segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Geomancia, Ifá e a origem das Bruxas

 



Bom dia pessoal hoje venho explicar e ensinar os significados das coisas, vamos explanar o por que as Iyamis ficaram tão temidas e discriminadas aqui no Brasil entre o povo de santo. Vamos ensinar um dos mistérios mais tradicionais que existe sobre bruxaria legítima e antiga, a qual se difundiu pelo mundo a fora.

Por isso peço Agô a todos com antecipação, pois vou revelar segredos explicados de fundamentos tradicionais que vocês não vão achar em apostilas nem em livros, desejo  Asé a todos porque meus sentimentos são de gratidão pela existência e, proclamo meu motumbá a todos porque respeito cabe em todos os lugares, pessoas e direções.

Você sabe o por que as bruxas são temidas, descriminadas e relegadas ao mal? A origem disso é o próprio povo do candomblé.

O culto tradicional africano se chama Esin Orisa Ibile, Isese Lagba, é o nome do culto que aqui no Brasil virou candomblé (arte de rezar) devido a diáspora.

No culto tradicional Esin Orisa Ibile, Isese Lagba fazemos a seguinte saudação:

Agboruboye Agbosise Agbòató!

Esses nomes também são usados para responder uma benção pedida.

Eu tenho visto muita gente de candomblé dizer que vai se purificar com pó, com osso, com incensos etc.. isso me causa uma certa estranheza, porque a raiz etimológica da palavra purificar remonta a raiz etimológica da palavra água.

Assim como as palavras batismo (molhar/banho), renascimento (depois de se banhar), ressurreição (ressurgir limpo), são todas palavras que tiveram origem nos remotos ritos de purificação dos povos antigos de todos os lugares do mundo.

Não se purifica nada sem a água e nenhum outro elemento tem poder de purificação.

As águas de Osùn são as águas (Amnióticas) do útero, que prepara a vida material para nascer e renascer. É o banho primordial antes da vida.

Então é errado dizer "vou purificar pelo fogo, pelo ar ou pela terra", porque isso denota o desconhecimento da matriz e da função de purificar de fato.

Os ritos de Acqua Februa (banhos de água quente) dos Etruscos foram aprendidos com os egípcios africanos do mundo antigo e estão ligados equinocialmente ao meio do verão, mais tradicionalmente ao mês de fevereiro. Os etruscos foram chamados de povos do Mar que invadiram o Egito, eles eram hábeis navegantes e os papiros mágicos estão cheios de segredos deles.

Todos os símbolos dos elementos tiveram origem na Geomancia, onde o elemento água é representado pelo símbolo triângulo com a ponta para baixo. Esse é o esquema formador dos símbolos dos Odú e são Méji (duplos) porque fazem referência ao seu duplo etérico (seu eu que está lá em cima).

A própria palavra "origem" é formada de Ori (consciência) + gem (genis/raiz).

Orisà significa fragmentos de consciência e eles são forças da natureza porque são divisões da grande sabedoria Criadora, a Serpente Mãe que chamamos Olodumare.

Sempre que tiverem necessidade de purificar algo, lave, dê um banho com ervas ligadas ao intento a ser alcançado.

A Geomancia nasceu na Arábia Saudita de acordo com Fatumbe e, na era de Salomão com a rainha de Sabá foi divulgado de acordo com os dados históricos. É um Oráculo da Terra-Mãe de uma era matriarcal, que posteriormente foi retomado pelos homens árabes, assim como Urim e Tumim é o nome dado a um processo de adivinhação utilizado pelos antigos israelitas para descobrir a vontade divina sobre determinado evento. É uma expressão proveniente do hebraico e significa “luzes” e “perfeições” e soa como sim ou não. Segundo a visão judaica, Urim e Tumim remontam ao Sumo Sacerdote de Israel da antiguidade. Esse oráculo também é derivado da geomancia.

Em sua origem geomantica o símbolo da água é um triângulo com a ponta para cima. Quando esse conhecimento chegou na África subsaariana, os africanos aperfeiçoaram o sistema mudando o símbolo do ar e da água, aonde um era com a ponta para cima mudou para ponta para baixo. Então na Geomancia o ar é o elemento com a ponta para baixo e água é com a ponta para cima.

No sistema de Ifá ficou ao contrário. A água passou ser representada com a ponta para baixo.

Os elementos fogo e terra se mantiveram iguais.

Os Gregos em contato com Egito e África criaram a palavra Profeta e isso está relacionado à Ifá que é um sistema, não uma divindade. A divindade é Orunmilá.

Do grego "prophetes", esta palavra, etimologicamente, é constituída pelas raízes pha ou phê, que significam falar, e pelo prefixo pro, antes. E foi assim que surgiu tudo sobre o oráculo Geomancia, cujas casas femininas possuem quatro mães que são referencias às quatro matri-arcas do pós dilúvio, sendo elas a esposa de Noé, e as três esposas de seus filhos, tornando o escudo geomantico a própria arca de Noé. Com torrões de terra lançados ao chão podia contar os pontos que eram gravados ou tefados da direita para esquerda em quatro linhas horizontais. A Geomancia é tão antiga que ela antecede a criação da astrologia, sendo essa última um espelho do que está embaixo e vice versa.

Todos os povos antigos narram a importância da supremacia do espírito sobre a matéria e é sob essas premissas que se consultavam um oráculo, para saber a vontade dos deuses afim de que se possa consertar as coisas aqui na terra e produzir um alinhamento entre essas energias, ficando assim em paz, o que por si só gera felicidade. É o que os adeptos da frequência Hertz chamam de ponto zero quântico.

A geomancia fala de um ego aqui na terra e outro no céu. São os duplos etéricos, por isso são na língua Yorubá, Méji.  

Os 16 Olo Odus, ou Olodus, tem uma divisão interessante.

Do 1 ao 11 os itans narram histórias puramente Africanas de berço, das terras Yorubás, sem influência de outros povos. É puro de origem.

De 12 a 16 os itans narram histórias mescladas com a invasão islâmica na África, onde até mesmo os sacerdotes mulçumanos vão se consultar com os profetas de Ifá.

Já vou contar pra vocês uma história sobre a origem das bruxas Africanas (As Ajés) contidas num Itan de um dos Odus de Ifá, e desmistificar o porquê elas ficaram tão temidas aqui no Brasil e no mundo, bem como vou contar a imensa importância Delas no plano esotérico e para o entendimento de todas as feiticeiras que louvam as divindades africanas ou não africanas.

O Odú é o 12 na ordem de Ifá, de nome Òtúrupòn Méji.

Dentre vários itans desse Odú, um deles é esse que fala da origem da bruxa e do ser humano. Possui um entendimento esotérico para iniciados que é oral, mas causou confusão quando essa história foi copiada pelas apostilas iniciaticas de pessoas que buscaram iniciação na África e voltaram para seu país de origem, esquecendo-se da explicação oral sobre esse Itan.

Sendo assim, a parte escrita ficou sujeita a interpretações diversas enquanto a parte oral foi esquecida ou desconhecida da maioria no ocidente.

O Itan em si escrito, diz:

 

- A Feiticeira e o Ser Humano -

 

 - O Pààká, mascarado com um caroço nas costas,

Pegou quarenta cauris do chão."

Foi divinado Ifá para a Feiticeira. Foi divinado Ifá também para o Ser Humano.

Ambos foram alertados para fazer sacrifício,

A Feiticeira falou que sempre que ela viesse a Terra,

Ela destruiria a obra dos Seres Humanos

O Ser Humano também disse que sempre que viesse a Terra,

Faria tudo que lhe desse prazer.

Foi solicitado a ele também que fizesse sacrifício,

Mas, ele recusou-se a fazê-lo.

Quando os dois chegaram a Terra,

Se o Ser Humano produzisse uma criança,

A Feiticeira matava a mesma.

Todas as coisas pertencentes ao Ser Humano

Eram estragadas pela Feiticeira.

Então, o Ser Humano voltou para o seu sacerdote de Ifá,

E fez o sacrifício que ele havia negligenciado.

Foi dito que ele fizesse Egungun.

Ele então, vestiu-se de mascarado,

E começou a cantar usando a linguagem indireta contra a Feiticeira.

Ele disse que foi exatamente como seus sacerdotes disseram.

O Pààká mascarado, com um caroço nas costas

Pegou no chão quarenta cauris.

Foi divinado Ifá para a Feiticeira,

E também divinado para Ser Humano;

Quando ambos estavam vindo do céu para a Terra.

Esta é uma Feiticeira,

Apesar da forma de Ser Humano.

A Feiticeira não deixa o Ser Humano descansar. -

Agora vamos para a explicação de Tradição oral que não consta nas apostilas:

A feiticeira é um ser consciente que ao vir para a Terra se lembraria de quem é e de onde veio em algum momento de sua vida terrena, não tendo sobre ela os efeitos do ego material e sim somente do ego espiritual (seu duplo), portanto para corrigir alguma situação o símbolo geomantico formador do elemento que fica nas duas linhas terrestres deve ficar igual aos de formação celestes, pois nada acontece com você aqui na terra se não acontecer primeiro com o seu duplo etérico lá em cima no éter. Assim sendo, se o que está acontecendo com o seu duplo etérico é algo horrível, a correção e alinhamento será tomada, formando os Omo-odus. Dessa forma um corrige o outro e ambos se alinham, pois na ordem de chegada dos elementos, primeiro foi criado o fogo, depois o ar, depois a água a qual fica em cima da terra. É nessa ordem que as coisas são criadas de acordo com os princípios da geomancia. Dessa forma se um Odú é feito de Água sobre Fogo, lembra uma serpente com duas cabeças fazendo referência ao fragmento de consciência chamado Dan-Oxumare e sua história é contada nos Itans mencionando seus poderes positivos e negativos, gerando assim os sacrifícios a serem feitos para alinhar ou corrigir o intento necessário.

Quando se fala de Méji estamos a falar do duplo etéreo de nossos pares espirituais, sendo que um é você aqui na Terra e o outro é você lá no éter e de certa forma isso é um trabalho de ego. Nada acontece com você aqui embaixo se não acontecer primeiro com seu duplo lá em cima. Por isso a Ori é de tamanha importância. Sem a Consciência de quem se é nada flui.

A Tábua de Esmeralda já falava sobre isso quando diz: “o que está acima é igual ao que está abaixo”. Tudo isso veio da geomancia que é o primeiro Oráculo da Mãe-Terra que existiu. De acordo com Pierre Riffard o culto da Terra-Mãe foi iniciado há 35 mil anos (dados arqueológicos), mas como tudo na vida mudou após o dilúvio, a era Matriarcal mudou para Patriarcal, sobrando resquícios do antigo Oráculo geomantico através das subdivisões dele, pois não só existe Ifá no mundo, mas sim existem coleções de oráculos iguais a ifá no mundo todo, porém, alguns sem o aperfeiçoamento africano, quanto outros preencheram essas lacunas com seus próprios contos aborígenes de seus terras natais.

Os Odus vêm com o propósito de corrigir e alinhar as coisas entre as partes para que a vida flua, por isso são portais de energia celeste e terrestre, pois eles vem do Céu para a Terra, mas como a geomancia foi criada antes da astrologia, é possível que o sistema de ifá tenha sido criado depois da consciência de descobrimento da astrologia árabe. Se essa última possui 7 mil anos, ifá não tem mais que isso, contudo não deixa de ser muito antigo.

No Itan a feiticeira destrói tudo que o ser humano constrói porque ela sabe que não somos daqui e construir coisas aqui é algo passageiro e, portanto não faz sentido construir algo banal feito com ego, e sim devemos lembrar quem somos e de onde viemos reverenciando os nossos Ancestrais.

É por isso que, quando o ser humano veste a roupa de egungun a feiticeira se alegra e para de perseguir o ser humano. Ela vê que ele está reconhecendo a ancestralidade e por isso está no caminho certo. A ancestralidade parece ser o ponto de partida para se estar no caminho correto em todas as religiões tradicionais do passado.

Ela não teme egungun como muitos querem fazer parecer esse mistério, mas sim ela o adora por ser a representação física da ancestralidade vinda do Orun ou da estadia nele. Perceba que espírito e consciência são duas coisas diferentes. Primeiro é criado o espírito e só depois é colocado nele uma consciência, A Ori. Corrigindo alguns babalawós, Ori é uma palavra feminina, por tanto o artigo “o” é inválido, devendo ser pronunciada A Ori.

Aqui no Brasil essa explicação ficou totalmente desconhecida porque os babalaxés, iyálaxés, babalawôs, babalorixás e ialorixás se atentaram somente no que ficou escrito no Itan das apostilas que foram reproduzidas em diversas escalas nacionais, sem levar em conta a consultoria oral de cunho iniciático. Daí passaram a temer tudo que se diz sobre bruxas/feiticeiras e começaram a orientar as pessoas a pararem com Bruxarias, o que em si não faz sentido algum, desde que o próprio culto de Ìyámí é bruxaria pura que se mantém original até hoje. Soma-se ao medo imposto pela igreja cristã e pronto, as iyamís e as Ajés tornaram-se fonte do mal e do medo, mas vejam que isso se deu por puro desconhecimento da oralidade esotérica africana e preconceito cristão.

Iyamís significa minhas mães e é uma referência ao elemento ar e aos pássaros que voam no ar, especialmente os que são carniceiros. A sociedade de Iyámí na África são três em Egbé-Orun (grupos celestiais) (Funfun, Pupá e Dudú) sendo especificamente a branca, a vermelha e a preta, responsáveis pela Justiça, manutenção e Ordem no mundo criado. É devido à elas e a esse culto que a Deusa tem três cores, pois esse antigo culto chegou á Europa antes da época dos romanos, pois foi da cultura Minóica que partiu para o cume do mapa e lá tomou formas adequadas à reverencia local de sua cultura. Não é a toa que o Berço da Humanidade é a Africa.

Elas participaram da criação do mundo e por isso receberam de Olodumare o poder de reinar sobre tudo. Todos os feitiços e magias passam pelo crivo delas. Se essas senhoras não admitir um feitiço feito, seja por merecimento ou não, o feitiço não passa e não acontece. É um culto tão perigoso quanto o culto de Obatalá, pois ao mexer com essas energias sem o devido conhecimento, ao invés de você atrair as bênçãos das grandes Senhoras ancestrais, você acaba atraindo o ódio e a fúria delas sobre si mesmo. Para conhecer como se lida com esse culto tem que ser iniciado no culto tradicional de Osùn em Ọṣun-Oṣogbo na África e pactuado com Iyámí Osòrongá. Há diversos tipos de pactos nesse culto e todos, inclusive o propósito da iniciação deve ser regido por um Odú em consulta de Ifá pelas Ajés nos Ibos de caurís, no jogo de Obi ou por indicação real de um Babalawó, mas com aprovação delas. Em outras palavras você tem que ser escolhido!

Conhecer o Esoterismo oral que está por trás dos escritos é fundamental para se construir o caráter. Sem Ori não tem caráter. Sem ancestralidade reconhecida não tem Ori. Assim o culto de quem tem útero foi o primordial porque todo mundo nasce de uma mãe. Os homens nesse culto são os Osò (bruxos) coadjuvantes das Ajés da criação, mas toda honra é delas, as mulheres sagradas, temidas, são perigosas porque possuem o poder da criação dado por Olodumare e elas participaram da criação do mundo. É o primeiro culto feminista que existiu ainda que o termo feminista não tenha sido usado na época porque ainda não tinha sido criado o termo.

Então entenda que:

Ori é a Consciência, não a cabeça, mas ambos estão ligados metafisicamente.

Orisá é fragmento de Consciência.

Iyámí é Minha Mãe Ancestral.

Iyámí Osòrongá é Minha Mãe Pássaro ancestral.

Esù é o único que pode ir até elas e voltar, fazendo a comunicação entre esses mundos e negociando os acontecimentos.

 

Um grande beijo e abraço a todos, espero que com esse artigo eu tenha cooperado com o conhecimento de vocês e que isso sirva para quebrar preconceitos, conscientizando cada coisa em seu lugar, de forma que desmistifique o medo infundado e fortifique o respeito a ser doado para com essas Senhoras.

Que Exu e as Ìyámís abençoe todas as Oris que fazem Oriki e Adurá, a todos vocês.

Ire-o!

Esse artigo foi escrito por Osóològbóni Omofá Lati Oyá Osungbemi

Ti o tele ihuwai-Iwá ti, Kabiyesi Oba Adekunle Aderenmu, que estuda, pratica e presta homenagem ao Esin Orisa Ibile, Isese Lagba.