As
bruxas tradicionais são mulheres bem resolvidas e que atuam como curadoras dos
bens e da tradição de seu clã familiar. Se ousarmos falar nos mistérios
femininos, seria covardia falar em como ele sangra ou como se tornou frágil e
sofrido. Não vamos tocar no assunto de consagrar ou reconsagrar o que já nasceu
sagrado. O ventre por si só já se faz sagrado. Ventre é ventre logo ele existe
desde que mundo é mundo, e mulher é mulher, não importa o formato que ela é desenhada.
Falar
em feminino no meio da arte bruxa, seja qual escola for, clã, ordem, ou
irmandade sempre vamos nos lembrar de temas como o sagrado feminino, a
poderosidade do útero universal, o retorno da Deusa, o despertar da Deusa ou,
em como as mulheres foram estigmatizadas ou perseguidas em algumas épocas.
Será
que não nos esquecemos de algo? Desde as primeiras Vênus francesas do paleolítico,
em que já eram esculpidas em suas formas reais e divinizadas, estas pequenas
esculturas não mostravam a sua fragilidade e sim sua capacidade e poder em suas
mãos. E assim sempre foram nossas mulheres bruxas.
O
que dizer da vênus de Laussel encontrada na França, no qual ela segura um corno
em suas mãos demonstrando o poder de gerar e nutrir? O que é Vênus? Vênus que tem como etimologia venerari, “ venerar, reverenciar “, ou
seja a Vênus que conhecemos, a Deusa Vênus não é por assim toda sexual como
pensamos. Se pensar que a base do latim é Indo-Europeu WEN- quer dizer; ir atrás, desejar, querer satisfazer-se, posso
considerar que a Deusa Vênus era uma realizadora de desejos, afinal qual seria
os nossos desejos? Logo a figura da mulher era o desejo de fertilidade,
segurança da prole, nutrição, sustentar a vida, pois não é isso que o ventre
faz? Sustenta a vida até o momento de seu nascimento, quiçá no pós-nascimento.
Em
bruxaria hereditária existe a preservação dos costumes, principalmente quando
alguma família migra de uma região a outra, justamente para não se perder as
origens. Isso se chama “patrimoniun” que
significa patrimônio, ou seja, vem de pater ou “pater familiare”. Mas onde
entra o aspecto da mulher aí? A mulher é
a curadora desta família, curador vem do latim “curator” que significa “ aquele
que cuida, que administra”. O estudo
do direito romano nos revela que em Roma as mulheres tinham o livre exercício
de administrar bens e a economia da família e não era à toa que seu título era
“domina”, “a que manda ou controla”.
A “matrona”, a nona strega, é aquela que
guardava os segredos e que fazia o sacrifício e as oferendas aos Deuses de sua
família. A mulher que alimenta os Deuses, assim como é no útero que se alimenta
a vida, o guarda e o nutre. Não há
reconsagração na bruxaria tradicional justamente por que as mulheres sempre
estiveram e ainda estão perto uma das outras e, a “Nona” ou “Dinda”, é a mulher
anciã que representa nada mais nada menos que um aspecto da Deusa, a Vênus do
paleolítico em seus dias atuais, forte e nutridora. A nona apresenta-se frágil
no aspecto físico da anciã como todo ser humano que envelhece, mas forte na
sabedoria e no poder que carrega nas mãos, no sangue e no espírito.
Mas
não é só esse aspecto que eu quero abordar para reflexão sobre o feminino.
Quero relembrar que nem sempre a mulher esteve à mercê de um “patriarcado”, o
qual se insiste em advertir. Vamos abrir nossa memória e recontar à nossas
futuras sacerdotisas que, em todos os cantos deste chão houve não só uma, mas
várias mulheres que detiveram o poder no seu aspecto mais feminino possível.
Não
foi Boudicéia que assumiu a liderança dos icenos contra o império romano, e que
invocava o nome de Andraste em suas batalhas? Foi Ypátia de Alexandria, a primeira mulher a ser chefe curadora e
acadêmica da escola platônica? Oras, o que dizer da primeira (não oficial)
papisa Joana? Poderia citar uma referência das crônicas do mundo nórdico onde
se revela que as mulheres faziam parte de um poder bélico, Ladgertha,
companheira do herói Ragnar Lodbrök.
Citar
estes nomes só me faz repensar que nossa história está cheia de ventres
poderosos e que ditam uma história diferente da que vejo e que, alguns grupos
insistem que as mulheres não tiveram voz. Arádia (Heródias) que peregrinou pela a Itália para libertar os pobres e
oprimidos, que pelo clero e pela nobreza sofriam opressão, ela levava
conhecimento e cura tanto para mulheres quanto para homens. Foi graças a Lupa Capitolina, de acordo com os mitos, a
qual nutriu e amamentou os gêmeos Rômulo e Remo, filhos de Marte, e a Rhea Silvia, as quais possibilitaram
o destino do qual Roma se tornou um grande império.
Em
minha análise as Amazonas lembram muito mais as mulheres samurais japonesas do
que as mulheres gregas. As Onna-Burgeishas eram mulheres treinadas para
defender suas casas e famílias principalmente na ausência de seus maridos ou
pais. Apesar da cultura ocidental observar as mulheres do extremo oriente
apenas na figura da gueixa, acredito que elas tinham mais a características de
guerreiras do que as próprias espartanas. Essas mulheres eram treinadas em
combate com arco, flecha e espadas chamadas de Nagitana. Podemos citar Tomoe
Gozen que nasceu por volta do ano 1.115 no Japão feudal e foi casada com o
samurai Minamoto no Yoshinaka. As Onna-burgeishas
não eram mal vistas pela sociedade, eram vistas como mulheres comuns e tinham
suas famílias respeitadas por todos.
Se
desviarmos o nosso olhar a fim de observar outros períodos da nossa história, e
tirarmos o véu de outras culturas podemos analisar melhor o que é o feminino e
sua representação. Nem sempre o feminino foi obscurecido e fragilizado como
pensamos, as dianas e amazonas existiram e andaram por outros campos assim como
a loba capitolina, nutrindo e cuidando. Essas mulheres estiveram expostas como
uma sombra poderosa em alguma vida, em forma de chefe de estado como Cleópatra
foi. Foram figuras poderosas e sábias como a doutora em química e física Marie
Cure ou Helena Blavatsky, entre outras, quais foram grandes fontes de
inspirações para as obras de Kandinsky.
São
as musas Calíope, Clio, Erato, Euterpe, Melpômene, Polimnia, Tália, Terpsícore
e Irânia que nasceram da memória chamada Mnemósine, com a contribuição de
Júpiter, que inspiraram todas as mulheres e homens e ainda continuam a inspirar
nossas virtudes independente da característica ou orientação sexual em que
nascemos.
E
por falar em orientação sexual, há quem diga em certas correntes de pensamento,
que a resposta ao patriarcado é a reencarnação dessas mulheres poderosas em
forma de gays, sejam no corpo masculino, seja no corpo feminino. Ou seja, essas
correntes de pensamento indagam que a alma é feminina (dentro ou fora da camada
física) e que os homens são uma resposta ao desejo feminino do complemento, um
substrato elementar feito polaridades.
Vemos
que é a figura de uma mulher que representa a memória e dela nasce as nove
musas que cantam a vitória dos olímpicos e detém o conhecimento, “museun” ou
museu vem justamente de musas, que significa lugar que guarda o conhecimento e,
por isso são também as curadoras das lembranças que a humanidade carrega. Memória
é feminina e ela está na mente de todos independente do sexo que você carrega.
Parece
desproporcional afirmar que existe o machismo, uma vez que a alma que habita
todos os corpos é feminina. Na verdade o machismo é tão somente a ignorância de
uma alma que ainda não despertou. Nada que uma boa iniciação não possa resolver
para despertar a unidade divina dessa psiquê.
É
nessa reflexão que algumas tradições de bruxarias tradicionais e hereditárias
preservam suas memórias e guardam em sua cornucópia, a nutrição de cada geração
que herdará os conhecimentos. O ventre não é um lugar de frágil sangramento
como as vezes é referido, mas sim, ventre como a unidade, a casa do
conhecimento ancestral e como bruxas somos as curadoras desse patrimônio.
De acordo com o
professor Ari Riboldi, a "idade da loba' significa, na
pratica, um novo modelo de ser mulher, um novo estilo de vida, um
novo conceito de mundo, decorrente dos movimentos da libertação sexual, a
partir da década de 60, e ele não estava tão enganado sobre isso, com exceção
de que, não existe esse tal novo modelo, mas sim o Antigo Modelo que nunca
deixou de existir e, que cada vez mais ganha espaço no mundo por ser verdade.
Vamos reconhecer
então, As 12 mulheres poderosas do esoterismo ocidental:
A Pítia de Delfos –
metade do séc.VII? a.C.: A Primeira.
Vegoia, Begoe,
Vegone, 91 a.C.: Pitia ou Sibila dos ETRUSCOS, a quem as stregas invocam nas
leituras oraculares até hoje.
Velleda, 70:
profetisa e sacerdotisa dos germanos.
Maria, A Judia, séc.
IV: Alquimista.
Hipácia, ou Hypatia,
370-415.
Hildegarda de
Bingen, 1098-1179.
Marguerite Porète,
c. 1250-1310.
Jane Lead,
1623-1704.
Catherina-Regina von
Greiffenberg, 1633-1694.
Helena Petrovna
Blavatsky, 1831-1891: HPB.
Alexandra
David-Néel, 1868-1969.
Alice Bailey,
1880-1949: A.A.B.
Todas essas mulheres
deixaram extensas contribuições para o esoterismo e magia no Ocidente, muitas
sob cunhos orientais que se encaixaram aqui. Existem muitas outras no anonimato
e/ou em sigilo para iniciados, não menos importantes.
O que faz a bravura das
virtudes se tornar divina não é o sexo e sim, a polaridade equilibrada que cada
alma carrega é que faz o prestígio da matriz de uma deusa-deus sair do paraíso
e tomar formas humanas. Mulheres e homens são deusas-deuses vivendo como
humanos. A fonte original-espiritual, o forno das formas, o grande útero sempre
foi feminino e as mulheres nunca foram fracas, mesmo em épocas de hostilidade,
opressão e repressão, sem o feminino nada existiria, basta lembrar que homem
não tem útero e se somos a imagem e semelhança divina, somos convidados a cair
na real.
A Deusa criou o deus
para ser seu consorte e complemento, tudo dele veio dela, inclusive o phallus,
e ambos são UM em verdade!
Por A. L.
Dama do Covine de Ribeirão Preto.
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