segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Iniciação – Descortinando o Véu do Fogo




A iniciação não é somente o início do caminho, mas é também o começo da alameda, a abertura, a passagem, o acesso, a entrada, a estrada, a via, o logradouro que conduz ao cálice do qual o noviço poderá ou não beber do vinho do crânio do sábio. A iniciação é induzida, enquanto que, sorver do vinho do crânio do sábio é uma diligência e uma escolha, não necessariamente nessa ordem.



Iniciar é no sentido de teleutai: fazer morrer, de certo modo, fazer expirar, provocar a morte, o fim. Mas a morte é considerada uma saída, a passagem de uma porta que dá acesso a outro lugar. À saída, então, corresponde uma entrada. Iniciar é também introduzir. O iniciado transpõe a cortina de fogo que separa o profano do sagrado, passa de um mundo para outro, e sofre, com esse fato, uma transformação, muda de nível, torna-se diferente.



A transmutação dos metais (no sentido simbólico da alquimia) é também uma iniciação que exige uma morte, uma passagem. A iniciação opera uma metamorfose. A morte iniciática não diz respeito à psicologia humana, representa a morte aos olhos do mundo, enquanto superação da condição profana.

O neófito parece operar um processo de regressão, seu novo nascimento é comparado a um retorno ao estado fetal no ventre de uma mãe. Ele então, penetra na noite, mas uma noite que lhe diz respeito; num sentido mais amplo, é o mergulho na noite cósmica.



Todos os rituais comportam processos particulares com relação à morte iniciática.  O candidato pode ser posto numa cova cavada ad hoc, para ele; pode ser recoberto de galhos e esfregado com um pó que lhe dá a alvura de um cadáver. Mircea Eliade, em Mistério e regeneração espiritual nas religiões extra-européias, em Eranos Jahrbuch, 1945, 23, p. 65 e seguintes, aborda esse tema dos ritos iniciáticos e suas mortes como poderosas fontes de transformação, sendo, um rito de passagem que simboliza o nascimento de um novo ser ou o retorno do ser para com os seus iguais. 

O rito formal é um marco, enquanto que seus efeitos transcendem essa linha marcada no tempo e no espaço, para averiguar no iniciado a condição de ascendência espiritual de uma certa linhagem.



Num plano tanto cristão quanto neo-pagão, os sofrimentos estão ligados à passagem de um estado a outro, do homem mundano para o homem espiritual, com suas diversas provas. Os monges do deserto ilustram isso, com as provas sofridas pela confrontação com o poder dos demônios, donde o nome de tentações dado a esses fenômenos. 



Os bruxos enfrentam suas ordálias, de modo que, sempre é um tipo variado de provocação imposto à nova vida, dada pela morte, como uma aliança de barbas serpentinas da medusa que quando deparado a um esquadrão assaltante, satisfaz para extrair sua excisão. 



A tentação de Santo Antão é a mais célere e a mais desfigurada. O cristianismo insípido guardou muito das antigas magias utilizadas nos velhos rituais e costumes dos pagãos e as utiliza até os dias atuais, entretanto, a despeito dos mesmos propósitos, a dialética abordada não é a mesma.

O cristianismo identificou as forças do mal com demônios que atormentam o homem, o qual passa ao estado de santidade não forçosamente por escolha voluntária, pessoal, mas por ter sido escolhido.



A morte iniciática prefigura a morte física, que deve ser considerada como a iniciação essencial para aceder a uma vida nova, e com ela os produtos como Telesforevw. E, no entanto, antes da morte real, graças à morte iniciática incessantemente repetida, no sentido que São Paulo indica aos cristãos (1 Coríntios, 15, 31), o homem constrói seu corpo glorioso. Vivendo, embora, neste mundo profano, ao qual não deixa de pertencer, ele penetra, com efeito, pela graça, na eternidade.




A imortalidade não surge depois da morte, ela não pertence à condição post mortem, ela se forma no tempo, e é obra da morte iniciática. Em três tempos, é fruto da Teleutai, somado ao esforço de Telesforevw, fabricando o esmero encontrado em Teleivwsi. 


Sem isso, qualquer feiticeiro que clame o título de bruxo tradicional, não tem nada mais nada menos que um culto nas mãos, culto este que, nada tem de feiticeiro, mas sim, de servidão.

Sett Ben Qayin

2 comentários:

  1. Olá Cléber! Adorei o Post. Só não entendi muito bem essa iniciação dos cristãos. Como uma pessoa pode ser iniciada por ter sido escolhida e não por escolha própria? Eles sofrem tentações em vez de ceder às tentações, é isso? Gostaria de saber se você tem algum texto ou se conhece algum livro que explique isso melhor. Aguardo resposta

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  2. Fisio, em qualquer Covine de bruxaria tradicional só se entra sendo convidado. Geralmente isso é uma marca que acompanhou várias ordens mágicas e irmandades em tempos cristãos, tal como é a Maçonaria.
    Em se falando de iniciação, no fundo, não é o apostolado quem decide ser iniciado horizontalmente, desde que isso só acontece quando o iniciador dele decide fazê-lo por reconhecer nele que ele está pronto.

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