrer para um de seus descendentes, e julga-se que este tenha ensinado os demais. Ate então, ninguém sabia quem era o descendente selecionado, até que anos mais tarde, dentre os sete irmãos Lupino que viviam na Itália, dois foram para Inglaterra, dois para os EUA, um para a França, um permaneceu na Itália e somente um veio para o Brasil.

A família Lupino brasileira teve sua origem quando S. Lupino se casou na época da imigração com M. Loria e vieram para o Brasil. Ela era irmã de Franchesca Loria, ‘strega’ da Congregação de Catanzaro (1899), um tipo de Companhia altamente confidencial devido os problemas da Sicilia Bourbônica. Essa Congregação era hortada por donas que combatiam espíritos e fantasmas usando ocultismo e feitiçaria. Essas mesmas donas eram parteiras e benzedeiras que discutiam seus ‘negócios’ durante assembleias que mais se pareciam com reuniões de senhoras comuns e isso se dava todo último domingo de cada mês, no jardim (ou horta) da casa de cada uma subsequentemente. A junção do sangue de Loria com o sangue do Lupino deu origem ao ‘dom’ como o conhecemos hoje.

Franchesca, quando se viu num entrave psíquico com a amante de seu marido, foi impelida a contar com o apoio de sua família contra um demônio conjurado para amaldiçoar todas as gerações das mulheres Lupino. A bruxa tinha amaldiçoado a família toda de Franchesca, e tudo que sairia do útero delas. Consta que todas as mulheres Lupino – pelo menos até a terceira geração – sofreram com a maldição, pois, da 1ª à 3ª geração dos Lupinos, somente os homens continuaram casados. O nome desse demônio, no entanto, é conhecido somente pelos iniciados, bem como o método desenvolvido para abrandá-lo na tentativa de atenuar a maldição que com o tempo virou uma ‘bola de neve’. A 4ª geração dos Lupinos já existe e estamos para ver na sequencia os resultados.

Diz a tradição que todas as mulheres da primeira e segunda geração da família Lupino nasceram em casa, com parto normal feito pelas mãos de nossa Nona, a Matriarca Mariana, uma senhora simples que adorava sua horta, seu jardim, seu fogão à lenha e seu rosário. Foi notória benzedeira e parteira, conhecida pela eficiência de sua arte na cidade de Américo Brasiliense, interior de São Paulo.

Há muito para ser falado sobre a história da família Lupino, contudo, a tradição familiar Lupino permanece viva até os dias atuais, e algumas bruxas que sustentaram amizade e um elo que transcendiam a carne, com os Lupinos, foram convidadas a conhecer de perto a Arte hereditária, a qual foram devidamente iniciadas, e à essas chamamos de bruxas tradicionais, pois carregam nossa linhagem, certificação e os segredos e mistérios da tradição Familiar Lupino. Hoje, elas se encontram no Brasil em Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, e Rio Grande do Norte, e lá fora estão na Sicília, Calábria - Itália, e em Hampshire – United Kingdom. Apesar de tudo isso confessado, algum Lupino quando é inquirido a revelar se ele é ou não um bruxo, é comum o ouvir negar e desviar o assunto.





- O Ligame –

Diz a tradição, que o vínculo de Ascendência e Descendência sempre marcou a relação entre aquele que está para morrer e aquele que vai substituí-lo por ocasião de sua morte, e dessa preocupação nasceu a necessidade de nomear um sucessor. A ideia da sucessão revela a permanência de uma relação direta que perdura e subsiste a despeito da mudança dos respectivos titulares de uma obrigação familiar ou comprometimento familiar. 

Tudo o que era um bem de família devia continuar na família, e desse ponto surge a entrega e transmissão. Isso remonta um costume muito antigo, obviamente estamos falando de costumes itálicos, antes mesmo da ideia do pátrio poder, que posteriormente foi substituído pelo poder familiar, já existia a transmissão que se efetuava por intermédio da “entrega”, que é a tradição propriamente dita. Numa iniciação entregam-se as chaves secretas (o Bem de família) para o iniciado.

No entanto, isso nunca foi convalidado por família nenhuma, e até onde se sabe não existiam leis ou regras que normatizasse ou regulamentasse esse costume, não se tinha uma tradição organizada ou coesa, pois a tradição era falada, ou seja, a ‘entrega’ era ‘soprada’ no ouvido da pessoa naturalmente por costume induzido pelo Espírito. O esforço de regularizar e organizar tudo bonitinho no que se concerne à uma tradição bruxa, acabou por culminar em ordens mágicas, irmandades mágicas e por último em uma religião para sacerdotes conhecida hoje como Wicca. O único quesito obrigatório a ser observado é a vocação, a investidura, o dom a ser mesclado, e o sincero desejo bilateral de se comprometer com a Arte pelo espírito.

Também diz a tradição que uma bruxa não pode morrer antes de ter transmitido seus dons à um sucessor. Na medida em que entre a vida e a morte se decide todo o complexo destino desse dom, há que se ter um novo guardião devidamente nomeado e investido para recebê-lo em vida. Nossa espiritualidade nos diz que uma bruxa é um anjo caído, um deus aqui na Terra, onde, enquanto ser humano, está limitada fisicamente pelo disfarce encapsulado do corpo material, e isso nos remete ao pensamento de que o homem desaparece, mas os bens continuam, e o bem ou legado de uma bruxa é sua espiritualidade mágica, que quando transferida ou compartilhada com alguém da família ou de sua confiança, permite que ela receba de volta quando cair numa próxima vida, a qual nascerá, crescerá e fará o egresso.

Grande parte das afinidades humanas transmigra para a vida dos que sobrevivem, dando continuidade, via sucessão, ao herdeiro, em infinita e contínua manutenção da memória e conhecimento do morto, em vida, para depois da morte. Por isso o culto aos mortos sempre foi e sempre permanecerá vivo dentre os feiticeiros.




Esse juízo sucessório remonta a mais alta antiguidade, sempre ligado à ideia de continuidade da religião da família ou à investidura do poder familiar. Em Roma, na Grécia e na Índia, a religião desempenha, com efeito, papel de grande importância para a agregação familiar. De acordo com Fustel de Coulanges, a propósito, o culto dos antepassados desenvolve-se diante do altar doméstico, não havendo castigo maior para uma pessoa do que morrer sem deixar quem lhe cultue a memória, de modo a ficar seu túmulo ao abandono. Cabe ao herdeiro o sacerdócio desse culto.

Essa sucessão foi por séculos transmitida apenas pela linha masculina, para o primogênito varão, pois o afastamento da filha se justificava, até, pelo fato de que esta iria se casar, e pelo casamento passaria integrar a família do marido, perdendo qualquer espécie de laço com a família de seu pai, cultuando, inclusive, os deuses da nova família. Mas isso era aos olhos do Estado, enquanto que, na realidade, algumas filhas nunca perderam seus vínculos com a família de origem, e principalmente com suas origens divinas. Essas mulheres, mesmo não podendo oficializar formalmente um rito aos olhos do Estado, aprendiam o ofício de forma singularmente, somando-o aos seus instintos e dons, onde, mais tarde, viria retomar seu lugar no mundo reconhecidamente como A Bruxa.

Demoradamente a religião doméstica foi perdendo o ‘religare’, uma vez que o Estado assumiu o poder governamental e delegou à ICAR o comando para guiar a espiritualidade das pessoas com um ‘religare’ remaquiado, e foi aqui onde houve uma ruptura no pensamento religioso da bruxa, ou pelo menos foi aqui que ela pôde expor sua revolta, uma vez que um ‘religare’ sempre foi dispensável, já que ela nunca esteve ‘desconectada’ de sua fonte espiritual. A partir daí, a religião era desnecessária para as bruxas, dando a religião lugar à tradição, no entanto a bruxa continuou sua arte em segredo e se tornou uma herege, frequentando a igreja rotineiramente para que não fosse perseguida. A era das fogueiras pode nos contar mais sobre as perseguições.

A substituição a qual falamos, cuja sucessão no poder se faz necessária, se dá com o advento da morte. A morte é tão poderosa, que ao final de todo ciclo completado pelo labor, ela oferece a paz em fleuma ou a inquietude permanente, sendo que o único que pode transformar a permanência da inquietude em paz é o poder da morte através de uma mente iniciada. Não há quem possa contra o amor da morte por nós. 


Sett Ben Qayin