domingo, 22 de dezembro de 2013

A Capela das Vaidades



Graças ao seriado American Horror History e sua mais recente criação, a terceira temporada, todo mundo está falando sobre o tema, mas Covens, ou a forma mais tradicional para essa palavra “Covine”, não é uma Turbamulta de sodomitas como demonstrado no seriado, que, além de exaltar os egos e influenciar os novatos interessados em bruxaria, causa mil estranhamentos entre bruxos de fato, uma vez que de “Covine/Coven” não tem nada no seriado. Um Coven de verdade é uma assembleia de bruxos libérrimos e humílimos.

A compreensão do “sentir a vida” em Coven é como um dialeto regional. Mesmo tendo um palavreado arrastado, o caipira não é inferior à ninguém. Em nossos dias, sentir a vida constitui uma riqueza vocabular, por ser uma mudança regional da compreensão e da própria língua cultivada muito tempo em um determinado lugar, e quando se diz respeito a linguagem do comportamento dentro de um Coven tradicional, essa história americana de horrores deixou a desejar.

Como assembleia de gente livre, 'familiares livres', o Coven é um lugar para grandes aprendizados, mas tão somente para os de sangue que compartilham do mesmo aroma e sabor vital do pão feiticeiro, que congrega a comunhão da hóstia feito sacrifício. Nisso, abro um parênteses para atribuir a importância do pão e do azeite, ou o companheiro da coruja.

Companheiro era antigamente aquele que simplesmente comia e compartia o mesmo pão. Comia o 'pão conosco' = cum-pane em latim. Comer o mesmo pão conosco equivalia a “acompanhar” = cumpani-are. Por isso o aprendizado é uma via de mão dupla e num Coven não se tira o 'pão conosco' da boca de ninguém. Há nesse ínterim, as figuras hierárquicas, que são superiores em cargo de ofício por natureza, mas não como pessoas, seja por ser o dono do local ou por ter compartilhado o pão com mais pessoas a mais tempo e, por isso, a tal experiência é maior. Em 2004 eu era membro de uma lista gardneriana e num determinado momento alguém soltou um post dizendo que bruxaria deveria ser uma democracia, não uma hierarquia.

Eu já naquela época evidenciei que bruxaria em Coven é feita por hierarquia por se tratar de um trabalho de investidura hierárquica, ou seja, é um mestre quem inicia o aspirante, não o inverso, e nisso reside a hierarquia natural. Essa hierarquia não é uma imposição, é natural e todos os membros sabem disso. Ouvir faz bem, compartilhar bilateralmente as vivências faz a troca de riquezas aumentarem e não perde o caráter educador-educando.


É bem verdade que existem Covens que pregam moral e ética em suas disciplinas. Em 'sala de aula', alunos compartilham experiências com professores e os professores não deixam de ser professores só por estar recebendo um compartilhamento de um aluno. E aqui se faz presente o elemento que dá a liga, a coruja. 

Coruja é uma palavra de origem grega ‘Lekythos’, significando ‘azeiteira’, de azeite. Os gregos admitiam que essa ave se alimentava do azeite das lâmpadas dos templos sagrados. Daí a razão do nome que lhe é atribuído em grego. É uma ave de rapina. Hoje em dia é muito comum em meios tradicionais da arte bruxa ouvir dizer que “fulano” é um companheiro da coruja, pois significa que “fulano” é um bruxo ou bruxa que come pão conosco embebido de azeite, ambos consagrados em sacrifício, ou seja, a verdadeira hóstia que acompanha o vinho sabático.

Mas por que algumas bestas viraram inimigas dos companheiros das corujas de repente?

Essa história e o seu bestiário tem origem na palavra rival. Toda bruxa é uma rival, desde que vive na margem da sociedade, na margem das ideias que vivem em transmutação contínua, na ponta entre uma borda e outra, na margem dos moldes de aprendizado, nas margens do entre mundos, na margem de toda e qualquer regra, etc.

Rival é palavra de origem latina, rivus, que significa rio – rivale: habitante das margens de um rio.


Tal palavra com o tempo, sofreu grande modificação (como tudo na vida) de sentido, porque geralmente, confirma a história, os habitantes de uma margem do rio são adversários dos da outra margem. Com esse acontecimento tornou-se quase normal um rival ter quase sempre um adversário, tal palavra passou então a ter significado de ‘inimigo’, e assim o diabo, confundido com Satã, o adversário veio a tornar o inimigo das ovelhas, cabras e bodes de Deus, justamente pela margem, entre uma e outra, por divergências de apreciações teológicas. Eu preciso lembrar aqui, que ter razão é alusivo de impor-se por pesquisa, não por certeza, uma vez que razão vem do latim “RATIO” que significa “SUGESTÃO”, não é uma certeza. Por tanto, toda pesquisa é bem vinda como sugesta e sujeita a novas pesquisas. Devo lembrar também que um dos trabalhos de Coven é a transformação interna, oriunda do aprendizado que ensina não ter inimigos além de si mesmo.

Voltando ao pão, o prefixo “CUM”, (o mesmo do cum-pane), indica circunstância de companhia, e esse prefixo formou a palavra “CUMBA”, que na linguagem luso-africana veio significar “culto” ou pra ser mais exato, companheiros de fé.

Também o mesmo prefixo formou a palavra cúmplice e até hoje as Kumpanias Rrhomáh (companhias ciganas) celebram comendo o pão conosco com azeite e vinho durante suas reuniões sagradas ou assembleias feiticeiras para “Ad Patres” ou seja, para os maiores (os antepassados). Esse costume não é diferente em nenhum lugar do mundo quando o tema é feitiçaria, inclusive pelo registro linguístico de um prefixo suplantar outro, no caso do prefixo “MA” + “CUMBA”, que veio significar culto aos mortos.


É engraçado quando a figura de linguagem nos confunde. A frase interrogativa: “Coração, para onde vou?” em latim é “Cor, quo vado?”, mas se você ler rápido ou pronunciar muito rápido terá outro sentido. Assim é o estado de espírito de quem lê e não interpreta o que escreveu, gerando muita confusão. Não foi a toa que o Papa Gregorio VII proferiu tais palavras: “Delexi justitiam, et odivi iniquitatem, propterea morior in exílio”, que significa “amei a justiça e odiei a iniquidade, por isso, morro no exílio”. Quer mais Ethos que isso?

Então os antigos livreiros franceses criaram a expressão valendo-se do latim “Vade Mecum”. Isso significa “Vem Comigo”, e os antigos deram esse título a certos livros de conteúdo prático, leis e outras informações ou fórmulas. Hoje é empregado o nome para livros portáteis de conhecimentos úteis, mas pode muito bem ter sido a origem dos livros que as bruxas guardavam suas fórmulas e o regulamento do Covine. O “Vem Comigo” deu origem também à uma tradição ainda hoje professada na França onde há uma procissão para a Santa Sara, conduzida pelos Cavaleiros de São Jorge com saída a partir da gruta da Santa.

Nos dois primeiros anos da faculdade de direito eu pude anotar tudo nas aulas de Vernáculo Escorreito, nas aulas de Arqueologia e Psicologia Forense, e não dá pra esquecer dos princípios “Mutatis Mutandis” que toda Arte e história tem.
No fim, tudo é uma questão de “paralaxe”. Cada um olha por um prisma e para um prisma da mesma e UNA verdade, a que lhe cabe segundo seu interesse!

Quero fazer um outro parênteses para chamar atenção de dois nomes, sendo um o nome de origem hebraica, Abel. Abel significa A Vaidade; E Cassandra que significa A reformadora de homens, por tanto, toda bruxa é uma Cassandra.

A bruxa pensa de si: “já que sou uma obra inacabada, por que eu desistiria de mim ou me colocaria como a melhor de mim hoje, nessa etapa, se sabe que o amanhã será melhor ainda, desde que, se nem mesmo no pós morte somos capazes de parar o processo de evolução, lapidação e progresso essencial, qual seria o objetivo de se colocar como o the Best hoje, senão por sede de projeção social e concorrência política?”

É com esse aforismo que nomeio esse artigo de hoje. Somos capazes de grandes mudanças, mas até que ponto estamos preparados para lidar com os resultados de nossas obras primas?

Bruxa que disputa o poder e concorre para estar certa ou com razão, não passou pelo prezinho onde deveria aprender a disputar e concorrer com seu pior inimigo, ou seja, ela mesma. Transformações bruxas são como Metaplasmos, ou seja, são modificações, alterações que a palavra/corpo/ideia sofre na sua estrutura interna, acrescentando ou alterando as letras de que se compõe, sem modificar-lhe o sentido tradicional. No seriado acima citado observa-se guerras e concorrências sendo estimuladas. Qual é o mérito do trabalho de uma iniciada? Ao invés de avivar os méritos pelo esforço da tarefa de casa, esse seriado faz empáfia para ecléticos hollywoodianos.


Não se pode confundir com afixos, sob o risco de fazer a interpretação de uma maneira longínqua e afastada do seu real significado. O que eu quero dizer com isso? Simples: Não se deve exigir “mudança” de ninguém, não se deve impor prazo para isso, desde que uma sábia velha tem toda paciência do mundo para sorrir ainda velha como se estivesse dando seu primeiro sorriso. Robin Artisson já dizia:
“A marca do Fogo muda a pessoa, e a pessoa muda a marca – cada pessoa que entra em uma tradição partilha de seus mistérios e muda a expressão daquele mistério, misturando os seus próprios insights pessoais, ideias, pensamentos, sonhos, e outras qualidades fatalmente individuais.” Isso é enaltecido dentro de um Coven, não aquilo que a telinha mostra.

O mesmo se dá com tradições africanas de feitiçaria. Onifá William de Jagun disse uma vez: “O dia em que nós começarmos a nos apontar como responsáveis pelas coisas que acontecem em nossas vidas, teremos mais sabedoria e esperteza. Ìfa nos ensina a ter firmeza. Ele diz para não deixarmos de cuidar da lepra para cuidarmos da espinha. Temos que dar valor às coisas. É preciso ter ANIYAN RERE = Boa intenção (anion reré)”, pois não existe sucesso sem bom caráter. Não existe bom caráter sem reconhecimento bilateral, não existe boa conduta sem força de vontade. A mudança deve ser interna, dentro da alma, no coração.


Quando isso ocorre, vemos o mundo agigantar-se diante de nós e percebemos que somos parte deste universo maravilhoso. Um dos oráculos mais antigos nos ensina que o nosso caráter determinará o que seremos. Assim é em Ifá e assim é com o I-Ching. E numa analise bastante simplista, caráter resume-se à: firmeza e vontade, como expressa no livro das Mutações. A firmeza de vontade aqui afirmada como caráter, é a mesma vontade poderosa pregada por E. Levi e outros ocultistas antigos, que, aqui entre nós, eles foram os caras! Tolo é aquele que julga pelas aparências e não vê o conteúdo interno como um todo. Tolo é aquele que pune os outros por vestir-se de sua verdade como se cama de Procusto fosse, afinal esse foi o fim da Golden Down narrada no livro que conta sua história completa, e não está distante de ser o final desse seriado americano.


Coven vem da palavra Convenção/Pacto. Coven contêm regulamento que versa sobre tudo que se compreende para um trabalho de Coven, e esse regulamento é simples e prático, além de pequeno. Um Coven têm 3 juramentos tradicionais, sendo um para admissão no Coven, um para a tutela disciplinar e um para a iniciação. Um Coven é fundado sob a coroa do regulamento. Uma Irmandade tem regimento e uma Ordem Mágica têm estatuto, tudo muito diferente até mesmo no propósito. Há Covens que trabalham sob o modelo do Xadrez e há Covens que trabalham sob o modelo do Chaturanga que é mais tradicional (veio antes do Xadrez). Um Coven é para uma determinada família mágica via elo iniciático ou não, um Coven é uma família que se admite pai, mãe, irmãos, irmãs, tios(tias), sobrinhos(as) e todo o parentesco, além de amigos cujo elo transcende a carne. Uma irmandade é para irmãos e Ordens Mágicas são para magos que não se reconhecem bruxos, apesar de alguns bruxos afirmarem que tais magos são bruxos também. Os coviners quase geralmente não moram na mesma casa, bairro ou cidade, mas se reúnem em certas datas para trabalhos mágicos, os quais encontram escopo na vontade do Coven e quem puxa a “carroça” é o líder. O mistério do Coven está para o sangue, assim como o rebento está para o útero, e é essa a razão do voto da Alta Sacerdotisa ou Dama ter peso 2 enquanto todos os demais tem peso 1. Ela é o poder e a força que está por detrás do Líder, ela quase nunca aparece na mídia geral ou ao público e todos sabem de sua existência. 


O funcionamento de um Coven quase sempre está para o mesmo funcionamento de uma Corte medieval e todos veem a hierarquia naturalmente, não há necessidade de alguém hierarquicamente natural reivindicar ser um ser hierárquico. O trabalho de Coven está desconectado de um trabalho de círculo de devotos, porque trata-se de um trabalho da Arte sem nome. Covens não são grupos focados no cultivo de pontos de poder e sim na manutenção e alimentação da egrégora de uma dada tradição como expressão da Arte Bruxa e todos os Covens nascem com bons propósitos e seus membros se intitulam boas pessoas. A diferença entre um Castelo e um Coven, é que no castelo o rei, a rainha e a corte inteira estão para a punição, assim como a saturnália faz as trocas dos papeis todos os invernos, e um Coven não está sujeito à vontade ímpar e sim a vontade par, desde que os lideres de Covens são bem humanos e não compactuam com nenhum dos ‘modus operandis’ que aspira governo como dado em política. Toda monarquia ou democracia são formas de política e é notório que bruxaria + política não combinam durante um vasto tempo, justamente porque a bruxaria tem capacidade de dominar a política e esta fase é um passo para um reinado ditador, desde que os dominantes tenderão a querer provar pro resto do mundo que sua verdade é melhor que a dos demais. Bruxos não são evangélicos, e não querem dominar seu mundo. Quando a evolução de uma bruxa chega no montante que esbarra na política, em sua mais extensa forma, entendimento e expressão do que isso significa, a bruxa se recolhe para não tomar parte em nenhum dos palcos políticos. Mas claro, sempre há aquelas que defendem sua bandeira, como no caso das bruxas envolvidas com movimentos feministas. Isso não é errado, só não é indicado, dado o propósito da evolução espiritual que se trata um Coven.


O propósito de um Coven nasce com o regulamento e morre com ele, tem limite, tem início, meio e finalidade de existência, e esse limite é a circunferência ou círculo, ou ainda a pele que não ultrapassa os limites de seu corpo. O propósito de um Coven é fazer assembleias para assuntos internos relacionados a Arte Bruxa, onde dominar águem é um assunto que está fora desse propósito a menos que esse alguém seja si mesmo, uma vez que o livre arbítrio é respeitado e todos tem vida própria fora da reunião/assembleia. Um cargo dentro de um Coven existe para prestar contas ao Coven, pois todo cargo de Coven são cargos de ofício, ou seja, de trabalho, onde o único pagamento que se recebe pelo trabalho é a satisfação do Espírito em forma de colheita e o mantenimento da tradição que diz: "uma bruxa não pode morrer antes de passar o seu dom". Se há uma punição, ela vem em forma de má colheita individual oriundo da própria plantação, não mais que isso, uma vez que aonde se aprender a se libertar, não há espaço para punições. 
Punições feitas pela vontade do homem não se difere de um crime/delito ou sabotagem, inclusive o do julgamento, e por falar em julgamentos, até mesmo um juiz de direito que estudou muito tempo ainda pode errar em seus julgamentos. Essa é a razão pela qual uma das premissas dentro de um Coven é: Não julgue! Até porque, para quem julga lhe cabe dar uma sentença, e ai mora o erro, desde que todo julgamento mora no ego. 


Em cada humano já existe muitos erros naturais, isso aliás, é a razão pela qual se busca várias transformações das várias deformações/erros naturais e humanas que habita em cada um, não necessitamos causar mais erros, principalmente erros de julgamento sem sermos juízes visto que isso é a maior arrogância, desde que arrogância é chamar pra si aquilo que não lhe pertence e certamente um bruxo que não é juiz não deveria julgar. Se não pode julgar, não há sentença, não há injustiças e não há inimizades, não há guerras ou disparidades, nem concorrências nem algum tipo de vício (contrário de virtude). Fazer amizade consigo mesmo (seu pior inimigo) deve ser a primeira lição e com ela vem a lição maior de harmonizar toda “ordem” para que se torne Caos, já que um não existe sem o outro. Caminhar no Caos é para quem está consciente e desperto, é o caminho do iniciado e o iniciado cuida de seu próprio destino, sem precisar de um pontífice para fazer a ponte entre ele e os Mundos. Eis o sacro-ofício de uma bruxa. E por falarmos em sacrifício, temos o exemplo do milho, cereal totalmente ligado à colheitas de sacrifício.

Assim como o milho de pipoca que não passa pelo fogo continua sendo milho sem se transformar, aquele que nunca planta continua sem colheita. O fogo é o elemento do Espírito. Todos que tocam o Espírito se transformam lentamente e sem pressa, bem como o Oráculo diz: “Há várias doutrinas que são próprias de cultos também próprios de Deuses ou Orixás e cada qual deve permanecer onde estão, sem rumar um para o outro, pois o Oráculo conhece o destino de cada ser vivo” – BHS.


As pessoas tem mania de se apropriarem da doutrina, da moral e da disciplina de um determinado culto, e transportá-la para a bruxaria. A bruxaria é tão ampla que nela cabe até isso. As vezes na cabeça da pessoa essas informações estão lá e se confundem. Mas não é digno “furtar” o conhecimento de um culto específico e impô-lo em bruxaria e ainda fazer todo mundo engolir goela adentro, como se bruxaria fosse. Sincretismo é uma coisa, comparação é uma coisa, citação é uma coisa, mas não se deve jamais pegar regras de outros cultos e impor essas regras para se passar por status de quem sabe mais. Cada um no seu quadrado! Afinal, é pra isso que existem cultos antigos e originais, isso é tradicional. Infelizmente ainda há muita gente que usa somente à si mesmo como referência, não vivenciou a jornada em muitos Covens e não sabe o que realmente é um Coven de verdade, mas nós silenciamos frente a isso, para não incorrer no erro de julgamento, e dessa maneira deixamos isso para os olhos do júri que assiste, já que a cabeça e o comportamento vieram junto para a Terra, podemos assistir a cabeça e o comportamento alheio, mas ao invés de julgá-las, cuidamos na nossa. 

Não raro todo mundo se confunde ao falar de bruxaria, e as vezes ela, a bruxaria, é tudo isso que se fala por ai, mas também é muito comum ouvir: “ah, no hoodoo é assim e na bruxaria é assado!”. 


Bem, se tal arte tem um nome específico, tem uma arte específica, tem um ofício específico, tem uma origem específica, doutrina, tradição, disciplina, moral, ética, etc...então deve ser chamada pelo seu nome próprio. Parece estranho ouvirmos “a bruxaria do vodu, a bruxaria da macumba, a bruxaria do I-Ching, a bruxaria de Ifá, a bruxaria do culto afro, a bruxaria da cabalah”, a bruxaria do xamanismo, etc, mas isso acontece porque essas religiões que contem feitiçaria, ou sistemas religiosos e/ou mágicos que contem feitiçaria são bastante parecidas e causam confusão, contudo, para se distinguir basta lembrar que: 

Bruxaria não contém um código moral rígido, e pra falar bem francamente creio que aquelas bruxas bem velhas que viviam no mato e nem tinham dente na boca e não sabiam ler, mas ao mesmo tempo tinham o poder de mover as nuvens do céu, podiam trazer um morto a vida e matavam sem escrúpulos quem se colocasse no seu caminho, nem sabiam exatamente o que era um código disciplinar de moralidade, se você parar pra pensar não é a toa que as bruxas são conhecidas pelos seus veneficiuns viperinos. Isso também é visto no mito que narra o desacordo entre o culto dos Egungun e o das Iyamis. Querer colocar “ordem” onde não pode haver “ordem” é o mesmo que misturar água e óleo, e o pior é achar que ninguém vai notar.



Por fim, Coven é uma convenção dos que tem o mesmo sangue espiritual e que se reúnem em assembleias para saltos mágicos. Só os de dentro de um Coven tradicional podem ver realmente o conteúdo interno, pois isso realmente é um dos diversos trabalhos que se faz dentro de um Coven, uma vez alinhados com premissas perenes assim como o inverno muda para primavera com aceitação e sem deixar de ser inverno, pois ele percebe que ele é só uma função em uma estação, a qual sabe que é hora de deixar a primavera reinar, sem aquelas disputas esdrúxulas que mostra o seriado das capelas das vaidades que o AHS batizou com nome de Coven. 

Por Sett Ben Qayin

sábado, 21 de dezembro de 2013

COSMOGONIA LUPINA - Primeira Parte




No início havia só o Vazio, e ele criou Nada. 

Extenuado de seu estado, Nada resolveu criar a Manifestação. 

Nada mais tarde se uniu com Manifestação e dessa união nasceu Universo, Caos, Cosmo e Tudo. Em seguida nasceram os Elementos, as irmãs Galáxias, o Sol, a Terra, a Lua e os demais Planetas. Depois nasceu o Dia, a Noite e os Mundos. 

Tudo era desorganizado, solto, arredio e sem dono, sem controle e sem comando, possuía uma bolsa entre as pernas onde guardava as Raças e as sementes de Ódio. Tudo se sentia muito solitário e vivia acolhido pelo irmão Cosmo que carregava uma bolsa que continha os signos da felicidade. Às vezes os Mundos se comunicavam entre si e surgiam as riquezas e algumas formas descendentes. A bela Ordem viajava muito procurando Nada. Tinha uma missão de checar uma antiga profecia que lhe deram em seu Mundo distante. Um belo dia a Ordem encontrou Caos e ambos se estranharam logo de início, mas Caos levou a Ordem até Nada e Manifestação apresentou-a para Tudo que, automaticamente se enamorou por ela. Aos poucos Ordem foi ganhando status naquele reino de Nada, e Tudo se aproximava cada vez mais da Ordem, até que um dia ambos se uniram e dessa união nasceu Vida e Poder. O Poder cresceu e se tornou uma espécie de Guardião da Manifestação, por Nada, afinal Poder amava Nada, seu avô querido, mas estuprou Vida e desse ato nasceu Morte, Plano e Mapa entre outros menores. Aos poucos Morte foi crescendo e dando trabalho para Vida, então Vida se reuniu com a Morte para trabalharem juntas.

Caos, com inveja da Ordem e de Tudo, tentou seduzir a Ordem até que ela cedesse e ele investia com muito encanto, mas Nada esperava Tudo retornar quando Dia estava pra dormir e por isso vigiava a Ordem.

Certa vez, o Dia estava para dormir e Tudo estava desaparecido, então Nada saiu do lugar até que Tudo voltasse. Caos, escondidamente foi ao encontro da Ordem perguntar se Tudo estava com ela e encontrou a Ordem em pé, nua, na beira do arroio que levava a Nada. Caos ao ver a Ordem estabelecida daquele jeito, se entregou em volúpias à ela, e apareceu Amor, que olhou pros dois e disse: Cuidem-se! Em seguida Amor foi permear Tudo, pois ele era o único que sabia onde Tudo estava e quando o encontrou lhe deu suas sementes. Quando Caos retornou com a Ordem viu que Tudo estava perdido, e a Manifestação chorava por Nada e por Tudo ao mesmo tempo. Suas lágrimas se tornaram as águas que a Terra se banhava, afinal, Terra era arteira e vivia se sujando. No momento seguinte, Dia já estava acordando e tinha que preparar os jogos Mundiais e pediu para Mercúrio chamar os vizinhos de Universo, foi quando Tudo apareceu e estava bem disposto. Durante as disputas dos jogos, Sol e Caos se gradearam, Sol foi lançado muito além por Caos, embora longe, foi parar diretamente no umbigo do Universo e este gargalhava de emoção. Os planetas se compadeceram do Sol e foram socorrê-lo, pois Sol estava explodindo de tão zangado.

O primeiro a chegar foi Mercúrio que veio para perto do Sol para consolá-lo. Não conseguindo fazer Sol parar de explodir, Mercúrio chamou Vênus e esta chamou Terra para ajudá-la. Saturno, vendo a reunião Solar se formando enviou Marte, Júpiter e Netuno dizendo que ia devagarzinho logo atrás. Sol dizia aos demais que queria se reunir com as demais estrelas, mas Manifestação não deixava porque se Poder visse as Estrelas juntas, iria cair em desgraça e se corromper por causa da grande luminosidade. Os Planetas deram as mãos e formaram um círculo em volta do Sol para conter sua explosão, pois se explodisse iria partir Universo ao meio, já que estava no umbigo dele. Enquanto Nada adiantava o trabalho dos Planetas, Tudo pediu que eles se mantivessem assim até conseguirem acalmá-lo e foi se unir novamente com Ordem.

Quando os jogos terminaram, Caos foi dormir e Tudo já estava dormindo também, inclusive a Manifestação. Mas Nada estava ansioso e deu alguns passos para se distrair quando encontrou Vida e Morte se acariciando e Nada amou a Morte, antes de amar a Vida. Morte era estéril e não podia procriar, então Nada impediu que ela sofresse e lhe deu Paz em excesso. Morte por ter Paz em excesso era a única que poderia acalmar o Sol, mas este se recusava. Morte foi estudar junto com Plano e Mapa e tomou conta de toda região junto com seus irmãos. Vida gerou Espírito e Nada era seu pai. Espírito amou a Morte, mas como esta não podia gerar um filho para Espírito, Vida se sacrificou e doou seu dom à Morte. Espírito e Morte se uniram com o dom da Vida e dessa união nasceu Egos. Após isso, Vida ficou muito doente e foi morar com Terra, que cuidou de Vida com muito carinho, até que Hoje apareceu depois de Ontem e curou Vida, deixando um rastro de passado doente e um futuro curado quando de repente chega o Amanhã que era mudo. O único que conseguia se comunicar com o Amanhã era o Hoje que através das lembranças do Ontem, tentava reconhecer os padrões que o Amanhã repetia quando gesticulava.

Tudo estava sob Ordem, mas eles não tinham notado que estavam deitados nas costas de Cosmos. A Ordem estava frenética e Cosmos se virou excitado e aproveitou-se para deleitar com Tudo debaixo dos olhos da Ordem. Tudo e Cosmos ejacularam juntos, com Ordem em pé e acesa, mas esta ao perceber os feitos que Tudo fizera com Cosmos, se levantou e correu carregando consigo as Raças que Tudo guardava em sua bolsa, mas ao se levantar derramou os meteoros de Cosmos. Universo mais tarde chamou este ato de orgasmo cósmico, porque Tudo havia arrebentado sem querer a bolsa que estava em suas pernas e deixou escapar as sementes do Amor e do Ódio que caiu aos pés de Cosmos. Cosmos, quando viu Ordem indo embora, se levantou e deixou cair em seus pés os doze signos da felicidade que ele chamava de Zodíaco. Estavam juntos, Amor, Ódio e Zodíaco formando uma grande nódoa branca nos pés de Cosmos conhecida como Via Láctea.

Universo era calmo e tranquilo e gostava de admirar as histórias que aconteciam quando Tudo estava com Ordem.

Egos era hermafrodita e indeciso, estava sempre em conflito, até que um dia Universo se compadeceu e partiu ele ao meio. Egos se dividiu em dois, tornando-se o Ego individual que, logo ao nascer foi trabalhar com seu pai, o Espírito. A outra parte se tornou o Ego personalizado e quando se viu inchado odiou seus pais.

Ego personalizado culpou sua mãe, a Morte, pelo seu inchaço e foi morar com Julgamento que já criava Punição desde a concepção.

Certa vez, Poder sequestrou Plano da Vida e pediu para as irmãs Hierarquia e Autoridade enviarem o resgate. Nada pediu a Manifestação para convencer a Ordem a não usar seus conhecimentos, mas foi inútil, pois, Ordem havia se reunido com Hierarquia e Autoridade e essa triplicidade ajuizada convocou Tudo para unir-se na tarefa de criar Busca. Mas algo saiu errado e daquelas regras nasceram Busca e Soberba. Ordem enviou Busca e Soberba para trazer o Plano da Vida novamente, mas enquanto Poder seduzia Soberba, Busca encontrou Plano e retornaram em segurança.

Poder e Soberba se abusaram um do outro e desse ato libidinoso descenderam Pótis, Despotés, Potestade, Potentado, Posse, Possível, Impossível, Potência, Impotência, Possante, Onipotência, Prepotência,  Potencial e Plenipotenciário.
Autoridade prendeu Soberba no cinto do Ego personalizado, e Hierarquia afixou Poder na fivela das botas da Ordem. No afã de conseguir se livrar da Soberba, Ego personalizado procurou fazer um feitiço usando as Raças que estavam na bolsa de Tudo e para isso precisava que Terra raspasse sua fertilidade nas Raças. Quando Ego personalizado conseguiu o que queria da Terra, as Raças ficaram presas na Terra e Ego personalizado jogou Terra em seus próprios olhos para conseguir ver Fortuna, porém, quem apareceu foi Maia – a ilusão concreta. Ele perguntou para Maia o que deveria fazer para se livrar da Soberba, e Maia respondeu que para se livrar de Soberba, ele deveria se unir à ela e gerar a Matéria chamada Húmus. Depois do terceiro sono do Dia, Ego personalizado pediu para a Lua soprar um pouco de brilho nele a fim de que isso o tornasse sedutor aos olhos de Soberba e deu certo.

Morte veio trazer paz para Soberba e juntas abençoaram a essência de Húmus. Vendo essa situação se instalar, Ego individual persuadiu Húmus a engolir seu pai, o Ego personalizado. Ego individual trabalhava pro Espírito que era seu pai, e ele pensava como seu pai, dessa forma ele resolvia a supremacia do Espírito sobre a Matéria. A fome de Húmus aumentava constantemente e a Noite o favorecia.

Certa vez, Tudo estava dormindo ao lado do Dia. Húmus se aproveitou da Noite para devorar as Raças que estavam sob os cuidados de Terra, mas, logo que Húmus matou sua a fome, Terra abriu sua barriga e engoliu Húmus. Ego personalizado, as Raças e Húmus foram para dentro da Terra, e esta ficou quente. A Lua, vendo que Terra estava febril resolveu dar nove voltas em torno da Terra, então Vida a abraçou e a colocou entre Vênus e Marte, e pediu para o Espírito ficar por perto. Terra recebeu os cuidados de da Morte e sua temperatura foi baixando até ficar fria, e Sol aqueceu o Dia e pediu para ele ficar ao lado de Terra dando-lhe um copo de seus raios solares sempre que Dia acordasse. Ao tomar a luz do Sol a Terra foi se transformando. De seu suor brotaram várias espécies e a Manifestação se emocionou novamente para banhar a Terra, que estava 'sujinha'. Ego individual se uniu à Lua e ambos geraram Lupa. Mais tarde a Lua segurou Lupa com uma das mãos e olhou bem dentro da Terra, enquanto Lua tocava nas águas, Lupa cavou e cavou até entrar nas intimidades da Terra e lá viu Microcosmo que a levou até as profundezas.

Marte e Vênus formavam um lindo casal, mas como Terra ficava o tempo todo entre os dois, foram pedir ao Amor que abençoasse sua união e Amor lhes deu Lupercus. O casal aproveitou e adotou Terra como se filha fosse. Logo que nasceu, Lupercus se tornou grande e foi enviado para trazer Lupa das profundezas da Terra, mas para isso ele precisava concluir 12 tarefas que iriam lhe dar as bênçãos e as virtudes das Estrelas. Ao chegar lá ele encontrou Lupa no útero da Terra e lá se amaram fazendo Terra gerar os Lupinos. Lupa, pós-gênese, procurou uma gruta e de lá cuidou de Lupercus. Lupa colocou um altar nas costas de Lupercus e rezou para Morte trazer paz. Quando a Morte chegou, viu a situação e pediu para Manifestação ajudar. Manifestação colocou Lupercus no alto do céu e ele se transformou na constelação do Lobo com o altar em suas costas, consentindo sua raça aos cuidados da mãe. Valéria Luperca, uma das perfilhas de Lupercus, foi criada por Lupa. Valéria foi instruída a não contar para ninguém sobre seu pai e ela fez mistério sobre isso. Tudo veio visitar a Terra e o corpo dela foi ficando cada vez mais fértil. Ego personalizado trabalhava agora com a Matéria Húmus para gerar os Humanos dentro da própria Terra. O primeiro deles foi Adam, nasceu sujo de barro e se apegou ao pai Ego personalizado logo de cara. A Matéria Húmus, também conhecida como mãe do corpo, contava as histórias de seus ancestrais para Adam, mas quase sempre ele ficava envaidecido e isso a preocupava.

As Raças foram recuperadas pelo Espírito, e este, tinha supremacia e permanecia junto de suas inspirações mais elevadas chamadas Línguas Musas. Espírito ensinou às Raças que quando acordassem era para olhar primeiro para Ele. Mas as Raças quando acordaram, olharam primeiro para o Ego personalizado que estava pronto para defraudá-las. Ego personalizado conseguiu roubar atenção das filhas e filhos das Raças. A raça das ovelhas não tinha força, não era uma raça mágica e não podia falar por si, era uma raça obediente aos encantos de Maia. As raças dos lobos, dragões, bodes, águias, e corujas, eram raças mágicas as quais tinham grandes dons espirituais e passaram o resto das suas experiências com Ego personalizado, convivendo bem com todas as raças. Usavam seus dons na investigação da supremacia do Espírito com o propósito de manterem a consciência luminosa de suas essências e não caírem em maia como a raça das ovelhas.

Com auxílio das Línguas, as Raças mágicas invocavam o Espírito, então ele vinha rapidamente nas asas da Morte, congregava com todos e retornava ao seu lugar. Isso fortalecia as Raças e suas esperanças em retornar novamente para fonte de todas as coisas, munidos das experiências humanas às quais eram entregues à Companhia Oculta.

Houve um momento em que os filhos de Poder apareceram para os Homens dizendo que eles eram descendentes da Ordem, então os filhos de Poder tomaram alguns desses Homens, se passando por eles. Lembraram de Soberba, Hierarquia e Autoridade, e começaram um reinado de terror na Terra, esse reinado surge como ferimentos no corpo da terra.

O Espírito começou aparecer para desmascarar esse reinado, mas os Homens que o viam se encontrava com Maia, estavam possuídos pela ilusão sem saberem, pelos filhos do Poder. O Poder se tornou aos poucos algo pelo qual o Homem-Humus iria lutar durante séculos tanto para obtê-lo quando para se livrar dele. A História inteira da Matéria e do Espírito, tornou-se um registro dessa luta e alguns chamou isso de “A luta entre o bem e o mau – a doença da Terra” feito Ethos. Este foi criado pelo Homem-Húmus para se livrar do Poder, mas o estado de permanência da liberdade oriunda do Ethos lhes davam outra forma de Poder, e a luta entre Poderes se tornou esdrúxula e o Ethos perdia o sentido com suas variadas formas de convulsões.

Esses Homens possuídos de Ethos, criaram Valores, Política, Religiões, Dogmas, Conquistas e Controle, e juntos dominavam tanto multidões quanto uma pessoa próxima, isso gerava novas espécies hibridas da raça das ovelhas e elas necessitavam exercer poder de algum tipo em algum momento. Essa nova espécie desdenhava de qualquer outra fé. Havia os que desejavam poder total o tempo todo, conseguindo-se alçar à condição de ditadores, pessoas que se projetavam no mundo para terem sugestão de pronunciar seus textos em voz alta, impondo idéias e condutas, também prescreviam e ditavam e determinavam regras.

Conforme a sua capacidade, alguns tiranizavam países e continentes inteiros na manta da Terra. A raça mágica se restringia em sua comunidade ao seio de sua família em busca do Espírito e tinham de lutar com as várias formas de poder para não se deixarem corromper sua essência. Alguns encontravam o caminho para voltar ao Espírito e faziam passagens mágicas, enquanto outros não conseguiam sair da Terra e cuidavam uns aos outros. Espírito passou a ser invocado de várias formas e orientava as pessoas de acordo com suas próprias crenças. Aos poucos a Terra se dividiu em Oriental e Ocidental. Alguns Homens que não estavam possuídos pelos filhos do Poder ficou na parte Oriental da Terra e de lá narrou para o mundo tudo que eles conheciam e isso se tornou tradicional, outros partiram pro Ocidente mas nem tudo que era tradicional pôde ser instalado por lá, já que  o clima era outro e não dava para se viver igualmente como se viviam no Oriente, a coisa foi adaptada posteriormente.

Criaram valores e a Posse tomou conta de forma geral. Uma nova guerra havia se instalado. O dinheiro nasceu sem que ninguém soubesse dizer quem era o seu pai e sua mãe e os humanos o pegaram, desejaram e usaram de forma abusiva. Alguns tomaram o próprio desejo pelo dinheiro como um princípio errado nas sociedades ocidentais, enquanto outros viam com naturalidade.
Um dos homens se tornou um escritor brilhante e começou a relatar muita coisa que acontecia na Terra. Ele escreveu um livro sobre auri sacra fames “A maldita fome pelo dinheiro”, e alguns homens interpretaram tal frase traduzindo-a com ênfase em amaldiçoar o ouro, enquanto outros olhavam essa ação feita, na verdade, sobre a crítica da fome – a ambição, o desejo pelo ouro, que podiam levar a atos abomináveis entre até mesmo os de espécies iguais. Alguns viam a ambição como algo sadio, mas a ganancia era evitada.

Desde o seu início, Poder deixou muitos descendentes no mundo. Alguns homens bons buscavam a compreensão do Poder, através da análise dos seus descendentes que atuavam na Terra. Descobriram uma palavra, descendente de Línguas, originada do Indo-Europeu “poti”, que era aplicada para o chefe de algum grupo social (família, clã, tribo).

Descobriram que entre os Gregos usavam pótis, para “marido”. E despotés, inicialmente “senhor, chefe da casa”, mas mais tarde foi aplicada aos tiranos orientais e depois aos de todo gênero e lugar.
Para os Latinos era apenas um adjetivo, onde potis significava “poderoso - capaz de”.

Esses homens, eram homens de espírito investigando todo tipo de aprendizado, estudo e arte. Foram chamados de sábios antigos. Eles descortinaram os segredos da descendência do Poder, e viram que seus derivados se tornaram formas filhas de Poder classificados de 1 a 10, sendo eles:

1 - POTESTADE – sendo “o poder daquele que manda”, passou a indicar também uma classe de anjos na hierarquia celeste do mundo do Espírito. 

2 - POTENTADO – se tornou chefe de um Estado não-democrático, em geral foi usado para indicar que se tratava de alguém com grande riqueza. 

3 - POSSE – sendo o ato de possuir, de ter, é um filho latino do potere, “poder”. “Ter a posse” de alguma propriedade, “ser empossado” num cargo, “possuir” sexualmente ou espiritualmente uma pessoa, tudo tem a mesma origem, inclusive a possessão. 

4 - POSSÍVEL/IMPOSSÍVEL – veio para referir-se ao que pode ou não existir ou acontecer, junto com seus filhos possibilidade e impossibilidade. Juntos tratavam do que tinha poder de ocorrer. 

5 - POTÊNCIA – também cruzado com o latino potens, “aquele que pode, potente”. Os homens criaram veículos e Potência criou o motor. Os médicos diziam que a expressão impotentia coeundi, “incapacidade de completar a união, a relação sexual”, somado a coeo, “junto”, era a sombra vulgar da Potência. 

6 - POSSANTE – passou para “vigoroso, aquele que tem potência”, como um sinônimo de poderoso – “o que tem poder”. Muitos humanos se esquecem de que Poder é filho da Ordem e Tudo, não é de ninguém. 

7 - ONIPOTENTE – do cruzamento latino omni-, “todo, completo”, mais potens, “poderoso”, passou a designar uma pessoa que acha que é capaz de realizar a contento qualquer atividade, mesmo que esta dependa de fatores alheios a ela. Quando levado ao extremo torna-se sérios problemas psíquicos.

8 - PREPOTENTE – como praepotens, “muito poderoso”, de prae-, “à frente”, mais potens. Se tornou “aquele que coloca o seu poder adiante, que o faz sobressair”. Para os métodos de comando atuais, ser prepotente é mandar com base no cargo e não no convencimento dos demais. Tem resultados duvidosos em termos de liderança e é próprio dos arrogantes. Um arrogante é aquele que chama pra si, como seu, algo que não lhe pertence. 

9 - POTENCIAL – é basicamente a capacidade de que algo se desenvolva, mas ainda em embrião, em estado latente. Tornou-se uma qualidade daquilo que ainda não chegou a ser exercida. Um potencial é como uma semente, precisa ser desenvolvida para existir com graça, o Potencial se tornou uma virtude dos filhos da Lua. 

10 - PLENIPOTENCIÁRIO – se tornou uma pessoa com todos os poderes para decidir numa missão diplomática ou política. Vem junto do Latino plenus, “cheio” e potens. Logo, ela está “cheia de poder”, tem plenos poderes e plena consciência de como usá-los.

As raças então, partiram para a busca de suas origens, que será narrada na segunda parte.

Sett Ben Qayin



sábado, 9 de novembro de 2013

A Lenda da Maldição dos Lupinos


  



Hoje vou narrar a lenda da maldição dos Lupinos como a família conhece, mas antes quero tecer uns comentários.

O Lupino é um grão do tremoceiro (tremoço), uma planta leguminosa e fértil com flores variadas. Seu nome deriva do árabe Al-Turmus, significando “em água muito quente”; em grego Thermós. A primeira documentação de seu nome foi escrita e registrada como Altarmuz na literatura e as primeiras referências a esta planta surgiram no Egito há cerca de 4.000 anos. Foi introduzida na Itália da mesma forma que a seda, através da Rota da Seda. Os segredos Lupinos apareceram junto com os mistérios do bicho da Seda na Itália. 

Em português é chamado Tremoço, em italiano é chamado Lupino, em castelhano é chamado Entremoço ou Atramoz, uma vez que o norte conservou o romance llobí de lŭpīnus. Na Espanha é conhecido também por Altramuz, Tramúz e Chocho. O tremoço pertence à família Fabaceae e à espécie Lupinus. Nos sites de Portugal essa lenda pode ser encontrada como a maldição do tremoço, porém, narrada de forma incompleta.

O tremoço é utilizado na alimentação humana e na alimentação dos animais, no enriquecimento dos solos, na indústria farmacêutica e na fito remediação e tem grandes propriedades regenerativas, de cura, porém, os ocidentais pensaram que os tremoços eram péssimos para a saúde devido aos resquícios na memória de uma lenda repetidamente ouvida desde os tempos de criança em que teriam sido amaldiçoados pela Nossa Senhora Maria mãe de Jesus.

Família sagrada fugindo dos soldados de Herodes no Egito


A LENDA DA MALDIÇÃO DOS LUPINOS

Há mais de dois mil anos atrás, Maria e José estavam fugindo para o Egito, a fim de esconder seu filho dos soldados de Herodes.
Conta-se que o burrinho começou a perturbar Maria e ela pediu aos Fetos que eles prendessem o burrinho. Mas os Fetos não atenderam ao pedido dela.

O burrinho é um besouro do gênero epicauta, cuja excreção causa bolhas na pele humana devida uma substância causticante conhecida como cantaridina, e o Feto é uma espécie de samambaia, só para que vocês não se percam na narração.

Então Maria pediu às Silvas para cercarem o burrinho e prontamente seu pedido foi atendido. Maria abençoou as Silvas para que dessem frutos saborosos os quais todos os pastores iriam se fartar, enquanto ao contrário os Fetos nasceriam com a cabeça torta. Os Fetos foram amaldiçoados antes dos Lupinos.
A cada ruído que ouviam por menor que fosse como o cair de uma folha ou o rastejar de um pequeno réptil julgavam ouvir os passos dos soldados de Herodes. Procuravam, portanto evitar os caminhos mais transitáveis e atravessavam por sítios e por onde não deixassem pegadas que poderiam denunciar sua passagem.

A certa altura da caminhada embrenharam-se por um campo de tremoços. Como se sabe o tremoceiro quando está seco, e ainda com o tremoço dentro da vagem faz um barulho dos demônios comparável ao de um enorme rugido.

Ao atravessarem o tremoçal, o barulho era de tal ordem que, Maria, com dor e receosa, a quem o medo tornava impaciente, teria dito para José:

— Estas malditas ervas fazem tanto barulho, que, se os soldados passarem por aqui perto, vão ouvir e seremos apanhados.
Depois, dirigindo-se aos tremoços, disse:
— Ó ervinhas, peço-vos que não faças barulho, senão sereis amaldiçoadas e o vosso fruto não matará a fome a ninguém, por mais que comam.
Os Lupinos ouviram Maria chamá-los primeiro de “estas malditas ervas”, e depois chamou-os de “ó ervinhas!”. Os Lupinos não atenderam ao pedido de Maria e ela não entendia o porque seu pedido não foi atendido.

Em certa altura da jornada, ouvia-se o barulho arrastado entre as searas, e eles diminuíram sua marcha. Maria perguntou a si mesma se estava sendo seguida, mas não avistava ninguém.
Caminharam mais um pouco e o ruído se repetiu. Então José olhou ao seu redor e perguntou a Maria: “Alguém que nos persegue se aproxima por entre as colheitas?” - Um silêncio mortal tocou o ar e não houve nenhuma resposta, apenas o estranho ruído dos Lupinos agitados pelos ventos.

Então, Maria se enfureceu e percebendo que os Lupinos não haviam atendido seu pedido, os amaldiçoou dizendo: “eu vos amaldiçoo Lupinos, para que jamais farteis quem quer que se alimente de vós. Se for comido seco, empeçonharás quem os comer, liberará um gosto amargo e não serás apreciado por ninguém. Se for batizado com água e sal, não satisfará a fome de ninguém. Guardará sua riqueza interna junto com seu sabor sobre um invólucro que será tão duro quanto o ferro, suas flores serão lindas e assassinas, por mais que suas raízes sejam férteis e não lhes deixem ser extintos da face da terra. Não gostarás de ser enterrado, pois sempre tornará à superfície, e assim não serás semeado, mas sim jogado à terra e terá de escolher como se agarrará nela! E este será teu fardo daqui pra frente!”

Desde então, afirma o povo antigo que os Lupinos deixaram de matar a fome.

O fato é que esse fruto é muito apreciado como aperitivo nas festas de batizados e casamentos, pois não engorda e ajuda combater muitos males do organismo. A maldição de Maria pegou e ele não saciou o apetite de ninguém até hoje, quanto mais se come, mais se quer comer sem nunca sentir o estômago cheio.

Da família das favas e ervilhas, o Lupino se tornou o fiel companheiro da cerveja fermentada desde tempos longínquos. O tremoço-lupino é um verdadeiro petisco tradicional injustamente votado a alguma indiferença perante o carisma de uns pistácios ou até de uns amendoins.

É que nutricionalmente este modesto bago amarelo está quase ao nível de um bife. Tem três vezes mais proteínas e duas vezes mais fósforo do que o leite de vaca. E mais: é rico em fibras, vitaminas do complexo B, cálcio, potássio, ferro, vitamina E e ómega 3. E ainda mais: o seu reduzido teor em amido converte-o num aliado nada desprezível no controle dos níveis de açúcar no sangue e um ótimo companheiro das dietas. As suas propriedades cicatrizantes estimulam a renovação das células da pele. É um verdadeiro elixir!

Os egípcios deviam sabê-lo, consumiam a semente do tremoceiro há pelo menos três mil anos antes de Cristo. Atualmente a Austrália é o maior produtor mundial.
Além da Itália, são também apreciados em Portugal e em toda a América latina além de alguns países da bacia do Mediterrâneo, mas hoje em dia há produção dos Lupinos no mundo todo.

Campo de Lupinus - também chamado de Tremoçal


ALGUNS MISTÉRIOS DA ARTE DOS LUPINOS

A maioria das pessoas não sabem que os tremoços que comemos, foram primeiramente cozidos e depois cobertos de água mudada com frequência por diversos dias até perderem o seu amargo original, e só então é que se adiciona água e o sal.

Se não houver este procedimento, são completamente intragáveis e altamente tóxicos.
Esse amargor é devido à presença de vários alcaloides como a anagirina (usada como cardiotónica e teratogênica), a esparteína (usado como ocitócico e antiarrítmico) a lupanina, (influenciando os centros respiratórios e vasomotores), a luteona e a wighteona.
A intoxicação identifica-se por náuseas, vômitos, tonturas, dores abdominais, mucosas secas, hipotensão, retenção urinária e taquicardia.
Esta toxicidade desaparece após a fervura e o demolhar por vários dias, torna o tremoço doce e um alimento de eleição beneficiando as pessoas e animais que se alimentam dele.

O tremoço também é um excelente adubo verde quando enterrado porque tem a faculdade de fixar o nitrogênio do ar, apesar de voltar para a superfície, absolutamente necessário para o crescimento de novas plantas o que o torna também responsável pelo aparecimento de novos ecossistemas. As suas raízes conseguem descompactar e reduzir a erosão dos solos, ajudando à infiltração de água. Ótimo para melhorar a estrutura física dos solos. É resistente às geadas e gosta de invernos úmidos e verões secos, e para descobrir mais sobre os mistérios da fertilidade é necessário conhecê-los por dentro e por fora e claro, ser um amante da culinária do bago do lobo.


Sett Ben Qayin