quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Os Segredos de Pandora



Pandora abrindo a ânfora



Venho hoje oferecer-lhes um tema longo, mas que vale a pena. Trata-se do espectro sobre os mistérios de Pandora, de acordo com o olhar que deveríamos verdadeiramente ter sobre esse mito. A partir dele, devemos incentivar mais pesquisas a fim de lapidarmos todas as épocas sob esse enfoque. Este artigo traz a contribuição do Mauro, concedida para releitura sob autorização dos autores dos ensaios originais citados na íntegra in-corpus text est. A Tradução e releitura é de autoria de Sett Ben Qayin.


Pandora e o Conflito:  A percepção errada da misoginia em Hesíodo 



A história de Pandora tem sido vista muitas vezes sob a percepção Grega da origem de uma misoginia. 
De acordo com Ilana Amaral, militante do coletivo "contra-a-corrente Misoginia quer dizer:

“Antipatia, aversão mórbida às mulheres. “Se no sistema a diferença é negada e, finalmente, homens e mulheres vêem a sua individualidade cindida nas representações do masculino e do feminino, que gerações após gerações de homens e mulheres sob o domínio patriarcal viram a sua individualidade negada, desrespeitada, cerceada, isso não significa, em absoluto, que do ponto de vista histórico tal processo seja simétrico. “É precisamente na assimetria das relações como relações de poder que o sistema de gêneros se constitui e na medida em que o feminino representou sempre o outro, a diferença - é essa a fonte de toda a misoginia - é lícito, parece-nos, identificar às representações historicamente ligadas ao feminino - ou parte delas - a luta pela diferença enquanto tal” (in “Teses pelo fim do Sistema de Gêneros”).

Segundo Hesíodo, ela quer é a pior desgraça que homem jamais sustentou (Th. 585), ou ela é responsável pela liberação de uma pletora de males sobre a Terra que não existiam antes (WD 94-5). Mulheres são o motivo que os homens devem trabalhar arduamente (WD 91), e um mau casamento dá dor eterna para o marido (Th. 611-12). Contudo, o texto também revela nesta história de que tudo acontece com o consentimento de Zeus (Th. 613, DT 105), e é na verdade Zeus, que envia a mulher em todo o mundo (WD 84).

Pandora é um dom destinado a ‘acoimar’ os homens para tomar um dom. Ela é de fato um kalon kakon agathoio (Th. 585), e ela serve para contrariar o que o homem abençoado gozava antes da existência. (WD 90). Porém, é justamente porque ela é um equilíbrio contra tudo o que era certo com a primeira raça de homens que não se deve ver os textos de Hesíodo como a fonte de todas as misoginias gregas. Pandora não é responsável pelo seu lote, nem o mal que ela causa sobre a sua própria vontade. Pelo contrário ela é parte de um ato divino para o equilíbrio, o instrumento para a introdução de Boa Contenda em um mundo que só conhecia Bad Strife, e não Strife at all.
Não pode ser coincidência que Hesíodo move diretamente a partir da história dos dois tipos de Contendas para a história de Pandora. Os dois tipos de Contendas não aparecem em nenhum outro lugar nas duas obras. Mesmo o breve interlúdio de "lordes gananciosos por brindes" copiaram a identificação de Pandora com as duas Contendas. Só os ricos podiam dar ao luxo de suportar uma mulher que age como um rumor, utilizando-se todas as lojas da casa (Th. 594-95). Ora, a Boa Contenda força os homens para trabalharem duro, o que é considerado um mal quando se diz respeito às mulheres.  Como eu vou demonstrar, Hesíodo usa as mulheres como um caminho para explicar o equilíbrio na vida entre os bons e maus, e Pandora vem oferecer ‘na raça’ um Ethos. Sua Pandora serve para contrariar o bom-equilíbrio da vida nos homens, tanto quanto não há uma boa Contenda para equilibrar um Bad Strife. 
Enfatizo ainda, que a humanidade erra ao confundir harmonia com equilíbrio. Harmonia é a beleza da concordância, enquanto que equilíbrio é uma moderação entre as partes existentes.

O Mito de Pandora Propriamente

Certamente você já conhece o mito de Pandora. Sabe que uma mulher devido à sua curiosidade, abriu uma caixa contendo todos os males do Mundo. Todos esses males se libertaram e espalharam-se pela Terra, menos a Esperança. Mas, o que a Esperança estava fazendo dentro de uma caixa que contém todos os males do mundo?
Você está errado ao pensar que a esperança ficou lá dentro porque era um bem, e é nessa introdução que farei uma interpretação mais rígida e sob o olhar iniciático deste mito.

O mito conta que os Deuses criaram todos os animais da face da Terra, incluindo o Homem. O Titã Epimeteu ficou responsável pela atribuição dos dons aos diversos animais: força para o urso, visão apurada para a águia, e assim por diante.
Para o Homem nenhum dom especial havia sido dado, e a fraqueza física e de caráter do Homem face aos outros animais havia sido instalada: Sem a força dos fortes, sem a velocidade dos rápidos, sem as garras poderosas que prendem, sem a visão longilínea e acurada, sem a moral, o Ethos, etc.

Então o Titã Prometeu (que significa previsão), irmão de Epimeteu, notou que o Homem criado havia sido feito inteligente, pois poderia se maturar com o tempo, sendo assim superior aos outros animais, devendo também ter um dom especial para lidar com essa inteligência. Inteligência não é sinônimo de sabedoria, mas tão somente é a capacidade pensante entre escolhas, do tipo: um cão não pode pensar se pisca com um olho só ou se come com garfo e faca, o ser humano sim. O animal tem instinto, o humano tem inteligência. Sabedoria vem a ser um conhecimento de bom senso que dá ciência à justeza que contraria a verdade atual para uma eterna, por isso os mitos e lendas estão evidentes desde a mais remota antiguidade. Na sabedoria existe o exemplo a ser dado e transmitido, enquanto que na inteligência existe o raciocínio pensante que lhe permite as escolhas mais variadas, trata-se do local onde mora o ego que nos permite fazer julgamentos certos e errados, as escolhas segundo o livre arbítrio. Na inteligência há o julgo, na sabedoria há a mensuração. No processo iniciático, a inteligência dá lugar à sabedoria e o Ego dá lugar ao Espírito. Iniciados não pensam com o ego mas sim com o Espírito.

O fogo é o conhecimento divino, por isso só os deuses possuíam a sabedoria desse elemento. O fogo foi criado por Hermes e por isso as escolas mágicas são herméticas. Hermético é sinônimo de ‘não-concreto’, pois o que há ali deve e está pra sofrer uma acabativa. O fogo não é concreto porque não se pode pegá-lo ou segurá-lo diretamente.
Prometeu então decidiu dá-lo aos Homens, e este ato, foi interpretado como roubo pelos deuses, esquecendo-se os deuses, de que Prometeu era “O Oráculo” e ele já conhecia seu futuro, bem como o castigo que a ele foi imposto por Zeus/Júpiter. Vale lembrar que Prometeu é significantemente comparado a Lúcifer como O Portador da Luz em outras mitologias.

Naquele tempo antes de Zeus/Júpiter chamado ERA DE OURO de Saturno, os seres humanos eram felizes e viviam em harmonia com a natureza. Não havia fome, guerra, inveja, frio, desconforto,... E viviam agora com o presente de Prometeu, o divino fogo.
O humano que controla o fogo é o bruxo que controla seu destino.

Por ter cometido tal ato de ‘felonia’ contra os deuses, Prometeu foi agrilhoado a uma rocha e o seu fígado era comido todos os dias por abutres. Como era imortal, todos os dias lhe nascia um fígado novo, e era comido novamente e as dores eram imensas e intermináveis, esse foi o castigo pelo desagrado dos deuses perante seu ato, até ele ser libertado pelo décimo terceiro herdeiro e descendente da linhagem de Io, ou seja, por Heracles/Hercules durante os Doze Trabalhos. Só se liberta das dores do sofrimento do ego, após o ardor do aprendizado da feitura do ‘sal de fruta’ ou ‘figatil’ das situações vitais, das condições e circunstâncias do fogo espiritual.

Os Doze trabalhos de Hercules fez do iniciado um Ser liberto das dores do castigo, das culpas e dos apontamentos. Numa tradução livre, esses trabalhos podem ser traduzidos em absolvição de si para consigo mesmo e para com todos.
Nessa época havia apenas homens, a Mulher ainda não tinha sido criada.
Como forma de castigar os mortais, por terem aceitado a dádiva de Prometeu, os deuses se reuniram no Monte Olimpo para que juntos criassem a Mulher e depois oferecê-la a Prometeu. Cada deus ofereceu-lhe uma dádiva divina e decidiram chamar-lhe Pandora (Πανδώρα) que significa: “todos os dons”, na língua grega, para que Prometeu pudesse dar o que tinha, todos os dons, à humanidade, assim como fez com o fogo.

Hefestos/Vulcano, deus dos artífices, da forja e da metalurgia, moldou-a do barro e deu-lhe as suas belas formas; Atena/Minerva, deusa da caça, da tecelagem e da estratégia de guerra, deu-lhe belas roupas; As Cáritas/As Graças, (Agleia a beleza, Eufrosina  a alegria sorridente e Tália a boa disposição), deusas do charme, da beleza, da natureza, da criatividade e fertilidade, deram-lhe belos ornamentos; Afrodite/Vênus, deusa da beleza, sensualidade e sexualidade, inspirou-lhe beleza; Apolo, deus da medicina, da música e da poesia, deu-lhe talento musical e o dom da cura; Deméter/ Ceres, deusa da agricultura e do solo, ensinou-a a tornar belos os jardins e frutíferos os campos; Poseidon/ Netuno, deus das águas do mar e dos sentimentos, dos cavalos e dos terremotos, deu-lhe um colar de pérolas marinhas e a habilidade de nunca se afundar; Zeus/ Júpiter, deus dos trovões e dos relâmpagos, tornou-a ociosa, brincalhona e tola (elementos para desacordo); Hera/ Juno, deu-lhe a curiosidade (o componente essencial da personalidade de Pandora no mito); Hermes/ Mercúrio, mensageiro dos deuses, (a face do diabo) e deus dos viajantes, dos pastores, dos oradores, do engenho, da literatura, dos poetas, do desporto, das medições, da invenção e criatividade (foi ele quem criou o fogo), da velocidade, do comércio, das fugas, oratórias, falsidades e oposição, deu-lhe astúcia, ousadia e charme. Só pra notar, Hermes sempre foi o único Deus a fazer a ponte entre o céu e o inferno a hora que quiser.

Zeus mandou Hermes entregá-la a Prometeu. Este, desconfiando que nada de bom os deuses lhe poderiam dar, recusou o presente e aconselhou o seu irmão, Epimeteu, a fazer o mesmo. Mas Epimeteu tinha uma natureza mais crédula e não tinha dom oracular para prever o futuro, quando viu Pandora, exclamou "Certamente que um ser tão bonito e gentil não pode causar mal algum!" e aceitou alegremente ficar com o presente. Os primeiros dias foram maravilhosos e o seu amor despontou.

Uma noite, estando os dois a dançar no jardim, viram Hermes a passar. Os seus trajes estavam esfarrapados, os seus passos lentos e as suas costas arqueadas sob o peso de uma grande caixa. Pandora imediatamente quis saber o que tinha na caixa. Hermes evitou a questão, pedindo unicamente para deixar à sua guarda a caixa, pois já estava muito cansado. Brevemente voltaria para levá-la de volta, e partiu. Epimeteu voltou para dentro de casa, mas Pandora ficou sozinha com a caixa. A sua curiosidade aproximou-a da caixa, de onde saíam vozes neuróticas que diziam "Pandora, doce Pandora, tem pena de nós e liberta-nos!". Pandora, ouvindo Epimeteu regressar, decidiu dar só uma breve espiadela no interior da caixa. Acontece que Júpiter tinha colocado na caixa todos dos demônios que não deveriam ser expostos na era de saturno, esses eram as doenças, invejas, desconfortos e defeitos que estavam afastados da Humanidade. Assim que ela abriu a caixa todos eles saíram rapidamente e espalharam a miséria, a loucura e a dor pelo Mundo. Assim que Epimeteu chegou pela primeira vez eles discutiram. Mas no meio da discussão ouviram uma voz vinda da caixa que lhe pedia para a libertarem. Epimeteu abriu pela segunda vez a caixa e dentro viu a Esperança, cuja missão era descansar aqueles afetados pelos seus companheiros de caixa. Esperança era um tipo de antídoto para aqueles males, feita da mesma substancia que eles, sendo um mal para os próprios males. Pandora e Epimeteu rapidamente fizeram as pazes e a Esperança saiu para o Mundo para aliviar esperançosamente as outras pessoas.

Considerações da análise do mito

Primeiramente Zeus, querendo castigar os homens, tenha engendrado a Mulher a partir da sua própria (Hera), para castigar Prometeu. Zeus estava indiretamente a castigar a vontade humana (até então só existiam homens) de se equiparar aos deuses (a famosa hibrys grega) e as mulheres são o componente mais divino do Homem, a contraparte dele. Pandora é a primeira mulher.

Não obstante, os dons dos Deuses, a vingança de Zeus na inconstância, a da sua esposa na curiosidade e o de Poseidon, de não se afogar (fizeram dela mais esperta, a mulher muda como as marés da lua, a tudo quer saber, e quando chora não se afoga, ela se salva das águas perturbadoras);

Epimeteu aceitou a prenda destinada ao irmão. A lição é que não se deve aceitar prendas ou pessoas recusadas por outros e, além disso, não nos devemos fiar em belezas aparentes e externas.
É verdade que Pandora estava curiosa para ver o interior da caixa, mas só decidiu abrir a caixa quando ouviu Epimeteu chegar, talvez para impedir que ele o fizesse ou para ver primeiro que ele. Mais uma vez constatamos que, por vezes, a tentativa de impedir algo, é o que conduz à sua realização.

Não foi meramente a curiosidade que a levou a abrir a caixa. Foi também por consideração perante os pedidos de libertação vindos da caixa. Há aqui também um fundo de bondade num ato referido como sendo unicamente de curiosidade. A voz que ela ouvira, era a voz do mal (kokadaimon) pedindo por socorro, e todos os seres humanos tem seu neurótico complexo de herói dentro de si, e deseja naturalmente salvar alguém, mesmo quando não se dá conta de libertar à si própria ou simplesmente não sabe que precisa nem como fazer. A esperança não faz o papel do agathodaimon.

Não foi unicamente Pandora quem abriu a caixa, e a caixa na verdade era uma ânfora, um vaso que no mito foi retratada como caixa. Também Epimeteu abriu a caixa. Desconhecia o interior da caixa e abriu mesmo assim. Pelos vistos, os supostos "defeitos" femininos são também masculinos, e isso nos mostra que a fraqueza é humana e não está no gênero, mas sim no ego, e a fortaleza é divina porque é espiritual.
Uma vez que a Esperança estava na caixa juntamente com todos os males da Humanidade, ela é um mal que aflige a Humanidade também.  Bom, talvez quando as pessoas têm a tendência de se agarrar à Esperança de que tudo melhorará e não vê que lhes cabe fazerem por mudar as coisas. A Esperança pode conduzir à inação ou servir como desculpa para ela. Talvez a Esperança seja o Mal mais sorrateiro para alguns, pois aparenta ser boa, apesar de lerda e dependente. A Bondade não se atrasa nunca, somos nós que a “atrasamos”, nós quem a impedimos ou não, de agir no seu tempo natural e espontâneo. Vem daí a necessidade da forja do caráter pelas mãos de Vulcano. Uma coisa liga à outra. Zeus sabe tanto punir quanto premiar. 

A Humanidade foi criada feliz e realizada na ERA DE OURO Saturnina, sem males, sem aflições, sem invejas, sem defeitos... Antes de ter Esperança. A Esperança já existia, mas estava trancada, só foi libertada da caixa depois da criação de Pandora, antes disso a Humanidade era feliz sem esperança. A esperança nunca foi uma condição necessária à felicidade. Esperança vem do verbo esperançar que significa “expectativa boa”, e sua contra parte é o desespero. Toda expectativa gera frustração quando não é realizável, assim como toda esperança anda de mãos dadas com o desespero (dentro da caixinha cerebral), tal qual luz e sombra não coexistem um sem o outro. Eis o franco demônio, ou o diabo da vez, em nossa era. 
Por outro lado a Humanidade vivia num mundo perfeito, em que não havia males nem sofrimento. A Esperança era então desnecessária. Contudo, no mundo imperfeito em que vivemos, a Esperança é o mal mais necessário, principalmente para os mundanos... Assim, a humanidade sempre tem esperança em tempos de mal, mas tem muita esperança de recuperação.
Um princípio de informação nos é dado quando a filha de Epimeteu com Pandora foi chamada Pyrrha, que se casou com Deucalion e foi um dos dois que sobreviveram ao dilúvio que mudou a Era para sempre.

A história de Pandora pode ser interpretada por mais de um caminho, mas uma moral óbvia é a de que "a curiosidade matou o gato", ou melhor, a curiosidade abriu o vaso. 
Alguns estudiosos afirmam que a caixa de Pandora pode ter sido um erro, e sua "caixa" pode ter sido um grande jarro ou vaso, forjada a partir da Terra.  Na verdade, há evidência que sugere que Pandora foi o próprio jarro.  Na Grécia Antiga, boiões comumente suportaram imagens de mulheres.  O frasco mostrava ter sido uma jarra em forma por causa da similaridade entre uma jarra e um útero.
O erro é geralmente atribuído ao século XVI. O Humanista Erasmo de Rotterdam, foi quem traduziu o conto de Pandora de Hesíodo, nota-se que,  Hesíodo usava a palavra "pithos" que se referia a um recipiente utilizado para armazenar grãos.  É possível que o Erasmo confundisse "pithos" com o "Pyxis", que significa caixa.  O estudioso ML West escreveu que o Erasmo pode ter misturado a história de Pandora com o encontrado em outra parte da história de uma caixa que foi aberta por Psyche, mas certamente Hesíodo conhecia bem o fundamento de uma Pithonisa antes de Pitágoras.
Esperança é considerada um mal nesta história, porque, de acordo com Hesíodo implica o controle do futuro, e uma vez que ninguém pode controlar o futuro, ter esperança é um engodo.  Outras pessoas pensam que a esperança de manter-se na “caixa” simboliza esperança da humanidade muitas vezes sendo apenas conforto. 
O texto grego original é de 700 aC, de Obras e Dias de Hesíodo, de onde vamos buscar a mais rápida sobrevivente história da caixa de Pandora, que é realmente uma "jarra", e não especifica exatamente o que estava na caixa quando Pandora a abriu, sendo essa caixa ou jarro a própria mente, e não se pode especificar o que há dentro da mente de alguém que contém todos os dons, mas seguramente não se pode lidar com todos seus dons sem aquilo que reside dentro da caixa.
O estudioso ML West escreveu que a história de Pandora e seu jarro é derivada de uma pré-história ou lenda Hesiodíaca e é isso que provoca a confusão e problemas com Hesíodo na sua versão inconclusiva.  Ele escreve que em anteriores lendas, Pandora era casada com Prometeu, e cita o antigo catálogo de como as Mulheres preservaram esta antiga tradição, e que o frasco continha apenas coisas boas para a humanidade, os ensinamentos e testes iniciáticos.  Há também uma questão, a saber, do que era feito a esperança, cujo sentido naquela época não é o mesmo de hoje. O que é bem para a humanidade, fazendo uma jarra cheia de males para a humanidade?  Daí em diante as histórias entram em jogo.
  
Ele também escreve que este pode ter sido os papéis de Epimeteu e Pandora e seus papéis foram transpostos das lendas e histórias pré-Hesiodíaca.
Ele observa que há uma correlação curiosa entre a Pandora sendo feita de terra na história de Hesíodo, em que se encontra em Apollodorus que Prometeu criou o homem da água e da terra. 

Martin P. Nilsson escreve que a parte sobre Esperança sendo deixada na caixa foi provavelmente acrescentada posteriormente: uma seqüela da lenda original.
O conto da Caixa de Pandora também mostra como os gregos patriarcais imaginaram a mulher sendo criada pelos deuses com o ‘mal’ no interior e bonita por fora, a fim de ensinar os homens a lidar com isso, e nesse sentido Pandora é a primeira bruxa grega.  Desta forma, o conto tem, em alguns níveis superficiais, similaridades judaico-cristã com muitas histórias, sendo Pandora a primeira mulher, como Eva, nos remete à Lilith como a primeira feminista. 

Diversas feministas estudiosas acreditam que, em um primeiro conjunto de mitos, Pandora foi a Grande Deusa, provedora dos dons que a vida e a cultura tornam possíveis, e que o conto de Hesíodo pode ser visto como parte de uma campanha de propaganda para rebaixá-las de seu estado anteriormente reservado. Se afirmarmos que isso seja verdade, então nos obrigaríamos culpar todos os homens, o que faria uma ferida contrária em nossa sociedade muito maior que aquela causada pelo patriarcado, do qual até mesmo os homens de hoje são vítimas. Para visualizar uma suplente de Pandora, vemos em Spretnak Charlene's Lost Deusas da Grécia Precoce; uma coleção pré-helénica de Mitologia, 1978.  Para visualizar uma suplente de deusas, em geral, e histórias como as de Eva e Pandora em relação às mulheres e o mal, ver Merlin's Stone Quando Deus era uma mulher.

Esperança em grego provém de Ελπις, = elpis, e seu contexto em Obras e Dias, linha 96 de Hesíodo, Moore afirma que é melhor traduzida como "antecipação do infortúnio", em vez de simplesmente "esperança".  Presume-se que Moore está dizendo que a humanidade poderia evitar alguma desgraça por antecipação com o que lhes foi deixada sobre o aro de Pandora da jarra.  Alguns léxicos gregos rendem algum apoio para a observação de Moore. As palavras de Moore são mais exatas sobre o assunto na página 37, são: "Ela [Pandora] abriu um frasco contendo todo tipo de mal, que imediatamente voou para fora dos humanos. Somente Ελπις [elpis] permaneceu ali --- uma palavra praticamente equivalente à nossa Esperança, mas que significa "antecipação do infortúnio". Cabe então a única praga para a qual o homem não é sujeito. Ele é obrigado a sofrer, depois de ter sido envolvido no pseudo-erro original de Prometeu, que pretendia enganar Zeus do sacrifício devido, e de fato se Prometeu não o tivesse feito, hoje os deuses não seriam mais lembrados porque nem saberiam o que é o Espírito (fogo divino). Esse é o conto sagrado oferecido como uma explicação da presença dos males sobre a terra. Os males ensinam como lidar com eles próprios.
  
ML West também tem uma exposição e comentário sobre as palavras utilizadas, de suas obras sobre a página 169 de Hesíodo, editado com prolegómenos e comentários.  Pedro Pucci, no seu Hesíodo da Poesia e da Língua, também aborda o sentido pleno de Ελπις, p.124, ff.51 e diz "Ελπις corretamente significa um maior conjunto de expectativas que a nossa "esperança”, pois implica esperança, expectativa, e até mesmo o medo que nos mostra Homero da Ilíada 13:309, 17:23, etc.  Pucci passa a escrever sobre p.104, Esperança que não foi sempre considerada simplesmente boa para a humanidade, citando Obras e Dias por Hesíodo, linha 498 [500], "Esperança [Ελπις] é uma má companhia para o homem que se senta na necessidade ociosa em um lugar, quando ele não tem meios suficientes". 

ML West, Obras e Dias, p.168.  "Hesíodo se esquece de dizer de onde o jarro veio, e o que Pandora tinha em mente quando ela abriria, e o que exatamente nele continha".  Oeste vai dizer que isto contribuiu para a "lenda inconclusiva de Pandora". 

Em Padraic Columbia, Orfeu, Mitos do Mundo, p.71, 1930, encontramos:  "O frasco, como Pandora, tinha sido feito e preenchido de má-vontades de Zeus. E que tinha sido preenchida, não com salves e encantos e lavagens, como as mulheres pensavam, mas com cuidados e problemas”.  Isso deve ser encarado com ceticismo acadêmico, diz, pois é uma extrapolação ver a nau Pandora sendo ela mesma.
Sujoy Deyasi, Uniphase faz menção assim, em Uma Solução para o Albert Einstein's Unified Field Theory, 2003:  "Na história da caixa de Pandora tem uma mulher representando o útero (o útero, o navio em que chega uma nova vida neste mundo), e abertura da mesma, quer por Pandora ou pelo marido deus Epimeteu se refere ao nosso conhecimento que a consciência podemos fazer sexo a qualquer hora. O que saiu da caixa é a emoção humana." Este discurso deve ser encarado com ceticismo educacional, pois está muito longe do mainstream.  Só incluí aqui para cumprir sua prévia citação. 

Referências para consulta

Apollodorus, Biblioteca e epítome, ed. Sir James George Frazer
Clifford H. Moore, O pensamento religioso dos gregos, 1916.
Hesíodo, Obras e Dias, 700 aC
Martin Litchfield Oeste, Hesiodic O Catálogo das Mulheres: a sua natureza, estrutura, e as origens, Oxford, 1985. 
Martin Litchfield Oeste, Obras e Dias / Hesíodo, editado com prolegómenos e comentários por ML West, Oxford, Clarendon Press, 1978. 
Martin P. Nilsson, História da Religião Grega, p.184.
ML West, Obras e Dias, p.168 
NILSSON, Martin P. História da Religião Grega, 1949.
Pucci, Pietro.  Hesíodo da Poesia e da Língua, 1977.
Smith, William, Dicionário de gregos e romanos Biografia e Mitologia, 1870, artigo sobre Pandora.
Zarecki, Jon: Pandora and Strife: “The Mistaken Perception of Misogyny in Hesiod”. Universidade da Flórida, em:
http://cognosco.blogs.sapo.pt/arquivo/579930.html
http://www.camws.org/meeting/2005/abstracts2005/zarecki.html

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