Muitos
se perguntam qual é a diferença entre um Coven, uma Irmandade de bruxos e uma
Ordem Mágica. Para clarear as dúvidas venho hoje trazer uma breve luz sobre
esse tema, lembrando que não existe verdade absoluta, por isso as verdades aqui
afirmadas podem ser mudadas ou complementadas em breve. No desígnio das Artes
Lupinas há um ditado que diz: Todas as verdades são fracionadas,
fragmentadas, individuais, passageiras e não absolutas!
As distinções são poucas, mas elas existem e na prática faz muita diferença.
Os
Covens são praticamente formados por Bruxos(as) detentores da totalidade de uma
linhagem bruxa. Os Covens mais tradicionais são chamados de Covine. Os Covens
italianos ou de orientação/linhagem italiana são chamados de Congrega.
Uma diferença importante a ser esclarecida é que em um Covine Hereditário participam membros consanguíneos da família e membros adotados por iniciação os quais passam ser parentes espirituais e, detentores da sabedoria da linhagem familiar e, ao contrário do que se pensa nem todos da família sanguínea assumem seu posto nem participam, aqui o livre arbítrio é respeitado.
Nesse desígnio, todos os seres invisíveis são tratados como parentes igualmente, sejam eles Deuses, Anjos, Demônios ou espíritos diversos. Ou seja, o bruxo é um deus reencarnado o qual pede favores à um deus parente que não está reencarnado. Ambos estão interagindo em mundos distintos, pois enquanto um está no mundo etérico o outro está no mundo físico. Ambos são parentes e por isso se ajudam, não necessariamente com a "paga" feita por obrigação e sim, com gratidão.
O duplo etérico da bruxa é uma verdade que diz que um segundo “eu” seu está no
plano etérico e antes de reencarnar você faz seus pactos com sua irmandade no
mundo dos espíritos. Daí a necessidade dos sete tipos de Flers para ocasiões
diversas e específicas que se subdividem a partir dos sete tipos, bem como a
manutenção da egrégora. Um Stregone é um bruxo que não dá um passo antes de
consultar os oráculos para saber da vontade dos deuses e, essa é uma premissa etrusca. O mesmo é com as
Stregas. Isso fundamenta, inclusive, a superioridade do Espírito sobre a
Matéria.
Todos são tratados de igual para igual e nem sempre há necessidade de “paga” ou como chamamos, Flers. há uma diferença entre dar para receber e dar por gratidão. Geralmente a Paga está dada na manutenção da egrégora e ainda assim, após receber um favor, damos por gratidão e reconhecimento, não por pagar um favor como obrigação litúrgica.
Para quem não sabe, os Flers da Stregoneria também são a mesma coisa
que Ebós da tradição Coxita (as vezes grafado Cochitas). Os Oshôs (bruxos
africanos da irmandade de IYamí) também se utilizam do sistema geomântico
oracular, para eles é denominado Ifá, enquanto que para as stregas é denominado
Tuppù Isà Îli (a Tábua dos Deuses), mas o sistema é praticamente igual, pois
ambos nasceram da Geomancia das velhas Mães da Arábia Saudita, caminhou até as
terras africanas da Fenícia mediterrânea e, de lá, se subdividiu sendo uma
subida no mapa, para Itália e uma descida para a região do Niger e Nigéria. A
Geomancia é o verdadeiro oráculo da Deusa desde eras matriarcais.
Na stregoneria existem guerras de bruxos X deuses? sim! muitas vezes há um contracenso dentro do próprio bruxo, ele quer o favor de alguma deusa e esta não lhe presta o favor. Disso decorre a ameaça, onde Charles Leland ensinou ameaçar Diana ao fazer pão dizendo: "eu não asso pão, eu asso o corpo e o espírito de Diana". Mas com maior maturidade você aprende que nunca se ameaça um deus ou deusa. O nosso respeito pelos deuses vem do amor que sentimos por eles, não da revolta. Por isso é importante lembrar sempre que ao se reconhecer como um deus na Terra, requer que seja feito (e muito bem feito) o trabalho de ego, de sombras e de virtudes, para não se tornar um psicopata que se acha no direito de ameaçar os deuses e fazer o que bem entender. O poder vem para nós na medida de nossa capacidade de suportar as responsabilidades que isso traz.
Segundo
Piérre Riffard e sua exposição arqueológica do quadro dissidente do culto à
deusa “Terra-Mãe” há 35 mil anos, a qual está ligada, por ser Iyá Ilê, Iyá
Onilê, Iyá Ayê, Iyá Mofurokê, Iyá Alódudu, dentre outras Ajés, todas Mães
Ancestrais, igualmente para stregoneria com as deusas Ati Nortia, Ati Senia,
Ati Cel, Ati Phersipnei, Ati Horta, Ati Losna e Ati Lasa, todas mães ancestrais,
cada uma com seu reino e domínio. Esse culto, aliás, quando subiu para a
Europa, ganhou o nome de Bruxaria (witchcraeft em inglês arcaico e Stregoneria
em italiano). O dicionário de Oxford define Witchcraft (witch + Craft) como
sendo A Arte dos Sábios, uma arte que contem muitos mistérios. Em todos os
casos essa Arte se divide e se trata como tradições espirituais que contem
culto, mas não é tratada como religião.
Em
um Coven de bruxaria cuja linhagem não é familiar ou consanguínea e, também em
Covens que contém feitiçaria e a trata como religião, o tratamento com o mundo
invisível se dá por respeito e conhecimento, mas o tratamento não é de igual
para igual, há necessidade de dar uma ‘paga’
pelos serviços prestados de um deus, deusa, demônio ou espíritos diversos. Essa “paga” é uma oferenda. A divindade é
invocada ou conjurada com respeito, admiração e honra, tudo isso em nome do
juramento que guarda correspondência com o sangue mítico das fadas. Todo favor
exige uma troca, essa troca é paga por uma oferta tradicional, afinal de
contas, ninguém come aquilo que não gosta e ninguém trabalha de graça.
Já
em uma irmandade de bruxaria o processo é bem parecido e adota-se base dos dois
tipos acima descritos, porém em uma ordem mágica o tratamento com os seres
mágicos é um tanto subalternado e hierarquizado. A ideia de tratamento dentro
das ordens mágicas é que o mago subalterne o espírito para trabalhar para ele,
seja com ameaças, encantos e rezas, o mago acaba por conseguir que a divindade
ou espírito trabalhe para ele a força, diferente das bruxas que apenas
interagem com o espírito e por isso ambos se ajudam.
Sim,
há outras diferenças e abaixo você leitor(a) poderá considerá-las e observá-las
como se segue:
COVENS
1 - Princípios de
Congregação, Covines, guildas e células em Bruxaria
-
hereditariedade por vocação, consanguinidade, e/ou linhagem recebida; Nos
Covines Hereditários não se leva em conta a idade e sim a vocação e o
comprometimento. Nos demais Covens é necessário possuir 18 anos ou mais para
serem admitidos. Os Covines Tradicionais fazem o convite de admissão do
escolhido. Nos Covens religiosos é preciso pedir 3 vezes para entrar.
-
Estatuto;
-
iniciação horizontal e vertical;
-
arte tradicional, bruxaria tradicional – compêndios de saberes e diretrizes
antigos e divinatórios, perenes das artes do céu (astrologia antiga), das artes
da terra (herbalismo e geomantico) das artes do inferno (alma, espírito,
ancestralidade, produtos do submundo mítico e psicológico ou plutônico/Ctônico)
bem como o pensamento e filosofia de vida e morte que estão por trás como pano
de fundo que sustenta a raiz não dogmática; teologia própria e Liturgias
próprias, conjurações, templo, oráculos, magias e feitiços que funcionam, fetchs
e flers de fundação e assentamento, poções, encantamentos, rituais, calendário
sagrado, treinamento apropriado, adoção de descobertas, juramentos, livros de
fundamentação, mitos próprios, folclores de fundamentação, familiar da bruxa,
conjunto de divindades, espíritos e demônios amigos da família ou do coven seja
por ancestralidade mítica ou sanguínea, ou pactuados.
-
espaço físico, lar ou templo (doméstico ou campestre);
-
escolha, cargos de ofício e concessão;
-
congresso;
-
Família com cargos;
-
Igualdade;
-
doação e cooperativismo;
-
donos da casa – os mais velhos. Os demais são herdeiros. Hierarquia natural
apenas na governança administrativa – sistema de casta ou monárquico (Xadrez
para covens modernos, e Chaturanga para Covines tradicionais).
-
Certificação para adeptos.
IRMANDADES
2 – Hierarquia natural
de governança – sistema base de casta ou monárquico;
- irmandade; irmãos de Arte sempre com mais de
18 anos;
-
consanguíneos ou espirituais;
-
iniciações horizontal e vertical ou formal e espiritual = linhagem = hive off =
continuidade e transmissão.
-
Os Cargos de Ofício são:
Dama/Alta
Sacerdotisa/Magistra/Mãe; são poucas as Damas que dão a cara pra bater ou que
põem a cara no sol. Tradicionalmente elas não aparecem na mídia para
resguardarem o poder da irmandade, pois são elas que dão manutenção a egrégora
e guardam todos os segredos. Ela é mantida em segredo ou sigilo, pois ela é o
coração da irmandade. Se um inimigo atingir ela gravemente a irmandade se
perde, pois ela não pode ser substituída a não ser pela esposa do Magister,
caso essa queira e no caso dela fazer parte da irmandade. Ela oficializa todos os ritos junto com os demais. Ela é a polaridade Yin.
Magister/Alto
Sacerdote/Pai; ele quem geralmente dá a cara a tapa. Ele aparece, divulga,
ensina, é um professor da arte, ele participa dos convites e age como
representante legal da instituição. Ele pode ser substituído, por isso se for
atacado magicamente de forma severa, ele se recolhe para que a irmandade cuide
dele até ficar bom novamente. Ele é o cérebro da irmandade. Ele oficializa todos os ritos junto com os demais. Ele é a polaridade Yang. Você pode compreender as polaridades com mais exatidão ao estudar o Taoísmo, que é uma, senão a mais antiga das Artes tradicionais do oriente.
Escriba
– irmão ou irmã; responsáveis por toda bibliografia e registro da irmandade.
Também é ele quem faz o chamado para as reuniões semanais ou mensais.
Anciã
– todas as mais velhas, detentoras do desfecho da última palavra dada.
Participa de todos os Conselhos da Irmandade e é ela quem é a Juíza e bate o
martelo.
Chanceler
– irmão ou irmã; responsáveis por quem é admitido ou não. Participa de todas as
reuniões e guarda os selos das atas registrando a chancela dos documentos da
irmandade. Faz revisão de livros a serem publicados por algum membro da
irmandade e atua como um consulado da irmandade ou Covine.
Mestre
e Educador – irmão ou irmã – instrutor responsável pelo ensino, treinamento e
transmissão da tradição, arte, ofício e segredos mágicos da irmandade;
Guardiões
do Círculo – irmão ou irmã; responsáveis pelos segredos e atuação dos elementos
e subsídios rudimentares dos ritos e da irmandade, bem como por sua guarda
mágica. São como os cavaleiros no Xadrez.
Portador
da Saca - irmão ou irmã; responsável pelo financeiro administrativo e pelos
gastos da irmandade, seja com viagens, rituais ou com necessidades imprevistas
de algum membro.
Mantenedores
da Egrégora - irmão ou irmã; A Dama e seu séquito.
Coviners
– todos são coviners;
Tutores
– tios/tias, madrinhas e padrinhos que assumem a predisposição de pagar pelos
erros de seus tutelados, bem como os ajudam a tirar dúvidas e apoiam o ensino
da tradição de um Covine ou irmandade;
Tutorados
e Tutelados – sobrinhos e sobrinhas, que se submetem aos Tutores e ao
aprendizado antes da iniciação – o mesmo que Dedicados;
Colaboradores
– não remunerados, são convidados de outras irmandades ou Covines que vem
conhecer, participar ou ajudar em uma data específica;
Aprendizes
– todos são inclinados a se verem como humildes aprendizes eternamente;
Aspirantes
a Vocação – são os seekers, admiradores da arte que são convidados para se
tornarem membros;
O
Escolhido – aquele que foi escolhido, aceito e reconhecido como parente,
portador da marca/semente. Geralmente é alguém de fora que guarda tanta amizade
com os membros do Covine ou da Irmandade, que acaba sendo convidado.
-
Certificação – todas as iniciações possuem certificado chancelado.
Em
resumo, a irmandade é algo que fica entre um Coven e uma Ordem Mágica, sem ser
nenhum dos dois por possuir metodologia de junção própria, mas não possui
registro formal no sistema jurídico.
SISTEMA DE
ORDEM
3 – ordens mágicas
-
Estatuto ou regimento interno com registro de pessoa jurídica;
-
sistema de magia escolhido;
-
titulo de magos e magas;
-
espaço físico = salão, loja ou igreja;
-
matrícula = associados, superioridade (21 anos ou mais), mensalidade, títulos e
graduações;
-
cargos administrativos = corpo docente; corpo discente; funcionários
remunerados;
-
Hierarquia de governo imposta por eleição, contrato ou propriedade – sistema
democrático comercial, pois possui registro de empresa de ensino;
-
Fraters & Soters – são os mais velhos iniciados que ainda permanecem na
Ordem;
-
ordem mágica graduada – possui sistema de graus de iniciações diversas;
-
professores e alunos com formatura (ritual formal);
-
Certificação – todas as iniciações possuem certificado chancelado.
Outras
diferenças se deitam no solo da filosofia utilizada. Por exemplo, enquanto que
em Platão, o pano de fundo filosófico orienta a bruxa a considerar suas
próprias sombras, o olhar para dentro de sua caverna interior, o que por si só
nos leva a uma boa reflexão terapêutica de nossa psique. Também está presente a
filosofia salvífica a qual possibilita abrir margens para uma evolução
espiritual com progresso.
Em
Nietzsche as pessoas são inclinadas a serem um pouco mais agressivas com a
ideia de “faça com ele antes que ele faça com você” e a reflexão terapêutica
está ausente, não há presença de culpabilidade ou remissão e, a filosofia
salvífica é inexistente, o que por si só impede que haja uma evolução
espiritual com progresso. Também se diferem quanto ao fator “propósito”. O
propósito em Luciferianita não é contrariar nem subverter a Igreja Cristã como
se faz em Satanismo, mas sim enxergar os potenciais espirituais Latentes em
cada pessoa e trabalhar neles a ponto de desenvolver sua Santidade/Divindade a
qual se expressa com Poderes no UM (de união). Diferente do UNO da igreja que
se propõe ser a ÚNICA voz para todos com o UM Deus para todos.
A diferença disso é que Platão dá o pano de fundo do Luciferianita e também as religiões que contem bruxaria são todas inspiradas em Platão bem como a soma de pensadores naturalistas sem esquecer do estoicismo helenístico (stoá media & stoá Nova) de cunho mais religioso, enquanto que Nietzsche fundamenta o Satanismo. Vale lembrar que Lúcifer (portador da Luz) não é simplesmente uma entidade para os bruxos, mas sim uma Consciência de Luz.
Hoje em dia, os movimentos políticos têm atrapalhado a condução que forma os pensamentos bruxos. Evitem deixar isso acontecer caros leitores, pois nós somos feministas, mas nós não arrastamos a bruxaria para dentro do feminismo e sim o feminismo se encaixa na bruxaria completamente, pensem nisso!
Esperamos que todos acendam a luz e, que possamos contribuir com a formação tradicional do pensamento bruxo da velha escola que anda tão escasso nessa modernidade.
Por
Sett Lupino.
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