Como
todos sabem, os Lupinos são uma família iniciática dentre diversas outras
guardiãs dos segredos de Lupercal. O segredo dos lobos que é praticado
anualmente abre as portas do oculto para revelar as características divinas da progênie
mediterrânea de uma deusa da terra, a qual encarna todos os objetos naturais,
doando vida, morte e renascimento, segredos adorados e praticados por ritos bacânticos
de cunhos fertilizador, purificatório e expiatório. Tais mistérios são incoerentes
para os leigos, devido a complexidade dos ritos cerimoniais da Lupercália
original. As divindades pelasgianas se somam para executar o poder devorador do
submundo, influenciando os ritos catárticos e expiatórios, os de proteção
contra o mal, contra doenças, contra a ausência de produtividade e ausência de
inspiração ou dons.
O
Canídea Covine é um dentre outros herdeiros de Alberta Mildred Franklin que nos
legou sua obra “The Lupercalia” escrita em 1921 na Universidade Columbia, em
New York, para obtenção de seu doutorado. Tal obra veio se somar de forma a
girar um impulso de aperfeiçoamento perpétuo, o qual nos permitiu dar
continuidade a pesquisas literárias e de aprimoramento continuado.
Hoje,
venho dar as boas vindas aos nossos iniciados que irão se Reunir esse fim de
semana na Figueira de Lupercal para celebrar a Lupercália e tomar voo em
direção ao congresso das bruxas que comungam com a Nogueira Santa do Mal Vento,
e deixo como contribuição para o leitor que tem apetite de análise e elucidação,
um pouco dessa sabedoria.
As
divindades-lobo da Itália, entre elas Lupercus, também foram temidos por seus
poderes ctônicos e tinham cultos aos moldes Mediterrâneos. A Lupercalia
originou-se entre os lígures, e em primeiro consistiu no sacrifício de um bode
a Lupercus, uma cerimônia que degustava das vísceras, voo expiatório dos sacerdotes
e celebração da fertilidade. Também era uma cerimônia apotropaica destinada a
afastar o mal.
O
deus-bode dos antigos era um deus da fertilidade pelasgiano, seu poder
fertilizante foi muitas vezes apropriado por Deuses. Na Itália, o deus-bode
também era o doador da fertilidade, e originou-se entre os lígures. Juno estava
intimamente associada com a cabra e, alguns de seus ritos de fertilidade foram
acrescentados pelos romanos de acordo com os moldes etruscos. Poucas evidencias
restaram para o público como consta na Lei das 12 Tábuas, mas não dentre os
guardiões do mistério.
Na
Lupercalia insípida, os Luperci cingiram-se de peles de cabra e, enquanto
corriam pelo Palatino, raspavam as mulheres com as peles de cabra, tangendo-as
como um amuleto de fertilidade. Doravante o dom da fertilidade foi um dos
propósitos importantes da Lupercalia e tinha potência especial para a
purificação.
Os
cultos caninos dos italianos parecem ter sido emprestados dos helênicos do sul
da Itália e da Sicília. Como todos sabem, a Itália, do norte até o centro,
recebeu a influência céltica e, do centro até o Sul recebeu a influência Helênica.
Os etruscos foram o povo central que amalgamou essas duas culturas, por isso os
costumes são todos mesclados e evidenciados como um tapete imenso feito com
vários fios diferentes, assim é a Stregoneria.
Os
sabinos, que adotaram muitos costumes mediterrâneos, estavam familiarizados com
o poder purificador do cão e que exerciam uma poderosa influência sobre a
religião de Roma, provavelmente acrescentou o sacrifício de um cão para a
Lupercalia. Assim, a purificação passou a ser um importante elemento da
Lupercalia. Ao longo dos tempos a Lupercalia foi tomando formas de absorção
ritualística, conforme os povos se misturavam e de época em época os ritos
ganhavam novos formatos. Sim, os ritos da Lupercália nem sempre foram do mesmo
jeito como a maioria dos autores apresentam. É conhecida hoje, pelo menos 3
formas ritualísticas de Lupercálias diferentes realizadas no mesmo lugar, a
partir da Figueira da Gruta de Lupercal no Monte Palatino, dessa forma é
correto chamar a recordação da Lupercália como uma tradição Palatina.
As
cerimônias de sangue da Lupercalia não encontram paralelo nos cultos romanos,
mas é semelhante a certos ritos dos órficos que procurou assegurar a união
completa com a divindade. É provável que esses elementos órficos foram
adicionados à Lupercalia durante a guerra com Hannibal, ou os anos
imediatamente seguintes, quando muitos cultos orgiásticos dos gregos e helênicos
foram trazidos para Roma. Desta forma a Lupercalia foi espiritualizada por
novos ritos de purificação e pela garantia de parentesco com a divindade.
Em
seu desenvolvimento a Lupercalia refletiu o desenvolvimento do povo etrusco e
romano, como consta nos anais da Eneida, Roma é a nova Tróia. É possível que a
astrologia etrusca, a qual continha 16 casas astrologias sem o sistema de
eclíptica de acordo com os anais da Etrusca Disciplina, utilizasse do grau
astrológico da estrela lobo 23º30’ de escorpião casado com aspectos do oráculo
da terra dos Tirrenos, o qual é usado até hoje para iniciações dentre aqueles
que trabalham com os poderes dos Lobos.
Nas
últimas décadas do século passado, os trabalhos arqueológicos e antropológicos
ajudaram a revelar mais conhecimentos sobre uma civilização que existiu
milhares de anos atrás, trouxeram uma revolução no estudo da História. Antes
dessa época estudiosos que lidavam com história, vida social e a religião da
Grécia e da Itália se preocupavam principalmente com os povos arianos que
invadiram aquelas penínsulas.
O
estoque anterior foi amplamente desconsiderado, como sendo apenas os aborígenes
que haviam sido apagados pelos conquistadores helenos e italianos. A falsidade
dessa visão foi amplamente demonstrada pela descoberta da maravilhosa
civilização de Creta e de Micenas. Certamente os povos antigos que foram tão
numerosos, tão poderosos e tão cultos devem ser considerados, se alguém quiser
entender o povoamento posterior dessas terras. A ignorância de alguns
influenciadores acerca da astrologia etrusca não deve ser fundamentada na
preguiça de pesquisa já que esta se atesta na própria incapacidade intelectual
ao se promover na arrogância do desconhecimento da existência de tal arte celeste,
a qual bebeu de fontes africanas até se tornarem helênicas.
Os
habitantes neolíticos da Itália, também, embora muito mais primitivos do que os
do Egeu, foram possuidor de uma civilização muito claramente marcada para ser
ignorada. Na religião e no campo da espiritualidade, mais do que em qualquer
outro reino, a influência desses povos pré-arianos é de vital importância. A
santidade anexada às crenças e rituais religiosos os torna peculiarmente
resistentes à modificação. A divindade de uma certa localidade é suprema em sua
limitada territorialidade, e seu culto deve, em muitos casos, ser recebido,
seja totalmente ou em parte, pelos recém-chegados. Consequentemente, os objetos
divinos de adoração e os atos ritualísticos dos pré-arianos foram nos últimos
anos cada vez mais enfatizados em investigações que lidam com a religião da
Grécia ou da Itália.
Este
novo método de abordagem desperta a esperança de que possa levar para uma
solução de algumas das práticas intrigantes do ritual romano. Talvez o mais
interessante e o mais desconcertante de todas festas romanas é a Lupercalia,
com suas contraditórias e fantásticas cerimônias, sua origem pré-histórica e os
variados relatos sobre isso.
Consequentemente,
embora a Lupercalia tenha sido objeto de especulação desde os dias de Varrão,
vale a pena, agora que temos um novo ponto de partida, para lançar luz sobre a
deliberação dessa esfinge.
MUSEU DO PALATINO |
Os
etnólogos geralmente concordam que a Idade Paleolítica na Europa terminou com o
aparecimento de uma nova raça/etnia, conhecida como mediterrânea ou
euro-africana como é chamada dentre os cientistas. No físico as pessoas desta
etnia eram uniformemente dolicocéfalos, de estatura mediana e de construção
leve. Na época de sua aparição na Europa, eles atingiram um grau considerável
de civilização, usando implementos de pedra polida, e mostrando uma forte
tendência para uma agricultura, vida não nômade. Eles tinham desenvolvido,
definido e elaborado ritos funerários: os mortos eram enterrados, muitas vezes
em um sepulcro, e foram cercados pelos instrumentos que tinham usados quando estavam vivos. Essa prática
argumenta uma crença em uma vida futura em que os mortos continuam a existir na
sepultura, mantendo as mesmas necessidades e interesses que eles tinham na
terra.
Esse
acervo mediterrâneo se espalhou gradualmente até ocupar a Mesopotâmia, a bacia
do Mediterrâneo, a Europa Ocidental, as Ilhas britânicas e porções da planície
da Europa Central até o extremo leste do alto Danúbio. Foi caracterizada como a
mais extensa, a mais populosa e a mais primitiva das raças/etnias europeias. Os
apontamentos das origens da Lupercália nos levam de volta a uma viagem ao
passado, centrado nos ramos da etnia mediterrânea que se estabeleceram nas
regiões do mar Egeu e, na Itália.
Para
designá-los, dois termos antigos foram restaurados para uso. O ramo dos que
ocuparam as terras que mais tarde se conheceu como Hellas, formaram o que hoje
são conhecidos pela maioria dos etnólogos como Pelasgians, aqueles que ocuparam
a Itália como lígures.
Ao
longo do Mediterrâneo, a facilidade de comunicação uniu-se ao parentesco racial
dos povos para produzir uma civilização altamente desenvolvida e homogênea. Dos
centros culturais mais antigos do Egito e Creta, a civilização irradiada para
os povos afins, da Ásia Menor, Grécia, Trácia, área do Danúbio, Itália, Sicília
e Espanha. Desta forma desenvolveu-se nos povos que habitavam perto do
Mediterrâneo uma semelhança de cultura que é reconhecida por todas as
autoridades. A semelhança entre Fenícios (os quais eram africanos) e Tirrenos
são só uma delas.
Talvez
a resposta da união entre esses dois povos míticos esteja igualmente nos anais
da Eneida, com Eneias e sua epopeia de busca para fundar a nova Troia que foi
predita pelo oráculo e guiada pela própria mãe dele, a deusa do amor. Nesse
percurso, ele e toda sua tripulação desembarcam nas Terras africanas de Dido, a
qual se torna sua esposa e com ela tudo ele aprende inclusive, sobre o oráculo
geomântico. Com a sua partida das Terras de Dido, forçadas pelo senhor do
Olimpo, Eneias continua buscar o local exato de onde se deve fundar a Nova
Troia, desembarcando nas Terras dos Tirrenos (etruscos), levando para todos os
italianos natos o seu conhecimento. Tão logo passou por todas as adversidades,
fundou a Nova Troia, que mais tarde a história iria chamar de Roma.
No
início da Idade do Bronze outro grupo étnico, geralmente conhecidos como
arianos, indo-europeus, alpinos ou euro-asiáticos, ocuparam o cinturão alpino
que se estende pela Europa e Ásia. As evidencias durante as pesquisas das
primeiras amostras revelaram que eles tinham crânios braquicefálicos, ou seja,
com forma e molduras maiores que as dos mediterrâneos e sua língua era
indo-europeia. O povo alpino estava muito mais inclinados a uma vida nômade
pastoral do que os mediterrâneos. Isso dividiu os tipos de pastores que
passaram a existir na península.
A
Itália, cujo desenvolvimento foi posterior ao da Grécia, acabava de entrar na
Idade do Bronze quando um ramo dos Alpinos migraram para o vale do Pó e ali
estabeleceram numerosos povoados que são conhecidos como terramare, em português
seria terra a beira mar (mediterrâneo). Em direção ao fim das bandas da Idade
do Bronze moveram-se para o sul, e um grupo instalou-se no Lácio. Em um período
posterior, os Umbro-Sabelianos, que há muito separados deles, ocuparam os
Apeninos e os vales vizinhos. Da fusão da população mediterrânea com a invasão
dos arianos surgiram os gregos e os italianos dos tempos históricos. A Itália é
uma colcha de retalhos étnicos.
Para
nossa imagem mais antiga da religião e espiritualidade da raça/etnica
mediterrânea, voltamo-nos para os restos de Creta minóica e de Micenas. Lá nós
vimos que o principal objeto de adoração entre os pelasgos era uma deusa, que
era evidentemente uma divindade da terra, uma ancestral do que conhecemos como
Afrodite/Ashtarot, que entre os Etruscos foi chamada de Deusa Ati-Turan, a mãe do amor que se eleva (aos céus?).
Frequentemente associado a ela havia um homem jovem, que parece, pelo menos em
alguns casos, ter sido um deus do céu.
Esta
deusa não é uma divindade departamental, desde que o amor não se setoriza, mas
tem poder sobre todas as atividades do homem ou do universo. Cada manifestação
da natureza é sagrado para ela ou é sua própria encarnação. Assim, ela pode ser
adorada encarnada na pedra, na árvore, na leoa, na loba ou na cabra, sua forma
particular em cada localidade sendo determinada pelas características físicas
daquele lugar e pelo caráter das pessoas que o habitam. A esfera de ação da
deusa é intensamente local, seu poder e manifestações em cada região sendo
inseparavelmente ligado a algum lugar definido. Ela é a deusa de amor, e está
constantemente associada a um amante ou a um filho, como Attis, Adônis, ou
Dionísio.
Para
ele (o amante/filho), o touro é especialmente sagrado. Os Montes Tauro (em
árabe ,جبال طوروس),
são uma cadeia montanhosa no sul da Turquia, donde os rios Eufrates e Tigre
correm em direção à Síria e ao Iraque. Os Montes Tauro dividem a região
mediterrânica da Turquia meridional do planalto central da Anatólia, local da
antiga Troia, e foram eles que deram origem ao signo de Touro, devido a sua
localização astrológica perfeita. Este deus masculino não é imortal, mas imortais
são suas mudanças sazonais de vegetação, morrendo no outono e revivendo na
primavera eternizando a imortalidade dos ciclos de vida, morte e renascimento
perpetuados até hoje.
Estas
ocasiões eram celebradas pelos adoradores com extravagantes orgias de luto e de
alegria. Na morte e na ressurreição da divindade o povo encontra a garantia da
imortalidade humana. Grande parte das homenagens prestadas por esse povo
agrícola à sua deusa-terra consistiu em amuletos da fertilidade para despertar
os poderes adormecidos da produtividade e criação ou garantir chuva para as
colheitas.
Mas
muitas vezes, para algumas inescrutáveis razões, a deusa retinha suas bênçãos e
enviava esterilidade, praga e pestilência sobre o seu povo. Para evitar essas
forças destrutivas e libertar todas as atividades benéficas, os devotos
recorriam a práticas espirituais, hoje bastante conhecidas pelas bruxas e
bruxos. Muitas vezes eles procuravam aplacar e propiciar a temível deusa
através dos sacrifícios de um ser humano escolhido, não através do sacrifício
de vida desse humano. Precisa-se compreender que algumas línguas são mais
assertivas que outras durante uma tradução e alguns autores não compreenderam
isso. A palavra sacrifício significa tornar divinizado um labor que se executa,
nunca significou a morte de alguém. Composto do latim Sacer + Ficium, trazendo
o contexto de tornar sagrado, manifestar o sagrado, o ato de passar da esfera do mundano para a
esfera do sagrado. Na língua portuguesa a palavra tomou sentido de privação
voluntária ou forçada, de um bem ou de um direito, o que causa confusão e
redução do campo semântico do vocábulo original. No original, o sacrifício tem
mais a ver com a invocação e benção da divindade do que com a “paga” que se
oferta em troca de um serviço dessa divindade. Sacrifício não é imolar.
Na
verdade a palavra imolar vem do latim, do verbo IMMOLARE, que esse sim tem a
ver com oferecer EM sacrifício. O imolare é uma das “pagas” que se oferece à
uma divindade. Contudo, a tradução real de seu significado original é espalhar
sobre a vítima (que pode ser uma pessoa que busca cura) uma mistura de farinha
torrada, vinho e azeite, chamada MOLA. Para formar o verbo acrescentou-se o
prefixo IN.
Insisto
que todos devem usar a ferramenta chamada etimologia junto com a hermenêutica,
nunca separadas, para uma boa compreensão e interpretação de qualquer palavra
ou texto antigo, seja na língua que for.
Frequentemente
a má vontade da divindade é atribuída a algum pecado cometido pelo homem.
Portanto, os ritos de limpeza são de vital importância. O humor dos deuses é
figurado com o mau humor do clima e do tempo, conforme as etruscas disciplinas.
Sem a teoria humoral, é impossível interpretar o oráculo.
Fim da parte 1.
Sett Lupino
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