Rei Salomão e sua corte |
A
Clavícula de Salomão é um dos mais antigos tratados de magia cerimonial europeia.
A palavra Clavícula significa chave pequena. Esse nome se deu por ser
considerado chaves que abrem as portas do universo mágico. O título em língua
portuguesa é oriundo da tradução francesa e dela resultou todos os demais
tratados de magia, ou pelo menos ela foi consultada para gerar novos trabalhos literários
sobre a Arte.
De
acordo com os historiógrafos esse livro não foi escrito pelo Rei Salomão.
Antigamente, mais precisamente na Idade Média, o recurso literário mais
utilizado era o de atribuir uma obra a um personagem famoso. Era frequente que
um livro fosse escrito por mais de uma pessoa, pois era o resultado do esforço
de uma confraria e geralmente consistia na compilação de materiais transmitidos
oralmente há muito tempo sem que fosse possível atribuir a especificidade do
autor.
Naquela
época não havia os direitos autorais e era uma fase muito rica da história já
que existiam muitas nuvens de conhecimento para chover no papel e esse ofício
não era específico de alguém de fora da vida religiosa. Por essa razão, os
autores não se preocupavam em manter seus nomes ligados a obra e, por isso
escolhiam um patrono, um grande sábio dos tempos antigos, uma divindade ou uma
personagem lendária para ser seu autor oficial.
Essa
prática dava credibilidade ao material, o que poderia não ocorrer se fosse
atribuído a um autor sábio e desconhecido. Além de tudo, o escritor legítimo
ficava protegido de todos os perigos, caso o texto publicado desse merda no âmbito
religioso ou político. Isso dava prisão ou morte em alguns casos. Foi por essa
razão que Salomão se tornou autor de vários livros de sabedoria, uma vez que
ninguém tinha coragem ou inteligência para contestar a fidúcia do autor.
É
fácil atribuir atualmente as raízes do conteúdo da Clavícula ao gnosticismo,
uma espécie de heresia cristã muito difundida na Ásia menor, nos primeiros
séculos da Era Comum, e na Cabala e seu misticismo originário do século XII de
nossa Era. Inclusive, ao olhar de perto os exorcismos do sal e da água, o
traçado e lançamento do círculo, o modus
operandis para o chamado dos quadrantes, fica bem fácil fazer a leitura que
revela de onde Gardner inspirou-se para dar o “frame” da Wicca. Entretanto,
esse frame é tradicional à Clavícula e a magia cerimonial. Qualquer um de nós
que modelar sua arte baseando-se nesse frame, não pode ser considerado frame wiccan,
mas sim, há de ser dado os créditos com precisão a tradicionalidade da magia
cerimonial das Clavículas de Salomão.
Mas
como eu estava dizendo, isso indicaria que o livro deva ter sido escrito, ou começado,
durante o Império Bizantino ou um pouco antes. Uma versão grega foi conhecida
no tempo do imperador Manuel I Commenus e, nessa mesma época circulou uma
versão em latim.
Daí
em diante surgiu às diversas traduções. Foi soi-disant revelada pelo rei
Ptolomeus, o Grego, ou traduzidas do hebraico para o latim pelo rabino
Abognazar, que podem muito bem serem autores fantasmas.
Embora
houvesse diferenças, as cópias foram guardadas nas bibliotecas britânicas e
francesas. Essas riquezas permitiram que no século XIX, o magister e fundador inglês
da Golden Down, o senhor MacGregor Mathers e o francês Éliphas Levi dessem uma
nova roupagem, aproximando do original, mas com linguagem melhorada.
Magia
cerimonial vem a ser um nome dado pelos magos eruditos da época, contudo,
sabemos que todo ritual formal é uma cerimônia. Mas esses magos eruditos
queriam a todo custo se diferenciarem da magia pagã praticada sob os auspícios
da feitiçaria, talvez por preconceito, como se magia pagã fosse para os pobres
e magia cerimonial fosse para os ricos.
A
magia pagã era praticada por pessoas ligadas à fé agrícola, ou talvez uma
espécie de religião agrária, e usavam fórmulas simples, feitiços, filtros,
encantamentos, poções etc., tudo sob o frame da magia natural e simpática. Era
praticada principalmente por mulheres, parteiras, curandeiras da aldeia rural.
Parece que essa magia tinha o objetivo de resolver os problemas diários das
pessoas, como casamento, trabalho, ter filhos, curar doenças, um relacionamento
amoroso, sexo, maldições, etc. Essa magia interagia com as forças naturais, sem
controlar essas forças.
No
entanto, a magia cerimonial era urbana, masculina e elitista, enraizada nos conceitos
e práticas dos místicos judeus e cristãos a princípio, como uma forma de magia
erudita, praticada principalmente por religiosos de alto escalão, que tinham a
possibilidade de estudar a ciência e a filosofia da época dos magos constelares
e visavam, por intermédio dessas práticas sobrenaturais, adquirir poder sobre
os indivíduos, espíritos, demônios para se obter ganhos pessoais dos quais não
conseguiriam de outra forma. Essa magia buscava controlar essas forças por meio
do poder e assim se distinguiu a magia das bruxas e as práticas de magia
cerimonial.
Atualmente
essas duas divisões de magia não separam mais nada além do próprio nome, pois
cada vez mais os dois conceitos se fundem devido talvez, ao avanço da internet
e ao conhecimento a um clic de distancia.
A
chave menor de Salomão foi chamada de O Lemegeton, e foi assim dividido em
cinco partes, sendo: Ars Goetia, Ars Theurgia Goetia, Ars Paulina, Ars Almadel
e Ars Nova.
Você
pode se informar mais clicando aqui: Chave Menor de Salomão
Nas
Clavículas foi abordado a Goécia, escrita sob a forma de diálogo entre o Rei
Salomão e seu filho Roboão que aprendia a arte mágica do pai. Dividida em duas
partes onde a primeira consta as formas de execução do trabalho mágico, com
encantamentos e conjuros para diversas finalidades, e a segunda parte tratou
dos instrumentos da arte. A Clavícula revela a arte da Goecia e suas regras, com
exortações e conjurações que obrigam o universo oculto a servir o mago. Esse
foi o start dado à magia desde então, foi o botão que Salomão apertou para
nunca mais desapertar.
As
sofisticadas e amplas orações dos antigos manuais de magia são hoje pouco mais
que meras bisbilhotices, valem mais quando seus textos são simplificados,
restando apenas aquilo que é essencial e que pode ser usado na aprendizagem da
Arte.
Clique no link abaixo para descobrir os mistérios sobre o trabalho de ego:
Sett Lupino
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