As Virtudes |
Eu
sei que sua dor é real, até então é real. O que te dói, dói pra valer. É um
sentimento que machuca, rasga por dentro, invade sua pele e dá vontade de
chutar tudo para o alto, as vezes dá vontade de por fim na própria vida, de
tanto sentir-se injustiçada ou punida por alguém, ou então não ter seu devido
reconhecimento dado por quem se espera que dê. Essa forma de pensar e sentir a
vida parece ser puramente a prudência sendo descartada. Ao fazer uso da
prudência, dispõe a razão a discernir as circunstâncias sobre o verdadeiro bem
e a escolher os justos meios para o atingir. Ela indica regra e medida, ela não
é a balança da justiça onde se mede e pesa valores. Não adianta fazer uso
distorcido da prudência ao começar esse caminho de superação, de mudanças.
Anseios
como se sentir injustiçada, humilhada, reduzida, esculhambada, ou sem valor
algum vindo de quem se gosta muito ou de quem se ama, é uma das condições
exempladas para que se sinta apaixonada por sua dor e se vitimar constantemente
enquanto narra sua dor com orgulho; sentir-se machucada por quem se ama, um
amigo, um parente, ou até mesmo um animal, sentimentos mesquinhos mascarados de:
“eu sou um herói, sobrevivi à isso”, só servem para pedir que os outros tenham
dó de si. Tais sentimentos se apresentam para que se tome conhecimento deles,
são vistos num primeiro momento como algo abominável e a primeira resposta pra
si mesmo é dizer: “Não, eu não tenho isso!” Ou então: “Não! Eu não sou assim”.
Mas o fato é que todo mundo é em algum momento, senão muitos momentos, assim. A
negação do que se é, na verdade, é o primeiro passo para lançar todo o seu ser
para debaixo do tapete do ego, pois no fundo, o ego é o que se tem para
fornecer os sentimentos mundanos. Mas machuca, rasga o que por dentro? Tudo
isso, inclusive o orgulho moram no ego, portanto, machuca e rasga o ego!
Sapiencia |
O
trabalho real começa quando a bruxa usa a prudência e principia pensar com o
espírito, não com o ego, e quanto mais se valoriza o ego, maior é a intensidade
de dor que se sente, então há necessidade de se despir dessa vaidade para
atravessar a barreira que separa o ego, da sua Essência.
A
tolerância com relação à dor vai se esticando quando você inicia a valorização
de quem seu espírito é de verdade, conhecendo ele e distinguindo a sua essência,
como é, como sentir, e de onde veio, não antes desse reconhecimento. Dói no ego,
na carne, e o coração da rainha vermelha do filme da Alice se apresenta bem
cabeçudo para que seja depurado e transformado a partir da aceitação. Afinal,
bruxa que não consegue mudar a si própria, não consegue mudar ninguém, e mudança
é um assunto totalmente pertinente na bruxaria, pois trata-se de
transformações. E isso é um assunto justo, desde que a justiça é uma constante
e firme vontade de dar aos outros o que lhes é devido, portanto, comece consigo
mesma, afinal, ninguém dá o que não tem. Perceba que a justiça, para nós, não é cega. Então comece: Você está sendo
realmente justa consigo mesma? A partir do não, enxerga-se que também não está
sendo justa com os outros, portanto, não julgue ninguém, nem a si mesma....
caso contrário acabará no calabouço espiritual onde é a fonte de quase todas as
doenças da alma, coisa aliás, que o mundo está cheio.
É
notório de todo iniciado, que nas narrativas esotéricas, se lê ou se assiste
algo sobre a ‘morte do ego’, que individualiza a tela a qual se assiste, mas
para quem não sabe de fato o que é o ego se torna quase impossível reconhecer o
seu próprio ego e saber como ele se manifesta. Então, como domá-lo?
O
segundo trabalho de mestre, a bruxa faz consigo mesma, ela PODE ser sua própria
obra prima.
Em
primeiro lugar é necessário estar com a mente bastante aberta e aceitar o que
vier, até demais, e assim conseguir receber todos os tipos de críticas, tanto
negativas quanto construtivas sem se abalar, e aceitar que está fazendo auto
conhecimento pela ótica alheia, como o feed back que as pessoas lhe dão ao
serem sinceras ao falarem de você para você ou para alguém. O que se deve fazer
quando isso ocorrer? Simples, aceitar e calar-se para refletir, e
principalmente aceitar sua parcela de responsabilidade sobre o ato que deu
causa ao ‘diz-que-diz-que’. Tomar certa distancia da situação, refletir com
sinceridade sem ser autocondescendente muito menos punitivo, abraçar sua
sombra, seu lado avesso, seu duplo, aquele da negação, e aceitá-lo enquanto se
aceita. É aqui que se faz amizade com seu inimigo, uma vez que seu inimigo é
você mesmo, e assim deixar de ser inimigo e deixar de ter inimigos, é uma fase
de pacificação, é a ‘domina’ do ego. Nessa altura você deve estar dizendo e/ou
perguntando a si própria: _“nossa, como eu sou mal, como fui cruel todos esses
anos com as pessoas das quais eu deveria ser exemplo de amor?!!”...Bem,
aprender a ser bom nunca foi tão fácil.
A
partir daí, você olha para dentro de si e o que se faz depois de se reconhecer
como uma Megera devassa mal amada e terrivelmente punitiva de si mesma e dos
outros? Eu disse mal amada por saber que, se você chegou nessa fase, certamente
irá reconhecer que nem você se deu amor à si mesma, por isso, mal amada no
sentido amplo e literal da palavra. Sua autoestima nessa altura do campeonato,
quase nem existia, você deve recuperá-la com a mesma sapiência anterior, usada
no início desse trabalho, e claro, a fortaleza. A fortaleza alude a virtude da
Força no coração, que assegura a firmeza dos propósitos durante as dificuldades
e a constância na procura do bem.
Como
fazer isso? Simples: Se autoafirmar como ‘A Bruxa’ de fato, a megera ou melhor,
Medeia. Não há bruxa boazinha antes disso, até porque, não se sabia o que era
de fato ser bom de verdade. William Blake tem uma frase sobre isso que eu gosto
muito: “Quem faz o bem ao outro deve fazê-lo nos
mínimos detalhes. O Bem geral é a justificativa do imoral, do hipócrita e do
falso!”. Ter um coração de Medeia significa ter um coração forte, destemido, e
muitas vezes até frio, para que se possa fazer o que tem de ser feito.
De nada adianta a
pessoa ser inteligente, e não amadurecer a inteligência emocional, retirando os
ciscos dos olhos junto com todo romantismo que há em colorir a vida. Platão já
dizia que só se pode enxergar a luz, a partir das trevas. Aliás, o conceito teológico
das quarto virtudes cardinais, foi derivado do esquema de Platão.
Até mesmo a
doutrina da ICAR reconheceu as quatro virtudes cardinais, que adaptou o esquema
pagão vindo de Platão, com os pensamentos de Santo Ambrósio de Milão, Santo
Agostinho de Hipona e São Tomás de Aquino.
Justiça |
Você deve estar se
perguntando: _”mas o que a igreja tem a ver com paganismo e bruxaria?”... Tem
tudo a ver. Para além de muitos bispos e papas serem bruxos nas escondidas
noites, o bom reconhecimento de fatos históricos nos revela, ainda que ocultados
da massa, que a igreja insípida além de conter muita magia, foi nada mais nada
menos que a continuidade do paganismo, absorvendo praticamente 98% do paganismo,
sem falar que sempre foi a Igreja quem deu o diploma de bruxa, para a bruxa,
desde que eram eles próprios, os correligionários da igreja quem as apontavam,
para depois persegui-las, afinal, nessa época os padres podiam se casar e muitos
filhos dessas megeras tinham como pai, ninguém menos do que o próprio Papa, e a
confusão era criada na hora de herdar o trono papal, uma vez que esse direito
era hereditário. A frase “mulher de padre vira mula sem cabeça” veio desse
episódio que deixava a igreja mais pobre toda vez que a mulher viúva ou o filho
dela herdava os bens do santuário papal.
De acordo com a
teologia aceita, foi dito que as quatro virtudes cardinais são perfeições
habituais e estáveis da inteligência e da vontade humanas, que regulam os
nossos atos, ordenam as paixões mundanas, e guiam a conduta humana segundo a
razão e a fé, adquiridas e reforçadas por atos moralmente bons e repetidos, são
purificadas e elevadas pela graça divina.
Essa
é a parte mais terrível pela dificuldade que se apresenta, pois os medos vão
dar as caras, mas é uma vivencia absolutamente transformadora para quem
enfrenta seus medos. É onde o ser humano ganha o dom de mudar seus passos, melhorar
seu caráter, e abandonar a paixão pelas dores, pela vaidade, pelos sentimentos
mundanos, e se tornar um deus na Terra. E nada disso pode ser feito se não
houver coragem.
Não
é fácil porque simplesmente a bruxa verá outros que estão no mesmo degrau (ou
degraus de sabedoria diversos) apontarem ‘defeitos’, tantos seus quanto dos
outros. Essa é a primeira armadilha do ego. Note alguém tecendo juízo de valor
de forma negativa e cale-se frente a isso sem julgar, colocando um cabresto no
cavalo desse seu ego, mas basta entrar na mesma vibração desse apontamento e
abrir a boca fazendo a mesma coisa, e verá que seu trabalho terá sido em vão,
tijolo por tijolo deve ser construído com muita atenção e autopoliciamento. Ninguém deve substituir um terapeuta ou
analista achando que já sabe se controlar por dentro. Eu incentivo buscar apoio
de um profissional enquanto se faz esse trabalho ou sempre que se fizer
necessário, principalmente para quem faz um trabalho desse sozinho sem apoio de
um Covine Tradicional. Doar amor e se calar para as mágoas, não são tarefas
para qualquer um. Aqui sim você pode reconhecer seu privilégio e ainda assim
deve permanecer calado frente a esse reconhecimento.
Força |
Falar
sobre tudo que está acontecendo ao seu redor, nessa fase, também não é fácil,
desde que, quem irá ouvir pode não estar pronto para lhe ouvir ou para lhe
ajudar. Eis mais uma armadilha dos solitários que requer muito cuidado! A sensação
de desamparo se funde com a fortaleza e o risco de se perder no caminho, aqui é
bem maior.
Nos
Covines, o trabalho é feito solitário e vivido em grupo, uma vez em que é ali
onde as situações acontecem em primeiro lugar, e é também ali onde se deve
consertar, desde que é para existir amor e confiança absolutamente entre as partes.
Ainda que o trabalho seja em grupo, cada membro faz sua parte sozinha e
responsável pelos seus atos, no fundo, você sempre estará exilado, pois é a partir
disso que se deparam com seus pares e seus iguais.
Aos
poucos, tudo que era real vai perdendo realidade e abre espaço para uma nova
realidade onde se manifesta maturidade, e então a bruxa passa ver que a dor que
sentia antes não era tão real assim, mas uma ilusão sentimental, ela toma
contato com aquilo que chamamos de: “O ego te enganou mesmo”, ou seja, foi
vítima de si mesma, do seu próprio ego.
Cada
etapa é fundamental para se conhecer o seu ego e domá-lo pois o ego é como um
cavalo desenfreado. Saber como ele é e como ele age, após saber com quem
estamos lidando podemos resolver aquilo que deixamos ser real e o que não é.
A
mente da bruxa é uma caixa de Pandora, e quando a mente se alinha ao coração,
muita confusão pode ser sanada, mas também muita confusão pode ser feita, e
muita confusão pode ser notada ou não. Todos os seus falsos alicerces caem por
terra quando se põe o pé na estrada da transformação, e o que sobra disso é a
construção de um novo alicerce, real e criado solidamente pela própria bruxa, e
esta fase comporta uma baita insegurança, pois não se sabe como agir quando não
se tem mais onde se segurar, o apoio já não existe mais. Há que se fazer uso da
temperança, que nada mais é que Moderação, a quarta virtude que modera a
atração dos prazeres, tudo aquilo que sua essência atrai para si, com ou sem a
ciência de sua mente consciente, e assegura o domínio da vontade sobre os
instintos e proporciona o equilíbrio no uso dos bens criados (os alicerces). O
ego, em alquimia é representado pelo ferro de Marte, o metal que seu irmão Vulcano
joga no fogo da transformação.
Temperança |
Romper
com os vícios, romper com as paixões, principalmente quando esta paixão é pelo
objeto do ego, quando se está apaixonado pelas suas próprias dores emocionais ou
juízo de valor, ou pior quando se está apaixonado pelos seus vícios, de autoimportância
superestimada, elegendo inimigos fora de si mesmo, ou estar apaixonado pela dor
física ou sentimentalizada, romper com tudo isso sem fazer uso das virtudes é
suicídio. Contudo, essas condições mudam quando se nota que o real não existe
mais, e que somos todos passageiros de um planeta onde se deve viver aparentemente
como desiguais, sem o sermos de fato em algumas semelhanças.
Eu
sei que sua dor é Real, pois toda dor coroa a cabeça dos vencedores com a nobre
Realeza.
Sett Ben Qayin
As
imagens são das virtudes cardinais como esculpidas na tumba do Papa Clemente II
na Catedral de Bamberg: Sapientia (Prudência); Iustitia (Justiça); Fortitudo
(Fortaleza); e Temperantia (Temperança).
Olá, hj em dia não acredito em nada. Mas acredito num algo além q não sei o q pode ser, mas sei q as vezes acontece algo q me faz acreditar neste 'além'.
ResponderExcluirEu sonhei q alguém me dizia alguma coisa, não lembro o q, mas lembro q acordei quando uma palavra me soou muito claramente, foi algo tão nítido q eu acordei. decidi levantar e anotar a palavra no escuro mesmo. qdo fui procurar a palavra q anotei era: 'averno'. eu ouvi muito claramente essa palavra em meu sonho. Procurei hj na net o significado: 'inferno'. mas tb parei num site de bruxaria e de lá parei aqui.
Por favor poderia tentar me explicar alguma coisa? Pq será q ouvi claramente uma palavra q significa inferno no meu sonho ?
obrigado. abraços !
Olá, gostaria de dizer que a principio não acredito em nada, porém acredito que possa existir alguma coisa 'além'. As vezes, costumo ter intuições e sonhos q me fazem pressentir algo. Por isso acredito que possa existir alguma coisa além. Gostaria de pedir uma ajuda. Sonhei que alguém me dizia algo q não me lembro o q era, mas no momento q disse uma ultima palavra eu acordei. Foi tão nítida a palavra no meu sonho q eu decidi levantar e escreve-la. A palavra era: 'Averno'. Achei uma palavra tao estranha q não acreditei que ela existia de fato. Para minha surpresa numa busca no google eu encontrei algo como uma cidade turística na Itália; a tradução que seria "inferno"; e alguns resultados relacionados a bruxaria. Será que alguém infiltrou isso em meu sonho? se foi, pq ? Poderia, por favor, tentar me ajudar com alguma resposta possível ?
ResponderExcluirAbraços.
Marcelo.
Olá Marcelo, não, não é possível alguém ter infiltrado isso no seu sonho, provavelmente isso foi um chamado, já que você não acredita em nada, talvez seja a hora de crer em algo que você possa palpar espiritualmente. A menos que eu conheça de fato sua idiossincrasia, desde que, dependendo desse ponto, poderei lhe responder sobre melhor apreciação dos fatos.
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