Graças
ao seriado American Horror History e sua mais recente criação, a terceira
temporada, todo mundo está falando sobre o tema, mas Covens, ou a forma mais
tradicional para essa palavra “Covine”, não é uma Turbamulta de sodomitas como
demonstrado no seriado, que, além de exaltar os egos e influenciar os novatos
interessados em bruxaria, causa mil estranhamentos entre bruxos de fato, uma
vez que de “Covine/Coven” não tem nada no seriado. Um Coven de verdade é uma
assembleia de bruxos libérrimos e humílimos.
A
compreensão do “sentir a vida” em Coven é como um dialeto regional. Mesmo tendo um palavreado
arrastado, o caipira não é inferior à ninguém. Em nossos dias, sentir a vida
constitui uma riqueza vocabular, por ser uma mudança regional da compreensão e
da própria língua cultivada muito tempo em um determinado lugar, e quando se diz respeito a linguagem do comportamento dentro de um Coven tradicional, essa história americana de horrores deixou a desejar.
Como
assembleia de gente livre, 'familiares livres', o Coven é um lugar para grandes
aprendizados, mas tão somente para os de sangue que compartilham do mesmo aroma
e sabor vital do pão feiticeiro, que congrega a comunhão da hóstia feito sacrifício.
Nisso, abro um parênteses para atribuir a importância do pão e do azeite, ou o
companheiro da coruja.
Companheiro
era antigamente aquele que simplesmente comia e compartia o mesmo pão. Comia o 'pão conosco' = cum-pane em latim. Comer o mesmo pão conosco equivalia a
“acompanhar” = cumpani-are. Por isso o aprendizado é uma via de mão dupla e num Coven não se tira o 'pão conosco' da boca de ninguém. Há
nesse ínterim, as figuras hierárquicas, que são superiores em cargo de ofício
por natureza, mas não como pessoas, seja por ser o dono do local ou por ter
compartilhado o pão com mais pessoas a mais tempo e, por isso, a tal
experiência é maior. Em
2004 eu era membro de uma lista gardneriana e num determinado momento alguém
soltou um post dizendo que bruxaria deveria ser uma democracia, não uma
hierarquia.
Eu
já naquela época evidenciei que bruxaria em Coven é feita por hierarquia por se
tratar de um trabalho de investidura hierárquica, ou seja, é um mestre quem inicia o aspirante, não o inverso, e nisso reside a hierarquia natural. Essa hierarquia não é uma imposição,
é natural e todos os membros sabem disso. Ouvir faz bem, compartilhar
bilateralmente as vivências faz a troca de riquezas aumentarem e não perde o
caráter educador-educando.
É bem verdade que existem Covens que pregam moral e ética em suas disciplinas. Em 'sala de aula', alunos compartilham experiências com professores e os professores
não deixam de ser professores só por estar recebendo um compartilhamento de um
aluno. E aqui se faz presente o elemento que dá a liga, a coruja.
Coruja é uma
palavra de origem grega ‘Lekythos’, significando ‘azeiteira’, de azeite. Os
gregos admitiam que essa ave se alimentava do azeite das lâmpadas dos templos
sagrados. Daí a razão do nome que lhe é atribuído em grego. É uma ave de
rapina. Hoje em dia é muito comum em meios tradicionais da arte bruxa ouvir
dizer que “fulano” é um companheiro da coruja, pois significa que “fulano” é um
bruxo ou bruxa que come pão conosco embebido de azeite, ambos consagrados em
sacrifício, ou seja, a verdadeira hóstia que acompanha o vinho sabático.
Mas
por que algumas bestas viraram inimigas dos companheiros das corujas de repente?
Essa
história e o seu bestiário tem origem na palavra rival. Toda bruxa é uma rival, desde que vive na
margem da sociedade, na margem das ideias que vivem em transmutação contínua, na
ponta entre uma borda e outra, na margem dos moldes de aprendizado, nas margens
do entre mundos, na margem de toda e qualquer regra, etc.
Rival
é palavra de origem latina, rivus, que significa rio – rivale: habitante das
margens de um rio.
Tal
palavra com o tempo, sofreu grande modificação (como tudo na vida) de sentido,
porque geralmente, confirma a história, os habitantes de uma margem do rio são
adversários dos da outra margem. Com esse acontecimento tornou-se quase normal um
rival ter quase sempre um adversário, tal palavra passou então a ter
significado de ‘inimigo’, e assim o diabo, confundido com Satã, o adversário
veio a tornar o inimigo das ovelhas, cabras e bodes de Deus, justamente pela
margem, entre uma e outra, por divergências de apreciações teológicas. Eu preciso
lembrar aqui, que ter razão é alusivo de impor-se por pesquisa, não por
certeza, uma vez que razão vem do latim “RATIO” que significa “SUGESTÃO”, não é uma certeza. Por
tanto, toda pesquisa é bem vinda como sugesta e sujeita a novas pesquisas. Devo lembrar também que um dos trabalhos de Coven é a transformação interna, oriunda do aprendizado que ensina não ter inimigos além de si mesmo.
Voltando ao pão, o prefixo “CUM”, (o mesmo do cum-pane), indica circunstância de companhia, e esse
prefixo formou a palavra “CUMBA”, que na linguagem luso-africana veio
significar “culto” ou pra ser mais exato, companheiros de fé.
Também
o mesmo prefixo formou a palavra cúmplice e até hoje as Kumpanias Rrhomáh
(companhias ciganas) celebram comendo o pão conosco com azeite e vinho durante
suas reuniões sagradas ou assembleias feiticeiras para “Ad Patres” ou seja,
para os maiores (os antepassados). Esse costume não é diferente em nenhum lugar
do mundo quando o tema é feitiçaria, inclusive pelo registro linguístico de um prefixo suplantar outro, no
caso do prefixo “MA” + “CUMBA”, que veio significar culto aos mortos.
É
engraçado quando a figura de linguagem nos confunde. A frase interrogativa:
“Coração, para onde vou?” em latim é “Cor, quo vado?”, mas se você ler rápido
ou pronunciar muito rápido terá outro sentido. Assim é o estado de espírito de
quem lê e não interpreta o que escreveu, gerando muita confusão. Não foi a toa
que o Papa Gregorio VII proferiu tais palavras: “Delexi justitiam, et odivi
iniquitatem, propterea morior in exílio”, que significa “amei a justiça e odiei
a iniquidade, por isso, morro no exílio”. Quer mais Ethos que isso?
Então
os antigos livreiros franceses criaram a expressão valendo-se do latim “Vade
Mecum”. Isso significa “Vem Comigo”, e os antigos deram esse título a certos
livros de conteúdo prático, leis e outras informações ou fórmulas. Hoje é
empregado o nome para livros portáteis de conhecimentos úteis, mas pode muito
bem ter sido a origem dos livros que as bruxas guardavam suas fórmulas e o
regulamento do Covine. O “Vem Comigo” deu origem também à uma tradição ainda
hoje professada na França onde há uma procissão para a Santa Sara, conduzida
pelos Cavaleiros de São Jorge com saída a partir da gruta da Santa.
Nos
dois primeiros anos da faculdade de direito eu pude anotar tudo nas aulas de
Vernáculo Escorreito, nas aulas de Arqueologia e Psicologia Forense, e não dá
pra esquecer dos princípios “Mutatis Mutandis” que toda Arte e história tem.
No
fim, tudo é uma questão de “paralaxe”. Cada um olha por um prisma e para um prisma da mesma e
UNA verdade, a que lhe cabe segundo seu interesse!
Quero
fazer um outro parênteses para chamar atenção de dois nomes, sendo um o nome de origem hebraica,
Abel. Abel significa A Vaidade; E Cassandra que significa A reformadora de homens, por tanto, toda bruxa é uma Cassandra.
A
bruxa pensa de si: “já que sou uma obra inacabada, por que eu desistiria de mim
ou me colocaria como a melhor de mim hoje, nessa etapa, se sabe que o amanhã
será melhor ainda, desde que, se nem mesmo no pós morte somos capazes de parar
o processo de evolução, lapidação e progresso essencial, qual seria o objetivo
de se colocar como o the Best hoje, senão por sede de projeção social e
concorrência política?”
É
com esse aforismo que nomeio esse artigo de hoje. Somos capazes de grandes
mudanças, mas até que ponto estamos preparados para lidar com os resultados de
nossas obras primas?
Bruxa que disputa o poder e
concorre para estar certa ou com razão, não passou pelo prezinho onde deveria aprender
a disputar e concorrer com seu pior inimigo, ou seja, ela mesma. Transformações bruxas são como
Metaplasmos, ou seja, são modificações, alterações que a palavra/corpo/ideia
sofre na sua estrutura interna, acrescentando ou alterando as letras de que se
compõe, sem modificar-lhe o sentido tradicional. No seriado acima citado observa-se guerras e concorrências sendo estimuladas. Qual é o mérito do trabalho de uma iniciada? Ao invés de avivar os méritos pelo esforço da tarefa de casa, esse seriado faz empáfia para ecléticos hollywoodianos.
Não se pode confundir com afixos, sob o
risco de fazer a interpretação de uma maneira longínqua e afastada do seu real
significado. O que eu quero dizer com isso? Simples: Não se deve exigir “mudança”
de ninguém, não se deve impor prazo para isso, desde que uma sábia velha tem
toda paciência do mundo para sorrir ainda velha como se estivesse dando seu
primeiro sorriso. Robin Artisson já dizia:
“A marca do Fogo muda a pessoa, e
a pessoa muda a marca – cada pessoa que entra em uma tradição partilha de seus
mistérios e muda a expressão daquele mistério, misturando os seus próprios
insights pessoais, ideias, pensamentos, sonhos, e outras qualidades fatalmente
individuais.” Isso é enaltecido dentro de um Coven, não aquilo que a telinha mostra.
O mesmo se dá com tradições africanas de feitiçaria. Onifá William de Jagun disse uma
vez: “O dia em que nós começarmos a nos apontar como responsáveis pelas coisas
que acontecem em nossas vidas, teremos mais sabedoria e esperteza. Ìfa nos
ensina a ter firmeza. Ele diz para não deixarmos de cuidar da lepra para
cuidarmos da espinha. Temos que dar valor às coisas. É preciso ter ANIYAN RERE
= Boa intenção (anion reré)”, pois não existe sucesso sem bom caráter. Não
existe bom caráter sem reconhecimento bilateral, não existe boa conduta sem
força de vontade. A mudança deve ser interna, dentro da alma, no coração.
Quando isso ocorre, vemos o mundo
agigantar-se diante de nós e percebemos que somos parte deste universo
maravilhoso. Um dos oráculos mais antigos nos ensina que o nosso caráter
determinará o que seremos. Assim é em Ifá e assim é com o I-Ching. E numa
analise bastante simplista, caráter resume-se à: firmeza e vontade, como
expressa no livro das Mutações. A firmeza de vontade aqui afirmada como caráter,
é a mesma vontade poderosa pregada por E. Levi e outros ocultistas antigos,
que, aqui entre nós, eles foram os caras! Tolo é aquele que julga pelas
aparências e não vê o conteúdo interno como um todo. Tolo é aquele que pune os
outros por vestir-se de sua verdade como se cama de Procusto fosse, afinal esse
foi o fim da Golden Down narrada no livro que conta sua história completa, e não está distante de ser o final desse seriado americano.
Coven vem da palavra
Convenção/Pacto. Coven contêm regulamento que versa sobre tudo que se compreende para um trabalho de Coven, e esse regulamento é simples e prático, além de pequeno. Um Coven têm 3
juramentos tradicionais, sendo um para admissão no Coven, um para a tutela
disciplinar e um para a iniciação. Um Coven é fundado sob a coroa do
regulamento. Uma Irmandade tem regimento e uma Ordem Mágica têm estatuto, tudo
muito diferente até mesmo no propósito. Há Covens que trabalham sob o modelo do
Xadrez e há Covens que trabalham sob o modelo do Chaturanga que é mais
tradicional (veio antes do Xadrez). Um Coven é para uma determinada família
mágica via elo iniciático ou não, um Coven é uma família que se admite pai,
mãe, irmãos, irmãs, tios(tias), sobrinhos(as) e todo o parentesco, além de amigos cujo elo transcende a carne. Uma
irmandade é para irmãos e Ordens Mágicas são para magos que não se reconhecem
bruxos, apesar de alguns bruxos afirmarem que tais magos são bruxos também. Os
coviners quase geralmente não moram na mesma casa, bairro ou cidade, mas se
reúnem em certas datas para trabalhos mágicos, os quais encontram escopo na
vontade do Coven e quem puxa a “carroça” é o líder. O mistério do Coven está
para o sangue, assim como o rebento está para o útero, e é essa a razão do voto
da Alta Sacerdotisa ou Dama ter peso 2 enquanto todos os demais tem peso 1. Ela
é o poder e a força que está por detrás do Líder, ela quase nunca aparece na
mídia geral ou ao público e todos sabem de sua existência.
O funcionamento de
um Coven quase sempre está para o mesmo funcionamento de uma Corte medieval e
todos veem a hierarquia naturalmente, não há necessidade de alguém
hierarquicamente natural reivindicar ser um ser hierárquico. O trabalho de
Coven está desconectado de um trabalho de círculo de devotos, porque trata-se
de um trabalho da Arte sem nome. Covens não são grupos focados no cultivo de
pontos de poder e sim na manutenção e alimentação da egrégora de uma dada tradição
como expressão da Arte Bruxa e todos os Covens nascem com bons propósitos e
seus membros se intitulam boas pessoas. A diferença entre um Castelo e um Coven,
é que no castelo o rei, a rainha e a corte inteira estão para a punição, assim
como a saturnália faz as trocas dos papeis todos os invernos, e um Coven não
está sujeito à vontade ímpar e sim a vontade par, desde que os lideres de
Covens são bem humanos e não compactuam com nenhum dos ‘modus operandis’ que aspira
governo como dado em política. Toda monarquia ou democracia são formas de
política e é notório que bruxaria + política não combinam durante um vasto
tempo, justamente porque a bruxaria tem capacidade de dominar a política e esta
fase é um passo para um reinado ditador, desde que os dominantes tenderão a
querer provar pro resto do mundo que sua verdade é melhor que a dos demais. Bruxos não são evangélicos, e não querem dominar seu mundo. Quando
a evolução de uma bruxa chega no montante que esbarra na política, em sua mais extensa
forma, entendimento e expressão do que isso significa, a bruxa se recolhe para
não tomar parte em nenhum dos palcos políticos. Mas claro, sempre há aquelas que defendem sua bandeira, como no caso das bruxas envolvidas com movimentos feministas. Isso não é errado, só não é indicado, dado o propósito da evolução espiritual que se trata um Coven.
O propósito de um Coven nasce com
o regulamento e morre com ele, tem limite, tem início, meio e finalidade de
existência, e esse limite é a circunferência ou círculo, ou ainda a pele que
não ultrapassa os limites de seu corpo. O propósito de um Coven é fazer assembleias
para assuntos internos relacionados a Arte Bruxa, onde dominar águem é um
assunto que está fora desse propósito a menos que esse alguém seja si mesmo,
uma vez que o livre arbítrio é respeitado e todos tem vida própria fora da
reunião/assembleia. Um cargo dentro de um Coven existe para prestar contas ao
Coven, pois todo cargo de Coven são cargos de ofício, ou seja, de trabalho,
onde o único pagamento que se recebe pelo trabalho é a satisfação do Espírito
em forma de colheita e o mantenimento da tradição que diz: "uma bruxa não pode morrer antes de passar o seu dom". Se há uma punição, ela vem em forma de má colheita
individual oriundo da própria plantação, não mais que isso, uma vez que aonde se aprender a se libertar, não há espaço para punições.
Punições feitas
pela vontade do homem não se difere de um crime/delito ou sabotagem, inclusive
o do julgamento, e por falar em julgamentos, até mesmo um juiz de direito que
estudou muito tempo ainda pode errar em seus julgamentos. Essa é a razão pela
qual uma das premissas dentro de um Coven é: Não julgue! Até porque, para quem
julga lhe cabe dar uma sentença, e ai mora o erro, desde que todo julgamento
mora no ego.
Em cada humano já existe muitos erros naturais, isso aliás, é a
razão pela qual se busca várias transformações das várias deformações/erros naturais e
humanas que habita em cada um, não necessitamos causar mais erros, principalmente erros de julgamento
sem sermos juízes visto que isso é a maior arrogância, desde que arrogância é
chamar pra si aquilo que não lhe pertence e certamente um bruxo que não é juiz
não deveria julgar. Se não pode julgar, não há sentença, não há injustiças e
não há inimizades, não há guerras ou disparidades, nem concorrências nem algum
tipo de vício (contrário de virtude). Fazer amizade consigo mesmo (seu pior inimigo)
deve ser a primeira lição e com ela vem a lição maior de harmonizar toda “ordem”
para que se torne Caos, já que um não existe sem o outro. Caminhar no Caos é
para quem está consciente e desperto, é o caminho do iniciado e o iniciado
cuida de seu próprio destino, sem precisar de um pontífice para fazer a ponte
entre ele e os Mundos. Eis o sacro-ofício de uma bruxa. E por falarmos em sacrifício, temos o exemplo do milho, cereal totalmente ligado à colheitas de sacrifício.
Assim como o milho de pipoca que
não passa pelo fogo continua sendo milho sem se transformar, aquele que nunca
planta continua sem colheita. O fogo é o elemento do Espírito. Todos que tocam
o Espírito se transformam lentamente e sem pressa, bem como o Oráculo diz: “Há
várias doutrinas que são próprias de cultos também próprios de Deuses ou Orixás
e cada qual deve permanecer onde estão, sem rumar um para o outro, pois o
Oráculo conhece o destino de cada ser vivo” – BHS.
As pessoas tem mania de se
apropriarem da doutrina, da moral e da disciplina de um determinado culto, e
transportá-la para a bruxaria. A bruxaria é tão ampla que nela cabe até isso. As
vezes na cabeça da pessoa essas informações estão lá e se confundem. Mas não é
digno “furtar” o conhecimento de um culto específico e impô-lo em bruxaria e
ainda fazer todo mundo engolir goela adentro, como se bruxaria fosse. Sincretismo
é uma coisa, comparação é uma coisa, citação é uma coisa, mas não se deve jamais
pegar regras de outros cultos e impor essas regras para se passar por status de
quem sabe mais. Cada um no seu quadrado! Afinal, é pra isso que existem cultos
antigos e originais, isso é tradicional. Infelizmente ainda há muita gente que
usa somente à si mesmo como referência, não vivenciou a jornada em muitos
Covens e não sabe o que realmente é um Coven de verdade, mas nós silenciamos
frente a isso, para não incorrer no erro de julgamento, e dessa maneira
deixamos isso para os olhos do júri que assiste, já que a cabeça e o
comportamento vieram junto para a Terra, podemos assistir a cabeça e o
comportamento alheio, mas ao invés de julgá-las, cuidamos na nossa.
Não raro todo
mundo se confunde ao falar de bruxaria, e as vezes ela, a bruxaria, é tudo isso
que se fala por ai, mas também é muito comum ouvir: “ah, no hoodoo é assim e na
bruxaria é assado!”.
Bem, se tal arte tem um nome específico, tem uma arte
específica, tem um ofício específico, tem uma origem específica, doutrina, tradição,
disciplina, moral, ética, etc...então deve ser chamada pelo seu nome próprio. Parece
estranho ouvirmos “a bruxaria do vodu, a bruxaria da macumba, a bruxaria do
I-Ching, a bruxaria de Ifá, a bruxaria do culto afro, a bruxaria da cabalah”, a bruxaria do xamanismo, etc, mas isso acontece porque essas religiões que contem feitiçaria, ou
sistemas religiosos e/ou mágicos que contem feitiçaria são bastante parecidas e
causam confusão, contudo, para se distinguir basta lembrar que:
Bruxaria não
contém um código moral rígido, e pra falar bem francamente creio que aquelas
bruxas bem velhas que viviam no mato e nem tinham dente na boca e não sabiam ler, mas ao mesmo
tempo tinham o poder de mover as nuvens do céu, podiam trazer um morto a vida e
matavam sem escrúpulos quem se colocasse no seu caminho, nem sabiam exatamente
o que era um código disciplinar de moralidade, se você parar pra pensar não é a
toa que as bruxas são conhecidas pelos seus veneficiuns viperinos. Isso também
é visto no mito que narra o desacordo entre o culto dos Egungun e o das Iyamis.
Querer colocar “ordem” onde não pode haver “ordem” é o mesmo que misturar água
e óleo, e o pior é achar que ninguém vai notar.
Por fim, Coven é uma convenção
dos que tem o mesmo sangue espiritual e que se reúnem em assembleias para saltos
mágicos. Só os de dentro de um Coven tradicional podem ver realmente o conteúdo
interno, pois isso realmente é um dos diversos trabalhos que se faz dentro de
um Coven, uma vez alinhados com premissas perenes assim como o inverno muda
para primavera com aceitação e sem deixar de ser inverno, pois ele percebe que
ele é só uma função em uma estação, a qual sabe que é hora de deixar a
primavera reinar, sem aquelas disputas esdrúxulas que mostra o seriado das
capelas das vaidades que o AHS batizou com nome de Coven.
Por Sett Ben Qayin