De
forma geral, o totem é revelado ao indivíduo através de uma visão, durante a
observação do rito de passagem da segunda colina, ou seja, a adolescência. É um
animal ou planta, escolhido como protetor e guia, a exemplo de um antepassado
com quem se institui um elo de parentesco, com todos os direitos de deveres que
isso implica.
A
palavra totem é um termo algonquino. Sua verdadeira significação é: Guardião
pessoal ou poder tutelar pertencente a um homem considerado individualmente. É
frequentemente representado na sua medicina (pacote-fetiche) ou pintado sobre
suas roupas ou objetos pessoais sob a forma de um retrato ou de um símbolo. De
acordo com Schoolcraft, o termo totem, é um desenho que
corresponde aos emblemas heráldicos das nações civilizadas e que cada pessoa é
autorizada a portar como prova da identidade da família à qual pertence. É o
que demonstra a etimologia da palavra, derivada de 'dodaim', que significa
aldeia ou residência de um grupo familiar.
De
nenhuma forma é hereditário ou genealógico; nada tem a ver com a organização
social da tribo ou clã... Não tem relação alguma entre o totem concebido dessa
forma e o fenômeno social do totemismo, da maneira como o tratamos
correntemente.
Teoria
hoje em dia bastante contestada, o totemismo foi considerado como a forma
primitiva de toda religião e de toda moral. Era a fonte dos tabus e do
proibido, que teriam formado o primeiro elo e primeiro modelo de organização
das sociedades humanas.
Sem
cair em generalidades abusivas, podemos encarar o totem como o símbolo de um
elo de parentesco ou de adoção, com uma coletividade ou um poder extra-humano e
natural.
Há
uma relação de pertinência, até mesmo de identificação, entre o iniciado e seu
totem, sua alma do mato. Através dos ritos iniciáticos, explica a corrente de
pensamento Junguiana, o indivíduo toma posse de sua alma animal, ao mesmo tempo
em que sacrifica seu próprio ser animal na cisão esférica. Após esse duplo
processo, o iniciado é admitido no clã totêmico e estabelece relação com seu
totem animal. Sobretudo torna-se maduro diante dos mistérios num sentido mais
amplo, um Deus vestido de ser humano.
Algumas
tradições mágicas evocam a transmigração (ou metempsicose) de personagens divinos,
que passam de um estado a outro, com uma intenção bem definida: transmitir um
saber ou uma herança tradicional.
É
o caso do irlandês Tùan Mac Cairill, que é, sucessivamente, veado, javali,
falcão, salmão, a cada vez durante trezentos anos. Pescado por um servo e
consumido pela rainha da Irlanda, reinava enfim sob a forma de Tùan; viveu do
dilúvio à chegada de São Patrício e transmitiu todo o saber que acumulou
durante esse tempo.
Em
um célebre poema, o Kat Godeu ou Combate dos Arbustos, o poeta galico Taliésin,
que deve ter vivido por volta do século VI, evoca todos os estados em que
viveu: espada, lágrima, estrela, palavra, livro, luz. Mas a metempsicose, que
os autores antigos confundiram mais frequentemente com a imortalidade da alma,
devido a suas tendências racionalizantes, são reservadas somente aos deuses. Deve
ser bem diferenciada das metamorfoses acessíveis aos humanos, que podem chegar
à imortalidade somente no Mundo do Além.
A
transmigração aparece como uma expressão misteriosa dos múltiplos estados do
ser.
Aparentemente
todas as coisas existentes, inteligentes ou não, são em parte, criações da
primeira alma criadora das existências, e todas elas possuem um tempo de vida,
para migrar então, noutra. Assim, passamos de pó à concreto, de líquido à sólido,
de pedra à mineral, de mineral à vegetal, de vegetal à animal, de animal para deuses.
Essa jornada, em parte, é atribuída aos totens que recebemos juntamente com sua
compreensão. Em cada uma dessas paragens é vivenciada todas as formas nela
existentes, ao exemplo: todos os tipos de pós, todos os tipos de forma
concreta, todos os tipos de líquidos, todos os tipos de sólidos, todos os tipos
de pedras, e assim por diante, até todos os tipos de humanos, para então se
tornar uma espécie de deus que não precisa mais migrar.
Dessa
forma, os deuses na terra se reconhecem como uma das formas dessa evolução
inteligente que progride de maneira a não desprezar aqueles ‘não inteligentes’,
justamente porque sabem de onde vieram. São almas criadas em espírito
santificado, que tratam da jornada espiritual para compreensão mais elevada do
caminho que cada qual precisa trilhar, encerrando mas não terminando, no último
dos limites onde a ‘Nous’ abarca a última compreensão por não mais caber dado conhecimento
naquele vaso material-espiritual.
A
felicidade consiste num estado em que, concluído o mecanismo transmigratório, o
destino não mais seria colocado em questão.
A
transmigração é o símbolo da persistência do desejo, seja qual for a sua forma.
O ser em que a alma pode transmigrar revela o nível do desejo a que esta se
encontra ligado. A transmigração é uma forma de expressar a lei da justiça
imanente e das consequências de todos os atos.
A
roda da existência, a roda da Fortuna, ou roda do Destino, possuem alguns
estados mais previlegiados que outros, superiores e inferiores, e todos esses
estados de pós-morte podem ser vivenciados no mundo cotidiano. O Bardo Thodol,
em ‘O Livro Tibetano dos Mortos’, é antes de tudo, um guia para os vivos,
capazes de ultrapassar a morte e transformar seu processo em ato libertador.
A
prática da transferência de consciência permite dominar o princípio consciente,
tanto antes e depois, quanto durante a travessia do Bardo, em uma duração
simbólica de 49 dias.
Para
o ser perfeitamente desperto, duas escolhas se apresentam: fundir-se no Nirvana
ou então, caso possua um ideal de Bodhisattva, retornar lucidamente à terra,
escapando ao ciclo do Samsara, com o objetivo de auxiliar os seus semelhantes a
se livrarem do mundo do sofrimento. Eis a cura pelo Totem como um dos ofícios
da bruxa.
Sett Ben Qayin
Obs – Usei alguns termos
do ‘Buddha Dharma Teravada Sânscrito’ bem como passagens retiradas de ‘O Livro
de Taliésin Bem Beirdd – 1275’, propositalmente, para fazer alusão à forma de compreensão
mais clássica da linguagem esotérica, no qual 99% dos leitores estão
acostumados, ou obtém fácil acesso à sua significação.
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