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Todos os exilados vivem o mito de Caim. Viver o mito de Caim é uma grande forma de se manter agradecido pelas próprias conquistas. Em outras palavras, é um amadurecimento infindável.
Se Deus respeita ou não essa epopeia de Caim, foi Ele quem deu causa, ou não haveria nada para agradecer, portanto Deus é culpado. Todos os demais, veneram e respeitam aqueles que vivem o mito de Caim, pois é uma grande honra. Digo isso porque algumas pessoas interpretam o exílio como um castigo ou punição a ser aplicados, estão enganados.
Quaisquer
que sejam as interpretações históricas da bíblia sobre o assunto, em Gênesis 4,
1-24, todas estão sob um paradigma conveniente para ilusão, com alguma
ressalva, senão vejamos:
O
drama descrito no capítulo supracitado, não exclui a existência dos
acontecimentos, porém significa dar-lhe uma dimensão que ultrapassa sua
contingência e, mesmo que os acontecimentos não tenham acontecido exatamente
como a bíblia menciona, não podemos deixar de notar os signos apresentados e a
grande lição que a história exerce sob os filhos de Caim, haja vista que em Le jour de Cain (Paris, 1967), Luc
Estang viu na narrativa algo a mais além das entrelinhas e nos faz pensar.
De
acordo com o próprio Gênesis, Caim foi o primeiro homem nascido do homem e da
mulher, e foi o primeiro lavrador, o primeiro agricultor, e primeiro
sacrificador, cuja oferenda não foi aceita por Deus, foi o primeiro assassino,
o primeiro revelador da morte pois jamais teria sido visto antes do seu
fratricídio, o rosto de um homem morto, e por tanto, foi o primeiro feiticeiro
e construtor. Como homem do campo, Caim foi um verdadeiro pagão no sentido
literal.
Após
a recusa de sua oferenda, ele partiu a procura de uma terra fértil para
desbravar os mistérios da fertilidade e das plantações, assim, ele também foi o
primeiro errante, o primeiro cigano, e se tornou o primeiro construtor de
cidade. Sua importância é total em algumas vertentes de bruxaria tradicional,
contudo, as lições apresentadas na história bíblica de Caim haviam sido registradas
no mundo pagão, como no caso latino de Remo e Rômulo, bem como Karna e Arjuna
no episódio Hindu, e entre Thórólfr ou Ásgerr e Egil nórdicos, e ainda, no
antigo testamento, dizem alguns pesquisadores, alegam a ver alguma analogia com
Esaú e Jacó. Essas histórias sobre fratricídios são temas de grande discussão
no direito penal estudados na faculdade, e são de conhecimento de qualquer
advogado.
Assim,
as diferenças entre os pastores e lavradores continuam até hoje sob o disfarce cristão
X pagão, portanto esse tema de disparidades de vontades e crenças sempre foi
regido por códigos religiosos que ditavam a “ética divina” e é bem antigo.
O
prélio entre pastores e lavradores também foi tema de aprendizados esotéricos.
Se voltarmos no tempo a história mítica revela disputas e fatos entre irmãos e
fratricídios muito comuns, como no mito histórico entre os egípcios Seth e
Osíris, ou antes disso entre Tamuz e Enkidu sumerianos, os quais os hebreus
herdaram os ensinamentos e alguns costumes culturais e religiosos, razão pela
qual pode ter surgido o mito de Caim e Abel, totalmente baseado nos mitos
Sumerianos.
Ainda
temos de considerar que, a bíblia pode ter omitido, mas o primeiro livro de
Adão e Eva nos revela que Abel, depois da sua morte reencarnou como o terceiro
filho do casal cujo nome era Seti (também grafado como Seth e/ou Sett).
Mas
Caim foi marcado por Deus durante o desentendimento que gerou o seu exílio.
Deus colocou uma marca em Caim, a fim de que ele não fosse morto por quem o
encontrasse.
Nesse
contexto, Caim foi também o primeiro homem a se retirar da presença de Jeová e
partir, numa infinita caminhada em direção ao Sol levante.
A
aventura é de uma grandeza inigualável, sendo a aventura do homem entregue a si
mesmo, aquele que não espera as coisas caírem do céu. Isso simboliza que Caim
faz suas escolhas, tornando-se deus de si mesmo, assumindo todos os riscos da
existência e todas as consequências de seus atos. Caim é o símbolo da
responsabilidade humana e é o símbolo nato dos feiticeiros de memória
judaico-cristã.
Da
mesma maneira que o significado do nome Abel é Vaidade (Barro), o nome Caim
significa Posse (dono de si, ter posse sobre si mesmo, escolha-livre arbítrio,
aquele que não aceita dogmas).
No
simbolismo animal Abel é a ovelha e Caim é o bode, mais uma vez o masculino e
feminino interagem. Sua mãe o chamou de Caim porque ele foi a sua primeira
aquisição. Alguns mitos dizem que Samael copulou com Eva e nasceu Caim. Samael
teria incorporado ou se passado por Adão a fim de possui-la. Outros mitos dizem
o contrário, sendo Eva possuída por Lilith e esta teria copulado com Adão,
ficando por cima dele e mostrando a supremacia da mulher sobre o homem. De
qualquer forma O Espírito pode muito bem possuir tanto homens quanto mulheres
e, seria uma arrogância alegar que Lilith só “entra” nas mulheres ou que só as
mulheres são vaso Dela. Eva foi criada da costela de Adão e de qualquer forma
ambos dependem um do outro e não há razão para discutirmos quem é superior e
quem não, pois em igual modo Ambos tiveram sua criação pelas mãos Divinas, não
importando qual material foi usado por Deus na criação, pois o importante aqui
é a linhagem espiritual de Caim, a linhagem que se fez sangue, que se fez carne
e que transcendeu a própria carne.
Uma
breve explicação vem informar que Lilith é o verdadeiro Espírito Santo, e essa
informação foi omitida pela igreja por muitos séculos. Isso equivale dizer que
Caim é descendente legítimo do Espírito Santo, enquanto Abel foi feito somente
da carne do homem e da mulher e por isso ele é o Barro, já que não possui
espírito. [o pronome possessivo não é puramente ilustrativo].
Deus
criou Adão do barro, ele era uma espécie de zumbi até conhecer a maçã. Só
depois de comer a maçã é que ele teve seu corpo habitado por um espírito, já
que a partir desse ponto é que ele pode morrer, antes disso ele era uma espécie
de lama. Percebe-se aqui o tema esotérico revelado.
Adão
teria dado a mordida na maçã que Eva lhe ofereceu e em seguida ele fez amor com
ela. Parece que Eva não comeu a maçã, pelo menos não antes de Caim nascer e
esse é um tema confuso. Eva foi comer a maçã depois que Abel morreu e foi assim
que seu terceiro filho se tornou Seth. Assim sendo, Seth é a reencarnação de
Abel, é o livramento do barro para a chegada do homem de espírito.
“Tu
me tiveste segundo o desejo e com a assistência divina”, diz Caim à sua mãe. [...]
...Muito cedo compreendi que ele em nada
me ajudaria, e que eu não poderia contar senão com minha própria vontade. A
maçã é a vontade. A maçã que a serpente seduziu Eva para dá-la de comer à Adão.
O tema da maçã já era conhecido em Avalon pelos pagãos. Uma curiosidade
conhecida por todo pagão é que o verdadeiro nome da Maçã é Malus sieversii,
havendo diversas variedades de Malus. O mundo latino mudou de Malus para Mala
porque a palavra Malus era da mesma ordem etimológica para se referir ao mau e
a maçã em tempo igual. Tanto o fato se confundiu em alguns textos antigos, pelo
qual a maçã e a romã foram igualmente confundidas pelos autores.
Outra
curiosidade esotérica é que todos os médiuns (que sofre possessão por transe)
são considerados filhos de Caim, porque Caim significa posse-possessão), sendo
assim todos os médiuns são feiticeiros e bruxos, independente de tradição
transmitida via horizontal (de pessoa para pessoa). Alguns autores afirmam que
a marca que Deus colocou em Caim é o próprio dom mediúnico.
Independente
do tema de Caim ter cunho judaico, a mítica é a mesma só que teve nascedouro
mais antigo, o assunto é sempre o mesmo desde a velha Suméria. Não foi à toa
que o tema da descida da Deusa “Inanna” ao mundo subterrâneo sobreviveu até os
dias de hoje, e vale lembrar que esse tema também foi promulgado e usado por
Gerald Gardner durante a construção de sua religião que contém bruxaria. Como
podem ver, os mitos Sumerianos estiveram bem vivos entre todas as épocas e
foram usados para os mais diversos propósitos religiosos.
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Se
você parar para analisar, vai ver que o tema de agricultura e fertilidade está
sempre presente, assim como o tema de nascimento, morte e renascimento (ou
reencarnação) estão igualmente. Para toda religião, culto, seita ou tradição
espiritual há um crédito maior de poder no mundo espiritual, ou seja, o tema do
poder divino. É por isso que não cabe acreditar que tudo acaba quando morremos,
uma vez que se acredita (dar-se crédito) que existe um Deus que mora num mundo
espiritual de onde viemos e pra onde voltaremos. Aqui o tema se liga ao eterno
ciclo morte-renascimento, sendo que, em algumas irmandades bruxas, ensina-se
que em vida devemos aprender a sermos mais virtuosos e nos livrar dos vícios,
do barro, a fim de subirmos as escadas pra lá de onde caímos, o céu, o paraíso,
a montanha dos vitoriosos, o castelo da dama Fortuna, em fim, chame-o como
quiser. O tema da queda de Lúcifer (O anjo Portador da Luz) refere-se ao tema
da reencarnação, onde nosso espírito teria caiu do Céu e reencarnou (tomou
carne-forma física-matéria) aqui na Terra.
Mas
Caim não pode morrer, diz os textos sagrados, isso equivale dizer que ele não
pode sofrer a verdadeira morte, aquela que “acaba” com tudo pra sempre e por
isso é condenado à voltar a vida (reencarnação). Sendo assim tomamos a morte
como uma mera passagem de ida e volta, não menos importante na trama divina.
Caim
é do espírito eterno e as longas viagens desse espírito é um subir e descer e
subir novamente entre o céu e a terra.
Em
Luc Estang, 88, Caim diz a sua mãe: “Sabeis que eu tive de conquistar por mim
mesmo tudo o que vós me atribuís: o ardor e a rudeza, a força e a obstinação”.
O
que Caim desejou foi acrescentar à terra de Deus, o fruto do trabalho do homem,
a fim de ser verdadeiramente o senhor de seus atos, ele diz: “sonhei em
reconciliar a terra com Deus”. Mas parece que até hoje Deus virou as costas e
não está nem ai pra ele.
Caim
seguiu desejando construir uma cidade que seria uma manifestação ainda melhor
dos feitos humanos do que a terra cultivada. “Eu via a cidade como uma outra
lavoura, como uma outra semeadura, como uma nova messe”. Dessa forma o trabalho
dos bruxos não acaba nunca, sempre há uma nova semeadura, ciclo sem fim, ou
pelo menos não até conciliar a terra com Deus, e Ele aceitar a reconciliação.
É
como um despertar da terra fora de si mesma, Caim faz o trabalho do despertar
de sua elevação vertical à imagem do homem, pelo homem, que assim estabelecia
sua própria soberania. Suas muralhas teriam circunscrito o espaço onde ele nada
esperava de Deus. Em verdade, Deus não tinha poder na cidade de Caim, ou pelo
menos não exercia influência ali.
A
cidade, prolegômeno, em princípio, de quase todo futuro ateísmo, digo quase
pois se não houvesse o politeísmo, outros deuses, outras religiões, outras
culturas, etc, seria total o ateísmo.
É
interessante saber que o gnosticismo possui uma mítica sobre como Deus se
tornou Deus. Saclas seria seu nome enquanto “O Demiurgo” e ele era filho de
Sophia. Tendo nascido defeituoso, foi lançado para longe dos deuses do
Primórdio, no espaço onde se viu sozinho, sem seu par perfeito, resolveu criar
o que conhecemos como ordem natural da vida, mas nem todos os seres humanos
possuem espíritos da etnia de Saclas. Alguns possuem etnia espiritual da
família de Lilith, os quais remontam o tema dos Guardiões, os Nephilins, os
quadrantes da terra e sua família de deuses mais antigos, como no caso de Caim
e seus descendentes.
Dessa
maneira o ciclo vida e morte foi dado aos humanos de todas as descendências
espirituais, sendo forçados a conviverem juntos num único planeta, evoluindo ou
não, progredindo ou não, foram forçados a subir e descer num ciclo sem fim até
atingir um nível onde não seria mais preciso reencarnar, em outras palavras, o
tema da queda perderia importância.
Talvez
esse seja o único ponto onde não usamos o livre arbítrio, uma vez que, desde
nossa criação, nos foi imposto esse ciclo, esse vai e vem. Ao fundir-se com um
deus, você se torna um deus novo com seu par perfeito. O tema não é novo, cada
estrela no universo é um Sol e cada Sol possui sua própria galáxia.
No mundo ordinário, não
nos foi permitido transitar “ainda” entre uma galáxia e outra, porque a NASA
ainda não descobriu um método para isso. Se um dia isso for possível, saberemos se há
realmente vidas como as que conhecemos, em outros lugares do espaço, mas por ora,
limitemos à nossa Terra-Mãe, à nossa Lua e ao nosso Pai Sol.
Voltando
ao tema de Caim, Deus não aceitava de bom grado os sacrifícios do lavrador e
desse sonhador de cidades. E Caim não podia aceitar ser o mal-amado de Deus.
Estava pronto para qualquer renúncia, se ele, de início, aceitasse. Por pouco
amável que fosse, era dessa maneira que importava à Caim em ser amado. Mas Deus
não recompensava seu escarniçado trabalho.
O
que Caim deplorava, não era o fato de Abel ter tantas vantagens, mas sim o fato
de Caim não ter nenhuma!
Então
Caim se revoltou por todos nós, por todos aqueles que não aceitam o mistério da
predestinação. Esse papo de que nascemos predestinados, as crenças limitadoras
e falsas que temos sobre nós mesmos, a predestinação que divide os homens em
rejeitados e eleitos, todos aqueles que não compreendem o desprezo de Deus
pelas grandezas terrenas e sua predileção pelos humildes.
De
tal modo, Caim orgulhoso de si, afirmou seu próprio valor, seu esforço, sua
autoestima e renunciou a Deus, e é a partir daqui que começa o seu exílio.
Caim
partiu na condição de errante junto com os seus pares, como quem parte em busca
de um futuro a ser indefinidamente construído. Diz Caim: “Partiremos para o
deserto dos homens, e que os homens, inumeravelmente, povoarão. Nós nos
guiaremos pela aurora sempre renovada... E será por não nos determos em parte
alguma que estaremos sempre em toda parte. Nossa vida errante nos permitirá
medir a terra e, ao mesmo tempo, nós a edificaremos”.
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Caim
parte, em busca do devenir do homem fora da presença de Jeová. Entretanto,
foi-lhe preciso matar o irmão (o aspecto do barro em si mesmo) e precipitar a
hora da morte. A fim de liberar-se, chegou ao extremo do crime. A verdadeira
morte vem a ser aquela em que se é obrigado a dormir sem jamais poder
despertar. Ele impôs brutalmente, diante dos olhos da primeira das mães-do-barro:
Temor antigo, castigo misterioso, ó
morte! Eis-te pois revelada! Tens o rosto de todos nós, sob a máscara de Abel,
e por tua causa nós não nos diferenciamos dos animais.
No
sentir de Adão e Eva, a morte é o último fruto da árvore da sabedoria; diante
dos despojos de Abel, Adão exclamou: Aqui,
neste instante, nós esgotamos o sabor ao fruto da sabedoria; mais do que nunca
ele é amargo. Entretanto, ele diz a Eva: Fomos nós que transmitimos o
gérmen da morte ao corpo de Abel. Eva então replica no auge de sua revolta: Ah! É como se ele tivesse aberto em mim uma
brecha: meus filhos jamais terminarão de matar-se uns aos outros. Todavia,
Temec, procurando justificar seu marido Caim, diz: Que triunfe a vida, ainda que o preço seja a morte.
É
verdade que a morte inelutavelmente haveria de sobrevir, porquanto era o
castigo do pecado original.
O
erro de Caim, foi na realidade, ter-se adiantado aos desígnios de Jeová. Ele
acrescentou novo mal ao mal cujo castigo é a morte. Caim foi o iniciador da
morte e ele mesmo não poderia morrer.
Desde
então, sobre a fronte de Caim, e de todo homem, todos poderão ler: Perigo de
morte! Embora devam notar nessa advertência, o signo protetor que designa a
criatura divina, não um estigma infamante, eis a marca dos bruxos.
O signo que me reprova
me protege, diz
Caim. Na verdade, o Deus concede-me a
graça de que meu crime intimide os vingadores, porque o crime deles contra mim
terá de ser expiado sete vezes!
Desde
então o corpo passou ao pó e o espírito passou aos céus. O homem passou então a
não afrontar nada mais de Deus a não ser a sua ausência. Resta-lhe, porém, sua
própria presença de homem a afrontar, como relembrou Temec, a impiedosa esposa:
Tua própria presença, Caim! Doravante, na sucessão dos homens: Caim
presente em cada um deles. No espelho de sua consciência, todo homem refletirá
os traços de um Caim.
Como
disse Adão: Meu filho Caim é essa segunda
parte de mim mesmo, que não acabava mais de se projetar. Vós, que o seguis, sabei-o:
sois o enxame de minhas ilusões.
Nesse
sentido, encontramos forçosamente uma comparação na tradição grega, pensado
para ter equivalência grega do desejo de Caim em Prometeu, que desejou
conquistar para a humanidade um poder divino; liberá-la de uma dependência
total, atribuindo-lhe o fogo, princípio de todas as mutações futuras, quer seja
o fogo do espírito, quer seja o fogo da matéria. Tal como Prometeu, Caim é o
símbolo do homem que reivindica sua parte na obra da criação.
Por
Seth Ben Qayin
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