terça-feira, 20 de novembro de 2012

A Cura pelo Totem




De forma geral, o totem é revelado ao indivíduo através de uma visão, durante a observação do rito de passagem da segunda colina, ou seja, a adolescência. É um animal ou planta, escolhido como protetor e guia, a exemplo de um antepassado com quem se institui um elo de parentesco, com todos os direitos de deveres que isso implica.

A palavra totem é um termo algonquino. Sua verdadeira significação é: Guardião pessoal ou poder tutelar pertencente a um homem considerado individualmente. É frequentemente representado na sua medicina (pacote-fetiche) ou pintado sobre suas roupas ou objetos pessoais sob a forma de um retrato ou de um símbolo. De acordo com Schoolcraft, o termo totem, é um desenho que corresponde aos emblemas heráldicos das nações civilizadas e que cada pessoa é autorizada a portar como prova da identidade da família à qual pertence. É o que demonstra a etimologia da palavra, derivada de 'dodaim', que significa aldeia ou residência de um grupo familiar.



De nenhuma forma é hereditário ou genealógico; nada tem a ver com a organização social da tribo ou clã... Não tem relação alguma entre o totem concebido dessa forma e o fenômeno social do totemismo, da maneira como o tratamos correntemente.

Teoria hoje em dia bastante contestada, o totemismo foi considerado como a forma primitiva de toda religião e de toda moral. Era a fonte dos tabus e do proibido, que teriam formado o primeiro elo e primeiro modelo de organização das sociedades humanas.

Sem cair em generalidades abusivas, podemos encarar o totem como o símbolo de um elo de parentesco ou de adoção, com uma coletividade ou um poder extra-humano e natural.

Há uma relação de pertinência, até mesmo de identificação, entre o iniciado e seu totem, sua alma do mato. Através dos ritos iniciáticos, explica a corrente de pensamento Junguiana, o indivíduo toma posse de sua alma animal, ao mesmo tempo em que sacrifica seu próprio ser animal na cisão esférica. Após esse duplo processo, o iniciado é admitido no clã totêmico e estabelece relação com seu totem animal. Sobretudo torna-se maduro diante dos mistérios num sentido mais amplo, um Deus vestido de ser humano.

Algumas tradições mágicas evocam a transmigração (ou metempsicose) de personagens divinos, que passam de um estado a outro, com uma intenção bem definida: transmitir um saber ou uma herança tradicional.

É o caso do irlandês Tùan Mac Cairill, que é, sucessivamente, veado, javali, falcão, salmão, a cada vez durante trezentos anos. Pescado por um servo e consumido pela rainha da Irlanda, reinava enfim sob a forma de Tùan; viveu do dilúvio à chegada de São Patrício e transmitiu todo o saber que acumulou durante esse tempo.



Em um célebre poema, o Kat Godeu ou Combate dos Arbustos, o poeta galico Taliésin, que deve ter vivido por volta do século VI, evoca todos os estados em que viveu: espada, lágrima, estrela, palavra, livro, luz. Mas a metempsicose, que os autores antigos confundiram mais frequentemente com a imortalidade da alma, devido a suas tendências racionalizantes, são reservadas somente aos deuses. Deve ser bem diferenciada das metamorfoses acessíveis aos humanos, que podem chegar à imortalidade somente no Mundo do Além.

A transmigração aparece como uma expressão misteriosa dos múltiplos estados do ser.

Aparentemente todas as coisas existentes, inteligentes ou não, são em parte, criações da primeira alma criadora das existências, e todas elas possuem um tempo de vida, para migrar então, noutra. Assim, passamos de pó à concreto, de líquido à sólido, de pedra à mineral, de mineral à vegetal, de vegetal à animal, de animal para deuses. Essa jornada, em parte, é atribuída aos totens que recebemos juntamente com sua compreensão. Em cada uma dessas paragens é vivenciada todas as formas nela existentes, ao exemplo: todos os tipos de pós, todos os tipos de forma concreta, todos os tipos de líquidos, todos os tipos de sólidos, todos os tipos de pedras, e assim por diante, até todos os tipos de humanos, para então se tornar uma espécie de deus que não precisa mais migrar.

Dessa forma, os deuses na terra se reconhecem como uma das formas dessa evolução inteligente que progride de maneira a não desprezar aqueles ‘não inteligentes’, justamente porque sabem de onde vieram. São almas criadas em espírito santificado, que tratam da jornada espiritual para compreensão mais elevada do caminho que cada qual precisa trilhar, encerrando mas não terminando, no último dos limites onde a ‘Nous’ abarca a última compreensão por não mais caber dado conhecimento naquele vaso material-espiritual.

A felicidade consiste num estado em que, concluído o mecanismo transmigratório, o destino não mais seria colocado em questão.

A transmigração é o símbolo da persistência do desejo, seja qual for a sua forma. O ser em que a alma pode transmigrar revela o nível do desejo a que esta se encontra ligado. A transmigração é uma forma de expressar a lei da justiça imanente e das consequências de todos os atos.  

A roda da existência, a roda da Fortuna, ou roda do Destino, possuem alguns estados mais previlegiados que outros, superiores e inferiores, e todos esses estados de pós-morte podem ser vivenciados no mundo cotidiano. O Bardo Thodol, em ‘O Livro Tibetano dos Mortos’, é antes de tudo, um guia para os vivos, capazes de ultrapassar a morte e transformar seu processo em ato libertador.

A prática da transferência de consciência permite dominar o princípio consciente, tanto antes e depois, quanto durante a travessia do Bardo, em uma duração simbólica de 49 dias.

Para o ser perfeitamente desperto, duas escolhas se apresentam: fundir-se no Nirvana ou então, caso possua um ideal de Bodhisattva, retornar lucidamente à terra, escapando ao ciclo do Samsara, com o objetivo de auxiliar os seus semelhantes a se livrarem do mundo do sofrimento. Eis a cura pelo Totem como um dos ofícios da bruxa.

Sett Ben Qayin

Obs – Usei alguns termos do ‘Buddha Dharma Teravada Sânscrito’ bem como passagens retiradas de ‘O Livro de Taliésin Bem Beirdd – 1275’, propositalmente, para fazer alusão à forma de compreensão mais clássica da linguagem esotérica, no qual 99% dos leitores estão acostumados, ou obtém fácil acesso à sua significação.  

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