terça-feira, 14 de janeiro de 2014

O Compasso e o Caminho da Forja



O Bruxo sempre esteve comprometido com o seu caminho e este, marca a roda do compasso numa estrada sinuosa e virtuosa por onde muitos chamam de caminho da transformação, não menos dolorosa, onde aquilo que ainda é pedra bruta, vira uma joia preciosa.

Andrew Chumbley afirmava que a magia é a transformação da quintessência do ser, e eu concordo com ele, desde que é lá no nosso mais profundo íntimo que reside o poder real e o real poder.


O dom de mudar a si mesmo está verticalmente ligado à sinceridade mais pura, divina e sem autocondescendência, e esse dom é transmitido via iniciação para durante o processo de desenvolvimento com trabalho interno de Covine, onde o Acre se torna Círculo e a roda marca a bússola do Compasso. Ninguém pode dar para si mesmo aquilo que não tem, e é por esta razão que durante a forja de Vulcanus, ou de Tubal Caim, as mudanças ocorrem e com elas nosso caráter se justifica e muda junto, afinal trata-se da linhagem bruxa recebida de nossos iniciadores. Por isso, em tempos que resolvem os equilíbrios e o balanço natural das coisas, seremos sempre o vilão de um herói e o herói de um vilão, isso nos amadurece.

Ao longo desse tempo vamos trocando de pele, mudando de opinião, de postura, de consciência, expandindo-a inclusive, e convidamos para nós mesmos uma série de transgressões e obstáculos a serem também transportados para o Caminho das lições, onde aprendemos que nada permanece para sempre como estava antes, e assim é preciso ter mais coragem para tomar um ato pacífico de acordo com os princípios da indulgência e da piedade, ao invés de exaltar o ego em falsa vitória.

A transformação interna é mais importante para um mago ou bruxo, do que a exaltação dos poucos minutos de glória passageira. A banda de moebios revela o símbolo do infinito e nele consta uma eternidade de vitórias perenes. O mundo está cheio de gente corrupta que só vislumbra o poder, o dinheiro e a superfície de uma superioridade em Maia (ilusão), já que cegos não podem trabalhar como guardas de trânsito, mas podem soprar o apito e apontar o dedo para indicar uma direção onde não se vê para onde está indo, este então, não pode guiar pessoas, mas pode guiar outros cegos, enquanto o verdadeiro compromissado com o seu caminho poderá sempre guiar pessoas para a liberdade, desde que ele já pode guiar a si mesmo. 

Os ensinamentos adquiridos com o Compasso traçam um caminho completo para a transformação pessoal e para a realização espiritual. Este caminho inclui uma compreensão profunda da negatividade pessoal, no qual chamamos Diabo, suas origens, consequências, e um processo para situá-la e transformá-la. Esse processo não se adquire em nenhum curso ou universidade, mas dentro de um Covine Tradicional, que é a melhor escola e não tem semelhante em nenhum outro tempo ou lugar.

O trabalho mágico é aquele que você faz com você ao permitir-se aprender com seus iniciadores, por intermédio deles terá por objetivo possibilitar nossa auto realização pela transformação, concretizar nosso potencial humano individual para a execução de uma tarefa significativa no mundo e para o desenvolvimento de relações afetuosas com os outros. Nesse ponto, nos vemos como deuses vivenciando uma experiência humana, e justamente por isso, por ela limitada em sua condição física.

A partir desse ponto, nunca antes o sabá das bruxas ganhou mais importância e necessidade, tanto o sabá terrestre, o infernal e o celestial, já que é nessa condição que a bruxa se desdobra entre os mundos na forma do seu animal poderoso e transcende os limites da carne.

Essa prática espiritual tem por objetivo alcançar sua hóstia com aquele à quem muitos chamam de Diabo e seus ancestrais, uma verdadeira iluminação, pois como em Platão, é a partir das trevas que se pode ver a Luz, ninguém chega verdadeiramente até Deus sem passar antes pelo Diabo, e é por isso que ele é encontrado nas encruzilhadas das bruxas e fora dela, para assim, haver uma fusão com a consciência unitiva, nossa unidade com todas as coisas.

A meta principal de um trabalho espiritual é conhecer a nossa identidade e limitação mais profunda, com a sombra, como seres inspirados pelos deuses, plenos de amor e de luz. Para tal, Lúcifer, o portador da luz, precisa antes ser compreendido, uma vez que ele não é um ser, mas sim, nossa luz interna, o que nos torna a nós mesmos como os portadores da luz.
O Caminho completo deve orientar-nos, quer quanto às frustrações que nos detém na realização e cumprimento de nosso destino, quer quanto às limitações que impedem nosso despertar.

Um grande sábio disse uma vez que nós somos guiados pelas estrelas, mas infeliz daquele que se deixa ser guiado por elas. O mesmo é válido para todo e quaisquer oráculos ou mancias, desde o tarô até o I-Ching. A bruxa faz suas escolhas e exercendo seu livre arbítrio ela faz o seu caminho, independente da orientação dada pelas mancias, chegando até mesmo manipular situações e pessoas em seu favor. Então, não se engane, pois um bruxo está exatamente aonde ele quer estar, ainda que as aparências enganem e lhe force a crer que há uma derrota aparente.

Ainda há pessoas que se perguntam: “Como posso ir de onde estou para onde quero estar?”

Se for uma bruxa, ela saberá exatamente transpassar de uma margem à outra, uma vez que somos nós que criamos nossa própria realidade, sem vergonha nem medo, e seguindo atentos e ocupados com a questão do autoconhecimento que nunca acaba, onde a pergunta não é relativa à transposição de lugares, mas sim com que parte de mim eu crio situações que reputo totalmente desagradáveis à mim e aos outros? Não dá pra agradar “gregos e troianos”, alguém, durante suas escolhas, sempre irá emanar emoção ou sentimento adequado ao que cavalga e à situação que é sofrida e ocasionada pela escolha feita.

Algumas pessoas se perguntam: Por que meu trabalho de criação não dá origem à vida que acredito querer? Por que é tão difícil mudar alguns aspectos meus? Por que mudo de residência ou de país e sempre continuo na mesma vida dependente de artifícios financeiros sem autossuficiência?

A resposta é uma contribuição honesta de passarmos de onde estamos para onde queremos estar. Durante conflitos não há mudanças, apesar de elas ocorrerem tempos depois que os conflitos cessam. É necessário lembrar que nossos mestres descrevem o estado iluminado como uma fusão no amor em harmonia, onde a pessoa se sente unida a todos como numa rede ou teia universal e abundante, e se entrega alegremente à divindade, tornando-se UNO com ela.

Se você é honesto consigo, porém sabe que não consegue atingir suas metas, necessita de algo que te leve a aceitar-se totalmente como você é agora, no hoje, e que te oriente a trabalhar com o que bloqueia sua evolução que deveria conter progresso pessoal e espiritual. É preciso consultar seu mapa interno sem idealizar nem pratear vossas deficiências humanas.

O Caminho elabora um mapa consciente que inclui nossos demônios e anjos, a criança vulnerável e o adulto competente, os interesses mesquinhos do ego e também os anseios visionários sublimes. Muitos ainda guerreiam consigo mesmos, mas como não pode domar a si mesmo, acaba elegendo alguém para representar seu ganho pessoal, sua vitória, humilhando e subindo na vida a custas das desgraças alheias. Isso não é virtuoso, pois essas pessoas não enxergam que ao humilhar o próximo em público ou não, estão se auto derrotando, enquanto que aquele que permite a humilhação está se elevando conscientemente de forma sublime e sacrificial. Muitas vezes ganhamos perdendo e perdemos enquanto ganhamos. Perdeu-se no caminho aquele que exalta o ego para se projetar tirando vantagem de algo ou alguém, que se aproveita da aparente fraqueza alheia. Digo aparente fraqueza porque não há fraqueza verdadeiramente, muitas vezes temos de escolher conscientemente deixar o outro se elevar para que possamos nos elevar junto, mesmo que em níveis diferentes de expansão mental ou espiritual. O ser humano venceu os dinossauros. O ser humano é o único que pode se autodestruir.



Lembre-se, hoje você não pode mais pensar igualmente como ontem. Aprenda com os erros próprios e com os dos outros.

Em todo processo iniciático, há o aprendizado que nos orienta e nos ampara à medida que nossos passos nos levam da pessoa que somos agora para a pessoa que nos tornaremos, mais elevadas, mais realizadas, mais felizes, e mais conscientes que podemos ser. Não se pode fingir que somos uma imagem idealizada de nós mesmos, a pessoa que pensamos que deveríamos ser. Nossa bússola nos ajuda a aquietar-nos na aceitação da maneira que honestamente somos e do que sentimos, momento a momento, dia a dia, noite por noite, mês a mês, ano a ano.



Se você for autêntico consigo mesmo, poderá descobrir dentro de si sentimentos e atitudes desagradáveis e egocêntricas. Apesar disso, não se sentirá uma pessoa má, não é mesmo?

Mas por que é tão difícil amar a si mesmo e amar os outros como ama a si mesmo?

A pergunta deveria complementar: Por que continuo a ser tão egocêntrico ou autodepreciativo?



A maioria das religiões ou sistemas mágicos nos dão bem pouca ajuda efetiva nessas questões, porque prescrevem mandamentos morais, rígidos códigos de condutas éticas que as vezes mais escravizam do que libertam, dogmas obcecados pelo poder de mando e controle, recheados por culpa e medo, ameaças ou persuasão, e dessa forma não fazemos emergir a nossa negatividade. Quando falhamos, somos admoestados a tentar com mais empenho. Somos forçados a oferecer as nossas imperfeições à outra pessoa, seja um avatar religioso ou um representante de fé, um guru, uma igreja, ou então espera-se que nos elevemos acima de nossas limitações e que consideremos nossa negatividade como ignorância meramente temporária de nossa divindade. Se pararmos para pensar que Deus é infinitamente grande, se torna impossível você pecar contra ele. Só nesse pensamento já caem por terra todos os dogmas de controle, então você se liberta e aprende a pensar com sua divindade interna, que é uma célula ou expressão da Rede Divina onde todos nós somos UNO.



Como poderemos reconhecer nossa negatividade sem dourá-la e sem ser por ela destruídos?

Descarregamos nossas culpas e emoções deprimentes, nossos sentimentos maus sobre os que achamos que nos magoaram e esperamos que os pensamentos ruins ou negativas emoções se dispersarão, mas isso não acontece. Na verdade isso se torna um vício e um padrão repetitivo, onde você acabará elegendo um inimigo fora de você, quando deveria olhar pra si como seu próprio inimigo, para que se nasça a amizade e a união, a aceitação e a entrega. Se você foi sincero agora ao reconhecer isso, já é um grande avanço para se tornar um bruxo de verdade. O caminho do perdão leva ao amor e o da piedade enobrece e exalta suas virtudes mais douradas.



O único sentimento verdadeiro é o amor, todo o resto é apenas emoção criada pela sua mente, e a entrega de si somente acontece com o amor perfeito e a confiança perfeita.

Nós nascemos imperfeitos ou não haveria razão de passarmos o resto da vida buscando sermos melhores, para que possamos oferecer o que temos de melhor, e ontem eu me achava melhor, mas hoje estou melhor que ontem e amanhã estarei ainda mais. Portanto, se você acha que ganhou uma guerra ou uma batalha, na verdade você se perdeu do verdadeiro propósito da sua existência e do seu destino, e no amanhã você reconhecerá que foi um tolo ontem, porque hoje você se aperfeiçoou um pouco mais do que você era ontem, então ontem você ainda era imperfeito.



Sem ser sincero consigo mesmo em tudo que foi dito acima, você não pode se considerar um ser desperto ou consciente de fato.

Nós carregamos uma sacola de virtudes pendurada no pescoço e sobreposta em nosso peito, e uma outra sacola de vícios igualmente pendurada no pescoço e sobreposta nas costas.

A evolução de nossa sombra, no amor e com amor, é transformação que se dá em fila, uma atrás da outra. À medida que vamos crescendo, o eu reprimido transforma-se num saco amortecedor que pode ser chamado de “a sacola que arrastamos atrás de nós", que contém as nossas porções inaceitáveis. Há uma ligação entre as nossas sacolas pessoais e outros tipos de sacolas: as sombras coletivas, e dessa forma, quem está atrás de você nessa fila só irá enxergar a sacola que o indivíduo da frente carrega nas costas dele.



Para ver a luz, é preciso estar nas trevas, e quando você se tornar luz, será lançado nas trevas novamente porque é lá que se pode brilhar. Se tudo fosse luz seríamos cegos e se tudo fosse trevas seríamos cegos igualmente. Para ser bom, é preciso conhecer o mau, para ser perfeito é preciso conhecer a imperfeição, para ser Deus é preciso aprender com o Diabo, e por último, se situar nem dentro nem fora, mas acima da briga ética entre o bem e o mau, verdadeiramente consciente de quem se é, em qual direção sua bússola apontará, para onde seu destino tornará, qual é seu papel no mundo e no entre mundos, quais caminhos seu compasso mensurará, e quando alguém pedir para apagar uma página da vida, se lembre que esse alguém está rezando, a ti que é um deus na Terra, e um deus sempre pode conceder a realização desse pedido, porque ele simplesmente pode!



A linhagem é sempre preferível a um diploma, porque quem não sabe de onde veio, não sabe para onde vai!

Marsílio Ficino afirmou: "A alma pode ser chamada o centro da natureza, a intermediária de todas as coisas, a corrente do mundo, a essência de tudo, o nó e a união do mundo. Conhece-te a ti mesmo, ó linhagem divina vestida com trajes mortais!"


Por isso, bruxos são pessoas que vão doar à você, aquilo que você trouxer pra fora, de dentro pra fora!

Sett Ben Qayin



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