Fates |
Entende-se por religião romana o
conjunto de crenças, práticas e instituições religiosas dos romanos no período
situado entre o século VIII a.C. e o começo do século IV da era cristã. Porém
há muita confusão quando se fala sobre fadas no ‘mundo romano’.
Em primeiro lugar, devermos
compreender que fada não é um conceito celta por absolutismo, mas a compreensão
de que fadas não são mulheres com asas de borboletas é entendimento comum entre
inúmeros bruxos, os quais as veem como são, ou seja, o povo de Elphame, os
mortos - ancestrais por linhagem sanguínea e/ou mítica, inclusive.
Então, vamos dar uma olhada no que
os autores escreveram sobre isso?
Schoereder diz que o nome fada vem
do latim fatum, que significa fado, destino. Apesar disso, há uma
tendência em meio a alguns pesquisadores que querem fazer parecer a palavra
fada oriunda do termo Pher usado por Homero para indicar os centauros
mitológicos. Fato é que em 1599 a Inglaterra teria feito alçar voo às estórias
de fadas com os contos dos anéis de fadas, uma alusão aos cogumelos amanita
muscária, os quais são enteógenos usados nos trabalhos de transe de algumas
bruxas oraculares que intermediavam os reinos (dos vivos e dos mortos) para
cuidar do que poderia vir acontecer.
O feitiço sendo uma palavra que os
portugueses levaram para a África e de lá voltou com os franceses como fetiche,
tem sua origem no latim romano facturus, (ação sobre o futuro), a mesma ordem
de palavras que designam “feiticeiras”, ou facticius, de Fatus, fado, diferente
de Fortuna, mas não de Sors (sorte/destino), diferenciando da palavra Saga-ãe
(bruxas que nasceram em Roma), porém tinham suas companheiras de equilíbrio, as
Fúrias Dirae, fadas infernais tomadas como demônios por alguns autores, as
quais desequilibravam as emoções de quem não podia suportar o seu destino ou
controlar a si próprio.
Como sabemos, o sânscrito gerou o
latim e podemos encontrar significados reveladores entre essas duas línguas,
assim como Aca Larência, onde Acca é um termo onomatopaico da linguagem
infantil para designar “mamãe”, como o sânscrito akkã.
Larentia é um derivado de Lar,
Laris, e no plural: Lares, -um, -ium, “espíritos tutelares”, tido como alma dos
mortos, familiares ou públicos, encarregados de proteger as famílias, as casas,
as ruas e as cidades. O mistério que envolve Larentia e a deusa Lupa (a Loba),
está no fato de ter se tornado nome próprio e passou a designar a esposa do
pastor Fástulo, como mãe de criação de Rômulo e Remo. Deu à luz doze filhos,
com os quais fazia, de contínuo, sacrifícios para a fertilidade dos campos. Com
o falecimento de um deles, Rômulo ocupou-lhe o posto e fundou o colégio dos 12
Irmãos Arvais.
Ovídio fala em seu Fast sobre
Accalia ou Larentalia, que mais tarde passou a ser conhecida como Lupercália.
Uma outra variante dessa história nos foi contada que foi habilmente
construída, intencionalmente para que os romanos se apossassem de vastos
latifúndios, há muito reivindicados pelo Estado, que diz no reino de Rômulo,
tido as vezes como Anco Márcio, durante uma festa, o sacerdote que guardava o
templo de Hércules desafiou o herói para um jogo de dados (o mesmo que mais
tarde veio tomar lugar nos ossos de Astragalomancia), estabelecendo-se que o
vencido ofereceria ao parceiro um jantar e a mulher mais bela, sensual e
elegante de Roma. Derrotado pelo filho de Alcmena, o sacerdote cumpriu ambas as
promessas: além de um lauto banquete, entregou ao herói a jovem Aca Larência,
lindíssima cortesã romana. Ao deixá-la, para retomar os seus trabalhos,
Hércules aconselhou-a a entregar-se ao primeiro homem que encontrasse. Aca assim
o fez, casando-se logo depois com o varão que o fado lhe destinara pelos lábios
de seu ex-amante.
Tratava-se de Tarúcio, riquíssimo
cidadão etrusco, proprietário das melhores glebas que circundavam Roma. Morto
prematuramente o marido, Aca, antes de falecer, legou todos os seus bens ao
povo romano. Depois de muito idosa, Aca desapareceu misteriosamente, bem perto
do Velabro (mercado de azeite e comestíveis), junto ao túmulo, onde repousava a
esposa do pastor Fáustulo. À ela passou-se oferecer louros no fogo da lareira
pública, e posteriormente na lareira doméstica, assim, aos poucos ela se fundiu
(ou confundiu) com Vesta, a Dama da Lareira espiritual, ao lado de Mania como
senhora do Fogo da Lareira dos Lares, a qual Ernout-Meillet incansavelmente
decifrou e definiu o significado pelo sânscrito Vásati (reside permanente), e
dessa forma ela foi aproximada da grega Héstia e designou Lareira para sempre
devido o Arcádio Wistías. Tal tema foi muito prolixo em H. Frisk, Griechisches
Etymologisches Wörterbuch e nos dicionários míticos religiosos da mitologia
grega e da mitologia romana em que se segue a hipótese de P. Chantraine, para
efeito de referências.
Fado no sentido absolutista, é um
tipo de sentença das Parcas, é um conceito moderno para uma decisão sentencial
e teve como destino o seu cumprimento, sendo um destino que não se controla,
apesar de se poder mudar parte dele em decorrência de certas defesas, esse
conceito foi introduzido no mundo do Direito romano e é ainda hoje estudado nas
faculdades de Direito e ciências jurídicas. Nesse conceito moderno as Parcas
dão sentenças punidoras, mas originalmente as Parcas não tinham essa função,
entretanto vou deixar pra explanar isso mais em baixo.
Fortuna é o feminino substantivado
e depois divinizado de um adjetivo fortunus (ver origem de Fors) e assim, a
deusa que podia ser secunda, prospera, aduversa (boa ou má), opondo-se à razão
(ratio) e ao controle foi equiparada à grega Týkhe que significa “conseguir por
sorte ao acaso”, Fortuna ficou confundida com Fado, devido a má interpretação
do Acaso, e Fortuna passou ser aquilo que o homem consegue, alcança, realiza
por decisão dos deuses. Aqui Fortuna dá sentença boa e favorável, nada punidora.
Fortuna passou a ser “o piloto da vida dos mortais” para uma boa vida, e seu
culto foi trazido para Roma por Sérvio Túlio, o qual tem uma história bem
interessante com a deusa, contudo, ela tomou vários epítetos como Fortuna
Redux, Fortuna Publica, Fortuna Huiusce, longe daquele último.
Há quem diga que Fors Bona se
tornou Fortuna, porém, Fors em princípio era o Acaso, e enquanto nome comum foi
usado no nominativo singular fors e no ablativo forte, os outros casos foram
dados à Fortuna. Como nome próprio, acoplado a Fortuna, Fors Fortuna emprega-se
em todos os casos do singular. Fors provém do antigo fortis, como apareceu na
comédia de Terêncio, Phorm., 136-137. Fors se tornou o princípio masculino de
Sorte (boa ou má), formando com Fortuna um par, uma dupla que se integra e se
complementa. O macho e a fêmea se conjugam na fórmula Fors Fortuna, que se
fecham numa sizígia, para designar uma única divindade andrógena e completa.
Fadas de William Blake - Hécate ou as três Fates |
Sobre a Sibila, Frisk reuniu a
melhor etimologia, sendo que as de Carnoy não são aceitáveis. Heráclito (séc.
VI a.C.) fr. 92 Diels, foi o primeiro a se referir à Sibila, “atribuindo-lhe
inspiração divina”.
O fragmento em apreço chegou até nós graças à Plutarco, De
Pyth. Or., 6, 397ª, e a tradução que segue é da lavra de Carlos Alberto Louro
Fonseca (Os Filósofos Pré-Socráticos, Lisboa, Calouste Gulbenkian, 1982, p.
215): “A Sibila, que, segundo Heráclito, profere, com a boca possessa, palavras
sombrias, sem adornos e sem perfume, atinge com a sua voz mil anos, graças ao
deus Febo”, Sibila foi confundida com Pítia e foi assimilada com sentido igual.
Em Cumana, cidade de Cumas, no sul da Italia, e Tiburtina, de Tíbur, cidade
vizinha de Roma, haviam seus oráculos entre outros lugares, não vou evidenciar
as coisas gregas aqui, só as romanas, porém farei algumas menções. A primeira
Pitonisa, consoantemente, foi uma jovem cujo nome era Sibila, filha do troiano
Dárdano e de Neso, filha de Teucro, fundador da dinastia de Ílion. Com o
respaldo de Apolo, deus eminentemente troiano, Sibila adquiriu tão grande
reputação na arte mântica, que todas as demais profetisas adotaram-lhe o nome.
Voltando as Parcas, no plural
Parcae, provém do verbo ‘parere’, presente pario, de parir, mas no sentido de
“gerar, dar à luz, pôr no mundo”, contudo, o sentido primitivo era o de
“produzir”, como se expressou Catão, em De Re Rust., 89,1. Todavia, segundo
Ernout-Meillet, o sentido de “pôr no mundo” não possui expressão conhecida no
indo-europeu. Gignere e nasci, “engendrar”, gerar e nascer, vir ao mundo, têm
uma acepção social e jurídica e não física. O significado geral em parens,
-ntis, que se aplica tanto ao pai quanto à mãe, mostra que o sentido inicial de
parere não era “o parto através da mãe”, mas o de “produzir”, como revela o
grego tekeîn. As Parcas eram, pois, em princípio, tradicionalmente as
divindades que “produziam”, provocavam o nascimento e depois também o casamento
e a morte, eram essas suas funções. Não dirigiam acontecimentos por destino,
nem os rumos deste, bem como não tinham poder sobre qualquer outro rito de
passagem (ou a passagem propriamente
dita, além das que foi citada como função), que ocorria na vida de alguém.
Na religião romana, as Parcas, com
seus nomes de Nona, Decuma e Morta, (Nona, Décima e Morte), eram as promotoras
ou paraninfas do nascimento, casamento e morte. Como o ano era lunar e a
religião romana era essencialmente preventiva, as duas primeiras presidiam, de
início, o nascimento, pois a criança nascia no décimo mês, daí o temo Décuma,
mas como poderia vir um mês antes, Nona então atribuía suas habilidades para
assistir a parturiente. Com o tempo Décuma passou a reger um novo nascimento
chamado: casamento, e Morta, que possui a mesma raiz etimológica de Moira, com
influência de mors, continuou a presidir a morte e dando descanso para as
almas. Essa última era um espírito que trabalhava para a morte, não era a morte
propriamente dita.
Com o tempo mais adiante, tomou influência grega e as Parcas
identificaram-se com as Queres helênicas, Cloto, Laquésis e Átropos, projeções
ou emanações da Moira, as executoras do que foi por esta determinado. Moira era
grega, e era a sentenciadora do destino e assim os povos converteram as Parcas
em fiandeiras da vida e da morte, lidando com o fio que desenrolava, escolhiam
para quem dar o fio e quando cortariam o fio. Não é em vão que se encontra, por
vezes, em latim, Parca no singular como sinônimo de Moira, Destino, segundo se
pode ver em Horácio, Od., 2, 16, 37-40. No Fórum, as Parcas foram
posteriormente representadas por três estátuas comumente denominadas por As
Três Fadas, Tria Fata, sob conotações gregas das Moiras, foram tomadas por: os
Três Destinos e assim, fada se confundiu com destino na era moderna.
As fadas foram concebidas pelo
povo celta de acordo com a visão de mundo que o povo do norte tinha, ou seja,
juntamente com a lenda dos Tuatha de Danan que foram morar debaixo da terra, isso,
para eles, era melhor que dizer “eles morreram”. Quando os romanos conquistaram
o mundo celta, tomaram contato com suas lendas, mitos e religiosidade, assim,
conheceram o que os celtas pensavam sobre as fadas e como elas eram vistas e
representadas, como espíritos ancestrais que cuidavam do destino da pessoa, da
família, e do clã, condado, ou “cidade”.
No mundo romano a acepção de
‘fadas’ foi entrelaçada com a Moira grega, assim como aconteceu com as Parcas,
senão vejamos:
Fatus veio depois de Moira e é
correto o sincretismo entre Fado e Moira, mas é incorreto sincretizar Moira com
Parcas. Fatum, personificado e divinizado com o sentido de “Destino”, fez jus
na língua popular a um masculino Fatus e até a um feminino Fata, que nas
línguas românicas se perpetuou com a acepção de “fada”. Isso tudo segundo
Junito de Souza Brandão, o Dr. Eduardo Nélson Corrêa de Azevedo e Heraldo José
Abreu Leitão, bem como o apoio que Lúcia Helena Rios Seabra deu a todos, entre
outros catedráticos e autores.
Fatum, Fado, o Destino, é da mesma
família etimológica que o verbo fari, “contar, predizer, profetizar”, é a
revelação da sorte, onde sorte quer dizer destino, como já observava Varrão, L.
1. 6, 52: Ab hoc (SC. Fari) tempora quod Tum pueris constituunt Parcae fando,
dictum fatum et res fatales, ou seja, porque as Parcas predizem, em falando, o
tempo de vida das crianças, que o destino e o tempo fixado pelo Destino, o dia
fatal, derivam seu nome. Fatal está para morte, Fata está para morte, Fada está
para morte. O fado seria assim uma anunciação divina. Diz-se que, a Fada fala
sobre Fado, ou, o Morto fala da sorte/destino.
Fata Morgana by Manuela Cuccu |
O grego possui um presente
correspondente a fatur, “ele diz, prediz”, no dórico phamí, ático-jônico phemí,
“eu manifesto, torno visível, digo”. Disso originou-se a Fama.
A raiz encontra-se igualmente no
inglês antigo boian, “vamgloriar-se”, armêmio bay, “diz ele”, eslavo antigo
baliji, “bruxo, feiticeiro”, donde “médico” é correto.
Fatum, o Fado, o destino, mais
empregado no plural fata, -orum, (só na Eneida o plural é usado centro e quatro
vezes contra quinze) tem por correspondente semântico em grego (heimarméne),
“partilha, necessidade”, da mesma família etimológica de Moira, “parte que toca
a cada um”, quinhão, destino, herança, já que ambas provém do verbo meíresthai,
“receber uma parte, tomar uma parte, partilhar”. Cícero, em Nat. Deaor., 1, 20,
55, assinala o fato> Illa fatalis necessitas quam (heimarménen) dicitis – aquela
fatal necessidade a que chamais heimarménen.
Foi com o significado de “falar,
predizer”, do verbo fari, que Fado passou a designar a vontade expressa pela
“palavra” de um deus.
Com a influência sempre crescente
da religião helênica, em que Moira, (Destino cego) se projetou nas três Queres,
Cloto, Laquésis e Átropos, o Fado teve como hipóstases as três Parcas, Nona,
Décima e Morta, passando até mesmo a designar as Sibilas. Em Roma, junto aos
Rostra, “Rostros” (tribuna para os oradores na praça pública, púlpito este
ornamentado com “esporões” de navios inimigos), havia três estátuas denominadas
Fata, Fados, que representavam as Sibilas.
O masculino Fatus, Fado,
mencionado linhas acima, converteu-se com o tempo numa espécie de Gênius,
Gênio, simbolizando o destino individual masculino; Fata “Fada”, traduzia por
oposição, o destino feminino, “equivalente tardio da Juno primitiva, como
acentua Grimal.
Na literatura grega, Iliada, XXI,
82-83; XVI, 440-443; XX 125-128 para citar alguns passos, Zeus se identifica
com a Moira, ora parece que até poderia modificá-la, se o quisesse, ora parece
a mais temível das divindades paira acima do pai dos deuses e dos homens, como
demonstrou o livro de Mitologia Grega, Vol. I. p. 141 sq.
Na literatura latina, o mesmo
ocorre. Em Eneida 1, 257-264; 5, 784; 10, 34-35; 6, 376, o problema é
exatamente o mesmo. O Fado e Júpiter se alternam e parecem, por vezes,
identificar-se, e por último, a inalterabilidade dos Fata é sumariamente
decretada, como diz a Sibila a Palinuro, que, insepulto, desejava através de
súplicas a Eneias, valido dos deuses, atravessar as águas do Estige, Em., 6,
376:
Desine fata deum flecti sperare
precando, ou seja, perde a esperança de dobrar com rogos os fados dos deuses.
Ambos, deuses e fatas se confundem numa mesmo personagem, porque são os mesmas,
fado e fada são um só deus/deusa igualmente.
Na próxima postagem daremos
continuidade à esse assunto, explorando o mundo das Lasas e das Ladas.
Sett Ben Qayin
Nenhum comentário:
Postar um comentário
agradecemos a você por contribuir e complementar. continue sendo gentil e sábio. abençoados sejam!
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.