Ligações Orientais com a Bruxaria
Européia - parte 2 (final)
Por Doreen Valiente
Arkon Daraul, em seu livro sobre
as Sociedades Secretas, anteriormente referida, conta-nos sobre um culto
secreto muito curioso, de uma natureza mística e mágica, chamado "Os
Dois de Chifres" ou Dhulqarneni. O culto nasceu no Marrocos e
cruzou países até chegar na Espanha da mesma forma que o culto Aniza. As
autoridades muçulmanas não apreciaram sua chegada e tentaram sufocá-lo, mas,
apesar dos esforços, ele se espalhou rapidamente.
Seus devotos acreditavam que eram
capazes de invocar poder mágico por meio das danças em círculos. Essas
danças tinham alguma associação com a adoração da Lua, e eles diziam as
orações muçulmanas de trás para a frente e invocavam El Aswad, o
"Homem Negro", para ajudá-los. Tanto homens como mulheres
eram admitidos nesse culto, e eles eram marcados em sua iniciação com um
pequeno ferimento de uma faca ritual, chamada Adh-dhame, a
"letrade sangue". Essa palavra nos faz lembrar do Athame das
bruxas.
Eles se encontravam à noite, em
encruzilhadas, e seus encontros eram chamados de Zabbat, que
significa "O Forte ou O Poderoso". O círculo de iniciados era
chamado de Kafan que, em árabe, significa lençol enrolado, porque
cada um dos membros não usava
nada além de um manto branco liso
sobre seu corpo nu. Vestidos dessa maneira, eles pareciam com um
grupo de fantasmas, e provavelmente assustariam qualquer intruso.
As bruxas também adotaram o uso de fantasias assustadoras com a mesma
finalidade.
O Dhulqarneni carregava um pedaço
de pau com ramos, o símbolo de chifres, o sinal de poder. Antigas
representações de bruxas mostram-nas cavalgando sobre pedaços de paus com
ramificações. O nome "Sabá" para os encontros das bruxas
de importância especial nunca foi satisfatóriamente explicado; mas
"coven" é uma palavra que está relacionada com a palavra do
latim conventus, e que significava um grupo de culto de 13 pessoas.
Entretanto, o círculo do
Dhulqarneni era um círculo de 12 pessoas com um líder, e assim também são os
círculos dos Sufis nos dias de hoje.
O líder do círculo de Aqueles com
Chifres era chamado de Rabba, "Senhor". Ele era também
chamado de o "Homem Negro" ou "ferreiro".
Os ferreiros sempre foram considerados como pessoas que têm poderes mágicos, e
a antiga balada de "O Ferreiro Carvão" é considerada a músiva das
bruxas. Ela é também chamada de "Os Dois Magos", e fala como um
ferreiro e uma bruxa tiveram uma
competição mágica, que terminava com os dois se tornando amantes.
Robin ou Robinet é um nome que era às vezes dado para o
"Diabo" de um coven de bruxas, e ele tem uma semelhança com o
Rabbana. Ele é também uma antiga palavra para o órgão sexual masculino. Os
termos "Homem Negro" ou "Homem de Preto" eram
também usados para referir-se a um líder masculino de covens.
O culto daqueles de Chifres
continuou entre os povos caucasóides da África do Norte até tempos recentes, e
pode existir até hoje. Há histórias de seguidores desse culto dançando ao
redor de fogueiras acesas, carregando um pedaço de pau que eles chamam
de "o bode". Eles têm um Grande Mestre secreto chamado de
Dhalqarnen, o "Senhor de Dois Chifres", que é reencarnado
na Terra a cada 200 anos.
É algo extraordinário do nosso
ponto de vista que esse culto tenha florescido entre os caucasóides, porque
eles são racialmente parecidos com os povos escuros de cabeças longas e de
estatura baixa que habitavam a Grã-Bretanha no período Neolítico, e que
migraram da África do Norte. Os povos do Egito pré-dinástico estão também
racialmente relacionados com eles.
Os caucasóides são considerados
na África do Norte uma raça de feiticeiros, cuja submissão exterior ao Islã
cobre a prática oculta de credos estranhos e hereges. Eles mantêm as
mulheres em grande estima, como repositoras da sabedoria e da magia
ancestral. Isso está em um contraste marcante com a atitude dos árabes
comuns de desdém para com as mulheres, como sexo inferior. Muitos contos
estranhos de viajantes da magia dos caucasóides vieram da África do Norte.
Dizem que eles tinham uma língua secreta, pela qual, e somente por meio dela,
assuntos mágicos podiam ser discutidos.
O relacionamento entre esses
orientais em busca de sabedoria como os Sufis, e as bruxas européias, ou
devotos do trabalho dos sábios, é um assunto do qual sabemos muito pouco.
Talvez o estudo futuro, esperamos, poderá revelar mais.
Uma crença que os Sufis e as
bruxas tem em comum é a do baraka, que significa "bênção" ou
"poder". Essa não é apenas uma abstração metafísica, mas algo
que pode de fato ser invocado e transmitido. A expressão Sufi, "Baraka
bashad", "Que a bênção aconteça", é
muito parecida com a saudação das
bruxas "Abençoado seja". Ela também nos faz lembrar a
antiga Palavra de Poder "Abracadabra", que significa
"Ha Brachab Dabarah" ou "Fale as Bênçãos". O
significado essencial desses conceitos é praticamente o mesmo, e pode
estar paralelamente relacionado com o mana dos Kahunas do Havaí.
The Jewel in the Lotus, de
Allen Ewardes, dá-nos uma visão extraordinária da sexualidade no Oriente,
que está inextricavelmente restrita à religião oriental. Ele descreve
alguns dos homens sagrados do Oriente, e a forma com a qual a relação sexual
com eles era considerada um privilégio que conferia a santidade.
Isso é rememorativo da forma pela
qual dizem que as bruxas medievais consideravam seu Diabo, o
"Homem de Preto", quando ele presidia sobre o coven usando suas
grandiosas vestes, a máscara de chifres, peles de animais, etc.
Está implícito em muitas
descrições da bruxaria do passado que o Diabo do coven tinha um tipo de
droit de seigneur sobre as jovens garotas e mulheres que se
filiavam, que ele provavelmente achava agradáveis. Nós encontramos,
nas descrições bastante detalhadas
das confissões de bruxas,
preservadas por Pierre de Lancre, a alegação de que o Diabo
"oste la virginité des filles" no tempo quando ele unia bruxas
e bruxos em casamento.
Alguns homens sagrados do Oriente
consideravam isso um trabalho sagrado fazendo a mesma coisa, principalmente o
ato de deflorar virgens. Alguns críticos ocidentais zombam das religiões
orientais por essa razão, considerando-as meros disfarces hipócritas para as
atividades de libertinos descarados. Ao fazer isso, eles falham por
completo ao entender as idéias e emoções da Força da Vida, e
portanto da Divindade Criativa por trás dela. Não havia nada de hipócrita,
ou para eles imoral, nos ritos fálicos e sexuais dos povos
orientais, ritos que, na verdade, eram praticados em todo o
mundo no passado.
Essa consideração pelo contato
sexual com as pessoas dos homens sagrados, como algo que conferia santidade e
bênçãos, faz brilhar uma nova luz sobre as muitas histórias do
Osculum infame, ou o que era chamado de "beijo obsceno",
que supostamente era dado sobre o Diabo do coven por seus seguidores em
ocasiões de rituais.
The Jewel in the Lotus conta-nos
que em muitas áreas o vagante homem sagrado, o Dervishe ou Sufi, era
recebido por devotos com um extraordinário símbolo de respeito. Isso consistia
em beijá-lo nos lábios, em seguida suspender sua túnica e beijá-lo
sucessivamente o umbigo, pênis, testículos e as nádegas.
Essa é a forma exata pela
qual Jeanette d'Abadie, uma jovem bruxa de Basses-Pyrenees,
confessou ter saudado o Diabo em 1609; "que le Diable luy faiscoit
baiser son visage, puis le nombril, puis le membre viril, puis son derrière",
diz Pierre de Lancre.
Em 1597, Marion
Grant, das bruxas de Aberdeen, foi acusada de render respeito ao
Diabo que, disseram, "a fez beijá-lo nas partes íntimas, e adorá-lo
de joelhos como o senhor". E antes disso, em 1303, nade menos
do que um Bispo em Coventry foi enviado a Roma para enfrentar uma acusação
parecida, o Diabo nesse caso tendo estado na forma de uma
"ovelha" (provavelmente um carneiro era a referência, ou um homem
usando a máscara da cabeça de um carneiro). O Bispo conseguiu se livrar
da acusação.
Esse último caso, de acordo com
Margaret Murray, é o mais antigo registrado na Grã-Bretanha, desse tipo de
adoração do Deus de Chifres ou de sua representação. Ele pode, portanto,
fornecer-nos uma certa indicação, se a teoria da influência oriental for
correta, de que período essa influência começou a mostrar-se sobre a Antiga
Religião na Grã-Bretanha.
Os Cavaleiros Templários também
foram acusados de terem um ritual do beijo desse tipo, exigido pelo
Mestre de Iniciações dos homens que eram recém-admitidos na ordem. Essa
pode ser uma outra indicação de sua absorção das idéias e costumes religiosos
orientais, provavelmente dos Sufis. "De acordo com os artigos de
acusação, uma das cerimônias de iniciação exigia que o noviço beijasse o receptor
na boca, no ânus, ou no final da espinha,
no umbigo, e no virga virilis".
A exata similaridade desse
extraordinário ato ritual, no caso dos Cavaleiros Templários, as bruxas e os
devotos de determinados homens sagrados de Sufi, parece estar além de
simples coincidências. Isso tudo é uma indicação para o verdadeiro
significado do famoso Osculum infame e das ligações estranhas e secretas entre
os círculos ocultos do Oriente e os da Europa nos séculos passados.