quinta-feira, 27 de junho de 2013

Segredos da Arte da Transformação - parte 1








O LANÇAMENTO NO ABISMO!


Desde que existe Espírito (Deus) e Homem (Barro), existem dois egos. O individual e o personalizado.

No caminho iniciático, o homem vai aprendendo a se reconhecer como um Deus aqui na terra, a imagem e semelhança divina que caiu aqui na terra para acender sua luz, como portador da luz que é. Alguns acendem, outros demoram muitas vidas para fazer essa trajetória, e isso está horizontalmente ligado aos valores e prioridades de cada um, bem como sua vocação.

Certamente não se pode ensinar virtudes pela vocação de um ateu, da mesma forma que um cego não pode trabalhar de guarda de trânsito.

Vamos abordar aqui vários assuntos que se tornarão um só, desde que nosso interesse é abordar mais uma entre tantas explicações sobre o caminho iniciático.

A coragem, a entrega e o lançamento no abismo estão interligadas. De nada vale a coragem se não for usada contra si mesmo. É preciso ter muita coragem para ser sincero consigo mesmo e reconhecer onde é que você precisa mudar. Tendo aceitado isso, a entrega fica por um fio. Desarmado e entregue, o neófito experimenta o amor perfeito e a confiança, por isso ele é empurrado ou lançado no abismo. É o mergulho nas suas profundezas. Sem confiança, sem coragem, sem amor e entrega ninguém dá esse passo por puro medo. Quem vive com medo vive pela metade e se você neófito quer ser um ser inteiro, integral, precisa primeiro, parar de querer encontrar sua metade fora de si mesmo. Se o que não encontrar dentro de si, não encontrará fora. Dentro de si estão seus piores inimigos a serem enfrentados, absorvidos e transformados.

A bruxaria moderna parece ter revelado ao mundo tudo que tinha para se revelar, as estantes estão cheias de livros com conteúdo muito informativo, outros livros nem tanto, mas o mais importante é, ainda que os métodos e sistemas usados na bruxaria moderna seja limitado, trouxe a revelação de uma das coisas “iguais” entre todas as bruxarias, além do fogo que é “O Amor e a Confiança Perfeitos”.

De nada adianta dizer que ama, se ainda possui vícios em seu caráter. Amor é algo livre de vícios, enquanto que, Confiança é entrega!

Entrega é tradição! Até mesmo no direito existe a tradição. Em matéria de contratos diz: A propriedade do bem, se conclui com a tradição. A entrega das chaves do imóvel é a tradição.

Em bruxaria, a ‘entrega das chaves’ é a investidura que o mestre faz no neófito, mas como não é um contrato leonino, o neófito também faz a entrega de si ao mestre. Não estamos falando de entrega do corpo sexual. Estamos falando de confiança perfeita, que só é perfeita se ausente de vícios e sem reserva de nenhuma natureza mental ou física.

É sobre essa pauta que se enrosca a serpente da Arte bruxa, e isso não vêm nos livros. Quando alguém tenta expor essa significação, a impressão que temos é que o autor ficou “cheio de dedos” ou “medos” de abordar claramente um tópico que nunca precisou que nós para ser mistério. Todo mundo quer jogar um manto negro em cima desse tópico e fazer mistério do mistério. Eliphas Levi, por exemplo, tem uma linguagem super rebuscada a respeito disso e poucas pessoas, inclusive iniciados, compreendem o que ele diz.

Desenvolver amor e confiança perfeitos, sob a premissa da “entrega” de si mesmo à quem está te treinando na Arte Bruxa, é tarefa para Mestres iniciados em bruxaria. Não estou a me referir em mestres graduados em universidades, e o perigo está em se tratar a arte bruxa de maneira eclética. Se você é um bruxo e quer fazer viver a tradicionalidade da Arte Bruxa, você deve enxergar o mundo sob as mesmas lentes da filosofia perene, não sob a sua lente pessoal.

Logicamente não é pecado se enveredar em uma arte eclética, ao contrário, respeitamos o livre arbítrio. Aqui apenas incentivamos a não deixar morrer a arte na sua forma tradicional.



É notório que todo conhecimento a respeito da sabedoria mágica veio do Oriente para o Ocidente e não o contrário. Por tanto, tudo o que é TRADICIONAL veio do ORIENTE e é visão de Mundo Oriental aplicada do geral para o particular. Isso significa que a filosofia perene é um conhecimento que contém sabedoria eterna. Não são frases de filósofos, não é ser dono da vida, mas sabedoria da arte bruxa para se tornar aquilo que você nasceu para se tornar e com isso, ser dono de seu destino enquanto aceita que tudo está como deveria estar.

Dois dos ditados mais encontrados em bruxaria são:

- “Quando o neófito está pronto, o mestre aparece!”

- “Todo neófito tem o mestre que merece!”

Desde que Coven é Coven, desde o primeiro Coven da face da terra, existem aquelas pessoas que pedem pra entrar no Coven usando a máscara da humildade e logo vão se revelando quem eles são verdadeiramente. Essas pessoas tanto se iludem que beira a soberba ao pensar que conseguem enganar um mestre. Essas pessoas se tonam “ingratas” (persona non grata) justamente por não reconhecer a oportunidade que o mestre lhes deu e a oportunidade que tiveram de ser realmente humildes quando tiveram a chance de ser.

Neófitos, em sua grande maioria fazem a mesma coisa que um pombo faz quando senta num tabuleiro de Xadrez, derruba as peças dos jogadores e só faz sujeira.

Hoje em dia ouvimos muitos ‘não-iniciados’ falarem sobre amor e confiança porque leram nos livros, repetem como papagaios sem saber o que isso significa de verdade, pois sem uma real vivencia dentro de um Coven/Covine tradicional o treinamento não pode ser feito. Digo isso porque ninguém dá o que não tem, e um ‘não-iniciado’ não pode instruir um investimento que não recebeu da forma correta.

Mas é claro que todo mundo sempre ensina alguma coisa uns aos outros, e seria muita prepotência e arrogância afirmar que ninguém lhe pode ensinar algo porque você já sabe demais. Eu não to falando de ensinar a viver, eu to falando de ensinar a arte bruxa como ela foi transmitida de forma tradicional. Até mesmo os iniciados que já vivenciaram diversas iniciações e treinamentos não pode dizer que nunca aprende com os neófitos, contudo, isso se dá em aprendizados de níveis diferentes ou estágios superiores. Em linguagem comum equivale dizer que: “Seu mestre aprende com você mas ele colhe pra si ensinamentos até da nuvem, o que dirá de um ser infanto”.

Uma pessoa que está sendo humilhada, ensina humildade, e quem está humilhando ensina prepotência. A prepotência é filha do poder, mas esse poder é falso, não é o poder que está dentro de cada um, ao impulsioná-lo para fora a prepotência ganha vida porque esse poder que citei é o poder do Ego humano. A prepotência tem resultados duvidosos em termos de liderança, haja vista que um mestre é sempre humilde e compartilha suas descobertas e conhecimentos ao invés de impor eles como faz a prepotência. Por sua vez, o neófito que está juramentado tem que reconhecer seu lugar nisso e saber receber o que está lhe sendo oferecido. Saber receber amor é mais difícil do que parece, pois tendemos a julgar demais os atos de seres comedores de arroz e feijão.



Há uma diferença entre avaliar e julgar. Quando se avalia não se dá sentença, mas quase sempre se dá sentença quando se julga alguém.

Ao comparar um velho do campo, que sempre foi muito pobre e vive numa casa de sapé, que usa chinelos no pé diariamente e não teve estudos; com um jovem erudito que recebeu da vida uma melhor sorte de esticar suas oportunidades de aprendizado, você irá notar que a visão de mundo entre o velho do campo e o erudito são bem diferentes uma da outra.

Penso que cabe a cada um discernir o seu compromisso e lugar no mundo. Podemos aprender com as crianças inclusive, mas não podemos aprender bruxaria com quem não sabe.

A bruxaria é uma arte e um ofício ilimitados que revela gradualmente seus mistérios em conformidade com quando se está pronto. A ficha cai, o relâmpago da meia noite lhe atinge bem na cabeça, e aos poucos você compreende que o que realmente é importante seria prestar atenção na “entrega”, em como você faz isso ou se permite.

Supremacia do Espírito sobre a Matéria, diz respeito ao Ego, mas eu num falo do Ego apresentado por Freud. Eu falo do Ego na forma em que foi e ainda é esotericamente para um Iniciado em Bruxaria, e nisso os valores não podem e não devem estar distorcidos. Não é hubris, pois hubris é desdém.

O Ego antes de Freud é o que se tem como material de forja, a ser trabalhado, lapidado como se faz com uma pedra bruta, até que vire uma joia preciosa, mas não se engane com a compreensão disso. A natureza demora dez mil anos para transformar um carvão em diamante, por isso temos de nos dar a oportunidade de crer que uma vida só é pouco para um trabalho de transformação tão extenso.



O Ego vem do latim ‘Eu’; é a consciência no homem de “Eu sou Eu”, ou seja, o sentimento da qualidade ou condição do “Eu sou”. No ocultismo se reconhece a existência de dois egos no homem, o mortal ou pessoal (matéria), e o superior, divino e impessoal. Ao primeiro denomina-se “Personalidade”, e ao segundo, “Individualidade”.

Chamemos de Ego personalizado (Material ou personalidade mundana); e Ego Individual (Espírito ou divindade interna).

A supremacia do Espírito sobre a Matéria começa quando sua consciência trava um duelo entre a entrega e aceitação, contra os valores do julgamento. O Espírito não julga, não sentencia e não pune. Quem julga, sentencia e pune é o ego personalizado (ou ego material, a personalidade mundana).

Quando um iniciado chama a atenção de um neófito e pede para ele não julgar, o iniciado está educando o neófito. Não é para o neófito julgar as atitudes do mestre, é para acatar, aceitar, se entregar. O mestre está tentando ensinar o neófito a domar seu ego.

Pegue essa regra pra sempre: “Para todo aquele que julga, lhe cabe dar uma sentença”. Toda sentença vem com uma dose cavalar de possibilidade de erro de julgamento, e consequentemente todo julgamento tem uma sentença que vem com punição.

O trabalho do iniciado é se libertar, se permitir ser liberto e se permitir ser iluminado. Mas quem vai acender essa luz é o mestre ou mestra do neófito, e esse trabalho, para o neófito, estará fadado ao fracasso se não houver entrega de si. Nisso reside à confiança e amor perfeitos, caso contrário o ego irá julgar, contrariar, questionar. O ego personalizado não quer morrer, ele teme a morte, ele é soberbo e ditador, ele quer existir para controlar e comandar. O ego é duro como Ferro, que, aliás, em alquimia o ferro é o material da forja a ser derretida pelo fogo do Espírito.

Se o neófito não permitir que o mestre lhe ensine essas lições, jamais o ego espiritual terá a supremacia sobre o ego material. Tudo é uma questão de valores e prioridades em ressonância com sua vocação. Quem tem vocação para ser mestre, se curvará à qualquer lição e se mostrará humilde. Ao longo do tempo, quanto mais se caminhar na arte bruxa, mais exemplo de humildade ele mostrará.

O iniciado apresenta egoidade, não egocentricidade. Egoidade – Deriva da palavra Ego e significa “individualidade”, nunca “personalidade”. É o contrário de ‘egoísmo’ que é o distintivo por excelência da personalidade.
As línguas latinas são todas derivadas do sânscrito, e para compreender melhor essa derivação penso ser necessário compreender primeiro, que não se pode pré-conceituar o que já tem conceito antigo dado por sábios, que podem muito bem ter sido ancestrais de muitos de nós.

O conceito oriental de EGO ESPIRITUAL é uma sabedoria que diz respeito ao Ego divino, que é alma espiritual ou Buddhi, em estreita união com o Manas ou princípio mental (Psiquê), sem o qual não é ego de modo algum, mas somente o veículo do Âtman.

Para que o iniciado obtenha sucesso em sua transformação ele precisa deixar de valorizar o Ego inferior ou pessoal, que é o homem físico em união com seu eu inferior, isto é, as paixões, os desejos, os instintos animais. É chamado de “falsa personalidade” e consiste no Manas inferior combinado com o Kâma-rûpa e que trabalha através do corpo físico e seu fantasma duplo. É o ego mortal ou pessoal, ou seja, o Kâma-Manas.

A filosofia hermética possuí um axioma “Ego sum quis sum – do Latim “eu sou o que sou”, e nisso reside o segredo da essência de quem é você enquanto divindade. Você não é Fábio, você está Fábio! Sua alma tem outro nome.
Quando se vence e domina o ego inferior, o Ego superior ou interno se revela em seu mais precioso brilho, é um olhar para dentro para pensar com o Espírito, é o contato com o Manas ou ‘quinto’ princípio, assim chamado independentemente do Buddhi. O princípio mental é o Ego espiritual apenas quando unificado com o Buddhi. É a individualidade permanente, o Ego (eu) que pode reencarnar. É o Ego divino, impessoal, individual e imortal.

Portanto, repito: a egoidade de um iniciado é o contrário de ‘egoísmo’ que é o distintivo por excelência da personalidade.

O egotismo é o trabalho de autoconhecimento. Não é a exposição do ego personalizado.

O Egotismo – em linguagem comum este nome é dado ao costume de dar demasiada importância a tudo o que se refere à própria pessoa e algumas vezes o egotismo é confundido com o egoísmo. Na linguagem filosófica oriental, tal termo equivale a Ahankâra, derivada do termo Aham (eu), e significa: consciência do eu ou ser pessoal. É o princípio em virtude do qual adquirimos o sentimento da própria personalidade, a noção ilusória de que o não-Eu (corpo, matéria etc.) é o Eu (Espírito), isto é, que somos, trabalhamos, gozamos, sofremos etc., sendo todas essas ações referidas ao Eu, que é inativo, imutável e mero espectador de todos os atos da vida. Tal princípio, produto direto do Buddhi, apresenta-se sob três formas, que são respectivamente: Vaikrita-, Taijasa- e Bhûtâdi-Ahankâra, segundo nele predominem as qualidades sattva, rajas ou tamas igualmente citados no Bhagavad-Gîtâ e filosofia Sânkhya.

Há uma lenda sobre o mestre e o discípulo que diz que o discípulo estava todo eufórico e cheio de questionamentos internos que não se calavam. Então ele veio questionar seu mestre a fim de sanar suas dúvidas, mas ele, o discípulo, nem sabia como se dirigir ao fazer a pergunta e sem perceber ele investiu ego personalizado diretamente sobre seu mestre ao indagá-lo. O mestre que outrora sempre foi meigo e amável, pula, grita e lhe dá um golpe firme, atira-o porta afora, e em seguida salta sobre ele. O discípulo desconhecia esse método de genialidade criativa que leva muitas pessoas à iluminação. Ele jogou o discípulo pela janela que tinha uma queda de dois andares, ele fez o discípulo voltar ao ponto da encruzilhada de onde ele veio, ele retornou ao ponto de partida. O discípulo só havia ido lhe perguntar sobre suas dúvidas cruéis, o mestre não só lançou-o como saltou em seguida e caiu por cima dele, sentou-se no seu peito e perguntou: “Entendeu?”.

A humildade em se esforçar para compreender qualquer lição que seu mestre esteja lhe doando, lições para fazer você ser um sábio. O conhecimento é para a matéria, aquilo que a sabedoria é para o Espírito.



O discípulo tem a escolha entre o conhecimento e a sabedoria. Muitas vezes não está claro o que seu mestre está a lhe ensinar. O discípulo irá julgá-lo, irá desejar que o mestre aprendesse alguma lição com o neófito para que o neófito se sinta importante, mas ele se esquece de quem é o mestre ali e quem tem um compromisso jurado com o mestre é o neófito.

Em nível iniciático, esse exemplo vem ao encontro da sabedoria da lâmina 16 do tarô. Veja, eu disse “ao encontro”, não “de encontro”.

O relâmpago da meia noite poderá cair em sua cabeça e atingir seu Espírito para que o discípulo possa se tornar um mestre. Antes de subir é preciso ter caído. Quando se cai, se chega ao fundo de onde não tem mais pra onde descer, só resta subir. Essa nova subida é diferente de todas as subidas que o discípulo já teve, agora ele está mais consciente, mais sábio, mais entregue.
A insegurança faz inúmeros derrotados, todos inseguros sucumbem ao lampejo da escuridão se não estiver preparado para se energizar com o relâmpago. Quem prepara o neófito é o mestre, não o contrário.

O relâmpago irá atingir sua torre e lhe derrubar até que o discípulo esteja pronto para se tornar um “fio-conduíte” ou um para-raios por onde a energia poderosa entra e se locomove sem te destruir. Enquanto a energia poderosa estiver entrando e te destruindo, você não está iniciado.


A transformação bruxa é sofrida porque é desejada, Foi invocada! Não é sofrida porque foi imposta ao bruxo sem ele saber, mas sim foi invocada por ele próprio. Quando o neófito está pronto o mestre aparece, e todo neófito tem o mestre que merece!

Sett Ben Qayin



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