sexta-feira, 15 de julho de 2011

Paganismo, Bruxaria e Bruxaria Tradicional



Ao olhar o Stonehenge certamente nossa mente nos remeterá ao tema celta. 
Mas minha gente, a bruxaria não deve ser limitada ao passado que foi seu nascedouro, o paganismo, muito menos à uma única cultura ou país, uma vez que a bruxaria é um patrimônio da humanidade e esteve e ainda está presente em todas as culturas e países. Existem certas linearidades vivas e tradicionais que, se deixarmos morrer, ai sim o ecleticismo tomará conta. Limitar uma arte é podar seu poder. Por isso afirmo que a Arte Bruxa não se limita ao paganismo. O paganismo foi uma era onde tudo nasceu inclusive, os primeiros seres humanos, os que deram sangue pra continuar, e nós somos provas vivas. A bruxaria da era pagã era uma criança, que hoje encontrou sua maturidade graças aos homens de bem, os eruditos de braços dados aos não eruditos.

A ênfase aduba quando lemos coisas sobre os celtas, numa salada temperada com folk-magic & paganismo atribuído aos celtas, ao que em certos artigos são chamados de bruxaria tradicional. Veja só, o termo ‘Kelt’ foi usado pelos povos de baixo para se referirem aos que viviam mais ao norte do mapa, e nem os próprios celtas se chamavam de celtas, além de tudo, deixaram uma crestomatia de lendas (algumas funcionais, mas não aplicáveis) angariadas por alguns monges, e que se pode conhecer pelos escritos deixados por Tácito, do santuário de Anglesey, no séc. I d.C. e por um exército romano, sendo que a classe sacerdotal não sobreviveu na ilha, Gália, hoje França, pois a cristianização foi mais precoce que na Irlanda. Todo o legado intelectual dos druidas (os bruxos do povo celta) foi confiado aos bardos, os quais, na Irlanda, não fazem parte da classe sacerdotal. “Todas as organizações atuais que se dizem de inspiração druídica e celta não passam de criação ex nihilo, sem qualquer valor tradicional” (Ogam – Tradition Celtique, Rennes, 1948; 12, 49-58, 209-234, 349-382, 475-486; 18, 105-114 e 161-162).
Uma imagem caricatural: eis o que o grande público possui a respeito dos druidas. Isso é ainda mais desolador à medida que o druidismo foi por excelência um esoterismo que ele formou a trama da cultura celta, que ele dava sentido às vidas dos gauleses e dos antigos irlandeses, que estão, apesar de tudo, mais próximos do europeu atual do que dos hebreus. Porém, não existe nenhum texto druídico, somente os testemunhos de César (Guerra das Gálias,VI), de Diodoro da Sicília (V, 31), de Estrabão (IV, 4), de Plínio (XVI, 249; XXX, 13). Tem-se encontrado o ogam, escrita de 300 inscrições célticas da Irlanda, do país de Gales, da Escócia (séc. V-VII). Somente os filidh, os druidas poetas, utilizavam-na; não se tem da mesma texto algum, somente palavras isoladas.
Agora olhem bem essa imagem abaixo, e reflitam se ela tem algo a ver com celta!!! Não, não tem. Somente nos remete há uma época cristã, onde a bruxa pôde dar um salto no imaginário popular. Foi nessa época que a bruxa ganhou glamour, foi nessa época que ela apareceu de fato como bruxa, e voando em sua vassoura era um terror já que era temida pelo seu poder. Aqui, a bruxa que não é marginalizada e temida, não é bruxa.


A literatura céltica em geral não é de acesso fácil, pois utiliza muitas línguas (o gaulês, o irlandês, o escocês, o galês, o bretão), é pouco traduzida e pouco editada, empregando um simbolismo complexo. Encontram-se as visões (fís), os contos de juventude (mabinogion), os relatos de viagens fantásticas (imramh), as relações de rapto (aìtheda); nesse conjunto, deve-se buscar os esquemas iniciáticos, as alusões às idéias metafísicas para se recriar uma possível tradição nova, de amoedo e esboço celta no mundo de hoje, é por isso que é uma coisa falha, já que é recriada e não contém uma linearidade de linhagem, mas tão somente uma linearidade contada pela história e pelos livros. Aqui, a imagem da bruxa celta fica incompleta, pois não se pode recordar 100% da cultura céltica como era de fato no passado.

E essa literatura se estende sobre os séculos. Se se deseja saber algo sobre Merlin, é necessário ler as lendas galesas sobre Myrddin, a Vìta Merlini (1132) e a Prophetiae Merlini (1134) de Geoffrey de Monmouth, o romance Merlin (ligado ao Lancelot-Graal). 
Qualquer celtopata criaria um mundinho céltico pra si, bastante particular, e escolheria algumas pessoas de igual inclinação para se deixar entrar no mundinho. Ta acompanhando? Está percebendo o que você anda fazendo ou deixando que façam com você? Pois bem, quando esse celtopata sai lá fora, ele se choca, porque o mundo lá fora não é celta, não é imaginário, ele é real.

A partir daí fica-se dividido entre o desejo de se deixar levar pelas séries de imagens e a necessidade de praticar uma exegese. G. Dumézil revelou em Táin Bó Cuailnge, onde o herói Cuchulainn mergulha nas três tinas de água fria, um argumento iniciático sobre o frenesi, o calor místico exigido nas organizações iniciáticas guerreiras indo-européias; Dumézil traça também um paralelo entre o combate de Cuchulainn contra os três filhos de Nechta e o combate do deus indiano Indra ou o combate do herói romano Horácio: transpõem-se em termos romanceados as provas espirituais [Horace et les curiaces (Horácio e os curiáceos), PUF, 1942, p.35 sq.; Mythes et dieux d.es germains.

Sobre os celtas, diz-se que organizaram uma civilização fundada esotericamente. Os druidas detinham poderes muito amplos. Ocupavam-se da justiça, da religião, do ensinamento, da poesia, da magia, hoje, todas disciplinas estudadas em universidades, onde qualquer inteligente que passa num vestibular terá acesso a tais ensinamentos sem ao menos ser druida. 
São os conteúdos desses materiais que se pode a partir deles mesmos, recriar um trabalho de cunho iniciático bem estudado, pra quem gosta de laborar as teses célticas, mas por se tratar de estórias iniciáticas, bem, são estórias para poucos, e a bruxaria não se limita ao plano pagão ou céltico. Muitos no mundo são bruxos, a maioria inclusive nunca será conhecida, pois esses sim são tradicionais e não fazem nenhum tipo de aparecimento na mídia, eles são herméticos.
Agora comparem essa imagem abaixo e vejam se tem a ver com o tema celta!



BIBLIOGRAFIA para estudos célticos - sob visão de mundo e conceitos clássicos, tidos por autores como visão de mundo tradicional:

Estudos: Françoise Le Roux e C. Guyonvar’h, Les druides (1950), 4ª ed. 1987, Ogam-Celticum, Rennes, 423 p.; Françoise Le Roux, A religião dos celtas, apud Histoìre des religions, Gallimard, Encycl. de la Plëiade, 1970, t. I, p.781-840; S. Piggott, The Druids (Os druidas), Londres, Ed. Thames and Hudson, 1985. Literatura: H. d'Arbois deJubainville, Introductìon à l'étude de La Lìttérature celtique (Introdução ao estudo da literatura céltica),1883; P.Y. Lambert, Les littératures celtiques (As literaturas célticas), PUF, nº 809, 1981, 128 p. Sobre Artur e Merlin: J. Markale, Le roi Arthur et la société celtique (O rei Artur e a sociedade céltica), Payot, 1976; J. Markale, Merlìn I'enchanteur (Merlin o encantador), Ed. Retz, 1981. Os textos essenciais foram traduzidos por Christian Guyonvarc'h em publicações diversas, com um quê de guenonismo. E R. Guenon é sabiamente o autor mais tradicional que existe.

Sett Ben Qayin

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