Por que os seres humanos sempre tem a visão de que eles estão fazendo o bem para alguém? Talvez porque ainda se adota a dicotomia "bem-mal" do sistema judaico.
Algumas pessoas te desprezarão por
você pensar diferente. Outras se aproximarão pelo mesmo motivo.
Nojo, repulsa, medo de ser
confundido ou de “andar junto”, são premissas que alguns chamam erroneamente de
virtudes a serem oferecidas a fim de justificar o desprezo por tal pessoa.
Ao lembrar o
auto-de-fé de 1649 que foi talvez o maior “erro” já realizado em nome da fé,
vemos e sabemos que espetáculos assim foram e ainda são apenas a ponta do
iceberg que culminou e ainda culmina sempre na inquisição. “Mandem para
fogueira todos que pensam diferente da gente ou queimem em seus egos por não
conseguir conviver com a diferença”.
A diferença é
talvez uma das únicas coisas que nos igualam, mas para que se preocupar né?
Quem se subtrai de nossa digna presença, não merece mesmo a nossa companhia. Eles
dizem: “sejam leais a nós e seremos à vocês”. Lealdade em juramento ou lealdade
nas conveniências e invencionices?
Agindo em nome de
Deus, em nome de uma fé ou caminho espiritual, de forma dogmática ou rígida,
mas movida por interesses políticos de liderança e controle, o fato espalhou a
discriminação ao longo de quase sete séculos, e também o medo. Um comportamento
de mudanças legítimas não pode prejudicar o outro, caso contrário não há
perfeição ou aperfeiçoamento de caráter, mas sim a criação de “vilões, execráveis,
criminosos”.
Os inquisidores e seus representantes agiram
na Europa, Ásia e nas Américas, lugares tão variados como as vítimas que
perseguiram: judeus, muçulmanos, hindus, protestantes, bruxas, bígamos, homossexuais,
sodomitas ou quem quer que cometesse o “crime” de pensar diferente.
Hoje vemos que nada
mudou, e pasmem, há gente que se diz “mudar”. Até mesmo na bruxaria vemos inquisidores
do próprio sangue.
Falta muito ainda
para a tal evolução com progresso no aperfeiçoamento do caráter existir. Mas
alguns chamam essa merda separativista de “expansão de consciência”, claro, erroneamente.
Os historiadores fazem distinção entre
a Inquisição medieval (ou papal), que vigorou na França, Itália e outros países
europeus a partir do século 13, e a Inquisição moderna, que alcançou seu apogeu
na península Ibérica entre os séculos 15 e 18. Não há uma data sensata para o
início da Inquisição medieval. Ela foi fruto de uma longa evolução na qual a
Igreja se sentiu ameaçada em seu poder. Os questionamentos sobre a verdade
absoluta do cristianismo, do paganismo e da bruxaria aumentaram a partir da
idade média, e os indivíduos que partilhavam dessas ideias foram chamados de
hereges.
O termo “heresia” vem do grego hairetikis, que
significa “aquele que escolhe”. De fato, na Grécia antiga a heresia era apenas
uma escolha do que a pessoa achava melhor para si, sem qualquer conotação
religiosa. Se você é lançado na encruzilhada e faz uma escolha que não supre a
expectativa alheia, parabéns você é um herege.
Na Idade Média, a Igreja expandiu esse
conceito de tal forma que a heresia passou a abranger todas as opiniões
contrárias aos dogmas católicos. O combate aos hereges começou a tomar forma
com um tratado escrito no século 12 pelo abade Pedro, o Venerável, que chefiava
a abadia de Cluny, na região francesa da Borgonha. Ele afirmava que, para
eliminar a heresia do seio da Igreja Católica, que chamava de “Corpo de
Cristo”, era necessária uma purgação, composta de quatro fases: investigatio
(investigação), discussio (discussão), inventio (achado) e defensio (defesa).
Aquele era o passo-a-passo da futura Inquisição. “Desse modo, o tratamento
aplicado à infecção no Corpo de Cristo começava com pesquisas [daí o termo
‘inquisição’] que os bispos e seus representantes realizavam antes da criação
de tribunais especializados”, diz o historiador britânico John Edwards, da
Universidade de Oxford.
Para que a caça aos hereges surtisse efeito, era
necessário o apoio do Estado. Embora a Inquisição medieval tenha sido
idealizada e dominada pelo papa, ela contou com o auxílio dos soberanos. Isso
mostra o caráter político das perseguições, numa época em que não havia clara
separação entre Igreja e Estado. Hoje em dia a perseguição deu lugar à aversão
pessoal e parece que poucas pessoas tem vergonha de se revelar assim, a maioria
discrimina enquanto afirma: “você não é um de nós”, ou, "você não vai para o céu", ou ainda, "você não pode andar com a gente, não pode ser um fã dos meus livros como qualquer pessoa e eu não posso ter você no facebook". (risos)
O divisor de águas nessa empreitada
foi o 4º Concílio de Latrão, convocado pelo papa Inocêncio III em 1215. Seu
principal objetivo era resolver o problema dos cátaros (ou albigenses), um
grupo de cristãos do sul da França que contestava os dogmas da Igreja. Ficou
decidido que quem se negasse a aceitar a fé católica seria excomungado e
entregue à autoridade secular (ou seja, aos funcionários da coroa) para ser
castigado, pois a Igreja não podia derramar sangue e, assim o castigo passou
invisivelmente para a discernimento, subestimando a nossa inteligência.
Sett Ben Qayin
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