Dois homens caminhavam livremente na floresta densa, na intenção de sua
direção ao norte achariam seu leito de paz. O mestre todo calado andava mudo e
orientado. O aprendiz todo agitado andava barulhento e era guiado.
Perguntas surgiam e os comos e quandos também, e o mestre silenciava.
O aprendiz desesperado pelas respostas emitia sua voz com tons altos
entre as folhas ao redor e acima, clamando para que o mestre falasse alguma
coisa, mas o mestre nada dizia.
Numa boa parte do caminho percorrido, eles encontraram uma moita de
bambu e uma mulher sentada ao lado da moita. Ela ofereceu água e disse que
estava com muitos problemas, por isso tinha se sentado ali.
Eles então resolveram sentar ali e aceitar a água enquanto ouvia a
mulher desabafar. Ela falava repetidamente sobre seus problemas e o fazia como
se tivesse apaixonada pelos problemas que nem eram exatamente seus, mas ela
havia assumido-os para si. Eles ouviam com atenção e com a boca cheia de água.
Quando a mulher sentiu que tinha falado demais, deu um suspiro, e
perguntou se podia seguir viagem junto deles. O mestre respondeu que sim, mas
só até a beira do próximo rio, pois de acordo com a tradição oriental, o
caminho depois do rio não pertencia a ela, mas tão somente a eles, e o caminho
dela iria se revelar na beira do rio. Ela aceitou.
Durante o percurso, a mulher falava, falava e falava sobre tudo. O
mestre ouvia pacientemente enquanto o aprendiz já não aguentava mais ouvir a
mulher, e acelerou o passo deixando a mulher e o mestre um pouco para trás.
Próximo de 100 passos do leito do rio a mulher avistou seu rumo, o
caminho que a levaria para casa, agradeceu o mestre e partiu. O mestre abençoou
e continuou em direção ao norte.
Aproximadamente 50 metros do rio, o Mestre encontra o aprendiz parado e
admirando novamente outra moita de bambu. O aprendiz estava agitado, cheio de
perguntas sem respostas e reclamando da mulher que viera o caminho todo falando
sem parar.
Foi então que eles atravessaram o rio devagar, e o aprendiz falava do
jeito em que a mulher havia reclamado de seus problemas, ele afirmava que ela
era um baita problema em si. O mestre dizia para o aprendiz ter cuidado ao
pisar nas pedras do rio enquanto atravessava, e o aprendiz pisava solidamente e
firmemente como o mestre pedia, e o mestre exclamou: “Não julgue a mulher!”
Na outra margem do rio, prosseguiram lado a lado, o mestre mudo e o
aprendiz tagarelando sobre a mulher, dizendo que ela não podia carregar tantos
problemas assim, sob pena de se tornar o problema em si, até que de repente o
aprendiz tropeçou num toco de bambu e caiu. Então o mestre quebrou o silencio e
disse:
“Depois de plantada a semente deste incrível arbusto, não se vê nada por
aproximadamente cinco anos, exceto um lento desabrochar de um diminuto broto a
partir do bulbo”.
O aprendiz enraivecido voltou a face pro mestre e perguntou: “Você nem
ouviu o que eu disse né mestre? Nem prestou atenção em mim!”
O mestre respondeu: “Aprendiz, você deveria ter deixado a mulher lá
atrás, e não ter carregado ela com você até aqui. Ela fez o que precisava
fazer, e esse bambu que você tropeçou quer lhe dizer alguma coisa. Ouça o que o
bambu diz à você!”
O aprendiz questionou: “mas o bambu é vazio por dentro! Como ele pode me
ensinar alguma coisa?”
O mestre continuou: “Durante cinco anos, todo o crescimento é
subterrâneo, invisível a olho nu, mas… uma maciça e fibrosa estrutura de raiz
que se estende vertical e horizontalmente pela terra está sendo construída.
Então, no final do 5º ano, o bambu cresce até atingir a altura de 25 metros.
Muitas coisas na vida são iguais ao bambu. Você trabalha, investe tempo,
esforço, faz tudo o que pode para nutrir seu crescimento, e às vezes não vê
nada por semanas, meses ou anos. Mas se tiver paciência para continuar
trabalhando o seu ser, persistindo e nutrindo, o seu quinto ano chegará, e com
ele virão mais crescimento e mudanças que você jamais esperava. O bambu grita na
tempestade, mas quando o vento vai embora, ele se cala. Depois que o vento e a
tempestade vão embora, o bambu não fica gritando, ele se silencia! Faça o
mesmo, esvazie sua mente. A sabedoria do bambu é como a taça do vinho. Da mesma
forma que é impossível encher uma taça de vinho que já está cheia, é impossível
prestar atenção em si mesmo sem que a mente esteja limpa. É preciso muita fibra
para chegar às alturas meu querido aprendiz, e ao mesmo tempo, muita
flexibilidade para se curvar ao chão. O bambu meu caro, é vazio por dentro, bem
como deveria esvaziar sua mente imitando o bambu, e para cada gomo terá uma
junta, sim o bambu tem muitos “nós”, ele se soma, como lobos vivem em bando,
e seu tronco oco, serve de morada aos deuses. O bambu em sua simplicidade
é uma das árvores mais resistentes que existem. É tão durável quanto o concreto
e a sua tração é comparada ao aço. Suas utilidades abastecem diversos setores
da economia e da sobrevivência humana, através da alimentação, da produção do
álcool, celulose, reflorestamento, artesanato, decoração, movelaria,
estruturas, construções, entre outras coisas.”
“Mas mestre” - indagou o aprendiz - “como faço para aprender tudo isso?
O que tenho de fazer para prestar atenção em mim e me tornar um mestre como o
senhor?”
E o mestre ensinou: Comece observando e aprenda as 7 lições do bambu.
1° lição: Se curva mas não quebra
A primeira e principal lição do bambu é a humildade. Mesmo com a mais
suave brisa é impressionante notar como os troncos dos bambus balançam. Mesmo
estando fortemente enraizado, o bambu se deixa levar pelo movimento do vento,
nos mostrando que mesmo com sua fundação sólida, ele é leve e flexível.
Ao se mover com o vento e não lutando contra ele, o bambu nos ensina que
a vida flui bem melhor quando levamos a vida com mais tolerância e leveza e pra
isso é preciso termos humildade, seja para reconhecer um erro, voltar atrás e
pedir desculpas, ou para sermos mais flexíveis e menos duros em relação à si
mesmo, à vida, à família, às demais pessoas que nos rodeiam e nos amam ou não.
Isso ocorre graças às suas raízes profundas, que levam anos para serem
formadas até que o bambu comece a dar o ar da sua graça. E depois que ele
cresce é muito difícil arrancá-lo do chão, pois o que ele tem para cima, ele
tem para baixo. Isso também se aplica à nossa vida, pois quando criamos raízes
sólidas, mais chances de obtermos virtudes e com elas percorrer nosso caminho
sem impor metas a serem alcançadas.
2° lição: A aparente fragilidade é o segredo da fortitude
O bambu, mesmo não sendo frondoso e nem alcançando grandes alturas como
os eucaliptos, se mostra forte em relação às condições climáticas extremas, nos
provando que sua fragilidade é somente aparente. É surpreendente notar como ele
suporta bravamente invernos e verões extremos e como ainda conseguem se manter
em pé, mesmo após um tufão devastador.
Portanto, por mais que você se sinta fragilizado, desanimado e para
baixo, não deixe de acreditar na força que existe dentro de você. Não se
subestime e não se superestime, dê à si o tamanho real que tem, e nisso já
reside grandes poderes. Acreditar em si significa olhar para dentro e enxergar
quem se é. O bambu continua em pé porque ele tem o elemento ar, o vazio do
mesmo vento que o toca por fora já habita nele.
3° lição: Como lobo, o bambu vive continuamente em comunidade
Os bambus estão sempre unidos uns aos outros e essa lição pode ser
aplicada em nossa vida: Nós nascemos indivíduos, mas ninguém pode sozinho,
completar a felicidade e as pessoas precisam de outras para interagir e se
sentirem completas. É preciso aprender a cultivar o espírito de aliança e
ajudarmos uns aos outros, pois quando unimos as forças, fica bem mais fácil
atravessar as barreiras, superar limitações e transformar as adversidades
que a vida nos impõe para o nosso próprio crescimento e proteção de nossa
condição de vida.
Atualmente, as pessoas no geral estão se tornando mais individualistas e
gananciosas, estão se distanciando umas das outras. Essa geração não busca de
forma consciente o incessante isolamento, esse comportamento é parte do berço
que a geração X deixou de herança para a geração Y. Isso nos faz pensar
sobre os valores da amizade e da solidariedade e a lição que o bambu passa é
que sozinhos não somos nada além de indivíduos, mas se temos amigos por perto,
deixaremos de ser apenas uma gota de água na imensidão do oceano. A razão pela
qual as pessoas se portam e se colocam como individualistas, está
horizontalmente ligado ao medo de que outras pessoas invadam seu cantinho
confortável, por ciúmes, por isolamento provocado, por proteção extremada, por
trauma ou qualquer outra desordem psiquiátrica ou espiritual. São inúmeras as
razões ou justificativas, e poucas são as pessoas que se atentam à isso e
buscam ajuda pra se curarem. O bambu traz a lição da união, sendo ela uma união
do tipo família.
4° lição: Não se deixar derrotar pelas adversidades
Nos países do hemisfério norte, durante o inverno rigoroso, os bambus
chegam a se curvar de tanta neve sobre eles, porém mesmo ficando por tanto
tempo envergado, assim que a neve cai ou derrete, o bambu volta ao seu lugar
como se nada tivesse acontecido. Como algo que é oco por dentro e aparentemente
tão leve, consegue aguentar um fardo tão pesado e ao se livrar dele, voltar
majestosamente à sua posição vertical, sem sequelas?
A razão é que o bambu tem por todo seu tronco os “nós”, as juntas, as
junções, a união, e são eles que dão ao bambu a força e a resistência para
suportar todas as suas desventuras. Ao direcionar a força da união em prol de
um bem maior, ao darmos as mãos, ao ouvirmos e sabermos ouvir teremos o poder
da família unida. Em nossa vida, os nós podem estar representados através das
pessoas que amamos e que estão sempre junto de nós para nos ajudar a enfrentar
as dificuldades da vida. A oposição, a adversidade ou adversários, só existem
porque fazem parte do balanço natural das coisas, e sem eles ficaríamos
imaturos e irresponsáveis, sem eles não se pode progredir na escala da
evolução. Esse mesmo pensamento se aplica ao diabo e à todos os medos. O único
que pode te derrotar é você mesmo, e se você notar a derrota lembre-se: Você
foi o seu maior adversário e pior inimigo. Comece as pazes consigo e una-se
ainda hoje.
5° lição: Busca a sabedoria no vazio
O interior oco do bambu nos lembra que muitas vezes, enchemos nossos
pensamentos com nossas próprias conclusões preconcebidas e com isso não
deixamos espaço para mais nada. Não se pode encher um copo se ele já está
cheio, não se pode pôr vinho novo numa taça que contém vinho apodrecido. Para
receber conhecimento, temos que estar abertos a todas as novidades, a tudo que
é diferente, a todas diversidades, a todas desigualdades, a todas
dessemelhanças, a todas diferenças, a todas disparidades, a todas distinções,
todas as heterogeneidades, sejam elas individuais ou de grupos, culturais ou
sociais, religiosas ou espirituais. Estar aberto não significa adotar pra si,
mas significa conviver bem com o diferente. Significa aceitação, sem revolta.
Significa absorver o diferente e transmutá-lo dentro de nós, para que viva em
nós, e assim, tudo que vive em nós não pode nos machucar a menos que permitamos
conscientemente.
Portanto, devemos esvaziar nossa mente e jogar fora todos os pensamentos
e apegos que não acrescentam em nada nas nossas vidas. Quando esvaziamos a
mente, retirando todos os preconceitos, orgulhos e medos, nos tornamos mais
revolvidos às possibilidades e às oportunidades de aprender cada vez mais.
6° lição: Cresce sempre e sempre para o alto
Olhar para o alto nos dá a significação de estarmos buscando o divino. O
bambu é uma das plantas que mais crescem no mundo, e o melhor – Só crescem para
o alto. Pense que assim como o bambu, você também tem um potencial incrível
para crescer. Devemos sempre olhar para o alto e seguir adiante com nossas
experiências. O céu deve ser nosso limite, assim como o bambu. Na vida
precisamos sempre do progresso. O bambu cresce mais rápido em torno da estação
chuvosa. Às vezes, podemos também ter “estações” onde crescemos mais e outras
“estações”, que crescemos menos. No entanto, é importante que o crescimento
seja contínuo. A chuva e o elemento água são ambientes do sentimento e da
emoção, ao passo em que progredimos na inteligência emocional, nossas águas vão
ficando cada vez mais puras e cristalinas, ou seja, em cada estação nossos
sentimentos vão ficando mais e mais divinizados.
7° lição: Procura buscar a simplicidade
O bambu tem galhos pequenos e ele nos ensina que não devemos perder tempo
criando galhos enormes. Esses galhos seriam as coisas materiais e inúteis, nas
quais muitas vezes nos apegamos desnecessariamente ou porque os amigos também
se apegaram, seja por moda, seja por impulso da sociedade, se esquecendo que
desta vida, nada disso se leva, a não ser a experiência e a sabedoria que
adquirimos ao longo da vida.
Isso significa que não devemos perder tempo com coisas que não nos
levarão a lugar nenhum. A busca na simplicidade tem haver com o oco do bambu,
cuja morada divina permanece tão simples que para os olhos mundanos não passa
de um lugar vago e oco. Perceber isso é um degrau para a nossa subida. Não será
tomando o espaço do outro com seus galhos ou então usá-los para demonstrar
“soberba” e “arrogância” que nos trará felicidade.
Às vezes, gastamos muito do nosso tempo tentando mostrar que somos isso
ou aquilo, talvez para convencer os outros – e a nós mesmos – que somos dignos
de atenção e elogios, ou de que temos que ter mais privilégios que outras
pessoas, mas o contrário também é verdadeiro, porém, nem nos damos conta que a
simplicidade também pode impressionar as pessoas e só nessa desatenção já nos
mostra o quanto fomos ensinados a estarmos distantes de nós mesmos, e cegos
para toda essa lição que você sozinho não se deu conta de aprender a ser
simples e útil, meu aprendiz. Na tempestade de vento o bambu grita, mas quando
ela acaba, o bambu silencia. Portanto meu aprendiz, quando estiver enfrentando
seus oponentes, suas tempestades, grite o quanto quiser. Mas depois que a
tempestade passar, olhe para o que sobrou de si mesmo e silencie. Nada de ficar
apaixonado pelo drama heroico e sair narrando todos os dias pra todas as
pessoas sentirem pena ou admiração por você. Liberte-se! A simplicidade é a
liberdade.
Sett Ben Qayin