segunda-feira, 25 de março de 2019

A verdade sobre a Arte Tradicional e Arte Bruxa Tradicional - parte 1





Uma mulher astuta do século 19 em sua casa, no Museu de Bruxaria, Boscastle na Inglaterra.



Nesse artigo vamos abordar a Arte Tradicional (Traditional Craft) E a Tradicional Arte das Bruxas (Witchcraft) e provar o por que na raiz são uma coisa só.

O ser humano cria tantos termos para se definir que acaba se limitando por aquilo que define. Criar é muito bruxo, bruxas criam!

Isso implica numa razoável reflexão filosófica sobre O TODO que engloba a bruxaria (Witch + Craft).

Para entender isso deve-se compreender o que o termo “bruxa” abrange.

Quem nunca ouviu falar que toda mulher tem uma bruxa dentro dela?
Quem nunca ouviu um médium espírita afirmar que incorpora uma bruxa?

A bruxa vive dentro de cada um, é um espírito de sabedoria ou a própria sabedoria.

Sonhar é muito bruxo! 

Sonhar te leva para Elphame, também conhecido como mundo astral ou O Outro Mundo, do qual é acessado somente através da sua essência aberta e exposta à Consciência que está desperta.

Todo o imaginário popular, todo folclore e folk-magic, todas as lendas, todos os mitos, todas as crenças em magia e super poderes, toda sabedoria que existe no planeta Terra usada por humanos foram sendo construídas ao longo do tempo desde que surgiu o primeiro humano e, histórias/estórias foram sendo criadas para justificar e referenciar termos, coisas, objetos, acontecimentos e situações do qual a mente humana ainda não sabia explicar.

Quem nunca teve uma intuição de como fazer uma magia sem nunca ter lido se quer um livro sobre o assunto? Esse é o espírito bruxo! E por que não guardar as fórmulas testadas e aprovadas? Sim, devemos guardar e usar.

Quem nunca sonhou com um deus Lobo, Veado, Dragão, Águia, Búfalo, ou qualquer outro animal totêmico?
Isso já demonstra que a bruxa mora em você, ou seja, que sua alma é bruxa e certamente em alguma vida você teve contato com isso de tal forma que reside em ti.

Já se perguntou o por que não consegue ficar longe das bruxas e sempre está envolvido com magia e feitiçaria?
Pois bem, agora você começou a entender o que é uma bruxa! O passo seguinte é descobrir o que uma bruxa faz! 
Se você respondeu que uma bruxa faz bruxaria você errou. A Bruxaria é uma Arte Clássica (tradicional) que tem vida própria. O termo Witch significa Sábio. Bruxaria por tanto é toda sabedoria que existe, não importa se você é uma bruxa mística ou desmistificadora, o termo que te define apenas define o ofício do tipo de bruxa que você é, sem retirar de ti a Arte Bruxa.

Geralmente quem vive da bruxaria (trabalha e obtém seus lucros) prefere o termo Ofício. 
Então essa bruxa ganha a vida com as artes sábias, isso envolve tudo que existe de mágico, místico, superstição, mistérico, E Astúcia (Cunning-Man). O Dom da bruxa vive em cada mago(a), em cada sacerdote/tisa, em cada benzedeira, em cada curandeira, em cada parteira, e em qualquer pessoa que consiga fazer magia (tanto simpática quanto invocativa, ou conjurativa, alta ou baixa, cerimonial, teurgia, etc.

O fato é que quando se possui o dom bruxo, você tem mão pra coisa e por isso mesmo qualquer objeto que você tenha em mãos, seja uma faca de cozinha ou colher de pau, se torna o que você quiser desde que é VOCÊ quem dá poder ao objeto e não o contrário.

Uma bruxa (sábia) que consegue mexer nas nuvens do céu mas ainda não é erudita na compreensão da funcionalidade de seu poder, pode se tornar um perigo até pra ela mesma, é uma bomba relógio. Sem uma filosofia para guiar seus instintos éticos e morais a bruxa pode passar a ser vista como uma bruxa má, uma pessoa malvada, perigosa, que coloca pessoas em risco e se torna até mesmo antissocial.

É por essa razão que antigamente a bruxa era vista como malvada e provocava medo e não porque ela cultuava uma deusa sombria/negra ou uma entidade/deidade demoníaca.
Em primeiro lugar a bruxa má surgiu na história humana porque a igreja insípida disse que ela existia e tinha de ser temida pois era perigosa e cultuava o diabo.

Disso surgiu diversas pessoas com o dom bruxo, mas que não simpatizavam com o termo “bruxa”, deixando-se guiar pelo preconceito que a palavra “bruxa” trazia. Esse tipo de bruxa não queria ser confundida como bruxa, porque o termo ainda era pejorativo e considerado maligno. Voces sabem, faz muito tempo que se convencionou chamar de diabo tudo quanto é espírito que se opõe ao interesse próprio ou de alguém. Aquele lance da culpa ser sempre do outro e nunca sua.

Mas....o segredo do raciocínio é bem simples. As bruxas NUNCA cultuaram diabo nenhum. Sendo assim não existe bruxa má ou boa. Existe Bruxa! (ponto).

Cada uma é permeada pela ética que possui ou falta dela. Isso te caracteriza como boa ou má. È igual a você ir num centro de macumba pedir auxílio para um exu. O exu não é bom ou mal, o bem ou mal está na cabeça de quem vai pedir o favor à entidade.

As nomenclaturas modernas que surgiram também são derivadas das fontes originais de magia e sabedoria bruxa (witch+craft).

Devins-guérisseurs, soothsayer, leveurs , curandeiros e levantadores de maldição, benandanti e malandanti, toverdokters ou duivelbanners, Hexenmeister ou Kräuterhexen, benzedeiros de todas as culturas e países, mulheres de virtudes mágicas, kloge , klok gumma (" velha sábia ") ou klok gubbe (" velho sábio "), Vedmak. São todos bruxos na Arte e mágickos no ofício.

Alguns historiadores e folcloristas optaram por aplicar o termo "astúcia popular" como um termo genérico para toda a gama do fenômeno. A astúcia é um dos diversos dons que uma bruxa possui.
Os nomes usados para astúcia na Itália variam de região para região, embora tais nomes incluam praticos (sábios), guaritori (curandeiros), fattucchiere (fixadores), donne che aiutano (mulheres que ajudam) e mago, maga ou maghiardzha (feiticeiros). 

Às vezes, eram chamadas de streghe (bruxas), embora geralmente apenas “pelas costas” ou por aqueles que são céticos em relação aos seus poderes ou acreditam que lidam com magia negra. Ao contrário de outras partes da Europa, como a Grã-Bretanha, a esperteza/astúcia de ofício sobreviveu no século 20 e no início do século 21, permitindo que a socióloga ítalo-americana Sabina Magliocco fizesse um breve estudo deles (2009).

Porém, o que se deixou de mencionar é que em muitos países as religiões que contem magia e feitiçaria foram por força de lei ligadas a Vecchia Religione ou antiga religião das bruxas, desde que alguns autores como Charles Leland e Gerald Gardner anunciaram que bruxaria era religião (talvez por desconhecimento de que Bruxaria nunca foi religião, mas pra eles na época era). Então a partir dessa lei, tudo que estivesse ligado à magia e feitiçaria sem culto de ofício seria desqualificado como religião e essas práticas não poderiam mais ser chamado de bruxaria. A Strega sabe disso e não tem medo de falar abertamente. Bruxa com culto e bruxa sem culto são bruxas do mesmo jeito. O dom é o mesmo e não é o diabo que dá esse dom. Mas gostamos de deixar o imaginário das pessoas acharem que é o diabo que nos dá poder.


Também não se mencionou a verdade sobre onde nasceu o medo das bruxas, o qual corroborou para fazer a imagem da bruxa uma figura maléfica e temida, e aqui está as 3 fontes:

1 – o Medo das Iyamis africanas (as mães primordiais e seu poder criador e caótico nada controlado por ética Aristotélica);
2 – A Igreja Insípida (a cada vez que as mulheres se separavam dos padres elas ficavam com metade dos bens da igreja – sim os padres podiam se casar naquela época onde a igreja era pueril);
3 – Hollywood (diretores de filmes de terror e fantasia que atuaram até os anos 80).

Convenhamos, Aristóteles quando deixou de presente ao seu filho um livro que serviria de guia para o menino crescer mais feliz, chamado - Ética à Nicômaco - inventou a ideia de bem X mal. A igreja copiou muito do paganismo (Aristóteles era pagão e o próprio Vaticano foi construído sobre um cemitério cuja deusa do local era Vatica etrusca a deusa que dava poder aos mortos) e a partir da ética de Aristóteles passaram a adaptar os conceitos antigos eclesiásticos e moldaram aquilo que iria controlar o resto da humanidade (a massa). Assim, os mortos cultuados anteriormente viraram “santos”. 

Como frame de justiça, usaram a ideia de pecado e perdão que já existiam nas antigas leis de Maat (deusa egípcia da Justiça bem mais antiga que Xangô – ambos africanos) e como antídoto ao pecado inventaram o confessionário. Dessa forma o padre saberia qual sermão iria dar na missa de domingo para vestir a carapuça de todos ali presentes e, para mostrar que o Deus cristão era bom, os padres perdoavam a todos aplicando-os fórmulas de encantamento (salmos e rezas) para recitar tantas vezes e fazer com que cada pecador pudesse sentir alívio e experimentar a absolvição da culpa e do dolo. Dessa forma a Igreja e o Direito andavam de mãos dadas até a separação desse namoro com nada mais que a intrigante coisa laica. 

Após a ruptura da sociedade Igreja e Direito andaram com as próprias pernas separadas as instituições uma da outra e a teocracia experimentava sua queda para dar lugar a democracia. Mas a Igreja mandou que todos tivessem medo das bruxas e assim foi cumprido, afinal, era muito poder nas mãos das mulheres e elas tinham de ser contidas senão a igreja jamais ficaria rica e controladora do mundo.

Portanto, o medo que o povo tem das bruxas, não passa de um golpe da igreja. Assim como magia não tem cor, a bruxa não é boa nem má, mas como em todo mundo, na bruxaria também tem pessoas espúrias e pessoas honestas, também tem leigos/desinformados e eruditos. A sabedoria da bruxa não é aprendida em livros nem em escolas, é uma sabedoria que vem de dentro pra fora, não de fora para dentro. É por isso que as escolas de mistério ensinam a desenvolver esse dom latente (o dom/sabedoria já está dentro, na alma/no espírito/na consciência divina que você é) e quando o aprendiz está pronto ele é INICIADO nesses mistérios. Por conseguinte, uma bruxa sem iniciação terá de sofrer 3x mais para aprender sozinha a como usar e desenvolver seus dons. 

É por isso que a iniciação é tão buscada e preferível, uma vez que, uma tradição que herdou segredos iniciáticos pode formar outras porque TEM conteúdo pertinente Àquela tradição, e isso é 1000 vezes Tradicional!


Entenderam que uma escola ou tradição não faz você virar bruxa e sim faz você aprender a desenvolver e a como usar o dom que já nasceu em você?? Bruxas iniciadas e bruxas não-iniciadas são iguais e separadas, a diferença é que a primeira não irá bater tanto a cabeça para descortinar o uso da sabedoria interna, de seus dons e poderes interiores, de como usar isso ao seu favor e em favor de quem precisa.

Só pra ficar claro, bruxaria é e sempre foi uma tradição espiritual de vários cunhos mágicos que envolve magia que é a sabedoria de manipular energias de acordo com a vontade e intenção. Bruxaria nunca foi religião. O correto é afirmar que existe religiões no mundo que contém bruxaria/feitiçaria.

Como no resto da Europa, o papel primordial da astúcia italiana estava aparentemente em cura, tanto pelo uso de ervas quanto pela cura espiritual. Via de regra, quem não pode curar, também não pode adoecer ninguém/ quem não sabe e não pode amaldiçoar, também não sabe e não pode abençoar.

 O primeiro requeria conhecimento sobre várias plantas e ervas em nome da pessoa esperta, embora se acreditasse que a cura espiritual provinha de um poder interior, conhecido como la forza (poder), la virtù (virtude) ou il Segno (o signo). ). Tal cura foi muitas vezes na forma de remover o malocchio, ou olho do mal, que amaldiçoou alguém.

A astúcia italiana passou da era pagã pra cristã assim como a Strega e ambas continuavam a permanecerem enraizadas no catolicismo romano do país, o que é evidente pelo uso de encantos e orações, que muitas vezes recorrem à ajuda de santos. É a mesma força/ideia que transformou a deusa Brigit celta em Santa Brígida, por força da tradição e poder espiritual utilizados politicamente por quem podia governar que se aproveitou da fé, mas a raiz mágica é a mesma.

Tais praticantes mágicos também acreditavam amplamente que eles lidavam com seres espirituais, ambos benevolentes (que os ajudariam) e malévolos (a quem eles teriam que combater). O último incluía os mortos inquietos e as bruxas sobrenaturais que, acredita-se, causavam dano às pessoas, enquanto os primeiros incluíam os ancestrais, os mortos e os santos que ajudavam a derrotar essas entidades malévolas. Ferramentas mágicas também foram utilizadas pelos astutos italianos e, embora variassem entre as duas regiões e os praticantes, geralmente incluem cordas de fibras ou cordões para amarrar, facas ou tesouras para cortar doenças e espelhos e armas para refletir ou afugentar espíritos mal intencionados, igualmente utilizados pelas Stregas (tanto as de culto quanto as que não possuem culto).


Bruxa é o poder de dentro, se você tem um dom/poder, você é uma bruxa, independente se você é uma bruxa rosa-cruz, uma Strega, uma bruxa visionária, uma bruxa xaman, uma bruxa mística, uma bruxa curandeira, uma bruxa benzedeira, uma bruxa sacerdotisa, uma bruxa santera, uma bruxa wicca, uma bruxa astuta, uma bruxa vodu, uma bruxa hoodoo, uma bruxa Iyami (bruxa iyami significa minha mãe sabia ancestral); uma bruxa de candomblé (candomblé significa “ato de rezar” – uma sábia rezadeira que zela pelos seus deuses de acordo com as liturgias afro-tradicionais de cada região/nação) em fim, cada bruxa com seu ofício, mas todas são bruxas!

Logo se conclui que:

Cunning-folk (Astuciosos), Sorcerers (feiticeiros), praticantes da medicina popular, da magia popular, da adivinhação, bem como todas as reminiscências mágicas que existem, são elas derivadas da Bruxaria, foram promovidas e criadas por elos bruxos, dons bruxos e por bruxos que transmitiram esse “DNA” à sua posteridade. São todos Bruxos!

Por Sett.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

agradecemos a você por contribuir e complementar. continue sendo gentil e sábio. abençoados sejam!

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.