quinta-feira, 25 de abril de 2019

Ligações Orientais com a Bruxaria Européia - parte 2 (final)





Ligações Orientais com a Bruxaria Européia - parte 2 (final)
Por  Doreen Valiente




Arkon Daraul, em seu livro sobre as Sociedades Secretas, anteriormente referida, conta-nos sobre um culto secreto muito curioso, de uma natureza mística e mágica, chamado  "Os Dois de Chifres"  ou Dhulqarneni.  O culto nasceu no Marrocos e cruzou países até chegar na Espanha da mesma forma que o culto Aniza.  As autoridades muçulmanas não apreciaram sua chegada e tentaram sufocá-lo, mas, apesar dos esforços, ele se espalhou rapidamente.

Seus devotos acreditavam que eram capazes de invocar poder mágico por meio das danças em círculos.  Essas danças tinham alguma associação com a adoração da Lua, e eles diziam  as orações muçulmanas de trás para a frente e invocavam El Aswad, o  "Homem Negro",  para ajudá-los.  Tanto homens como mulheres eram admitidos nesse culto, e eles eram marcados em sua iniciação com um pequeno ferimento de uma faca ritual,  chamada  Adh-dhame, a  "letrade sangue".  Essa palavra nos faz lembrar do Athame das bruxas.

Eles se encontravam à noite, em encruzilhadas, e seus encontros eram chamados de  Zabbat,  que significa  "O Forte ou O Poderoso". O círculo de iniciados era chamado de  Kafan que,  em árabe, significa lençol enrolado, porque cada um dos membros não usava
nada além de um manto branco liso sobre seu corpo nu.  Vestidos dessa maneira, eles pareciam com um  grupo de fantasmas,  e provavelmente assustariam qualquer intruso.  As bruxas também adotaram o uso de fantasias assustadoras com a mesma finalidade.

O Dhulqarneni carregava um pedaço de pau com ramos, o símbolo de chifres, o sinal de poder. Antigas representações de bruxas mostram-nas cavalgando sobre pedaços de paus com ramificações. O nome  "Sabá"  para os encontros das bruxas de importância especial nunca foi satisfatóriamente explicado;  mas  "coven"  é uma palavra que está relacionada com a palavra do latim conventus, e que significava um grupo de culto de 13 pessoas.

Entretanto, o círculo do Dhulqarneni era um círculo de 12 pessoas com um líder, e assim também são os círculos dos Sufis nos dias de hoje.

O líder do círculo de Aqueles com Chifres era chamado de  Rabba, "Senhor".  Ele era também chamado de o  "Homem Negro"  ou "ferreiro".  Os ferreiros sempre foram considerados como pessoas que têm poderes mágicos, e a antiga balada de "O Ferreiro Carvão" é considerada a músiva das bruxas. Ela é também chamada de "Os Dois Magos",  e fala como um ferreiro e uma bruxa tiveram uma  competição mágica, que terminava com os dois se tornando amantes. Robin  ou  Robinet é um nome que era às vezes dado para o "Diabo" de um coven de bruxas, e ele tem uma semelhança com o Rabbana. Ele é também uma antiga palavra para o órgão sexual masculino. Os termos  "Homem Negro" ou "Homem de Preto"  eram também usados para referir-se a um líder masculino de covens.

O culto daqueles de Chifres continuou entre os povos caucasóides da África do Norte até tempos recentes, e pode existir até hoje. Há histórias de seguidores desse culto dançando ao redor  de fogueiras acesas, carregando um pedaço de pau que eles chamam de  "o bode".  Eles têm um Grande Mestre secreto chamado de Dhalqarnen, o  "Senhor de Dois Chifres",  que é reencarnado na Terra a cada 200 anos.

É algo extraordinário do nosso ponto de vista que esse culto tenha florescido entre os caucasóides, porque eles são racialmente parecidos com os povos escuros de cabeças longas e de estatura baixa que habitavam a Grã-Bretanha no período Neolítico, e que migraram da África do Norte.  Os povos do Egito pré-dinástico estão também racialmente relacionados com eles.

Os caucasóides são considerados na África do Norte uma raça de feiticeiros, cuja submissão exterior ao Islã cobre a prática oculta de credos estranhos e hereges.  Eles mantêm as mulheres em grande estima, como repositoras da sabedoria e da magia ancestral.  Isso está em um contraste marcante com a atitude dos árabes comuns de desdém para com as mulheres, como sexo inferior.  Muitos contos estranhos de viajantes da magia dos caucasóides vieram da África do Norte. Dizem que eles tinham uma língua secreta, pela qual, e somente por meio dela, assuntos mágicos podiam ser discutidos.

O relacionamento entre esses orientais em busca de sabedoria como os Sufis, e as bruxas européias, ou devotos do trabalho dos sábios, é um assunto do qual sabemos muito pouco.  Talvez o estudo futuro, esperamos, poderá revelar mais.

Uma crença que os Sufis e as bruxas tem em comum é a do baraka, que significa "bênção" ou "poder".  Essa não é apenas uma abstração metafísica, mas algo que pode de fato ser invocado e transmitido.  A expressão Sufi,  "Baraka bashad",  "Que a bênção aconteça",  é
muito parecida com a saudação das bruxas  "Abençoado seja".  Ela também nos faz lembrar a antiga Palavra de Poder  "Abracadabra", que significa  "Ha Brachab Dabarah"  ou  "Fale as Bênçãos".  O significado essencial desses conceitos é  praticamente o mesmo, e pode estar paralelamente relacionado com o mana dos Kahunas do Havaí.

The Jewel in the Lotus,  de Allen Ewardes,  dá-nos uma visão extraordinária da sexualidade no Oriente, que está inextricavelmente restrita à religião oriental.  Ele descreve alguns dos homens sagrados do Oriente, e a forma com a qual a relação sexual com eles era considerada um privilégio que conferia a santidade.

Isso é rememorativo da forma pela qual dizem que as bruxas medievais consideravam seu Diabo,  o  "Homem de Preto",  quando ele presidia sobre o coven usando suas grandiosas vestes,  a máscara de chifres, peles de animais, etc.

Está implícito em muitas descrições da bruxaria do passado que o Diabo do coven tinha um tipo de  droit de seigneur  sobre as jovens garotas e mulheres que se filiavam,  que ele provavelmente achava agradáveis.  Nós encontramos, nas descrições bastante detalhadas
das confissões de bruxas, preservadas por Pierre de Lancre,  a alegação de que o Diabo  "oste la virginité des filles"  no tempo quando ele unia bruxas e bruxos em casamento.

Alguns homens sagrados do Oriente consideravam isso um trabalho sagrado fazendo a mesma coisa, principalmente o ato de deflorar virgens.  Alguns críticos ocidentais zombam das religiões orientais por essa razão, considerando-as meros disfarces hipócritas para as atividades de libertinos descarados.  Ao fazer isso, eles falham por completo ao entender as idéias e emoções da Força da Vida,   e portanto da Divindade Criativa por trás dela.  Não havia nada de hipócrita, ou para eles imoral,  nos ritos fálicos e sexuais dos povos orientais,  ritos que,  na verdade,  eram praticados em todo o mundo no passado.

Essa consideração pelo contato sexual com as pessoas dos homens sagrados, como algo que conferia santidade e bênçãos,  faz brilhar uma nova luz sobre as muitas histórias do  Osculum infame,  ou o que era chamado de "beijo obsceno",  que supostamente era dado sobre o Diabo do coven por seus seguidores em ocasiões de rituais.

The Jewel in the Lotus conta-nos que em muitas áreas o vagante homem sagrado, o Dervishe ou Sufi,  era recebido por devotos com um extraordinário símbolo de respeito. Isso consistia em beijá-lo nos lábios, em seguida suspender sua túnica e beijá-lo sucessivamente o umbigo, pênis, testículos e as nádegas.

Essa é a forma exata pela qual  Jeanette d'Abadie, uma jovem  bruxa de Basses-Pyrenees,  confessou ter saudado o Diabo em 1609;  "que le Diable luy faiscoit baiser son visage, puis le nombril, puis le membre viril, puis son derrière",  diz Pierre de Lancre.

Em 1597,  Marion Grant,  das bruxas de Aberdeen,  foi acusada de render respeito ao Diabo que, disseram,  "a fez beijá-lo nas partes íntimas, e adorá-lo de joelhos como o senhor".  E antes disso,  em 1303, nade menos do que um Bispo em Coventry foi enviado a Roma para enfrentar uma acusação parecida,  o Diabo nesse caso tendo estado na forma de uma  "ovelha" (provavelmente um carneiro era a referência, ou um homem usando a máscara da cabeça de um carneiro).  O Bispo conseguiu se livrar da acusação.

Esse último caso, de acordo com Margaret Murray, é o mais antigo registrado na Grã-Bretanha, desse tipo de adoração do Deus de Chifres ou de sua representação.  Ele pode, portanto, fornecer-nos uma certa indicação, se a teoria da influência oriental for correta, de que período essa influência começou a mostrar-se sobre a Antiga Religião na Grã-Bretanha.

Os Cavaleiros Templários também foram acusados de terem um ritual do beijo desse tipo,  exigido pelo Mestre de Iniciações dos homens que eram recém-admitidos na ordem.  Essa pode ser uma outra indicação de sua absorção das idéias e costumes religiosos orientais, provavelmente dos Sufis.  "De acordo com os artigos de acusação, uma das cerimônias de iniciação exigia que o noviço beijasse o receptor na boca, no ânus, ou no final da espinha,  no umbigo, e no virga virilis".

A exata similaridade desse extraordinário ato ritual, no caso dos Cavaleiros Templários, as bruxas e os devotos de determinados homens sagrados de Sufi,  parece estar além de simples coincidências.  Isso tudo é uma indicação para o verdadeiro significado do famoso Osculum infame e das ligações estranhas e secretas entre os círculos ocultos do Oriente e os da Europa nos séculos passados.


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