quinta-feira, 27 de junho de 2013

Segredos da Arte da Transformação - parte 2



A Supremacia do Espírito sobre a Matéria

Seu sentido de segurança está sendo desafiado, e a tendência natural é tentar segurar-se em tudo que estiver ao seu alcance, a menos que o discípulo esteja se rendendo, resolvendo dar a entrega de si, o que equivale dizer lançar-se no abismo.

Esse abalo sísmico interno tem seu papel na existência da vida de um neófito. Se o discípulo aceitar que ele ocorra, o discípulo emergirá dos escombros mais forte e mais aberto às experiências iniciáticas. É necessário expandir a mente, esticar a tolerância para alcançar o todo. O verdadeiro iniciado é aquele neófito que se entregou e se rendeu, permitiu a supremacia do ego individual sobre o ego personalizado, a supremacia do Espírito sobre a matéria. Ele mergulhou do penhasco do seu “eu” e caiu no abismo de sua profundeza, ali ele voou e voltou para tornar-se neófito novamente, pois o início do caminho é um ciclo sem fim, como diz na música ‘Espíritos Ancestrais’ do filme Irmão Urso: “cultivar nossa fé, pra no fim da jornada, compreender, que ela vai começar”....(...).

Amor é entrega, confiança é rendição. Deve-se pensar grande, pois é essa grandeza que revela qual é o tamanho do seu Deus. Esse Deus é você, ele mora ai dentro do discípulo que um dia vai se tornar mestre e revelar-se um deus na terra. E é assim que as irmandades dos “iguais” se formam. É assim que nascem os Covens de Wicca, os Covines de Bruxaria Tradicional e os Congregas Stregonescos. Mudam-se os nomes dos trabalhos de transformação, mas o processo é sempre UM.

Quando esse Deus for imensamente grande, se torna impossível pecar contra ele. Alguns te chamarão de arrogante, mas não podem se esquecer que todos somos Uno, e a lição que se apresenta é sempre para dois gumes ou mais. Uma pessoa sozinha pode pensar sobre uma situação, mas não pode vivê-la. Para que uma pessoa possa viver uma lição ela sempre precisará de outra, e essa outra estará recebendo sua parte dessa lição. Ensinamos quando aprendemos e aprendemos quando ensinamos. A diferença aqui é o respeito em relação ao reconhecimento de quem está e quem não está juramentado dentro de um Coven, pois quem está juramentado, irá cumprir seu compromisso! Lembrando que depois de todo incêndio a terra toda é repovoada, após a tempestade o ar se torna limpo.

É na ‘entrega’ que se pode concluir que Tudo está como deveria estar. Veja a destruição do seu ego personalizado com desprendimento e diga sim ao processo de honra da sua palavra dada em juramento. Isso revela seu caráter e isso mostra a marca da bruxa.

Quando perdemos alguém ou quando uma pessoa sai de nossas vidas, a gente se magoa, se fere, sente saudades e na maioria das vezes não aceita o que está acontecendo. Mas no fundo, tudo está como deveria estar. A aceitação é a base de toda transformação, é a base da magia.

A pessoa sai de sua vida e sem se dar conta ela vai viver uma nova jornada, que talvez irá prepará-la para o retorno, mais madura, mais sóbria, mais sábia. Essa é a razão pela qual notamos a diferença quando encontramos alguém que não víamos há muito tempo e nos surpreendemos com sua capacidade de transformação.



Quando finalmente podemos dominar o ego, compreendemos que de nada adianta se sentir ofendido. Não se alcança o poder da intenção ao se sentir ofendido. Aliás, sentir-se ofendido gera a mesma energia destrutiva que a princípio o feriu. O ego se sente ferido/ofendido, não o Espírito. Por isso o ego é considerado a maior fraqueza humana, o ego é a fraqueza que fabrica derrotados na busca das virtudes. Precisamos do ego personalizado para existir, não para ‘Ser’, pois para esse, precisamos do ego Espiritual e Divino, haja vista que é o ego individual (divino) que fabrica a ressurreição e ressurreição é a verdadeira iniciação.

Existem situações de aborrecimento em cada esquina, para quem procura aborrecimentos, por isso desapaixone-se já de todos os aborrecimentos. Desapaixonar significa livrar-se do sofrimento. Paixão vem do latim ‘Passio’ = dor/sofrimento. Paixão é sinal claro que o ego personalizado está no controle, uma vez que espírito não sente dor, ego individual não sofre, e essa equação é um milhão de vezes verdadeira. Quando o ego está no controle ele dita para você não ouvir as pessoas, ele te infla e nesse estado você se basta a si mesmo, é o ego dizendo que o mundo não deveria ser do jeito que é, e que tudo é uma injustiça. É o ego personalizado afirmando que você é mais privilegiado que o resto do mundo, se achando o mais importante e respeitável ser humano que existe. Seu senso de valor fica distorcido e ele só obedece regras e leis que estejam em acordo com o mundano.

O iniciado não se encaixa em regras e não precisa obedecer leis, ele o faz porque compreende conscientemente seu papel e sua devida importante dentro do Coven. Ele o faz porque ele “PODE” fazer, ele tem poder para oferecer isso humildemente e conscientemente.

Quando um iniciado ofende ou briga com outro iniciado, há necessidade de fazer uma higiene mental da parte de quem acusou e este, deve se perguntar se ele realmente tem poder para conseguir ofender quem jamais se sentiria ofendido. Não é estar por cima da situação, é estar fora dela, é nisso que reside o verdadeiro poder.

O ego adora nos dividir entre ganhadores e perdedores. Dominar o ego é a maior virtude de um anjo caído.

Quando o ego personalizado pensa que ganhou a batalha do ego individual e obteve vitória, ele ganhou o mundano, enquanto o ego individual (Espírito) se silencia como Deus que é, e permite o ego personalizado ter sua experiência, apesar do ego individual ter poder de destruir a vontade da carne, o ego individual compreende que a carne (ego personalizado +mundo + material) já está falhada, pois ela morre, o Espírito não.

O ego personalizado não compreende que não há perdedores num mundo onde tudo e todos compartilham da mesma fonte de energia e do mesmo ciclo eterno de renascimento chamado de dormir e acordar.

Aprenda a estar em paz, em amor e confiança, pois nisso reside a fortaleza de um deus na terra, e desista de ter razão sempre. Razão vem do latim ‘Ratio’ que significa sugestão dividida, não é certeza. Deixe cada um ter a experiência que quer ter, e nisso habita o respeito pelo livre arbítrio. Quem se respeita, sabe respeitar o outro e nunca se sentirá ofendido, porque ninguém nunca conseguirá lhe ofender, ainda que tente.

O ego é a raiz de todos os conflitos. Deixar de querer ter razão ou deixar de fazer exigências, ou ainda deixar de querer vencer sempre, é como dizer ao ego que ele não está mais no controle e que você em sua essência não é mais escravo do ego. O neófito precisa das regras de Coven para ser treinado, depois não mais.

É estar livre! É ser livre!



O querer, fazer, ousar e calar é um axioma bruxo, mas o calar não significa que você não deve contar os segredos da arte para ninguém, aliás, isso é regra de Coven e não proíbe de revelar os segredos da arte, apenas pede para fazer sigilo das coisas internas. O verdadeiro calar, é aquele que se faz frente ao ego se di mesmo, é o legítimo Brudvalem, é o silêncio de quem está satisfeito por saber tudo que sabe e não quer impor sua vontade à ninguém, pois tudo está como deveria! É o estado de Supremacia do Espírito sobre a matéria. Um iniciado não se interessa por política, porque a política é mundana. Um iniciado só irá se envolver na política governamental se for para salvar a liberdade de sua liberdade, sua crença e fé, sua arte e ofício. O iniciado está na cadeia dourada do ser como todo mundo está, e ele faz seu trabalho de formiguinha sem interesse em mudar todo mundo, pelo menos não antes de mudar a si próprio.

Exigências são feitas enquanto o neófito é um buscador. Não se deve exigir curso de línguas para se estar num Covine, pois essa exigência está para coisa mundana. Não se cobra dinheiro para aprender a ser livre, e a arte bruxa, a arte dos sábios é para todo mundo, mas nem todos são para a arte bruxa.

Impor metas a serem cumpridas, depois que se está iniciado, é diferente de combinar ou fazer acordo para se trabalhar junto.

Toda imposição é manipulação que não respeita livre arbítrio e força à uma escolha que leva à uma consequência. Imposição para um iniciado é se graduar na pequenez. Impor algo à um iniciado é tão esdrúxulo que revela o verdadeiro tamanho de quem impõe.

Se dê a oportunidade de se sentir bem e estar alinhado com a fonte de todas s coisas quando alguém quiser ter razão sobre você, se dê a oportunidade de se sentir bem dizendo a outra pessoa que ela está certa, agradeça-a por direcionar você à verdade. Isso é humildade e gratidão, dois sentimentos poderosos e transformadores que só ficam abaixo da escala poderosa do amor ilimitado divino.

Deus é livre de raiva, ressentimento e amargura. Se você é um deus na terra, certamente você sabe disso, pois é livre como Deus. O Espírito Criativo é amoroso, generoso e receptivo. Todos nós emanamos da mesma fonte do UNO.

Todos nós temos a missão de realizar a pretendida essência, de construir o bem pelo bem, e doar aquilo que se tem de melhor, no intuito de oferecer mais. Tudo o que precisamos para cumprir o nosso destino está ao nosso alcance. Concentre-se em seu crescimento espiritual, sem se esquecer que seu mestre já sabe o que isso significa, portanto, não tente mudar seu mestre, mude à si próprio e deixe ele te conduzir até o portal do abismo da mesma maneira em que ele foi conduzido pelo mestre dele, lá, se você atravessar o portal como ele te ensinou, irá cair, e se você cair irá voar, e se voar estará iniciado e isso vai significar que o seu caminho só começou agora, depois de iniciado, uma vez que início é a raiz e a chave da palavra iniciação.
Ao projetar sentimentos de superioridade, retorna à você ressentimentos de hostilidade. Se policie constantemente na humildade e na firmeza de caráter. Jamais haja com ganância, prepotência e soberba.

O ego nunca está satisfeito, não importa o quanto já tenha conseguido. Estar iniciado é estar satisfeito consigo e com tudo ao seu redor.

Nunca julgue um livro pela capa! Nunca, pois isso indica que você não foi iniciada e está vendendo ou se prostituindo ao ego personalizado.

Nunca julgue ninguém pela aparência, pelas conquistas, posses ou pelo comportamento, nem por nenhum dos índices do ego. Ao cessar sua sede de ansiedade, as coisas virão sozinhas até você. A teia universal da cadeia dourada do ser é o segredo e é um dos segredos da tábua de esmeralda.

Para ter algo verdadeiramente seu, é preciso não necessitar desse algo.

A Fonte Criadora é feliz nela mesma, e nunca obstrui suas obras por causa de egoísmo. A verdadeira eudaimonia (felicidade) se resume no pouco suficiente para estar satisfeito e em união com a Fonte Criadora, que vive dentro e fora de você.

Amor, Perdão, Gratidão e Generosidade são os poderes de todos os verdadeiramente iniciados, o resto é ressonância!


Sett Ben Qayin


Segredos da Arte da Transformação - parte 1








O LANÇAMENTO NO ABISMO!


Desde que existe Espírito (Deus) e Homem (Barro), existem dois egos. O individual e o personalizado.

No caminho iniciático, o homem vai aprendendo a se reconhecer como um Deus aqui na terra, a imagem e semelhança divina que caiu aqui na terra para acender sua luz, como portador da luz que é. Alguns acendem, outros demoram muitas vidas para fazer essa trajetória, e isso está horizontalmente ligado aos valores e prioridades de cada um, bem como sua vocação.

Certamente não se pode ensinar virtudes pela vocação de um ateu, da mesma forma que um cego não pode trabalhar de guarda de trânsito.

Vamos abordar aqui vários assuntos que se tornarão um só, desde que nosso interesse é abordar mais uma entre tantas explicações sobre o caminho iniciático.

A coragem, a entrega e o lançamento no abismo estão interligadas. De nada vale a coragem se não for usada contra si mesmo. É preciso ter muita coragem para ser sincero consigo mesmo e reconhecer onde é que você precisa mudar. Tendo aceitado isso, a entrega fica por um fio. Desarmado e entregue, o neófito experimenta o amor perfeito e a confiança, por isso ele é empurrado ou lançado no abismo. É o mergulho nas suas profundezas. Sem confiança, sem coragem, sem amor e entrega ninguém dá esse passo por puro medo. Quem vive com medo vive pela metade e se você neófito quer ser um ser inteiro, integral, precisa primeiro, parar de querer encontrar sua metade fora de si mesmo. Se o que não encontrar dentro de si, não encontrará fora. Dentro de si estão seus piores inimigos a serem enfrentados, absorvidos e transformados.

A bruxaria moderna parece ter revelado ao mundo tudo que tinha para se revelar, as estantes estão cheias de livros com conteúdo muito informativo, outros livros nem tanto, mas o mais importante é, ainda que os métodos e sistemas usados na bruxaria moderna seja limitado, trouxe a revelação de uma das coisas “iguais” entre todas as bruxarias, além do fogo que é “O Amor e a Confiança Perfeitos”.

De nada adianta dizer que ama, se ainda possui vícios em seu caráter. Amor é algo livre de vícios, enquanto que, Confiança é entrega!

Entrega é tradição! Até mesmo no direito existe a tradição. Em matéria de contratos diz: A propriedade do bem, se conclui com a tradição. A entrega das chaves do imóvel é a tradição.

Em bruxaria, a ‘entrega das chaves’ é a investidura que o mestre faz no neófito, mas como não é um contrato leonino, o neófito também faz a entrega de si ao mestre. Não estamos falando de entrega do corpo sexual. Estamos falando de confiança perfeita, que só é perfeita se ausente de vícios e sem reserva de nenhuma natureza mental ou física.

É sobre essa pauta que se enrosca a serpente da Arte bruxa, e isso não vêm nos livros. Quando alguém tenta expor essa significação, a impressão que temos é que o autor ficou “cheio de dedos” ou “medos” de abordar claramente um tópico que nunca precisou que nós para ser mistério. Todo mundo quer jogar um manto negro em cima desse tópico e fazer mistério do mistério. Eliphas Levi, por exemplo, tem uma linguagem super rebuscada a respeito disso e poucas pessoas, inclusive iniciados, compreendem o que ele diz.

Desenvolver amor e confiança perfeitos, sob a premissa da “entrega” de si mesmo à quem está te treinando na Arte Bruxa, é tarefa para Mestres iniciados em bruxaria. Não estou a me referir em mestres graduados em universidades, e o perigo está em se tratar a arte bruxa de maneira eclética. Se você é um bruxo e quer fazer viver a tradicionalidade da Arte Bruxa, você deve enxergar o mundo sob as mesmas lentes da filosofia perene, não sob a sua lente pessoal.

Logicamente não é pecado se enveredar em uma arte eclética, ao contrário, respeitamos o livre arbítrio. Aqui apenas incentivamos a não deixar morrer a arte na sua forma tradicional.



É notório que todo conhecimento a respeito da sabedoria mágica veio do Oriente para o Ocidente e não o contrário. Por tanto, tudo o que é TRADICIONAL veio do ORIENTE e é visão de Mundo Oriental aplicada do geral para o particular. Isso significa que a filosofia perene é um conhecimento que contém sabedoria eterna. Não são frases de filósofos, não é ser dono da vida, mas sabedoria da arte bruxa para se tornar aquilo que você nasceu para se tornar e com isso, ser dono de seu destino enquanto aceita que tudo está como deveria estar.

Dois dos ditados mais encontrados em bruxaria são:

- “Quando o neófito está pronto, o mestre aparece!”

- “Todo neófito tem o mestre que merece!”

Desde que Coven é Coven, desde o primeiro Coven da face da terra, existem aquelas pessoas que pedem pra entrar no Coven usando a máscara da humildade e logo vão se revelando quem eles são verdadeiramente. Essas pessoas tanto se iludem que beira a soberba ao pensar que conseguem enganar um mestre. Essas pessoas se tonam “ingratas” (persona non grata) justamente por não reconhecer a oportunidade que o mestre lhes deu e a oportunidade que tiveram de ser realmente humildes quando tiveram a chance de ser.

Neófitos, em sua grande maioria fazem a mesma coisa que um pombo faz quando senta num tabuleiro de Xadrez, derruba as peças dos jogadores e só faz sujeira.

Hoje em dia ouvimos muitos ‘não-iniciados’ falarem sobre amor e confiança porque leram nos livros, repetem como papagaios sem saber o que isso significa de verdade, pois sem uma real vivencia dentro de um Coven/Covine tradicional o treinamento não pode ser feito. Digo isso porque ninguém dá o que não tem, e um ‘não-iniciado’ não pode instruir um investimento que não recebeu da forma correta.

Mas é claro que todo mundo sempre ensina alguma coisa uns aos outros, e seria muita prepotência e arrogância afirmar que ninguém lhe pode ensinar algo porque você já sabe demais. Eu não to falando de ensinar a viver, eu to falando de ensinar a arte bruxa como ela foi transmitida de forma tradicional. Até mesmo os iniciados que já vivenciaram diversas iniciações e treinamentos não pode dizer que nunca aprende com os neófitos, contudo, isso se dá em aprendizados de níveis diferentes ou estágios superiores. Em linguagem comum equivale dizer que: “Seu mestre aprende com você mas ele colhe pra si ensinamentos até da nuvem, o que dirá de um ser infanto”.

Uma pessoa que está sendo humilhada, ensina humildade, e quem está humilhando ensina prepotência. A prepotência é filha do poder, mas esse poder é falso, não é o poder que está dentro de cada um, ao impulsioná-lo para fora a prepotência ganha vida porque esse poder que citei é o poder do Ego humano. A prepotência tem resultados duvidosos em termos de liderança, haja vista que um mestre é sempre humilde e compartilha suas descobertas e conhecimentos ao invés de impor eles como faz a prepotência. Por sua vez, o neófito que está juramentado tem que reconhecer seu lugar nisso e saber receber o que está lhe sendo oferecido. Saber receber amor é mais difícil do que parece, pois tendemos a julgar demais os atos de seres comedores de arroz e feijão.



Há uma diferença entre avaliar e julgar. Quando se avalia não se dá sentença, mas quase sempre se dá sentença quando se julga alguém.

Ao comparar um velho do campo, que sempre foi muito pobre e vive numa casa de sapé, que usa chinelos no pé diariamente e não teve estudos; com um jovem erudito que recebeu da vida uma melhor sorte de esticar suas oportunidades de aprendizado, você irá notar que a visão de mundo entre o velho do campo e o erudito são bem diferentes uma da outra.

Penso que cabe a cada um discernir o seu compromisso e lugar no mundo. Podemos aprender com as crianças inclusive, mas não podemos aprender bruxaria com quem não sabe.

A bruxaria é uma arte e um ofício ilimitados que revela gradualmente seus mistérios em conformidade com quando se está pronto. A ficha cai, o relâmpago da meia noite lhe atinge bem na cabeça, e aos poucos você compreende que o que realmente é importante seria prestar atenção na “entrega”, em como você faz isso ou se permite.

Supremacia do Espírito sobre a Matéria, diz respeito ao Ego, mas eu num falo do Ego apresentado por Freud. Eu falo do Ego na forma em que foi e ainda é esotericamente para um Iniciado em Bruxaria, e nisso os valores não podem e não devem estar distorcidos. Não é hubris, pois hubris é desdém.

O Ego antes de Freud é o que se tem como material de forja, a ser trabalhado, lapidado como se faz com uma pedra bruta, até que vire uma joia preciosa, mas não se engane com a compreensão disso. A natureza demora dez mil anos para transformar um carvão em diamante, por isso temos de nos dar a oportunidade de crer que uma vida só é pouco para um trabalho de transformação tão extenso.



O Ego vem do latim ‘Eu’; é a consciência no homem de “Eu sou Eu”, ou seja, o sentimento da qualidade ou condição do “Eu sou”. No ocultismo se reconhece a existência de dois egos no homem, o mortal ou pessoal (matéria), e o superior, divino e impessoal. Ao primeiro denomina-se “Personalidade”, e ao segundo, “Individualidade”.

Chamemos de Ego personalizado (Material ou personalidade mundana); e Ego Individual (Espírito ou divindade interna).

A supremacia do Espírito sobre a Matéria começa quando sua consciência trava um duelo entre a entrega e aceitação, contra os valores do julgamento. O Espírito não julga, não sentencia e não pune. Quem julga, sentencia e pune é o ego personalizado (ou ego material, a personalidade mundana).

Quando um iniciado chama a atenção de um neófito e pede para ele não julgar, o iniciado está educando o neófito. Não é para o neófito julgar as atitudes do mestre, é para acatar, aceitar, se entregar. O mestre está tentando ensinar o neófito a domar seu ego.

Pegue essa regra pra sempre: “Para todo aquele que julga, lhe cabe dar uma sentença”. Toda sentença vem com uma dose cavalar de possibilidade de erro de julgamento, e consequentemente todo julgamento tem uma sentença que vem com punição.

O trabalho do iniciado é se libertar, se permitir ser liberto e se permitir ser iluminado. Mas quem vai acender essa luz é o mestre ou mestra do neófito, e esse trabalho, para o neófito, estará fadado ao fracasso se não houver entrega de si. Nisso reside à confiança e amor perfeitos, caso contrário o ego irá julgar, contrariar, questionar. O ego personalizado não quer morrer, ele teme a morte, ele é soberbo e ditador, ele quer existir para controlar e comandar. O ego é duro como Ferro, que, aliás, em alquimia o ferro é o material da forja a ser derretida pelo fogo do Espírito.

Se o neófito não permitir que o mestre lhe ensine essas lições, jamais o ego espiritual terá a supremacia sobre o ego material. Tudo é uma questão de valores e prioridades em ressonância com sua vocação. Quem tem vocação para ser mestre, se curvará à qualquer lição e se mostrará humilde. Ao longo do tempo, quanto mais se caminhar na arte bruxa, mais exemplo de humildade ele mostrará.

O iniciado apresenta egoidade, não egocentricidade. Egoidade – Deriva da palavra Ego e significa “individualidade”, nunca “personalidade”. É o contrário de ‘egoísmo’ que é o distintivo por excelência da personalidade.
As línguas latinas são todas derivadas do sânscrito, e para compreender melhor essa derivação penso ser necessário compreender primeiro, que não se pode pré-conceituar o que já tem conceito antigo dado por sábios, que podem muito bem ter sido ancestrais de muitos de nós.

O conceito oriental de EGO ESPIRITUAL é uma sabedoria que diz respeito ao Ego divino, que é alma espiritual ou Buddhi, em estreita união com o Manas ou princípio mental (Psiquê), sem o qual não é ego de modo algum, mas somente o veículo do Âtman.

Para que o iniciado obtenha sucesso em sua transformação ele precisa deixar de valorizar o Ego inferior ou pessoal, que é o homem físico em união com seu eu inferior, isto é, as paixões, os desejos, os instintos animais. É chamado de “falsa personalidade” e consiste no Manas inferior combinado com o Kâma-rûpa e que trabalha através do corpo físico e seu fantasma duplo. É o ego mortal ou pessoal, ou seja, o Kâma-Manas.

A filosofia hermética possuí um axioma “Ego sum quis sum – do Latim “eu sou o que sou”, e nisso reside o segredo da essência de quem é você enquanto divindade. Você não é Fábio, você está Fábio! Sua alma tem outro nome.
Quando se vence e domina o ego inferior, o Ego superior ou interno se revela em seu mais precioso brilho, é um olhar para dentro para pensar com o Espírito, é o contato com o Manas ou ‘quinto’ princípio, assim chamado independentemente do Buddhi. O princípio mental é o Ego espiritual apenas quando unificado com o Buddhi. É a individualidade permanente, o Ego (eu) que pode reencarnar. É o Ego divino, impessoal, individual e imortal.

Portanto, repito: a egoidade de um iniciado é o contrário de ‘egoísmo’ que é o distintivo por excelência da personalidade.

O egotismo é o trabalho de autoconhecimento. Não é a exposição do ego personalizado.

O Egotismo – em linguagem comum este nome é dado ao costume de dar demasiada importância a tudo o que se refere à própria pessoa e algumas vezes o egotismo é confundido com o egoísmo. Na linguagem filosófica oriental, tal termo equivale a Ahankâra, derivada do termo Aham (eu), e significa: consciência do eu ou ser pessoal. É o princípio em virtude do qual adquirimos o sentimento da própria personalidade, a noção ilusória de que o não-Eu (corpo, matéria etc.) é o Eu (Espírito), isto é, que somos, trabalhamos, gozamos, sofremos etc., sendo todas essas ações referidas ao Eu, que é inativo, imutável e mero espectador de todos os atos da vida. Tal princípio, produto direto do Buddhi, apresenta-se sob três formas, que são respectivamente: Vaikrita-, Taijasa- e Bhûtâdi-Ahankâra, segundo nele predominem as qualidades sattva, rajas ou tamas igualmente citados no Bhagavad-Gîtâ e filosofia Sânkhya.

Há uma lenda sobre o mestre e o discípulo que diz que o discípulo estava todo eufórico e cheio de questionamentos internos que não se calavam. Então ele veio questionar seu mestre a fim de sanar suas dúvidas, mas ele, o discípulo, nem sabia como se dirigir ao fazer a pergunta e sem perceber ele investiu ego personalizado diretamente sobre seu mestre ao indagá-lo. O mestre que outrora sempre foi meigo e amável, pula, grita e lhe dá um golpe firme, atira-o porta afora, e em seguida salta sobre ele. O discípulo desconhecia esse método de genialidade criativa que leva muitas pessoas à iluminação. Ele jogou o discípulo pela janela que tinha uma queda de dois andares, ele fez o discípulo voltar ao ponto da encruzilhada de onde ele veio, ele retornou ao ponto de partida. O discípulo só havia ido lhe perguntar sobre suas dúvidas cruéis, o mestre não só lançou-o como saltou em seguida e caiu por cima dele, sentou-se no seu peito e perguntou: “Entendeu?”.

A humildade em se esforçar para compreender qualquer lição que seu mestre esteja lhe doando, lições para fazer você ser um sábio. O conhecimento é para a matéria, aquilo que a sabedoria é para o Espírito.



O discípulo tem a escolha entre o conhecimento e a sabedoria. Muitas vezes não está claro o que seu mestre está a lhe ensinar. O discípulo irá julgá-lo, irá desejar que o mestre aprendesse alguma lição com o neófito para que o neófito se sinta importante, mas ele se esquece de quem é o mestre ali e quem tem um compromisso jurado com o mestre é o neófito.

Em nível iniciático, esse exemplo vem ao encontro da sabedoria da lâmina 16 do tarô. Veja, eu disse “ao encontro”, não “de encontro”.

O relâmpago da meia noite poderá cair em sua cabeça e atingir seu Espírito para que o discípulo possa se tornar um mestre. Antes de subir é preciso ter caído. Quando se cai, se chega ao fundo de onde não tem mais pra onde descer, só resta subir. Essa nova subida é diferente de todas as subidas que o discípulo já teve, agora ele está mais consciente, mais sábio, mais entregue.
A insegurança faz inúmeros derrotados, todos inseguros sucumbem ao lampejo da escuridão se não estiver preparado para se energizar com o relâmpago. Quem prepara o neófito é o mestre, não o contrário.

O relâmpago irá atingir sua torre e lhe derrubar até que o discípulo esteja pronto para se tornar um “fio-conduíte” ou um para-raios por onde a energia poderosa entra e se locomove sem te destruir. Enquanto a energia poderosa estiver entrando e te destruindo, você não está iniciado.


A transformação bruxa é sofrida porque é desejada, Foi invocada! Não é sofrida porque foi imposta ao bruxo sem ele saber, mas sim foi invocada por ele próprio. Quando o neófito está pronto o mestre aparece, e todo neófito tem o mestre que merece!

Sett Ben Qayin



terça-feira, 4 de junho de 2013

Tradições Italianas: Sagra di San Giovanni




Pedra principal da entrada da Gruta de San Giovanni - Giuggianello/Itália


Hoje eu começo o dia trazendo o primeiro artigo de uma série chamada Tradições Italianas, que mostrará algumas tradições italianas e seus costumes, lendas e crenças. Espero que o leitor possa se deleitar e abrir a mente para as antigas tradições que sobreviveram de formas variadas e nem por isso deixaram de ser tradições bruxas, mas sim, fazem a glória de um tempo atravessar o próprio tempo.


SAGRA DI SAN GIOVANNI


A festa de San Giovanni é talvez a mais antiga na província de Lecce. A festa evoca um culto medieval ligado a ritos pagãos do mundo antigo e mesmo toda investidura do processo de cristianização não foi capaz de acabar com a tradição antiga na Itália. Na verdade o processo de cristianização absorveu os cultos e fê-lo sobreviver sobre as máscaras da cristandade. Hoje o culto foi absorvido e consta na liturgia cristã, porém, traços do antigo culto ainda podem ser percebidos.



A noite da véspera de San Giovanni, em Giuggianello, é uma noite de vigilia muito especial. É uma noite repleta de magia, mitsérios, profecias e feitiços, é uma noite habitada por bruxas, duendes e demonios. É uma noite perturbadora e subversiva em que, de acordo com a crença popular, todos os tipos de milagres aconteceram à quem fazia os ritos antigos. Tradicionalmente, a noite em questão, se trata do dia 24 de junho para o dia 25.



Esta noite é muito especial do ponto de vista astronômico, pois marca o clímax da jornada do sol todos os dias, depois de subir cada vez mais alto no céu, ele pára e em seguida, refaz seus passos no caminho celeste e começa a descer gradualmente.



Esta é a época do solstício de verão, um evento excepcional para os povos antigos, que foram capazes de explicar racionalmente as grandes mudanças cíclicas da natureza reconhecendo-as diante de seu próprio desamparo e fragilidade, assim, considerou-as geradas por forças misteriosas sacrais disseminada pela própria Mãe Natureza.



Entrada da Gruta

A noite do solstício de verão foi, portanto, considerada uma mágica noite por excelência, que tinha em si o poder de decidir o destino de todo o ano civil. Os povos antigos, nesta data, recorriam a uma série de rituais e adivinhação.


Com o advento do cristianismo, esses rituais mágicos foram incorporados à esfera cristã, substituindo o ritual do sol, pela figura de San Giovanni Batista.



Em Giuggianello acredita-se que nesta noite os fenômenos mágicos provocam benefícios, assim, o orvalho assumiu poderes especiais e tornou-se capaz de aumentar drasticamente as propriedades curativas das ervas. As pessoas rolam nos prados úmidos de orvalho para regenerar o corpo, enquanto as meninas que estão a procura de um bom marido correm banhar seu sexo com o orvalho, uma vez que ao orvalho também é atribuída a propriedade de trazer boa sorte no amor.



A noite de San Giovanni, na realidade, foi considerada especialmente auspiciosa para prever noivados e casamentos. Há várias maneiras de advinhar se a mnina seria desposada dentro de um ano e qual seria o cargo do noivo, para reconhecê-lo. Giuggianello mantem um antigo signo da santa veneração que permanece como gruta de San Giovanni onde todos celebram os rituais, fazem poemas e cantam, dançam em torno da fogueira para agradecer a nova colheita do mês.



Tudo isso estaria perdido senão fosse a recuperação da cripta bizantina de San Giovanni pelo Centro de Cultura e Pesquisa Social de Giuggianello, e assim toda essa maravilha e memória, ligadas às lendas antigas sobre a devoção popular e a força da tradição estão vivas para perpetuar a história da Itália.


Altar dentro da Gruta

A cripta está localizada a dois quilômetros ao sul da cidade de Monte San Giovanni (120 m de altitude), cercado por oliveiras e vegetação mediterrânea ao longo da estrada de terra que faz o principal percurso Giuggianello-Palmariggi.


Na Idade Média, a gruta foi usada para celebrações e cultos greco-religiosos, e posteriormente passou às funções de celebrar o rito latino que ainda hoje é feito em veneração ao San Giovanni (São João Batista), aquele que batiza. Ao longo dos anos, no entanto, a dedicação tendeu a dispersar, mas um evento miraculoso reviveu os momentos mais intensos. O fazendeiro da fazenda vizinha "Armino" tinha uma filha com problemas de saúde e ela ajudava a família enquanto reunia e trazia as ovelhas para perto da cripta, e um dia San Giovanni apareceu à ela e prometeu a cura. A cura aconteceu e o pai em sinal de gratidão, relatou a glória. Hoje em dia, os pastores vem se reunir com a população no dia 24 de junho para a festa de San Giovanni, celebram a missa, e os agricultores no final do culto oferecem vinho e queijo aos fiéis como sinal de devoção.

Sett Ben Qayin